Profissões do futuro e o mundo do trabalho

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A sociedade vive momentos de grandes transformações, a concorrência e a competição são as grandes molas do capitalismo contemporâneo, o mundo corporativo domina a sociedade internacional e transforma todas as relações sociais em negócios, compramos e vendemos mercadorias e serviços a todos os momentos, obrigando-nos a uma constante reestruturação sob pena de exclusão de uma sociedade baseada no hedonismo, no prazer imediato e no consumo exacerbado, comprar e consumir da prazer, nos alegra e faz com que nos afastemos de todos os vestígios de depressão e ansiedade.

O trabalho é uma das áreas que mais se transforma na sociedade atual, somos passageiros de um mundo onde as novas tecnologias estão moldando o conjunto da sociedade e modificando as relações sociais, nesta nova sociedade, a internet é uma realidade imprescindível, a conexão em banda larga nos abre uma imensa janela de oportunidades, a comunicação se tornou instantânea e imediata e, pela primeira vez, os limites de tempo e espaço estão sendo reduzidos, obrigando os indivíduos a transformações jamais vistas anteriormente, vivemos em um mundo excitante e, ao mesmo tempo, assustador.

Desde a revolução industrial os trabalhadores convivem com tecnologias que alteram o mundo do trabalho, de produtores individuais até a produção em série, as forças produtivas se alteram com rapidez e geram oportunidades variadas e ao mesmo tempo inseguranças e instabilidades, o resultado é uma busca constante por inovação e capacitações constantes, inovar e se reinventar são duas palavras que estão redesenhando e moldando o futuro do trabalho.

No começo do século XXI, os filmes de Hollywood retratavam o predomínio e o crescimento constante dos robôs e da inteligência artificial, os filmes mostravam sociedades dominadas pelas tecnologias e os seres humanos sendo subjugados pelas máquinas, esta sociedade que nos parecia tão distante hoje nos apresenta como uma marca da sociedade contemporânea, o mundo de Hollywood retratado nos filmes e nos documentários se transformou no nova realidade e somos obrigados a nos adaptar  a esta nova organização da sociedade.

Os exigências do mundo contemporâneo são imensamente diferente de sociedades anteriores, de um mundo marcado pela força física e pelo trabalho braçal, onde o paradigma fordista era a melhor forma de preparar os trabalhadores para a produção, na atualidade as demandas são muito diferentes, o trabalho intelectual e o conhecimento ganham força nesta nova sociedade, as emoções, a flexibilidade e a agilidade se transformaram em eixos centrais de organização do mundo do trabalho, sem criação e espírito empreendedor, dificilmente os trabalhadores do século XXI vão garantir espaços saudáveis dentro desta nova sociedade.

Se o mundo do trabalho se transforma tão rapidamente, faz-se necessário que a educação se transforme, as escolas, faculdades e universidades precisam passar por estas transformações, estas instituições não podem perder a vanguarda e a capacidade de construção de novas sociedades, as mudanças no ensino, no aprendizado e do conhecimento são imprescindíveis e todos precisamos nos adaptar a estas transformações.

Segundo o economista José Pastore, professor da USP e especialista nas relações de trabalho, nesta nova sociedade caracterizada como a 4● Revolução Industrial, a capacidade de pensar será fundamental para ingressar ou se manter no mercado de trabalho, e destaca ainda, que essa capacidade deve ser desenvolvida nas escolas, com uma educação de qualidade e que prepare os alunos não apenas para passar nas provas mas, que o auxilie a pensar e refletir em todos os momentos, dando-lhes autonomia e flexibilidade.

Devemos destacar ainda que, embora a presença de robôs deva crescer cada vez mais, só o ser humano possui habilidades sociais, como criatividade, empatia, coragem e toda a parte emocional e afetiva do trabalho e nas relações interpessoais, as máquinas ainda não possuem esta habilidades, diante disso, percebemos que todas as profissões que demandam habilidades empáticas cresçam e ganhem relevância na sociedade.

Outro ponto importante a se destacar é que, nesta nova sociedade, a articulação entre empresas, escolas e governo deve ser aumentada, não sendo mais possível ter inovação do século 21, mentalidade do século 20 e instituições do século 19. As escolas, as faculdades e as universidades precisam ser parceiras das empresas e dos governos e das demais organizações, além de dinâmicas, versáteis, diversificadas e inclusivas.

Esta articulação é muito importante para construção de uma sinergia, as instituições precisam entender que na atualidade, os agentes precisam se integrar e construir os conhecimentos necessários para competir no mercado global, compartilhando ideias e estimulando pesquisas e inovação, as escolas precisam sair dos modelos tradicionais e agregar novas tecnologias, o processo de construção do conhecimento está cada vez mais dinâmico e flexível, os grupos que continuarem investindo no ensino tradicional tende a perder espaço na competição global.

As empresas precisam se abrir para a inovação e se integrarem mais com as escolas e as universidades, no Brasil percebemos uma grande distância entre estas instituições, uma boicotando a outra e evitando que o conhecimento circulo e consolide opiniões novas, a concorrência da economia global tende a acabar com este ranço entre as instituições e abrir espaço para uma atuação em conjunto, afinal todos os agentes tem objetivos comuns e a  integração entre elas é uma forma de vencer os grandes desafios da Indústria 4.0.

As transformações geradas pela Indústria 4.0 estão contribuindo para que a sociedade mundial se transforme de forma acelerada e as profissões sejam alteradas rapidamente, mas devemos destacar ainda, que outros fatores estão alterando a sociedade global, as profissões e o mercado de trabalho, dentre eles podemos destacar as mudanças demográficas, a globalização e a emergência de novos valores culturais.

