Uma discussão imprescindível

0

A sociedade brasileira se encontra em um momento de grandes discussões que tendem a influenciar não apenas os próximos quatro anos, mas muitas décadas, e que podem ser decisivas para as futuras gerações, impactando no cotidiano de todos nós, estamos em um momento essencial marcado por uma onda verde que tirou a eleição presidencial do marasmo e da indiferença, fazendo a discussão aumentar e forçando os candidatos a abordarem temas antes esquecidos ou negligenciados.
Neste momento encontramos dois candidatos com características parecidas, ambos caracterizados pela resistência ao regime militar (1964/1985), período este marcado pela luta na clandestinidade, repressão e autoritarismo, nesta época o candidato tucano se exilou no Chile onde se preparou intelectualmente na Comissão Econômica para a América Latina, para compreender o Brasil e a realidade internacional. A candidata petista também se notabilizou pela resistência aos governos militares, foi presa e viveu na clandestinidade durante muitos anos, estudou e buscou explicações sobre os desajustes do país. Ambos se prepararam para compreender o país, transformando-o para melhor, diminuindo a desigualdade e incrementando as condições sociais, dando a todos os brasileiros uma melhor condição de sobrevivência.
A decisão de qual dos candidatos será o melhor governante permeia a mente e a realidade de milhões de eleitores, que no final do mês decidirá qual dos dois projetos encampar para o país nos próximos anos, dois projetos parecidos do ponto de vista econômico, mas diferentes em sua condução, dois partidos responsáveis pelos rumos da economia e da política brasileiras nos últimos 16 anos, um período de estabilidade e crise, caracterizados pelo combate à inflação e pela busca da estabilidade financeira, econômica e produtiva, onde a estrutura econômica mudou de forma estrutural, de uma economia fechada e protegida pelo Estado para uma economia mais aberta e mais competitiva, gerando novos desafios e oportunidades com resultados contraditórios..
Nestes dezesseis anos estabilizamos e consolidamos a economia, aumentamos o nível de emprego e melhoramos todos os indicadores sociais, o Brasil tirou da miséria mais de 30 milhões de pessoas, um número bastante relevante, ainda mais quando percebemos que vivemos em um país democrático, marcado por eleições diretas, imprensa livre e alternância de poder entre partidos políticos, um feito pouco alcançado no mundo, o que coloca o Brasil em um lugar de destaque dentre os países do mundo.
Melhoramos muito, a estabilidade econômica dos anos 90, iniciada pelos tucanos, (baseada no tripé: câmbio fixo, superávit primário e metas de inflação) foi seguida e perseguida pelo governo petista, com resultados bastante animadores, o que levou os indicadores econômicos a uma melhora considerável, onde os ganhos sociais foram de toda sociedade, principalmente dos mais pobres, que tiveram oportunidade de ganhar mais e usufruir de uma vida melhor, com mais conforto e qualidade.
Estamos em um momento único da história, em nenhum momento da história deste país encontramos uma eleição tão tranqüila do ponto de vista econômico, as crises sucessivas que sempre nos marcaram amargamente, geravam pânicos, fugas de capitais e quebradeiras de empresas, pois todos tinham medo do próximo governante, ainda mais se este fosse um candidato petista, que propunha acabar com todas as políticas implementadas por seus antecessores, caracterizadas por ineficientes e prejudiciais para a classe trabalhadora.
O próximo governante brasileiro não vai transformar o país de forma estrutural, para que isto acontecesse a sociedade deveria construir novos consensos, discutir problemas complexos, debater decisões imprescindíveis e imediatas que foram postergadas durante muitos anos e que precisam ser enfrentadas rapidamente para assegurar uma melhor qualidade de crescimento da economia. Dentre estas discussões a educação é a mais imediata, suas raízes são muito amplas e seus resultados decisivos para a construção de uma mão-de-obra capacitada para compreender o mundo do século XXI, um mundo marcado pela competição crescente entre empresas e exigências cada vez maiores, onde os trabalhadores precisam se qualificar, a concorrência atual obriga o indivíduo a se adaptar para não perder novas oportunidades, pois estas existem e é só os trabalhadores se prepararem, pois não somos mais o país do futuro, somos o país do presente, o mundo hoje enxerga no Brasil o potencial crescente de líder e potência internacional, mas para que isso se efetive o brasileiro tem que acreditar no seu potencial.
Neste segundo turno devemos exigir dos candidatos uma atuação mais clara e incisiva, ambos devem se posicionar de forma mais nítida em relação ao futuro, os problemas nacionais estão claros e todos nós temos consciência, possuímos dados e informações que mostram a situação social e política do país, nossas limitações nas mais variadas áreas, o que precisamos é de um conjunto de propostas factíveis para os próximos 10 ou 20 anos, os debates são importantes, confrontam idéias e pensamentos, mas é a ação de cada um em áreas como a segurança pública, saúde, infra-estrutura, educação, entre outras, que vai definir de forma efetiva o voto dos eleitores.
Os rumos do país devem ser definidos agora, as eleições são o momento efetivo da mudança, acreditar que vamos sair desta situação sem nos conscientizarmos das heranças do passado é algo ilusório, somos um grande país, com potencial de destaque na sociedade mundial, devemos consolidar nossa estabilidade econômica e criar espaço de crescimento sustentado, melhoramos muito nos últimos 15 anos, mas temos muito o que fazer, nossa taxa de juros é uma das mais altas do mundo, nosso câmbio valorizado gera inquietações para o setor produtivo, prejudica o setor exportador e pode nos levar a um processo de desindustrialização da economia, a entrada de produtos chineses está criando problemas claros para o setor produtivo, muitas indústrias estão se tornando inviáveis, muitos setores sobrevivem a base da importação, prejudicando a geração de empregos de qualidade e a atração futura de moedas conversíveis, estamos em um momento perigoso e devemos nos preparar para o futuro.
O crescimento deve pautar pela inclusão social, o meio ambiente sempre tão negligenciado pelos setores produtivos brasileiros hoje é um assunto fundamental, a onda verde criada pela candidata do PV Marina Silva trouxe novos temas para a eleição presidencial, os atuais candidatos devem se esforçar para se mostrarem mais responsáveis ambientalmente e para enfrentar os desafios da sustentabilidade, precisamos crescer de forma positiva, mas este crescimento não deve ser de qualquer jeito, com destruições de mananciais, devastando florestas e poluindo rios e o meio ambiente, este crescimento foi utilizado no passado e o resultado pode ser percebido nitidamente na atualidade, rios poluídos e desajustes crescentes, que forçam o poder público a investimentos cada vez maiores para reequilibrar o sistema, utilizando recursos escassos que poderiam ser usados de forma diferente, mas esta experiência negativa serve de lição para a sociedade, crescer é um imperativo, fundamental e necessário, única forma de diminuir a desigualdade e melhorar as condições sociais, mas sempre com responsabilidade para a manutenção do clima e da vegetação de forma a manter o meio ambiente em equilíbrio para as próximas gerações, afinal de contas todos nós nos encontraremos aqui novamente, a reencarnação não deve ser vista como um princípio religioso, mas sim uma lei natural, não se esqueça disso, um dia todos vamos compreender o significado desta lei.

