Uma doutrina reflexiva, libertadora e altamente explicativa

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A doutrina dos Espíritos foi codificada pelo pedagogo francês Hippolyte León Denizard Rivail (1804-1869), que passou a utilizar de um pseudônimo para publicar estas obras, Allan Kardec, com isso, foi o responsável por cinco grandes livros que trouxeram ao mundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868) e, todos eles descritos como um misto de Ciência, Religião e Filosofia.

O Espiritismo trouxe algumas inovações para a sociedade da época, dentre elas a ideia de que os homens podem se comunicar com os mortos, com esta perspectiva, muitas pessoas das mais altas camadas sociais da sociedade se interessaram em conhecer a Doutrina dos Espíritos, afinal esta nos prometia a oportunidade de conversar com todos aqueles que não mais habitavam o mundo material, é daí o crescimento dos trabalhos mediúnicos e, em alguns locais, as comunicações estimuladas via copo sobre a mesa, uma prática que se espalhou por vários países da Europa mas foi na França que o Espiritismo deu seus primeiros passos e encantou muitas pessoas e grupos sociais.

Depois de muitas décadas em terras francesas e europeias, o Espiritismo aportou em terras brasileiras, fazendo morada numa região onde se visualizava poucos carmas coletivos, ou seja, uma região virgem de vícios e dogmas mais arraigados, sem históricos de guerras e conflitos religiosos, mortes e destruições atreladas a questões de cunho religioso, como encontrávamos na Europa, no Oriente Médio e em outras regiões do mundo.

Em épocas passadas, os espíritos se materializavam com grande frequência na sociedade, nos sítios e ambientes rurais, além de aparecer nas cidades, a presença destes era muito frequente, gerando medo, desespero e muita incompreensão, afinal, qual era o motivo que levava estes espíritos a aparecer com tanta frequência? Neste ambiente de incertezas constantes, muitas eram as teorias para tentar explicar as origens destas entidades, respostas no campo da filosofia e no campo da religião se alternavam e pouco traziam de novidade para todos que viam nisto, nada mais e nada menos, do que castigos dos Deuses, uma punição pelos excessos cometidos pelas pessoas da época.

Os trabalhos mediúnicos sempre foram feitos com o intuito de auxiliar estas entidades que, sem locais para comunicação e necessitando de esclarecimentos, viam nestes locais o ambiente para se aproximar das pessoas encarnadas, sem compreender seu verdadeiro estado e condição de vida, muitos irmãos do mundo imaterial se aproximava dos colegas do mundo material e tentavam, sem sucesso, iniciar uma conversa para que este pudesse esclarecer o que lhe acontecia com ele naquele instante.

Nesta época, e ainda em números bastante grandes na atualidade, muitos espíritos não tomam consciência de sua condição, morreram e não mais possuem corpo físico e ainda não descobriram, querem conversar e ao se aproximar geram sustos, medos e incompreensões, tudo isso ocorre porque os encarnados não sabem instruí-los a contanto, a vida no mundo espiritual era uma grande incógnita, o que se sabia no período era, na grande maioria, aquilo que lhes era dito pela Igreja Católica e esta não aceitava a existência de um mundo espiritual e imaterial, reinava a ignorância e dele crescia o medo, o desespero e a desesperança.

A Doutrina dos Espíritos nos trouxe um conjunto de informações novas, descortinou a ideia de que a vida termina com a morte do corpo físico e nos mostrou a existência de um mundo marcado pelo imaterial, destacando ainda que a vida não se dá no corpo físico,  mas no mundo invisível, estagiamos na matéria mas somos espíritos por excelência e para lá retornaremos quando terminar nosso estágio no mundo material.

Mostrou ainda que a perfeição de Deus é infinita, para mostrar sua justiça nos encaminhou os conhecimentos relativos a reencarnação, ou seja, acreditamos via Espiritismo que vivemos várias vidas em corpos diferentes e nestas andanças por estes variados corpos, uma hora como homens e outras como mulheres, estagiamos e vivenciamos todas as experiências possíveis e depois destas experiências entendemos o significado do não julgar, isto porque ao julgarmos nossos irmãos, estamos nos esquecendo de que em algum momento de nossa caminhada estivemos nesta situação ou se ainda não a tivermos vivenciados, em algum momento da vida a vivenciaremos, sentiremos na pele os efeitos e as dores desta experiência.

A compreensão da reencarnação nos leva a compreender melhor as leis de Deus, a meritocracia e as inclinações que temos nos mais variados momentos da vida, a reencarnação nos leva a viver como homens e posteriormente nos leva a habitar um corpo feminino, com isso conseguimos sentir as dúvidas, medos e ansiedade de cada um dos gêneros, tudo isso serve não como uma punição mas como um processo educativo, quantas vezes não bradamos contra os filhos homossexuais nossos ou de nossos vizinhos e numa outra experiência nascemos marcados com a homossexualidade entranhada em nossa intimidade? Quantas vezes não batemos ou maltratamos a nossa companheira no lar e em outras oportunidades somos levados a sentir no corpo e na alma as dores desta violência que destrói o íntimo e machuca os sentimentos?

Somos espíritos em evolução e queremos nos comportar como mártires, dotados de grandes qualidades e sentimentos mas, na realidade, somos crianças emocionais, e queremos chamar a atenção para ver se conseguimos que os olhares alheios sejam levados a nos enxergar nas nossas limitações e inquietações, isto nos acontecem com frequência cada vez maior e pouco nos detemos para compreender o significado desta situação.

