Depois de uma pandemia que dizimou milhões de pessoas em todas as regiões do mundo e um conflito militar que gerou medos e incertezas sobre a sociedade internacional, cujos impactos são assustadores, gerando desequilíbrios econômicos e desestruturações produtivas que contribuíram para o incremento dos custos globais e levaram a uma degradação da renda da população, gerando desesperanças e grandes volatilidades. Diante dos grandes desafios do cenário internacional, percebemos uma nova guerra no ambiente global, buscando a consolidação de novas hegemonias produtivas, neste conflito que se aproxima, as nações buscam a dominação sobre os setores de semicondutores, os chamados chips. Neste cenário de conflitos comerciais, os especialistas descrevem os chips como o petróleo do século XXI, envolvendo trilhões de dólares, dominação tecnológica, consolidação bélica e muito poder político.
Neste momento de grandes transformações produtivas e geopolíticas, onde destacamos a importância da tecnologia na economia internacional, as nações que não conseguirem construir novos espaços de desenvolvimento tecnológico, tendem a perder relevância no sistema produtivo global, perdendo forças econômica e autonomia para definir os rumos de suas sociedades, perpetuando sua dependência e recriando modelos de colonização e limitando sua capacidade de desenvolver tecnologias nacionais.
Os setores de semicondutores devem ser vistos como um mercado altamente oligopolizado, onde percebemos poucos atores globais com poder financeiro e tecnológico, onde destacamos poucos atores importantes, tais como Estados Unidos, China, Coréia do Sul, Europa, Taiwan e Japão. Nesta competição encontramos uma competição marcada, não pelo chamado livre mercado, como sonham os liberais, mas como um setor fortemente alavancado pelo poder econômico, financeiro e político dos Estados nacionais, responsáveis por grandes investimentos em ciência e tecnologia, formação de mão de obra de excelência, infraestruturas materiais e incentivos variados para angariar os melhores cérebros internacionais, garantindo ganhos econômicos e autonomia tecnológica e reduzindo a dependência de outros agentes externos.
Nestes mercados internacionais, a competição entre oligopólios envolve fortes investimentos governamentais, transferindo tecnologias e formando cientistas altamente capacitados, além de inúmeros incentivos financeiros e fiscais, garantindo o fortalecimento do mercado interno, melhora nos ambientes de negócios, garantindo uma melhora de todos os grupos sociais e garantindo espaços de desenvolvimento econômico. Todas as nações que conseguiram angariar espaços de desenvolvimento econômico e produtivo contaram com um modelo centrado na integração entre Estados e Mercados, trabalhando conjuntamente, reduzindo os riscos, financiando a infraestrutura e a formação de capital humano capacitado, com isso, encontramos nações que, nos anos 1950/1960, eram exportadores de produtos agrícolas e dependentes de produtos primários de baixo valor agregado e, atualmente, se caracterizam como um mercado exportador dinâmico e centrado em alta tecnologia, são nações que conseguiram se elevar na escada tecnológica, graças a integração entre todos os setores econômicos, com planejamento estratégico, espaços de regulação eficiente e fortes estímulos fiscais e financeiros.
Empresas como a taiwanesa TSMC, maior produtor mundial de chips ou a coreana Samsung que conseguiram alavancar seus desenvolvimentos econômicos e tecnológicos e se transformaram em cases de sucesso internacional, contribuindo para alavancar as suas respectivas economias, consolidando suas estruturas produtivas e melhorando as condições sociais de suas nações, mostrando claramente que é altamente estratégico a atuação conjunta entre Estados e Mercados para o desenvolvimento nacional, deixando rivalidades degradantes, investindo no futuro, cobrando resultados a longo prazo, garantindo maturação dos investimentos e atuação constantes nos mercados internacionais.
O mundo contemporâneo deve abolir pensamentos ultrapassados e degradantes, reconstruir os consensos econômicos, combater as desigualdades sociais e criar novos espaços políticos para aprofundarem a democracia representativa e melhorar o bem-estar social.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 02/11/2022.