Democracia e Violência na sociedade brasileira

0

Vivemos em uma sociedade caracterizada pela violência e pela desesperança, onde o ser humano perde oportunidades constantes de melhorias e se entrega com facilidades às drogas e aos apelos da informalidade, aumentando os medos, as ansiedades e as transgressões, além do tráfico e da violência urbana. Ao mesmo tempo podemos, com certeza, afirmar que vivemos em uma sociedade de oportunidades e desafios constantes, onde a riqueza cresce e as condições de vida da população melhoram constantemente, só a China nos últimos 20 anos tirou mais de 300 milhões de pessoas da pobreza e da exclusão social, gerando impactos no mundo inteiro e inserindo novos indivíduos no mercado de consumo.

O parágrafo acima parece contraditório, afinal vivemos em um mundo marcado pela desesperança ou pelas novas oportunidades? Vivemos, literalmente, em um mundo complexo e contraditório, onde encontramos todos estes submundos convivendo juntos e integrados, onde o indivíduo observa um mercado cada dia mais exigente criador de novas oportunidades e desejos, onde a riqueza aumenta rapidamente gerando novos desafios e melhorando as condições de vida de milhões de pessoas, mas de outro lado, encontramos um mercado cada dia mais globalizado, onde o desemprego aumenta em várias regiões e quando não, as condições de trabalho são cada vez mais negativas, exigindo dos trabalhadores cargas excessivas e salários reduzidos, aumentando espaços de depressão, ansiedade, obesidade e transtornos dos mais variados tipos, obrigando os psicólogos a serem criativos para batizar os novos transtornos que surgem constantemente.

O mundo corporativo é um espaço constante de concorrência e de competição, onde as empresas buscam aumentar a sua margem de lucro, buscando novos mercados consumidores, transformando os trabalhadores em consumidores apenas, deixando de lado os cidadãos conscientes e responsáveis, o resultado disso tudo é um mundo marcado por graves desajustes ambientais e relatórios catastróficos de organizações não governamentais, muitas delas preocupadas com o meio ambiente, o clima e um possível e assustador futuro da humanidade.

Vivemos uma onda crescente de violência no mundo, regiões que sempre viveram conflitos militares, como judeus e palestinos, permanecem em guerra, nestes países pessoas morrem todos os dias, tornando a morte um ato banalizado, agora, em outros locais onde a violência era pouco conhecida, países e regiões considerados civilizados são descritos agora como espaço de barbárie social, o conflito não é uma guerra declarada, não existe um inimigo externo com exércitos marchando em combates sangrentos com vítimas mortas e ensangüentadas nas ruas e nas vielas, a conflagração é mais sutil, cidadãos do mesmo país duelam por serviços públicos antes abundantes, serviços estes que hoje são limitados pelos governos como forma de manter o equilíbrio financeiro e gerar superávits crescentes para evitar crises financeiras como a que o mundo conheceu recentemente, crise esta que só foi debelada quando o Estado, usando de suas prerrogativas econômicas, interferiu no sistema econômico salvando empresas falidas e socializando os custos para evitar problemas maiores, criando, com isso, uma nova categoria de empresas, grandes conglomerados empresariais que nunca quebram, empresas que mesmo sendo mal administradas não quebram porque são grandes demais para quebrar, pois se quebrassem o sistema econômico entraria em crise terminal e os custos seriam muitos maiores, com aumento no desemprego, miséria e exclusão social, mas transformando a sociedade em reféns destas empresas e de gestores nem sempre capacitados técnica e moralmente.

A violência tem várias facetas no mundo contemporâneo, o capitalismo como destacou o sociólogo alemão Karl Marx, cria seu próprio coveiro, é o melhor sistema para a produção de bens, mercadorias e serviços, mas tem em seu DNA uma característica assustadora, concentra renda na mão de poucos, é um sistema onde uma pequena parcela acumula recursos enquanto uma grande quantidade vive em situações indignas, nesta sociedade que quando foi criada e estruturada ideologicamente defendeu a idéia de que o indivíduo, pela primeira vez teria a oportunidade de ascensão social, onde o filho do pobre poderia, via esforços, galgar novos espaços na sociedade e se transformar em um grande empresário ou empreendedor, um homem das letras ou das idéias, um homem respeitado com uma vida digna e um nome de respeito, este sonho acompanha as pessoas até os dias atuais, agora, sua efetivação se mostra cada vez mais distante.

A democracia defendida pelos intelectuais como a panacéia do mundo, medida de inserção social onde todos os indivíduos teriam a oportunidade de escolher seus representantes e contribuir para as decisões da sociedade, agregando idéias e compartilhando ideais se mostrou insuficiente, o que vemos no Brasil do século XXI é uma batalha constante pela sobrevivência, onde o Estado mediador dos conflitos se recusa a intervir em problemas sociais antigos e prefere adotar como medida de mediação social programas de transferência de renda, onde a população mais carente passa a receber recursos ínfimos para a sua sobrevivência, criando com isso um grande curral eleitoral, como o que estamos assistindo na atualidade, mas é importante destacar que esta política não começou com o governo atual, é uma medida recorrente, o anterior também a adotou, embora tenha obtido resultados muito mais modestos.

