É comum discutirmos neste espaço as crescentes instabilidades e incertezas da economia global, os ciclos econômicos se repetem constantemente, gerando momentos de crescimento e quedas abruptas, que geram preocupações, medos e desequilíbrios para toda a comunidade internacional. Neste momento, percebemos que a sociedade mundial passa por grandes transformações, modelos dominantes e consolidados durante décadas estão sendo superados por novos modelos de negócios, gerando poucos empregos, grandes incertezas, medos e preocupações que repercutem sobre as relações sociais, aumentando os conflitos nas estruturas produtivas, desagregações familiares, crescimento da depressão, ansiedades e novos desequilíbrios sociais, psicológicos e emocionais.
A integração econômica ganhou relevância na economia internacional desde os anos 1980, aumentando a competição entre os agentes econômicos, incrementando a concorrência entre empresas, governos e indivíduos, impulsionando a produtividade dos setores produtivos, aumentando a complexidade tecnológica, barateando produtos, mercadorias e serviços. Neste movimento, percebemos uma busca crescente por novos espaços de produção em escala global, os grandes conglomerados passaram a buscar países com mão-de-obra abundante e salários reduzidos, com isso, os países ocidentais perderam empresas e as nações asiáticas ganharam novos investimentos, novos espaços de acumulação, fortalecendo os oligopólios e consolidando um novo modelo produtivo global.
Neste momento surgem as cadeias de produção global, onde as nações orientais ganham espaços na lógica produtiva e os grandes conglomerados econômicos e financeiros passam a pressionar as nações em desenvolvimento, exigindo a adoção de medidas liberalizantes, redução do protecionismo, aumentando a concorrência, gerando a desnacionalização dos setores produtivos, reduzindo benefícios sociais, degradando o trabalho e aumentando os ganhos dos setores financeiros, que ganham lucros crescentes com taxas de juros elevadas em detrimento da fragilidade do poder de compra da população, aumentando a desigualdade e a degradação das condições sociais, um fenômeno desta envergadura se espalhou para a comunidade internacional.
A pandemia aumentou os desequilíbrios econômicos, matando milhões de indivíduos em escala internacional, degradando as cadeias produtivas, impactando sobre a oferta de produtos, elevando os custos produtivos e trouxeram de volta o fantasma da economia mundial, levando os bancos centrais a adotarem choques de juros que aumentam os custos do capital, elevando o endividamento, degradando a renda das famílias, reduzindo as vendas e criando ambientes de fragilidades econômicas.
Dentro deste cenário de incertezas e instabilidades crescentes, o conflito militar entre Ucrânia e Rússia traz de volta um outro fantasma na sociedade internacional, o medo de um conflito nuclear, cujas consequências são impensáveis. A entrada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no conflito, além dos países europeus e asiáticos, como a China e a Índia, podem levar a sociedade internacional a uma terceira guerra mundial, com dimensões inimagináveis, impensáveis e destrutivas.
Além dos desequilíbrios globais destacamos a fragilização da democracia, levando governos das mais variadas matizes ideológicas a adotarem políticas autoritárias, fragilizando a democracia, criminalizando a política, reprimindo as minorias, aparelhando o judiciário, degradando as instituições de Estado e garantindo ganhos substanciais para setores específicos da comunidade, estimulando o cassino financeiro, culminando num processo de desindustrialização e aumentando a dependência da estrutura econômica internacional.
Neste ambiente de incertezas e instabilidades, marcados por momentos de medos e ameaças de desastres nucleares, precisamos reconstruir os instrumentos para superarmos este momento de desequilíbrios globais. A coesão política interna é fundamental, lideranças conscientes com forte capacidade de aglutinação dos agentes sociais, além da visão estratégica e o planejamento para construirmos um verdadeiro projeto nacional, sem isso, continuaremos fomentando discussões desnecessárias, discursos de ódio e ressentimento, difundindo inverdades e caminhando diretamente para o caos.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 19/10/2022.