Os movimentos econômicos da sociedade contemporânea são interessantes e nos auxiliam a compreender as movimentações da economia brasileira. Neste ambiente, percebemos os conflitos entre a política econômica do governo e os anseios dos agentes dos mercados, que prezam pelos grandes lucros imediatos, pela desestatização, a desregulamentação e a compra de ativos governamentais, levando o governo a diminuir seus anseios de alterações econômicas, gerando uma verdadeira quebra de braço entre atores fundamentais para a retomada do crescimento econômico, um anseio urgente de uma economia que cresce pouco desde os anos 1980, perde oportunidades estratégicas e se apequena nos grandes desafios contemporâneos, gerando instabilidades e incertezas crescentes.
Essas incertezas e instabilidades estão no cerne das dificuldades dos governos, alterando políticas públicas, mediando conflitos políticos e interesses econômicos, levando os governos a perderem legitimidade com a sociedade, postergando mudanças estruturais, buscando apoio em variados grupos políticos, fragilizando suas medidas e contribuindo para gerar fortes
constrangimentos na sociedade.
Neste cenário, percebemos duas agendas na sociedade brasileira que se enfrentam cotidianamente, uma mais centrada no Estado Nacional, mais intervencionistas, com incremento das políticas públicas, aumento dos investimentos governamentais e, de outro lado, uma agenda mais liberalizante, defendendo interesses privados, incentivando a privatização de empresas públicas e adotando políticas para que os agentes privados ganhem espaços em detrimento dos governos nacionais. Na verdade, estes conflitos existem a muitas décadas e fazem parte de discussões antigas da economia política, onde economistas e cientistas políticos importantes se digladiam para converter seus oponentes, defendendo seus interesses imediatos e usam suas retóricas para angariar novos públicos, novos seguidores e levando as influências para novas regiões.
Muitos dos contendores deste conflito defendem ideias e pensamentos ultrapassados, usando sua capacidade de convencimento para arregimentar multidões para aumentar seu público, defendendo modelos matemáticos ultrassofisticados que pouco auxiliam na compreensão das realidades da sociedade contemporânea. De outro lado, encontramos defensores de teorias antigas que são vistas como a resolução de nossos atrasos e dificuldades, defendendo modelos antigos e sem capacidade de compreenderem uma sociedade que se modificou por completo, exigindo uma atualização constante de seus pensamentos e de seus valores imediatos.
Neste ambiente, percebemos que muitos grupos econômicos e políticos estão defendendo teorias e comportamentos que não coadunam com a realidade contemporânea. Vivemos num mundo centrado por grandes transformações, nesta sociedade percebemos que todos os modelos e paradigmas que sustentaram a sociedade anterior estão em franca desintegração, os modelos econômicos foram alterados estruturalmente, os modelos de trabalho foram transformados pelo incremento da tecnologia, novos modelos de família estão surgindo e gerando transformações constantes, neste cenário, percebemos alterações nos comportamentos e relações sociais, destruindo paradigmas anteriores que embalaram as vivências sociais durante séculos, ou seja, vivemos num mundo em rápidas alterações, diferentemente dos modelos anteriores e marcadas pela rapidez, pelos grandes desafios e novas oportunidades.
A sociedade contemporânea prescinde de uma visão mais ampla dos agentes sociais e econômicos, deixando seus interesses mesquinhos e imediatistas, combatendo formas degradantes de acumulação, fortalecendo a governança das organizações, construindo valores de sustentabilidade, protegendo o meio ambiente, investindo em energias alternativas, canalizando recursos financeiros e monetários para os grupos que querem produzir, facilitando a geração de emprego e renda para que os indivíduos tenham acesso a crédito com taxas de juros condizentes com seus empreendimentos, limitando os grupos rentistas e financistas que limitam os recursos dos investimentos produtivos, além de construirmos um ambiente que garanta uma verdadeira justiça tributária. O caminho é tortuoso, nunca esqueçam, mas os maiores desafios estão no campo político.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 24/05/2023.