Inflação é o aumento generalizado de preços em uma economia, tudo isso, acaba criando variados impactos sobre a economia nacional, gerando incertezas e instabilidades, levando os agentes econômicos e produtivos a diminuírem seus investimentos na economia, reduzindo os empregos, diminuindo a renda e o salário nacional.
A economia brasileira conviveu com inflação durante muitas décadas, para muitos especialistas, o crescimento industrial e as transformações na estrutura produtiva foi financiado com a geração de inflação, levando o governo nacional a imprimir moedas e, consequentemente, incrementou os preços nacionais, levando o sistema a criar instrumentos de defesa, nascia a tão famosa indexação dos preços internos.
Depois de décadas convivendo com a inflação desenfreada, os governos democráticos, pós 1985, transformaram o combate a inflação um mantra emergencial, afinal, aumento generalizado de preços na economia geravam graves distorções na economia nacional.
Neste embate contra os preços, os governos nacionais utilizaram um variado repertório para reduzir a inflação, tais como o congelamento de preços, tablitas, controles constantes de preços, troca de moedas, dentre outros, mas todas estas medidas não foram suficientes para controlar os preços relativos e melhorar o ambiente econômico e produtivo.
Em 1994, o governo federal lançou o Plano Real, cujo êxito sobre o controle dos preços levou a uma reviravolta na sociedade, a inflação perdeu força e o país passou a ganhar novos espaços na economia mundial, aumentando a abertura da economia, com a redução do Estado, incremento das privatizações, aumento das concessões públicas, fortalecimento das parcerias públicas e privadas, desregulamentação… que culminaram num abraço caloroso com os defensores dos ideários neoliberais.
O Plano Real comemorou 30 anos e trouxe grandes benefícios para a sociedade brasileira, mas trouxeram, como tudo, outros grandes desajustes na estrutura econômica e produtiva, tais como a valorização excessiva do câmbio, taxas de juros elevadas, a entrada em demasia de produtos importados e, tudo isso, contribuíram, enormemente para a tal desindustrialização da economia nacional, cujos efeitos deletérios são sentidos ainda atualmente.
No ano de 2024, a inflação chegou a 4,83%, se compararmos com os números dos anos 1990, o número atual é inexpressivo, mas muitos especialistas acreditam que, se continuarmos nesta toada, a inflação tende a crescer de forma acelerada, uns dizendo que o país poderia voltar aos índices inflacionários dos anos 1990, um verdadeiro terrorismo e uma inverdade.
Para esclarecimento, no começo do século, as Autoridades Monetárias criaram um modelo chamado de Meta de Inflação, onde o governo nacional autorizava o Banco Central a buscar o centro da meta, se utilizando de todos os instrumentos da chamada política monetária, aceitando uma variação para baixo ou para cima, no caso brasileiro nossa meta de inflação definida institucionalmente era de 3,0%.
Lembro-os que os indicadores inflacionários nos mostram que o centro da meta inflacionária de 2024 era de 3,0%, com tolerância de 1,5% a 4,5%, desta forma, a inflação estourou o teto da meta, levando o Banco Central Brasileiro a apresentar uma carta endereçada ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com justificativas das razões que levaram a inflação a ter ficado acima da meta.
Segundo o Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o estouro da meta inflacionária está ligado ao aumento do dólar, uma economia em crescimento e o clima, que geraram graves constrangimentos sobre os preços relativos, levando ao aumento da inflação.
A desvalorização cambial impacta fortemente sobre os preços relativos, levando a um aumento dos custos produtivos que são repassados para os consumidores, gerando preços mais em ascensão e impactando negativamente sobre a renda dos trabalhadores, criando uma verdadeira sensação de empobrecimento do salário nacional.
Outra justificativa para o aumento da inflação em 2024 foi as alterações climáticas, que impactaram fortemente sobre toda a agricultura nacional, com quebra de safras e redução nas plantações, reduzindo a oferta de produtos e levando o governo nacional a aumentar a importação, com impacto sobre a balança comercial, tudo isso contribuíram para a redução do superávit na balança comercial, que chegou a US$ 80 bilhões.
Outro motivo destacado pelo presidente do Bacen, foi o crescimento da economia nacional. No começo do ano de 2024 as expectativas de crescimento da economia nacional eram de 0,8%, 1,0% ou até 1,5%, mas o crescimento do produto interno bruto (PIB) superou todas as previsões dos economistas de mercado, os chamados ortodoxos, chegando a 3,5%. Com esse crescimento econômico os preços foram pressionados, afinal, a estrutura produtiva não conseguiu aumentar a produção, obrigando a Autoridade Monetária a aumentar as taxas de juros para esfriar o crescimento econômico nacional.
Juros altos reduz ou posterga os investimentos produtivos, fragilizando a geração de emprego, fundamentais para a melhora do ambiente econômico, tudo isso, melhoraria os indicadores econômicos e sociais, reduzindo as desigualdades que sempre caracterizaram a sociedade brasileira, uma nação rica em recursos naturais e dotado de um solo valoroso, mas ao mesmo tempo, uma nação marcada pelas desigualdades crescentes, uma estrutura fundiária atrasada e uma elite industrial que se compraz com ganhos elevados no mercado financeiro, perdendo a vocação ao empreendedorismo e a inovação.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre e Doutor em Sociologia.