Vivemos momentos estranhos na sociedade internacional. Os valores estão invertidos, os ganhos monetários e financeiros se tornaram o grande objetivo social, onde os indivíduos estão sendo vistos através de seu poderio econômico, os valores estão centrados no imediatismo, no individualismo e na busca frenética pelas riquezas materiais, deixando de lado valores centrados no humanismo, na solidariedade e na busca do bem-estar social, desta forma estamos caminhando a passos largos a uma fragilização civilizacional.
Nesta sociedade, encontramos descobertas científicas e tecnológicas que contribuíram para novos horizontes de melhorias sociais, doenças vistas como incuráveis, responsáveis por ceifar milhões de vidas, foram controladas por novas drogas, novos medicamentos e tratamentos revolucionários. Regiões inóspitas e inabitadas foram transformadas pela ciência, pelas pesquisas científicas que contribuíram para melhorar o clima e a vegetação, levando a riqueza material, a fartura alimentar e a melhora das condições de vida da população, deixando a pobreza e a indigência nos registros dos livros e nas anotações acadêmicas.
Vivemos numa sociedade que a tecnologia se transformou no agente instrumental da transformação social e econômica, trazendo uma aproximação física entre os indivíduos, aumentando a comunicação entre os seres humanos, barateando novos produtos, máquinas e serviços que estão revolucionando as relações sociais, alterando o convívio das pessoas, mudando seus comportamentos, modificando seus relacionamentos e impactando sobre as convenções sociais, criando novos modelos de negócios, novos desafios e oportunidades. Nesta sociedade, encontramos várias contradições, tais como uma tecnologia que nos aproxima virtualmente e, ao mesmo tempo, nos torna cada vez mais distantes fisicamente, mais solitários e infelizes, num verdadeiro paradoxo contemporâneo.
A atual sociedade revolucionou as descobertas espaciais, levando satélites, criando estações estelares e investindo trilhões de dólares para conhecer os segredos planetários e, ao mesmo tempo, percebemos que estamos se degradando com conflitos íntimos e pessoais, trabalhamos em excesso, acumulamos cada vez menos recursos monetários e estamos envoltos em crises existenciais crescentes e numa busca generalizada pelo sentido da vida, levando muitas pessoas a se entregarem em soluções milagrosas e elixires mágicos que, posteriormente, aumentam sua indigência emocional e afetiva. Neste cenário, os especialistas em saúde pública acreditam que estamos vivendo um incremento de desequilíbrios emocionais e espirituais, com aumento da depressão, das ansiedades crescentes e um aumento generalizado dos suicídios diretos e indiretos, ceifando milhões de pessoas em todas as regiões do mundo.
Desde o desenvolvimento industrial da humanidade, encontramos novas técnicas de gestão, novos instrumentos de incremento da produtividade, elevando o conhecimento da sociedade, melhorando os sistemas educacionais e, ao mesmo tempo, percebemos que estamos degradando mais efetivamente o meio ambiente, levando inúmeras espécies humanas à extinção, aumentamos a temperatura do Planeta Terra e estamos degradando regiões inteiras e plantações tradicionais, gerando riquezas para poucos e espalhando a miséria e a indigência para muitas pessoas do mundo, neste cenário, ainda encontramos inúmeros céticos, por desconhecimento ou por conveniência?
Vivemos momentos preocupantes e tempos estranhos, como destacou o sociólogo polonês radicado em Londres Zygmunt Bauman, onde as tecnologias da comunicação estão sendo utilizadas para espalhar inverdades e ressentimentos, aumentando os conflitos sociais e políticos, aumentando as tensões sociais e os conflitos dentro das comunidades, exigindo dos governos nacionais uma atitude cada vez mais agressiva para controlar os desequilíbrios, gerando mais repressões, mais prisões e mais dispêndios econômicos e fragilizando os orçamentos públicos.
Vivemos momentos estanhos, assustadores e preocupantes, neste cenário, precisamos de lideranças capacitadas e, urgentemente, repensar o modelo econômico dominante na sociedade brasileira, que estimular o rentismo, o imediatismo e o individualismo que aprofundam as desigualdades que caracterizam a sociedade nacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre e Doutor em Sociologia.