Mundo Multipolar

Compartilhe

Vivemos momentos de grandes alterações nas estruturas econômicas e produtivas, com impactos generalizados por todas as regiões, um ambiente centrado numa crescente concorrência, novos modelos de negócios, predominância da internet e da economia digital, além de fortes transformações no mundo do trabalho. Anteriormente, as discussões sobre a tecnologia e o emprego preocupavam os trabalhadores pouco qualificados, na contemporaneidade os trabalhadores mais qualificados sentem na pele a substituição pela inteligência artificial, pelos universos criados pelo ChapGPT, uma verdadeira revolução nos costumes, comportamentos, hábitos, gerando medos, receios, reações agressivas e preocupantes.

Neste cenário de fortes transformações geopolíticas, percebemos o surgimento e a consolidação de um mundo multipolar, novos atores globais estão ganhando poder econômico e força política, levando as nações hegemônicas a terem que repensar seus comportamentos, seus valores e suas formas de atuação nos cenários internacionais. Desde o desaparecimento da União Soviética, os Estados Unidos passaram a dominar todos os eixos da economia internacional, domínio tecnológico, controle militar, avançado poder científico, além do controle da moeda internacional, sólida estrutura econômica e forte influência cultural sobre todas as regiões do mundo.

Na contemporaneidade, percebemos movimentos internacionais interessantes, surgem novas lideranças globais, novos polos tecnológicos, novos modelos de negócios e, com isso, percebemos os conflitos geopolíticos em franco crescimento. Os Estados Unidos não conseguem controlar as outras nações, tendo dificuldade de impor seus ganhos econômicos, seus valores e interesses políticos, desta forma, percebemos os conflitos com outros países, estimulando confrontos bélicos e militares, espaço que domina com maestria, lembrando-os que seus gastos militares são os mais elevados do mundo, sendo que seu orçamento ultrapassa mais 900 bilhões de dólares, quase metade do PIB brasileiro.

Neste novo momento, estamos vivenciando o surgimento da ascensão chinesa, uma economia que ganhou relevância no cenário internacional desde 1980, saindo de uma economia intermediária para se colocar como a segunda maior economia global, responsável por quase 34% da estrutura industrial mundial, dono de grande desenvolvimento tecnológico, fortes incentivos em ciência e pesquisa científica, onde encontramos muitos setores mais avançados que os norte-americanos, além de fortes superávits comerciais e acúmulos de trilhões de dólares de reservas monetárias internacionais, com isso, percebemos um forte constrangimento para as nações ocidentais, países que controlaram a economia internacional desde o século XVIII, e que passam a retomar o controle dos rumos da quarta revolução industrial.

Desde os anos 1990, os Estados Unidos dominam a sociedade internacional, impondo seus interesses, provocando conflitos militares e estimulando movimentos de outras nações, buscando impor seus valores, seus comportamentos e interesses monetários, usando seu poder monetário, sua moeda e seu sistema financeiro como forma de manter sua hegemonia, impondo suas teses econômicas, incentivando seu liberalismo, estimulando as privatizações e a redução do Estado na economia, teses que, na maioria da vezes, não eram seguidas como eram preconizadas, escondendo medidas protecionistas, intervencionistas para enganar os incautos.

O surgimento de um mundo multipolar, como o que estamos percebendo, exige forte atuação dos governos nos cenários internacionais, novas negociações globais, estimulando discussões geopolíticas, a construção de estratégias mais elaboradas e que vislumbrem o médio e o longo prazo das sociedades, além de reflexões nacionais, estimulando as universidades e os centros de pesquisas para construírem um novo cenário, mais sólido e consistente, deixando de lado uma visão imediatista, individualista e centrada nos interesses coletivos, retomando valores de civilidade, valorizando o meio ambiente, a sustentabilidade e buscando a construção de novas esperanças, sem isso, novamente continuaremos nos vendendo para os poderes dominantes que vibram e estimulam uma visão subdesenvolvida, atrasada, dependente e subalterna.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 12/04/2023.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

Leia mais

Mais Posts

×

Olá!

Entre no grupo de WhatsApp!

× WhatsApp!