“Nexus”, por Hélio Schwartsman

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Hélio Schwartsman, Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”.

Folha de São Paulo, 29/09/2024.

Vale a pena ler “Nexus”, o novo livro do historiador israelense Yuval Noah Harari. A exemplo do que fez em obras anteriores, ele discute coisas relevantes e escreve maravilhosamente bem.

O tema desta vez são as redes de informação e a inteligência artificial. Mestre das generalizações, Harari discorre sobre esses tópicos encaixando-os numa narrativa totalizante. O mundo é o que é em larga medida por causa das diferentes formas como lidamos com informações e as realidades imaginárias que elas geram.

A diferença entre democracias e ditaduras é que as primeiras imprimem transparência ao fluxo de informações, permitindo que elas sejam avaliadas pelos cidadãos e eventualmente corrigidas, enquanto as últimas buscam apenas controlar os dados para controlar a sociedade.

Outro ponto alto de Harari é que ele entremeia a narrativa principal com interessantíssimas subtramas e anedotas. Em “Nexus”, ele faz ótimas observações sobre religiões, seus livros sagrados e epifenômenos como a caça às bruxas, além de contar boas histórias como a do pombo-correio Cher Ami, herói da Primeira Guerra Mundial.

As virtudes de Harari acabam escondendo alguns defeitos. A narrativa límpida dá a sensação de que tudo o que o autor diz já é dado como líquido e certo pela ciência, o que não necessariamente é o caso. Ele até diz que as coisas são mais complicadas, mas raramente dá voz a argumentos contrários. Falta ao texto um pouco daquela humildade meio forçada do discurso acadêmico, mas que ajuda a mostrar que modelos e chaves-explicativas têm limites.

Outro ponto fraco é o caráter altamente especulativo de teses apresentadas sobretudo nas partes finais do livro, que tratam da IA. Harari não esconde que especula. Mas falta alertar para os riscos. Em seus livros anteriores, ele destacava a ameaça que a IA representava para os empregos; neste ele afirma, sem maiores explicações, que as novas tecnologias que eliminam empregos acabam criando novas funções.

O mundo é mesmo complicado, mas isso não elimina o prazer que é ler Harari.

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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