Pesquisas nos mostram, que nas 20 maiores economias do mundo, as mudanças geradas pelas transformações demográficas estão alterando significativamente o perfil populacional, países como China, Japão, Rússia, Itália, Alemanha estão apresentando um declínio acentuado na população economicamente ativa nas próximas décadas, além de um forte crescimento no número de aposentados, com impactos imensos sobre o mercado consumidor, que passará a priorizar o setor de serviços, como os de assistência médica, em detrimento de bens duráveis, como os automóveis. O contrário pode ocorrer nos países dotados de uma força de trabalho jovem, ativa e em ascensão.

As mudanças geradas pela globalização são positivas, de uma forma geral, mas apresentam alguns desajustes que precisam ser compreendidos e corrigidos, o barateamento dos custos de comunicação e transporte aumentou a integração entre os mercados. Esta integração abre portas para profissionais de determinados perfis, o que é visto como altamente positivo mas, ao mesmo tempo, está gerando uma precarização das condições de trabalho para a maioria da população e uma desindustrialização em muitos países do mundo, com graves impactos sociais e econômico.

As mudanças trazidas pela tecnologia estão criando novas demandas por condições de trabalho mais flexíveis e dinâmicas, entre os jovens percebemos que, cada vez mais, eles querem escolher para quem vão trabalhar, onde, como e em que ritmo, além de buscarem um propósito para seu trabalho, em vez de pensar em como equilibrar a vida pessoal e profissional, agora eles buscam integrar os dois universos – e isso não poderá ser ignorado pelos empregadores.

Todas estas megatendências relacionadas ao mercado de trabalho, além das mudanças específicas de cada área, estão alterando o planejamento de empresas, indústria e setores produtivos e também das instituições de ensino, todas buscando se atualizar para acompanhar as mudanças em curso.

Os cursos estão passando por grandes transformações para acompanhar as mudanças geradas pela tecnologia, nos mais tradicionais como Direito e Administração as alterações são visíveis, no primeiro os futuros advogados já trabalham com contratos automáticos (feitos sem a intermediação humana) e acessam extensos bancos de dados a partir de recursos como o Big Data.

Os profissionais da gestão estão sendo estimulados, nas escolas de Administração, a fazerem as perguntas corretas para poder extrair dos especialistas informações  precisas, o profissional não precisa ser um especialista em algoritmos, mas tem que dominar as estratégias de gestão de pessoas capacitadas a lidar com estes dados. Além disso, as instituições de ensino estão valorizando a versatilidade e os conhecimentos socioemocionais, com disciplinas e cursos de extensão inseridos na grade dos cursos de Administração.

Os gestores de Recursos Humanos acreditam que em muitas indústrias e países, as ocupações mais requisitadas não existiam a dez ou mesmo a cinco anos, além disso, estimam que 65% das crianças que hoje estão iniciando os estudos vão exercer funções que ainda não foram criadas, a grande dúvida que a sociedade ainda não tem elementos para responder com precisão é se estes empregos que serão criados nos próximos anos serão suficientes para empregar esta massa de pessoas que estão sendo dispensadas pelas novas tecnologias que estão transformando o mundo do trabalho.

Em uma pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial, publicada em 2016, intitulada The Future of Jobs (O futuro do trabalho), elaborado a partir de entrevistas feitas com executivos e gestores de recursos humanos das maiores companhias do mundo, nesta pesquisa estes gestores disseram como estavam se preparando para se adaptar a estas transformações em curso no mercado de trabalho. Os resultados desta pesquisa identificaram que, 59% dos gestores investiriam na reciclagem dos atuais funcionários, 52% incentivariam a mobilidade e a rotação de tarefas, 28% buscariam novos talentos no sexo feminino, outros 28% aumentariam a colaboração com instituição de ensino, 28% atrairiam talentos estrangeiros, 17% buscariam talentos entre as minorias, 14% aumentariam a colaboração com empresas de outros setores e outros 14% ofereceriam oportunidades de aprendizagem.

As respostas corretas para as questões do emprego e da empregabilidade do século XXI são pouco conhecidas, as mudanças são necessárias, imprescindíveis e imediatas, os resultados educacionais brasileiros são vergonhosos, somos a oitava economia do mundo e no exame de PISA estamos atrás de países como Vietnã, Estônia e Indonésia, países com histórico recente de guerras, golpes de Estado e herança comunista, precisamos superar este atraso com urgência, senão seremos condenados a uma condição de subalternidade em uma sociedade onde a concorrência e a competição se transformaram em um dos mantras mais adorados e cultuados de todos os tempos.

As profissões estão se transformando rapidamente e os profissionais também estão em constantes mudanças, a sociedade atual prescinde destas mudanças, todas as áreas estão sendo alteradas pela tecnologia e pela comunicação instantânea, pessoas até pouco tempo desconhecidas passam a condição de celebridade em um curto espaço de tempo, motivados e estimulados pelas redes sociais, o mundo se transformou rapidamente e tudo foi alterado, o profissional contemporâneo deve apresentar empatia, liderança e carisma, além de grande criatividade, dinamismo e capacidade de cooperação, todas estas habilidades são imprescindíveis para o profissional do século XXI, as demandas são muito grandes e variadas e exigem do trabalhador uma capacitação constante e uma atualização diária, vivemos mesmo num mundo assustador, o que está por vir nos próximos anos nos preocupam e nos deixam em polvorosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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