Novo governo com velhos desafios

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1969

Depois da batalha da reeleição, o governo tenta juntar os cacos para dar sequência às transformações dos anos anteriores e abrir novas oportunidades e perspectivas para o país, tendo que conviver com um país dividido, com grande desconfiança do capital nacional e internacional, além da desconfiança de muitos atores sociais, o trabalho de reconstrução pode ser muito mais complexo do que imaginam, transformando o segundo mandato em um grande martírio para a sociedade.

Depois de quatro anos de governo, os resultados foram contraditórios, avanços sociais em muitas áreas, desemprego baixo, crescimento do ensino superior, redução da exclusão social, são alguns dos pontos destacados como positivos e reconhecido pelos críticos menos ideológicos e mais racionais; de outro lado, encontramos, uma inflação no topo da meta, investimentos em queda, juros altos, desajuste fiscal, déficit externo e perspectivas futuras não muito animadoras, um quadro bastante peculiar para um país visto, anteriormente, como uma das grandes apostas dos investidores estrangeiros.

O Brasil teve, neste ano, uma campanha extremamente agressiva, marcada por acusações de todos os lados e uma grande desconstrução dos candidatos, onde os instrumentos utilizados nem sempre foram marcados pela ética e por valores republicanos, mas, na maioria das vezes, pelo jogo rasteiro da política, onde o mais importante era demonstrar a fragilidade do outro e não a sua superioridade, nesta estratégia a verdade é rifada em prol dos interesses imediatos do poder, a luta pelo poder dita as regras e os caminhos que devem ser seguidos, uma estratégia inspirada no grande intelectual florentino Nicolau Maquiavel.

Em pleno desenrolar das eleições, o atual governo, com sua candidata a reeleição fez duros ataques ao setor financeiro, isto porque, uma das candidatas defendeu a independência do Banco Central, para refutar tal ideia, propagandeou, no horário eleitoral, uma propaganda que relacionava a independência ao aumento da pobreza e do desemprego, gerando um clima pesado com os bancos, depois das eleições, cabe ao governo reconstruir pontes com os setores, sob pena de ver sua imagem afetada negativamente, com expectativas negativas e perspectivas nebulosas.

Segundo os governistas, os opositores eram representantes do mal, do atraso e dos interesses da burguesia e, como tal, o melhor era reeleger o governo, este sim, virtuoso, democrático e movido pelo interesse dos mais pobres, pois, nunca na história deste país, as classes mais necessitadas e desfavorecidas tiveram acesso aos bens de consumo como agora e isso era um mérito dos últimos dois governantes, neste momento cabe uma indagação: será que todos estes avanços são sustentáveis ou se perderão com os solavancos da economia atual?

Caso a oposição ganhasse a eleição, todas as melhoras acumuladas nestes doze anos estariam ameaçadas, os novos governantes adotariam medidas recessivas que mergulharia a economia em uma severa recessão, cujos impactos para os trabalhadores seriam bastante negativos, isso porque, um governo de oposição seria um governo para poucos, somente para os ricos e afortunados, enquanto o governo atual é um governo democrático e popular, diante deste argumento, os pobres e os menos favorecidos foram convencidos a votar no governo de plantão, sob pena de perder as benesses acumuladas nestes anos, tais como Bolsa Família, Prouni, Minha Casa Minha Vida, Fies, etc… só um governo popular traria tantos avanços para as camadas mais pobres da sociedade.

Promessas de mais avanços foram feitas para um possível segundo mandato, além do aumento dos gastos sociais, destacamos ainda, a promessa do governo de incrementar o crescimento econômico, que nestes últimos anos foi reduzido devido aos impactos da crise financeira internacional, sem a crise, o crescimento seria elevado e os benefícios seriam maiores para os mais pobres, a culpa do baixo crescimento é da crise externa, o governo não tem culpa nenhuma, pobre governo, sempre pensando nos pobres.

A inflação é culpa dos choques externos, aumentos gerados por quebras de safras e desequilíbrios nas cadeias globais, nada tem a ver, portanto, com as intervenções do governo, que investiu muito, mas todos os investimentos visavam uma melhoria das condições da economia, até desonerações foram estimuladas pelo governo, além de redução das tarifas de ônibus, dos combustíveis e da energia elétrica, sempre visando uma melhoria na renda dos trabalhadores, mesmo assim, a inflação teima em cair, a resistência está no setor de serviços, fruto dos avanços da classe média, diante disso, concluímos que a inflação é um mal necessário, o seu combate gera mais ônus para o setor produtivo do que bônus.

Outro ponto importante a se destacar, é a perda de confiança do mercado com relação ao país, de queridinho dos investidores no final do governo Lula a grande incógnita na atualidade, a busca pela credibilidade perdida é um dos grandes desafios do governo atual, sob pena de ver seu grau de investimento em risco, o que elevaria os custos de captação de recursos no mercado internacional, agravando os desequilíbrios fiscais e financeiros. Uma boa oportunidade para reverter esta situação é a definição do novo ministro da economia, se emplacar o virtuoso ortodoxo Henrique Meireles, o mercado vai adorar a escolha e os custos do ajuste serão menores agora, se o escolhido for o economista Nelson Barbosa, também respeitado pelos agentes econômico, mas com um perfil mais heterodoxo, o custo do ajuste será maior e as dificuldades serão mais intensas, obrigando o governo a adotar políticas mais rígidas com forte impacto sobre o emprego e a renda.

Os custos dos ajustes econômicos não podem ser negligenciados. O ano de 2015 será difícil para o país, colocar a economia nos trilhos vai exigir medidas nem sempre populares, o que percebemos é que, as dificuldades escondidas na campanha eleitoral existem e são imensas, negligenciar com esta situação pode aumentar a instabilidade e transformar um recessão inicial em algo muito mais agressivo, com resultados conhecidos por todos: desemprego em alta e renda em baixa. O momento é de incertezas e definições, pois somente agora, vamos perceber claramente quais serão as opções escolhidas por este governo, os dias de bonança terminaram, o dinheiro farto acabou, os recursos externos estão em baixa e o endividamento do Estado estão o limite, agora sim, podemos esperar para saber por quem os sinos tocam.