Como podemos falar em democracia quando encontramos na sociedade os mais variados escândalos e corrupção, onde muitos cargos públicos são direcionados pela classe política para seus asseclas, carreiras importantes e órgãos públicos fundamentais para a gestão pública são loteados como forma de conseguir apoio político, onde o sistema político-eleitoral foi constituído para truncar o desenvolvimento e evitar um Estado Republicano verdadeiro, onde os cargos públicos são preenchidos por concursos lisos e os aprovados trazem consigo uma grande expectativa de fazer o melhor para auxiliar na construção de um país sólido, capacitado e preparado para os desafios do século XXI, mas infelizmente tudo isso me parece um grande sonho, talvez um sonho impossível na atual situação que encontramos a humanidade, mas um dia este sonho se concretizará.

Como podemos acreditar no discurso de que vivemos em um país democrático, quando encontramos quase 30 milhões de pessoas vivendo em situação de risco e indignidade, muitas delas tendo de cometer atrocidades para sua sobrevivência, é nesta sociedade que encontramos um amplo espaço para a expansão das drogas e da prostituição, negócios estes que movimentam bilhões de dólares no mundo e empregam milhões de pessoas, financiam riquezas e fortunas que nascem da noite para o dia com a tragédia de inúmeras famílias, levando à destruição de vidas, sonhos e condenando muitas inteligências a idiotia e a ignorância. Este arremedo de democracia deve ser repensado, democracia não é apenas votar de dois em dois anos, poder falar e opinar sobre os problemas da sociedade, democracia não é só imprensa livre, democracia é muito mais do que isso, democracia é um sistema em constante evolução, não existe uma fórmula de democracia, existem caminhos para a construção democrática, e, com certeza, estamos trilhando um caminho errado e para mudarmos a rota devemos entender que cabe a cada um de nós compreendermos melhor as regras do jogo, não devemos mais esperar um salvador da pátria, um líder iluminado dotado de conhecimento teórico, experiência e sensibilidade social, este líder não existe, na verdade todos os caminhos passam pela educação, esta é a raiz de tudo, mas seus resultados são demorados, levam décadas e precisam de continuidade e avaliação, é esta educação que deve ser construída para formar mais do que consumidores com emprego e renda e que participam do ciclo econômico, movimentando o sistema produtivo, precisamos de uma educação de valores morais para a criação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, esta tarefa é muito complexa e as famílias não podem de forma alguma se esquivar de sua responsabilidade, afinal a família é a primeira célula da sociedade e cabe a ela um papel central na formação do indivíduo, educar pelo exemplo com amor e dignidade, é um imenso trabalho mais os frutos deste serão recompensadores para o Brasil e para a sociedade mundial, transformando-nos num exemplo a ser seguido por todos.

Educação, doutores e as novas perspectivas?

0

A educação é a chave para o sucesso do século XXI, o conhecimento é o ativo intangível mais importante da atualidade, treinar, qualificar e capacitar o cidadão é um dos grandes desafios das sociedades contemporâneas, a união entre partidos políticos, trabalhadores, empresários e governo em prol da educação e da melhoria das condições de vida dos indivíduos é fundamental.

O Brasil neste quesito se encontra muito atrasado, mesmo o avanço dos últimos quinze anos se mostraram insuficientes para vencer este desafio, na última década a taxa de escolarização líquida do ensino superior (jovens entre 18 e 24 anos matriculados em instituições de 3° grau) mais que dobrou, aproximando-se dos 15%, mesmo assim, o país está longe de outras nações. Outro dado que nos leva a reflexão, se olharmos para a taxa de alfabetização bruta, que relaciona o total de matrículas num dado nível de ensino com a população na faixa etária adequada a esse nível, o Brasil com 30% de escolarização no terceiro grau, a Bolívia com 38,3%, o Chile com 52,1% e os Estados Unidos com 81,6%, ou seja, estamos bastante defasados, mesmo quando nos comparamos com países próximos do nosso, muito mais pobres e donos de uma economia marcada por grandes limitações.

