Depois de grandes transformações na economia internacional no século XXI, geradas pela crise financeira dos anos 2007/2008, a ascensão da economia chinesa e a pandemia, responsável por mais de seis milhões de mortes no globo, percebemos que o pensamento neoliberal vem perdendo espaço na sociedade mundial, neste cenário percebemos o crescimento do intervencionismo, a retomada das políticas industriais, o incremento do protecionismo, o aumento dos subsídios governamentais e o retorno do Estado como agente planejador da economia, uma verdadeira transformação em curso na sociedade.
O pensamento neoliberal, que ganhou relevância nos anos 1970 em decorrência do enfraquecimento do pensamento desenvolvimentista, com o fortalecimento dos mercados como agente de desenvolvimento, propagandeando a redução do papel do Estado na economia, o crescimento da privatização e da desestatização, além do incremento da abertura econômica, aumento da concorrência, diminuição dos subsídios dos setores produtivos e a redução das políticas protecionistas, vistas como instrumentos de fortalecimento da economia nacional, melhorando a produtividade dos setores produtivos e o enriquecimento das nações. Como balanço destas propostas encontramos um crescimento da desindustrialização, desnacionalização, dependência externa e perpetuação do modelo primário exportador.
A economia brasileira vem passando por essas transformações estruturais, alternando modelos caracterizados por mais Estado e modelos que rechaçam as intervenções estatais, gerando momentos de instabilidades e incertezas, gerando visões e políticas públicas diferentes, uns acreditando que o mercado deve ser o agente que deve liderar o desenvolvimento econômico, outros acreditando que o governo nacional e seu investimento devem ser o motor do crescimento econômico. Neste cenário, percebemos que os grupos econômicos vivem num conflito ideológico, levando a sociedade a ausência de um verdadeiro projeto nacional, sem rumo claro e sem direcionamento próprio. Na minha visão, essa discussão é desnecessária, ultrapassada e equivocada, para construir uma sociedade mais desenvolvida, precisamos unir esforços para encontrarmos o caminho do desenvolvimento econômico, atacar fortemente as desigualdades que se perpetuam no país, investir fortemente em educação, tributando aqueles que pagam pouco imposto, revendo os subsídios e atacando as raízes da insegurança que aflige a sociedade brasileira.
Ao analisar a economia nacional e observando os indicadores nacionais encontramos muitos dados positivos internamente, taxa de juros em diminuição, redução do desemprego, inflação na mínima de dez anos, reservas internacionais em mais de US$ 350 bilhões, superávits comerciais de US$ 100 bilhões, investimentos em crescimento, Bolsas de Valores em ascensão, dados estes que levaram as agências de classificação de risco a melhorarem as notas dos títulos nacionais, com isso, essas mesmas agências acreditam que o grande desajuste no Brasil está no campo político, nos conflitos e incertezas na lógica política, onde os grupos se digladiam buscando seus interesses imediatos e deixando de lado os interesses nacionais.
Neste cenário, percebemos que os indicadores econômicos são sólidos e consistentes, mas precisamos ousar na condução da política econômica para que consigamos reduzir as grandes desigualdades históricas que acumulamos. Precisamos ainda, primeiramente atacar essas desigualdades acumuladas durante séculos, deixando de lado polarizações equivocadas e ultrapassadas que servem para incrementar nossa incivilidade e deixando claro que não estamos preparados pelos ventos da contemporaneidade, marcados por medos, incertezas e instabilidades.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário;