Onde erramos?

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As mudanças na sociedade contemporânea criam sentimentos variados, de um lado, encontramos grupos eufóricos com o desenvolvimento da tecnologia, novos modelos de negócios e grandes descobertas científicas, com ganhos para os seres humanos. De outro lado, percebemos uma desesperança que nos geram grandes preocupações pelo crescimento assustador da pobreza, ascensão da desigualdade, incremento dos conflitos militares e o aumento da exclusão, afinal mais da metade da população global vive em condições indignas, sem perspectivas, sem oportunidades, sendo obrigados a se entregarem a ocupações precárias e insalubres, com isso, percebemos uma perpetuação da indignidade dos indivíduos. Neste cenário, poderíamos destacar uma questão que nos aflige: onde erramos como seres humanos?

Ao analisarmos as visões destes dois grupos, percebemos que ambos estão corretos em suas análises, vivemos num momento de grande desenvolvimento das tecnologias, com potencial para melhorarmos as condições de vida dos seres humanos, mas para que isso aconteça, a contento, precisamos encontrar um ponto de equilíbrio nestas percepções. Os avanços do conhecimento científico é um ativo fundamental da civilização e deve melhorar as condições de vida das pessoas e das comunidades, não apenas para uma pequena parte dos indivíduos, afinal, estamos vislumbrando uma situação marcada por um grande distanciamento dos grupos sociais, uns muito ricos e poderosos, dotados de grande poder material e, ao mesmo tempo, uma legião de miseráveis degradados e sem perspectivas palpáveis de melhoras, culminando, certamente, em uma verdadeira guerra civil.

Estamos caminhando a passos largos para a metade do século XXI e as discussões são primitivas, estamos questionando valores que nos definem como civilização, estamos deixando de lado o combate aos preconceitos, deixando de defender o clima, promover a inclusão social e a diversidade, assuntos prioritários estão sendo colocados em segundo plano. No lugar, estamos nos concentrando em assuntos desnecessários e desconexos, defendendo privilégios de terceiros que pouco trazem de positivo para a sociedade, estamos perdendo tempo visualizando fake News e as divulgando para acreditar que somos conscientes politicamente, defendendo brutalidades e acreditando que isso resolve o problema da segurança pública, além de defender uma falsa liberdade de expressão que serve apenas para gerar uma sociedade alienada, ignorante e facilmente dominada.

Precisamos estimular discussões mais sólidas e maduras, afinal, num mundo de constantes transformações estamos ficando, cada vez mais atrasados, sem espaços e sempre dependentes tecnologicamente, constantemente escravos das novas tecnologias, máquinas e equipamentos que compramos a preço de ouro e nos descrevemos como empreendedores e inovadores, será mesmo?

Precisamos repensar os pactos de mediocridades que cultivamos todos os anos, precisamos compreender que para nos transformarmos numa nação civilizada necessitamos incluir a nossa população, dando oportunidade e chance de ascensão social, investindo fortemente em capital humano, diversificando nossa pauta produtiva e deixando de fomentar o rentismo que perdura nos primórdios da sociedade.

Para respondermos à pergunta inicial precisamos saber o que queremos no futuro: será que queremos cultivar a desigualdade e a exclusão que caracterizam a sociedade brasileira? Muitos querem, estão satisfeitos com a situação que vivenciamos, agora, para aqueles que estão preocupados, precisamos rever as discussões desnecessárias e equivocadas que dominam a sociedade, precisamos rever prioridades, garantir direitos básicos, como água potável, saúde, educação e alimentação. Em suma, o direito a uma vida digna.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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