Neste quadro desolador encontramos candidatos de todos as matizes ideológicas, classes sociais e comportamentos se alternando no horário eleitoral supostamente gratuito, todos democratas e defensores da educação, da saúde e do meio ambiente, donos de uma oratória brilhante e, muitas vezes, de um comportamento horripilante. Será realmente que a educação é uma prioridade neste país? Será que estamos à altura dos desafios do mundo contemporâneo?

A função do professor nesta sociedade está em constante transformação, de donos do conhecimento, respeitados e admirados, donos de um status social agora estão em crise, vivem marcados pela instabilidade, pelo medo e certos de que uma depressão é apenas uma questão de tempo. Deste profissional exige-se um papel de protagonista, formadores de massa crítica, mas que tipo de massa crítica o capitalismo e a sociedade aceitam com naturalidade? Se exigirem muito dos alunos terá uma grande decepção, a progressão continuada, criada por governos subservientes que pensam em quantidade e se esquecem da qualidade, foi um grande retrocesso, exigir mais dos alunos obrigará a reprovar muitos alunos, deixando como marca em suas “cadernetas” uma grande hemorragia, marcada por sangue, destruição e sofrimento.

Os profissionais da educação estão sendo estimulados a se capacitar, e essa capacitação é uma forma de melhorar as aulas, agregar mais conhecimento, dinamizar as aulas, esta é a justificativa para tal qualificação, aos que se qualificam, estudam, se diplomam e se tornam mestres e doutores as dificuldades não são menores, recentemente uma instituição nacional privada demitiu uma grande quantidade de doutores, isto porque estes profissionais, mais qualificados custam mais para estas empresas travestidas em universidades, empresas estas que tem nos custos seu grande parâmetro de sobrevivência, onde a educação é apenas o chamariz, são fábricas produtoras de diploma, o aluno entre em um grande consórcio e será, com certeza, contemplado em 48 meses, dependências e adaptações são resolvidas pelo ensino on-line, uma novidade trazida pela tecnologia, onde o alunos estuda em casa sem sair de casa, uma inovação para o século XXI.

Para este tipo de instituição não é necessário a presença de doutores, especialistas e graduados fazem um trabalho qualificado, instruem os alunos para o mercado de trabalho, dando ao vulgo cliente o produto que este deseja, os custos dos doutores são facilmente dispensados, uma ótima idéia para estas empresas que vêem a educação apenas como um cifrão.

Os ideais de autonomia pensados e estruturados pelo brilhante educador brasileiro Paulo Freire estão mortos, os idéias que sobreviveram foram os do mercado, da concorrência, da competição, onde os mais fortes sobrevivem e os mais frágeis ou se adaptam a nova sociedade ou são destruídos pelo modelo, um verdadeiro darwinismo social estimulado pelo próprio governo.

O Estado, responsável pelas grandes
universidades brasileiras, se omite desta discussão, é incapaz de fiscalizar estas empresas que são, na verdade, concessões públicas, e mais, estimula uma canibalização do ensino superior, estimula um bônus salarial para que os professores ganhem mais, mas seus critérios se tornam cada vez mais absurdos, irreais e escandalosos, são tantas as exigências que parece que os alunos chegam ao ensino superior com uma formação impecável, dotados de conhecimentos complexos, conhecedores da língua portuguesa e sabedores da interdisciplinaridade, isto sem falar do comportamento em sala e o respeito aos professores e funcionários da instituição.

