Uma discussão imprescindível

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A sociedade brasileira se encontra em um momento de grandes discussões que tendem a influenciar não apenas os próximos quatro anos, mas muitas décadas, e que podem ser decisivas para as futuras gerações, impactando no cotidiano de todos nós, estamos em um momento essencial marcado por uma onda verde que tirou a eleição presidencial do marasmo e da indiferença, fazendo a discussão aumentar e forçando os candidatos a abordarem temas antes esquecidos ou negligenciados.
Neste momento encontramos dois candidatos com características parecidas, ambos caracterizados pela resistência ao regime militar (1964/1985), período este marcado pela luta na clandestinidade, repressão e autoritarismo, nesta época o candidato tucano se exilou no Chile onde se preparou intelectualmente na Comissão Econômica para a América Latina, para compreender o Brasil e a realidade internacional. A candidata petista também se notabilizou pela resistência aos governos militares, foi presa e viveu na clandestinidade durante muitos anos, estudou e buscou explicações sobre os desajustes do país. Ambos se prepararam para compreender o país, transformando-o para melhor, diminuindo a desigualdade e incrementando as condições sociais, dando a todos os brasileiros uma melhor condição de sobrevivência.
A decisão de qual dos candidatos será o melhor governante permeia a mente e a realidade de milhões de eleitores, que no final do mês decidirá qual dos dois projetos encampar para o país nos próximos anos, dois projetos parecidos do ponto de vista econômico, mas diferentes em sua condução, dois partidos responsáveis pelos rumos da economia e da política brasileiras nos últimos 16 anos, um período de estabilidade e crise, caracterizados pelo combate à inflação e pela busca da estabilidade financeira, econômica e produtiva, onde a estrutura econômica mudou de forma estrutural, de uma economia fechada e protegida pelo Estado para uma economia mais aberta e mais competitiva, gerando novos desafios e oportunidades com resultados contraditórios..
Nestes dezesseis anos estabilizamos e consolidamos a economia, aumentamos o nível de emprego e melhoramos todos os indicadores sociais, o Brasil tirou da miséria mais de 30 milhões de pessoas, um número bastante relevante, ainda mais quando percebemos que vivemos em um país democrático, marcado por eleições diretas, imprensa livre e alternância de poder entre partidos políticos, um feito pouco alcançado no mundo, o que coloca o Brasil em um lugar de destaque dentre os países do mundo.
Melhoramos muito, a estabilidade econômica dos anos 90, iniciada pelos tucanos, (baseada no tripé: câmbio fixo, superávit primário e metas de inflação) foi seguida e perseguida pelo governo petista, com resultados bastante animadores, o que levou os indicadores econômicos a uma melhora considerável, onde os ganhos sociais foram de toda sociedade, principalmente dos mais pobres, que tiveram oportunidade de ganhar mais e usufruir de uma vida melhor, com mais conforto e qualidade.
Estamos em um momento único da história, em nenhum momento da história deste país encontramos uma eleição tão tranqüila do ponto de vista econômico, as crises sucessivas que sempre nos marcaram amargamente, geravam pânicos, fugas de capitais e quebradeiras de empresas, pois todos tinham medo do próximo governante, ainda mais se este fosse um candidato petista, que propunha acabar com todas as políticas implementadas por seus antecessores, caracterizadas por ineficientes e prejudiciais para a classe trabalhadora.
O próximo governante brasileiro não vai transformar o país de forma estrutural, para que isto acontecesse a sociedade deveria construir novos consensos, discutir problemas complexos, debater decisões imprescindíveis e imediatas que foram postergadas durante muitos anos e que precisam ser enfrentadas rapidamente para assegurar uma melhor qualidade de crescimento da economia. Dentre estas discussões a educação é a mais imediata, suas raízes são muito amplas e seus resultados decisivos para a construção de uma mão-de-obra capacitada para compreender o mundo do século XXI, um mundo marcado pela competição crescente entre empresas e exigências cada vez maiores, onde os trabalhadores precisam se qualificar, a concorrência atual obriga o indivíduo a se adaptar para não perder novas oportunidades, pois estas existem e é só os trabalhadores se prepararem, pois não somos mais o país do futuro, somos o país do presente, o mundo hoje enxerga no Brasil o potencial crescente de líder e potência internacional, mas para que isso se efetive o brasileiro tem que acreditar no seu potencial.
Neste segundo turno devemos exigir dos candidatos uma atuação mais clara e incisiva, ambos devem se posicionar de forma mais nítida em relação ao futuro, os problemas nacionais estão claros e todos nós temos consciência, possuímos dados e informações que mostram a situação social e política do país, nossas limitações nas mais variadas áreas, o que precisamos é de um conjunto de propostas factíveis para os próximos 10 ou 20 anos, os debates são importantes, confrontam idéias e pensamentos, mas é a ação de cada um em áreas como a segurança pública, saúde, infra-estrutura, educação, entre outras, que vai definir de forma efetiva o voto dos eleitores.
Os rumos do país devem ser definidos agora, as eleições são o momento efetivo da mudança, acreditar que vamos sair desta situação sem nos conscientizarmos das heranças do passado é algo ilusório, somos um grande país, com potencial de destaque na sociedade mundial, devemos consolidar nossa estabilidade econômica e criar espaço de crescimento sustentado, melhoramos muito nos últimos 15 anos, mas temos muito o que fazer, nossa taxa de juros é uma das mais altas do mundo, nosso câmbio valorizado gera inquietações para o setor produtivo, prejudica o setor exportador e pode nos levar a um processo de desindustrialização da economia, a entrada de produtos chineses está criando problemas claros para o setor produtivo, muitas indústrias estão se tornando inviáveis, muitos setores sobrevivem a base da importação, prejudicando a geração de empregos de qualidade e a atração futura de moedas conversíveis, estamos em um momento perigoso e devemos nos preparar para o futuro.
O crescimento deve pautar pela inclusão social, o meio ambiente sempre tão negligenciado pelos setores produtivos brasileiros hoje é um assunto fundamental, a onda verde criada pela candidata do PV Marina Silva trouxe novos temas para a eleição presidencial, os atuais candidatos devem se esforçar para se mostrarem mais responsáveis ambientalmente e para enfrentar os desafios da sustentabilidade, precisamos crescer de forma positiva, mas este crescimento não deve ser de qualquer jeito, com destruições de mananciais, devastando florestas e poluindo rios e o meio ambiente, este crescimento foi utilizado no passado e o resultado pode ser percebido nitidamente na atualidade, rios poluídos e desajustes crescentes, que forçam o poder público a investimentos cada vez maiores para reequilibrar o sistema, utilizando recursos escassos que poderiam ser usados de forma diferente, mas esta experiência negativa serve de lição para a sociedade, crescer é um imperativo, fundamental e necessário, única forma de diminuir a desigualdade e melhorar as condições sociais, mas sempre com responsabilidade para a manutenção do clima e da vegetação de forma a manter o meio ambiente em equilíbrio para as próximas gerações, afinal de contas todos nós nos encontraremos aqui novamente, a reencarnação não deve ser vista como um princípio religioso, mas sim uma lei natural, não se esqueça disso, um dia todos vamos compreender o significado desta lei.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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