Nas transformações constantes em curso na sociedade internacional, destacamos a ascensão chinesa como exemplo de grandes modificações estruturais num período curto, com grandes impactos e repercussões na sociedade internacional, gerando novos horizontes, novos desafios e novas oportunidades.
De uma sociedade fortemente empobrecida em grande parte do século XX, com uma população gigantesca e vivendo no meio rural, onde encontrávamos muitos indivíduos sobrevivendo do extrativismo, da pesca e da produção de produtos primários de baixo valor agregado, a sociedade chinesa passou por grandes transformações em poucas décadas, investindo em capital humano, consolidando o poder do governo nacional e estimulando uma consolidação do setor industrial.
Atualmente, a China se transformou numa potência industrial, responsável por grande parte das produções industriais do mundo, produzindo produtos de alta complexidade e participando ativamente das maiores cadeias globais de produção da economia mundial, gerando calafrios nas economias desenvolvidas, retomando discursos protecionistas esquecidos e trazendo novos horizontes para nações em desenvolvimento.
A ascensão chinesa está gerando fortes constrangimentos nas economias ocidentais, levando seus governos a adotarem medidas protecionistas, levando seus Estados nacionais a aumentarem os subsídios a empresas nacionais, despejando trilhões de dólares em subsídios diretos e indiretos, para evitar que seus setores econômicos e produtivos percam espaço nos círculos internacionais, perdendo espaço e fragilizando suas influências globais.
O modelo econômico chinês foi construído no final dos anos 1970, contrariando os modelos liberais defendidos pelas economias ocidentais, este modelo se caracteriza por fortes intervenções do Estado Nacional, elevados subsídios econômicos e financeiros, compras governamentais para fortalecer os grupos nacionais, forçando empresas estrangeiras interessadas a atuarem no mercado chinês e a transferência de tecnologias para grupos nacionais como forma de atuação no mercado interno, além disso, destacamos ainda, uma política sólida e consistente para estimular as exportações, com políticas de comércio internacional ousada e pragmática, fomentando a competição com atores internacionais, trazendo ganhos monetários, melhorando sua produtividade interna, aumentando a atração de recursos monetários e angariando novos mercados mundiais.
O crescimento da China reconfigurou a geopolítica internacional, fortalecendo nações asiáticas e fortalecendo seus modelos econômicos, estimulando seus investimentos em educação, fortalecendo canais de pesquisas científicas, culminando em um forte desenvolvimento tecnológico, aumentando a complexidade econômica e produtiva, ameaçando as nações ocidentais desenvolvidas e levando estes países a rasgarem os modelos econométricos defendidos pelos teóricos liberais, que rechaçavam o intervencionismo estatal e estimulavam os processos de privatizações e a diminuição do Estado como agente indutor do crescimento econômico.
Neste novo momento da sociedade mundial, marcado por grandes desafios e oportunidades no capitalismo contemporâneo, a ascensão asiática, liderada pela China, pode abrir novas oportunidades de negociação comercial e produtiva, exigindo das nações uma visão mais sistêmica e estruturada, abandonando uma visão até então dominante centrada no individualismo, no imediatismo e priorizando o curto prazo, responsável por grandes desajustes econômicos, degradação do meio ambiente, incremento da desigualdade social e um processo constante de desumanização da sociedade internacional, centrada em valores monetários e financeiros em detrimento de valores morais mais sólidos e sofisticados.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.