Retorno do protecionismo

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Nos momentos de grandes incertezas e instabilidades da sociedade internacional, como a que vivenciamos na contemporaneidade, percebemos o incremento das políticas protecionistas como forma de proteger suas estruturas econômicas e produtivas, proteger suas empresas nacionais, defender seus empregos e proteger a renda agregada da população. Neste cenário, percebemos o crescimento das políticas protecionistas que passaram a ganhar relevância na agenda das nações e discussões nos fóruns internacionais, tais medidas estão impulsionando conflitos e constrangimentos globais que podem, no extremo, gerar confrontos bélicos e desequilíbrios diplomáticos.

No campo econômico internacional, percebemos o crescimento da volatilidade das finanças, levando as nações a adotarem políticas de proteção e defender seus interesses nacionais, com o incremento dos subsídios internos e os mais variados tipos de barreiras comerciais, além de taxações e tributações visando a proteção das estruturas econômicas e produtivas.

Nações desenvolvidas que conseguiram ao longo da história se desenvolver econômica e industrialmente passaram a exigir abertura econômica e concorrência crescente como forma de alavancar economicamente as nações em desenvolvimento, pressionando-as como forma de encontrar o crescimento econômico e, posteriormente, o desenvolvimento social e a melhora das condições de vida de suas populações.

As políticas protecionistas sempre foram utilizadas pelas nações ao longo da história, os países ricos se utilizaram fortemente destes instrumentos para ganhar escala e produtividade como forma de alavancar suas estruturas produtivas, crescendo economicamente e fortalecendo suas empresas, desta forma, expandiram para todos os cantos da sociedade mundial e passaram a impor seus modelos produtivos, suas formas de enxergar o mundo e a dominar os atores econômicos e políticos internos, com isso, angariando forte poder político para impor seus interesses imediatos.

Desde os anos 1980 as nações desenvolvidas disseminaram para todas as regiões do mundo o chamado Consenso de Washington, um conjunto de políticas de liberalização econômica criada pelas nações desenvolvidas para que países mais atrasados ou em desenvolvimentos adotassem como forma de alavancar o crescimento de suas economias. Dentre as medidas estimuladas eram a abertura econômica, a desnacionalização dos setores produtivos, a privatização, a redução do protecionismo e a diminuição do papel do Estado na economia.

Depois de mais de trinta anos, os resultados foram interessantes, as nações que se entregaram a esse ideário neoliberal conseguiram diminuir a inflação, aumentaram a dependência externa, fortaleceram uma economia agroexportadora de produtos primários, aumentando sua desindustrialização e incrementando suas dívidas interna e externa, perdendo espaços na exportação mundial e se entregando facilmente a um predomínio da dependência financeira internacional. As nações que se distanciaram do pensamento neoliberal tiveram dados macroeconômicos mais sólidos e consistentes, fortaleceram seus papeis políticos no cenário mundial e angariaram espaços econômicos pouco vistos na história da economia internacional, vide por exemplo os países asiáticos, como a China e a Coréia do Sul, países camponeses, pobres e miseráveis e, atualmente, gigantes da tecnologia, da inovação e da complexidade econômica.

Diante disso, todos sabemos quais os caminhos escolhidos pela sociedade brasileira, abraçamos abertamente um ideário neoliberal, abrimos nossa economia, desnacionalizamos nossa estrutura produtiva, estimulamos nossa desindustrialização e perpetuamos nossa situação periférica, marcado pela dependência tecnológica e ideológica, importamos e estimulamos pensamentos que nos levam ao atraso e a submissão.

Ary Ramos da Silva Júnior, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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