Medos

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O mundo vem passando por grandes transformações, de um lado percebemos alterações profundas nas estruturas econômica e produtiva, aumento da tecnologia, fortalecimento dos setores financeiros, aumento do desemprego, novas exigências nos mercados, incremento dos conflitos culturais e degradação do meio ambiente, de outro, uma pandemia que espalha destruição em todos os continentes, mortes, medos e preocupações generalizadas, cujos impactos são os desequilíbrios emocionais, afetivos, financeiros e psicológicos, diante disso, percebemos a necessidade de reconstruir as bases da sociedade global.

O crescimento tecnológico ganhou espaço em todas as sociedades, as máquinas aumentam a produtividade do trabalho, garantem o crescimento das riquezas, o mercado de consumo passa por mudanças variadas, consolidando os mercados virtuais, as compras geram novos prazeres e satisfações, criando novas necessidades e aquisições, levando aos indivíduos os sabores do consumo desenfreado.

A tecnologia deve ser vista como uma grande conquista para a civilização, os benefícios devem ser socializados para todas as comunidades, enquanto estes frutos do conhecimento ficarem restritos a pequenos grupos da sociedade, os conflitos tendem a crescer de forma acelerada, gerando pulsões de medos e ressentimentos e, num período posterior podem gerar degradações e violências.

Nesta sociedade, os conflitos estão aumentando, os medos estão se mostrando cada mais evidentes, os grupos sociais estão em confrontos, todos buscando seus interesses imediatos, defendendo seus grupos sociais e esquecendo os interesses maiores da sociedade. Neste momento, muitos grupos sociais carecem de condições mínimas de sobrevivência, o desemprego e o subemprego crescem de forma acelerada, criando uma massa crescente de indignidade, consolidando um caldo de desesperança e de revolta. Numa sociedade, como a brasileira, percebemos que mais de cem milhões de pessoas não possuem saneamento básico, ruas sem asfaltos, água encanada e muito menos acesso a internet, uma coletividade que vive no século XXI mas traz, para seu desespero geral, o atraso e a degradação do século XIX, com isso, os medos contemporâneos alimentam as violências e as desesperanças.

Na pandemia, percebemos a importância da ciência, do conhecimento e da pesquisa, neste momento de medos que consumiram mais de 6 milhões de pessoas na sociedade mundial, um dos maiores aprendizados da sociedade contemporânea foi a união dos cientistas e pesquisadores de inúmeras nacionalidades, que conseguiram responder rapidamente com uma vacina em período recorde de tempo, mostrando a todos a relevância da união de esforços em prol da comunidade.

A pandemia está nos trazendo vários ensinamentos valiosos para a comunidade internacional, dentre elas, destacamos a união dos povos, das comunidades científicas e pesquisadores, viabilizando a vacina e combater os males do coronavírus, um desafio global que exigem dedicação e investimentos de todos os governos, superando este modelo centrado na concorrência e na competição, substituindo por novos paradigmas de cooperação e de auxílios, deixando de lado os interesses mesquinhos e imediatos em prol de uma sociedade mais igualitária, mais civilizada, onde todos os cidadãos possam participar dos frutos do progresso pela tecnologia, transformando os medos contemporâneos e as desesperanças em espaços de esperança e de solidariedade.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre e Doutor em Sociologia/Unesp, Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 23/12/2020.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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