Os espíritos, suas influências nas vivências cotidianas

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Muitos indivíduos acreditam que vivemos sozinhos nesta sociedade, não creem na existência de espíritos e atribuem estas crenças a pessoas ignorantes e fanáticas, outros acreditam que espíritos não existem e não fazem o menor sentido acreditar em sua existência, muitos o fazem para atribuir a outrem suas decisões equivocadas e suas atitudes desprovidas de sentido, neste caso a crença em sua existência serve como um verdadeiro instrumento para terceirizar decisões equivocadas que todos tomamos no cotidiano.

Os seres humanos sempre acreditaram na existência de uma força maior, ou pelo menos uma grande quantidade, um Deus ou uma divindade qualquer, este todo poderoso pode ser descrito como uma entidade onipresente, onisciente e onipotente, cabendo a cada indivíduo aceitar e louvar a sua existência e seus poderes, temendo-o para que não fosse vítima de sua ira ou de sua agressão, esta força era descrita como severa e todos deveriam temê-lo, sob pena de ser punido de forma exemplar e autoritária.

A Doutrina dos Espíritos, codificada em 1857, pelo pedagogo francês Hippollite Leon Denizard Rivail, nos mostra uma realidade bastante diferente, suas revelações nos mostraram a existência de mundos que se interligam diretamente, somos espíritos que nos revezamos em locais da existência humana, num momento estamos encarnados e “presos” a um corpo material ou estamos livres e vivendo como espíritos, todas estas vivências e experiências existem para que alcancemos o progresso e o desenvolvimento enquanto seres humanos.

Quando encarnados trazemos as limitações da matéria, estamos “presos” no mundo material e temos nossas potencialidades reduzidas, neste momento devemos nos asseverar de que estas limitações são provisórias e servem como instrumento de depuração e de reequilíbrio, para que construamos valores morais e espirituais emergenciais para nosso progresso e nosso desenvolvimento como espíritos eternos e imortais.

Nos escritos que nos foram enviados pelos espíritos, os indivíduos encarnados estão em convivência contínua com os irmãos desencarnados, estes últimos estão mais próximos dos encarnados do que imaginamos, somos por eles influenciados e muitas vezes somos por eles controlados e dominados, gerando verdadeiros desajustes e desequilíbrios espirituais, emocionais e psicológicos.

Os ensinamentos espíritas eram revolucionários e rompiam com tradições antigas e arraigadas na sociedade, às influências de seres desencarnados geravam grandes constrangimentos para movimentos religiosos tradicionais que, na maioria das vezes desacreditavam na existência de espíritos, muitas religiões importantes defendiam a tese de que ao morrer o indivíduo esperaria pelo grande tribunal, onde seríamos julgados pelos nossos gestos e nossos comportamentos, se condenados seríamos conduzidos para o exílio eterno e se absolvidos elevados nos padrões de desenvolvimento. Nesta concepção muitas perguntas ficavam sem respostas, o destino de todos ainda era uma grande incógnita e deveríamos acreditar no poder de Deus e na intervenção desta entidade na vida e nos rumos de cada um de nós. Indagar, perguntar e buscar respostas eram visto como atitudes de indivíduos de pouco fé, cujas indagações eram mal vistas pelas entidades superiores, deveríamos acreditar cegamente nos conhecimentos e crenças da religião.

Perseguições á nova Doutrina foram motivadas pelos ensinamentos trazidos, pelo estímulo ao conhecimento, ao estudo e a reflexão, o Espiritismo estava centrado na leitura, nas discussões salutares e na busca constante pela verdade e na defesa intransigente da ciência, que motivaram o codificador a defender a tese de que se a Doutrina defender ideias e a ciência mostrar que estas ideias são equivocadas, aceite as explicações da ciência.

Depois dos avanços e desafios trazidos pela Revolução Industrial, pela urbanização, pelo incremento da tecnologia e por muitas teorias que abarcavam várias áreas da ciência e do conhecimento humano, o mundo sentia a necessidade de um conjunto de ideias e pensamentos religiosos para poder estimular a compreensão da sociedade e da evolução dos seres humanos. Neste momento surge a chamada Terceira Revelação, a codificação do Espiritismo mostra para a sociedade que vivemos no mundo material, mas somos espíritos, estagiamos na matéria e voltaremos ao mundo espiritual e nesta alternância somos estimulados ao progresso intelectual, moral, espiritual e psicológico, sem estes avanços continuaremos fazendo estágios no mundo material, que deve ser vistos como uma verdadeira escola, cujos conhecimentos são fundamentais para nosso progresso e desenvolvimento.

O século XIX pode ser descrito como um período de grandes descobertas e conhecimentos, as novidades trazidas pelo mundo espiritual nos ajuda a compreender, que muitos dos nossos pensamentos, muito de nossas descobertas e muitas das nossas ideias não são verdadeiramente nossas, são inspirações que nos são trazidas por espíritos em condições mais avançadas no desenvolvimento, espíritos mais avançados no amor e na solidariedade, espíritos irmãos que nutrem empatia e nos auxiliam em nosso progresso, mesmo sabendo que muitos dos aplausos serão canalizados para os encarnados.

A atuação dos espíritos superiores está atrelada a uma boa conduta dos indivíduos, quando atraímos boas energias, quando oramos com fervor, quando fazemos o bem e desenvolvemos nossa empatia e solidariedade, quando fazemos caridade, quando emitimos bons pensamentos e cultivamos bons valores morais, sentimos a presença destes irmãos em nossa vida e em nosso cotidiano, estes irmãos nos inspiram, nos auxiliam e nos protegem, além de nos amparar em momentos de medos e incertezas, como nos momentos que vivemos na contemporaneidade.

A Doutrina dos Espíritos vem nos mostrar que nossas atitudes cotidianas vão definir os rumos e os caminhos que vamos seguir num futuro imediato, mostra-nos ainda, que muitas vezes somos conduzidos a novas encarnações com variados desajustes físicos, emocionais ou sensoriais, estes devem ser encarados não como uma punição de Deus, mas como um processo educativo. Muitos cidadãos teimam em acreditar que se trata de uma punição, com esta visão, acabam se descontentando com Deus, se afastando da religião e se transformando em pessoas descrentes, a Doutrina nos mostra que tudo deve ser visto como um processo de reeducação espiritual. Estas limitações tendem a auxiliar estes irmãos num processo de auto-reflexão, gerando uma depuração espiritual que abre espaço para um maior entendimento de como são regidas as leis de Deus, quando as afrontamos somos levados a uma reparação e quando as aceitamos e as desenvolvemos somos inspirados e conduzidos a novas experiências de progresso e desenvolvimento.

A Doutrina dos Espíritos assusta muitas pessoas e angaria inúmeros detratores e até inimigos declarados, muitas pessoas se esquivam das reflexões espíritas, pois se assustam com suas mazelas espirituais interiores, temem uma reflexão mais íntima porque não querem descobrir situações de desequilíbrios de vidas passadas, muitos querem se ver como heróis, mocinhos, príncipes ou rainhas, mas na verdade são indigentes espirituais, suas vivências anteriores de encarnações pregressas revelam situações degradantes de corrupção, de detrações, de atentados contra a honra alheia, de maldades verdadeiras, de violências e desrespeitos, estas experiências explicam as condições lastimáveis que vivem na contemporaneidade, suas dificuldades e medos cultivados intimamente.

Muitos acreditam que ao fugir desta situação pregressa degradante estão tomando as melhores atitudes e agindo de forma correta, neste momento é importante destacar que o passado de cada indivíduo é marcado por inúmeros equívocos e constrangimentos, todos somos verdugos de nós mesmos, cometemos erros, todos passamos por momentos de desajustes e desequilíbrios, todos cultivamos vícios variados, todos desejamos o mal alheio e trabalhamos para que este mal se efetivasse, esta história pregressa todos temos em comum e não devemos nos esconder desta realidade dolorosa e lastimável. Se tivemos um passado com tantos descaminhos, devemos compreender que todos estamos condenados a um futuro glorioso, desde que nos encaremos como seres humanos, deixemos de lado as atitudes mesquinhas e equivocadas e nos amparemos na convicção de temos todas as condições de construir um futuro promissor e centrado nos ideais e nos conhecimentos que nos são mostrados pelo Espiritismo.

Algumas obras nos mostram experiências assustadoras de espíritos que se compraziam no mal, na degradação e na violência cotidianas, espíritos ora atraídos pelos adornos do mal e do desajuste, entidades que vitimaram inúmeros indivíduos, geraram dores das mais violentas possíveis e que, depois de experiências reparadoras conseguiram se fortalecer e se transformaram em verdadeiros agentes do amor e da solidariedade, irmãos que aceitaram seu passado de dificuldades e desequilíbrios e compreenderam que não poderiam alterar o passado, mas que, com certeza, conseguiriam construir um novo futuro, como nos asseverou o médium mineiro Francisco Cândido Xavier.

No livro Sexo e Destino, psicografia de Chico Xavier e ditado pelo espírito André Luiz, acompanhamos a trajetória das famílias Torres e Nogueira, entrelaçadas em um novelo de degradação sexual, fragilidades morais e desequilíbrios emocionais, e percebemos o quanto espíritos desencarnados influenciam na vida das pessoas que se encontram no corpo material, nesta obra acompanhamos o irmão Moreira canalizando seu poder espiritual para comandar a vida de Cláudio Nogueira e influenciá-lo em decisões equivocadas, os espíritos estão presentes em nossas vidas muito mais do que imaginamos.

O esquecimento dos valores morais está gerando graves constrangimentos para o ser humano na sociedade contemporânea, a degradação do Meio Ambiente, o incremento do poder e da influência do dinheiro e dos valores materiais, o crescimento acelerado da desigualdade e da pobreza, o xenofobismo, as guerras e a violência entre países e dentro das próprias nações, todas estas situações estão conduzindo a coletividade a uma intensa destruição e a grandes extremos. A perda dos valores centrados na solidariedade, na ética e no amor podem conduzir a humanidade a situações de desesperança e sofrimentos, retomar os vínculos com a espiritualidade, ouvir as inspirações dos bons espíritos e se deixar conduzir por energias saudáveis e edificantes são medidas emergenciais que todos os indivíduos devem cultivar para que o mundo volte a ser um espaço de crescimento e desenvolvimento coletivo.

A Doutrina dos Espíritos foi trazida para a humanidade com este objetivo, sua missão é combater o materialismo que crassa a sociedade mundial, muitas vezes acreditamos que esta religião, filosofia ou ciência, como a conhecemos, não está tendo êxito em sua missão, mas na verdade a transformação é lenta e está em curso, muitos não conseguem enxergar os movimentos em curso, mas todos sabemos que o grande condutor do Planeta Terra é o Mestre Jesus, diante disso, percebemos que como o condutor é competente as coisas devem acontecer rapidamente e a melhora não tardará a chegar, como nos avisou Francisco Cândido Xavier, em 2057 a Terra será um mundo de regeneração, exatamente duzentos anos depois da codificação da Doutrina Espírita, o tempo está cada vez mais próximo e cabe a cada um de nós se preparar para esta nova empreitada, afinal, não temos mais tempo a perder com questões menores e inconsistentes.

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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