Nos trabalhos doutrinários encontramos espíritos cheios de arrogância e prepotência, irmãos que acreditam que todos a sua volta estão lá para lhe servir, que todos devem abrir espaço para que sua estrela brilhe e lhe garantam as oportunidades de crescimento e desenvolvimento, são irmãos carentes que se colocam no centro da atenção, irmãos ingênuos e cheios de problemas que todos nós devemos amar e orar para que a luz de Deus possa os estimular e conduzir para seu crescimento pessoal e interior.

Os trabalhos mediúnicos nos mostram situações interessantíssimas de irmãos espirituais que se apresentam cheios de ódio, rancor e ressentimento por outro irmão ou colega de jornada evolutiva, o interessante é que quando entabulamos uma conversa mais íntima, percebemos que todos aqueles sentimentos demonstrados no início são, na verdade, um grande amor mal correspondido que, em algum momento, se transformou em rancor mas que pode se transformar novamente em um amor verdadeiro e intenso, basta apenas que haja um perdão verdadeiro. Encontramos ainda, situações em que o espírito se apresenta como vítima em uma determinada situação, alegando que em vidas passadas sofreu severas e violentas agressões deste que, na atualidade, define como seu inimigo, numa conversa mais serena e estimulados com a intuição dos espíritos amigos do plano superior percebemos que este que agora se diz vítima na verdade, em outras vidas e experiências, foi um grande e cruel algoz, que se utilizando de seu poder físico destruiu e maltratou seu amigo, mais frágil e indefeso.

As atividades na casa Espírita nos mostra situações das mais variadas possíveis, somos levados pelos mentores da casa a grandes experiências e se nos entregarmos e confiarmos nestas entidades, perceberemos que o mundo físico e o espiritual se inter-relacionam de uma forma fantástica, somos espíritos e estagiamos na matéria, precisamos desta matéria para as experiências que vivenciamos mas não podemos, de forma algumas, nos deixar levar pelo mundo material, seus encantos e prazeres, pois, se o fizermos, estaremos nos apegando a sentimentos limitados e a gozos imediatos, sentimentos que criam um prazer momentâneo mas que trazem consequências pesadas e muitas vezes demoradas para nos desvencilharmos por completo.

Na comunicação com o mundo espiritual, nas conversas que entabulamos com estes irmãos que estão no mundo imaterial, percebemos o quanto somos limitados e pequenos, o pouco que fazemos é, na verdade muito pouco, para o muito que recebemos, os grandes responsáveis por este trabalho ou, por esta missão, são os mentores espirituais, eles trazem os irmão mais necessitados, eles fazem as primeiras triagens, eles começam as conversações e eles são os responsáveis por acompanha-los depois da conversa, sendo responsáveis ainda por acompanha-los e os instruir da melhor forma de agir e se comportar, ou seja, todo o trabalho é feito pelos mentores espirituais e para nós, sobra a parte mais fácil e passageira, conversamos e tentamos instruir estes irmãos que, muitas vezes, sentem tanto prazer no mal que pouco conseguem se desvencilhar destas energias neste momento, precisando ainda serem amparados durante muitos anos, alguns décadas e outras por séculos. Mesmo fazendo tão pouco, percebemos que muitos irmãos do plano material se acham dotados de poderes extraordinários, acreditam que fazem muito mais do que realmente fazem e se deixam levar por vaidades e mais vaidades, culminado em situações que beiram ao ridículo e ao inacreditável, coitados, pouco sabem que, se Chico Xavier se intitulou um cisco, o que será que nós realmente somos?

A Doutrina dos Espíritos nos auxilia na compreensão do mundo e mais, nos abre portas do mundo material e imaterial, nos descortina uma nova forma de entender a vida e de perceber que tudo que existe no mundo só existe porque Deus autorizou, os ricos são possuidores de muitos recursos amoedados e, com isso, devem se utilizar destes da melhor maneira possível, devem zelar por estas posses para que elas auxiliem não apenas seus detentores, mas todos os indivíduos a sua volta, aqueles que se mostram avarentos e usam estes recursos apenas para manter seu luxo e de seus familiares devem compreender, que estes recursos não lhes pertencem, mas pertencem a Deus, e este pode retirá-los no momento que achar conveniente e necessário.

No outro lado, a pobreza ou as dificuldades financeiras não devem ser vistas como uma punição divina, mas como uma oportunidade de perseverar no bem, uma forma de compreensão dos motivos que o levaram a nascer assim, nunca a uma situação de revolta ou de violência como muitos o fazem e passam a cobiçar ou furtar os bens alheios, julgando que Deus os esqueceu e eles não merecem viver desta forma, iniciando um espiral de lágrimas, tristezas e muitas revoltas.

A doutrina dos espíritos nos foi revelada em meados do século XIX, de lá para cá muitas coisas aconteceram, evoluções e involuções nas mais variadas áreas, muitos buscam nesta doutrina as respostas que não conseguem encontrar de formas satisfatórias e racionais, muitos se assustam com seus ensinamentos que não aceitam a existência de vítimas, somos todos algozes de nós mesmos, todos vivemos inúmeras vidas e, nestas experiências, acumulados pontos positivos e negativos, nestas viagens a grande maioria acumulou mais pontos negativos do que positivos, somos devedores da lei Divina e estamos aqui para conseguir evoluir e ressarcir nossos débitos, o bom de tudo isso, é que nosso credor nos aceita como somos, nos auxilia na nossa evolução e divide no nosso débitos em várias parcelas, com isso temos tempo para nos melhorarmos e quitarmos nossa fatura, que façamos isso com rapidez, pois a transição planetária esta chegando e se não corrermos vamos ter que reencarnar em outros planetas para cumprir a lei maior de Deus, a lei da Evolução, desta ninguém escapa.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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