Inovação

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As transformações geradas pela globalização da economia impulsionaram as estruturas produtivas, alterando as relações entre trabalhadores e empresários, reduzindo os instrumentos de intervenção dos Estados Nacionais, alterando os interesses nacionais e novas formas de autonomia, criando oportunidades promissoras, desafios inéditos, repensando as estratégias das organizações e criando novas formas de planejamento.

Neste momento de grandes inquietações, incertezas e instabilidades no sistema econômico global, reencontrei-me com os escritos e as reflexões do economista austríaco Joseph Schumpeter, autor de clássicos da ciência econômica “Capitalismo, Socialismo e Democracia” e “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, obras fundamentais para refletirmos e compreendermos conceitos que ganharam espaço na sociedade, tais como destruição criativa e empreendedorismo.

Para o economista austríaco, o empreendedor deveria ser visto como o agente do desenvolvimento econômico, responsável por grandes inovações que impulsionava a sociedade, garantindo novos espaços de acumulação, criando novos modelos de negócios, gerando riquezas maiores, possibilitando novas formas de acumulação, promovendo o crescimento econômico, transformando o ambiente econômico e produtivo.

No pensamento de Schumpeter, o sistema capitalista tem como característica inerente, uma força que ele denomina de processo de destruição criativa, fundamentando-se no princípio que reside no desenvolvimento de novos produtos, novos bens e novas mercadorias, além de novos métodos de produção e novos mercados; em síntese, trata-se de destruir o velho para se criar o novo, gerando conflitos entre ganhadores e perdedores, instabilidades sociais e preocupações constantes, neste momento, faz-se fundamental a intermediação e a construção de novos consensos políticos, estimulando o surgimento de líderes com capacidade de administrar e evitar desequilíbrios generalizados.

Nos últimos anos percebemos o crescimento, na sociedade internacional, das discussões sobre o empreendedorismo, visto como um processo de criação de algo novo ou diferente, que agrega valor, que exige dedicação e esforço, e que incorre em riscos financeiros, psicológicos, emocionais e sociais, cujo retorno, na maioria das vezes, é a satisfação econômica e pessoal. Embora entendamos a importância do empreendedorismo para a sociedade contemporânea, percebemos que empreender depende de inúmeros fatores que devem atuar conjuntamente, exigindo políticas públicas concatenadas como forma de identificar as oportunidades, investimentos maciços em educação, além da construção de instrumentos de viabilização econômica, viabilizando instrumentos de financiamento, transformando ideias e pensamentos difusos em espaços de inovação e a geração de valor.

Pela definição de Schumpeter, o agente básico desse processo de destruição criativa está na figura do empreendedor, indivíduo que vislumbra novos horizontes, novas oportunidades, dotado de grande criatividade, sensibilidade, visionarismo e imaginação. Nesta visão, o empreendedor é dotado de grande capacidade de criação, estimulando a geração de empregos, aumentando a riqueza material e impulsionando o sistema econômico e produtivo, desenvolvendo novos modelos de negócios e contribuindo para o desenvolvimento econômico. Seguindo os conceitos descritos pelo economista austríaco, estamos distantes de construirmos um ambiente propício para a inovação e para o empreendedorismo. O estímulo do empreendedorismo e da inovação são fundamentais para a competitividade da economia
e da melhoria das condições de vida da população, mas não devemos nos esquecer que vivemos em uma sociedade marcada por uma educação precária e fragilizada, com taxas de juros escorchantes, investimentos produtivos limitados, diminuições crescentes de investimentos em ciência e tecnologia, centros de pesquisa e de inovação sendo fechados, infraestrutura degradada, desemprego elevado, informalidade dominante e desempregos camuflados, fome em ascensão e renda declinante.

Sem resolvermos estes desequilíbrios, criaremos uma sociedade centrada no individualismo, no imediatismo, no hedonismo e num verdadeiro darwinismo social, sem solidariedade, sem dignidade, com salários degradantes, jornadas de trabalho escorchantes e alguns acreditando que isso é meritocracia.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 12/10/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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