A atuação estatal na educação é uma grande exigência, as melhores universidades brasileiras são públicas, mas em termos internacionais estão mal colocadas, segundo uma pesquisa divulgada recentemente pela Times Higher Education onde se organizou um ranking das 250 maiores universidades do mundo, nesta pesquisa a Universidade de São Paulo (USP) está em 232° e a Universidade de Campinas (Unicamp) está em 248°, estas são as únicas instituições brasileiras que aparecem na pesquisa. Se as melhores universidades brasileiras estão no final da fila das maiores e melhores do mundo, imaginem qual seria a colocação destas milhares de instituições privadas descomprometidas com o ensino e que poderiam facilmente ser classificadas como verdadeiros caça-níqueis, indústrias produtoras de diplomas em série.

Os professores doutores são fundamentais para a educação brasileira, esta massa crítica que pesquisa, levanta informações, compila dados, escrever livros, artigos e revistas, além de organizar teorias precisam ser mais valorizados, sua respeitabilidade social precisa ser reconstruída, os especialistas devem ser estimulados a buscarem cursos de pós-graduação, não dá mais para que estes profissionais dominem o ensino superior privado nacional, as exigências de titulação devem ser maiores, mas os professores doutores devem ser remunerados a contento, muitos se capacitaram e ainda não foram reconhecidos pelas instituições onde trabalham, mas o reconhecimento deve ser feito não apenas com remuneração, mas com melhores condições de trabalho, não adianta melhorar os salários e aumentar demasiadamente a carga de trabalho em atividades burocráticas que servem para economizar profissionais de outras áreas, o incremento de trabalho impede uma leitura maior, uma atualização melhor dos conteúdos e uma melhor qualificação deste profissional, que devem ser estimulados a pesquisar e a produzir conhecimentos, visando melhorar as condições sócio-econômicas da coletividade.

Escolher uma profissão é um passo fundamental na vida de uma pessoa, optar pela docência é se aprofundar nos estudos e nas pesquisas, conhecer autores das mais variadas áreas e pensamentos, um professor não pode conhecer apenas uma área do conhecimento, o professor é um agente do conhecimento, que lida com a informação, com o pensar e o refletir, sua importância social é imensa, antigamente os professores das escolas públicas eram mais qualificados, trabalhavam com satisfação, orgulho e dedicação, uma grande maioria dos profissionais era oriunda da classe média, possuíam uma formação cultural forte, escolheram a profissão por amar o conhecimento e assumiram um papel ativo no processo de ensino e aprendizagem, agora, na atualidade os professores da rede pública são oriundos de famílias carentes, com formação cultural precária, pobres intelectualmente e detentores de uma carga de leitura reduzida e superficial, muitos se desdobram para melhorar seus conhecimentos enquanto outros se escondem através do cargo e da profissão e se acomodam, afinal conseguiram algo que seus pais e familiares nem imaginaram conquistar, mas mesmo assim é pouco, demasiadamente pouco para um país que sonha em ocupar um destaque no cenário internacional, educação é coisa séria, chega de amadores e iniciantes.

Manter profissionais de qualidade é fundamental para melhorar o ensino superior brasileiro, neste momento de crescimento econômico acelerado o setor produtivo demanda uma ampla gama de trabalhadores qualificados para as mais diversas áreas de atuação, mas estes profissionais não existem e os que encontramos no mercado, na sua maioria, são incapazes de exercer funções mais qualificadas, isto porque a escola e a universidade não foram capazes de formar uma massa crítica e capacitada para enfrentar este mundo maluco, marcado pelas instabilidades e pela incerteza e, com isso, condenamos o crescimento econômico que pretendíamos que fosse duradouro em mais um espasmo de crescimento.

No mundo da terceira revolução industrial onde a tecnologia ganha espaço e transforma a sociedade, os professores são atores fundamentais, valorizá-los e incentivá-los é uma forma de aproveitar espaços e transformar desafios em oportunidades crescentes, se para muitos educação é algo caro e dispendioso imaginem o custo da ignorância.

Eleições: um momento de escolhas definitivas

0

A sociedade brasileira se encontra, novamente, em um momento de escolhas decisivas para seu futuro imediato, uma eleição presidencial onde nomes e projetos são confrontados gerando debates acalorados e intensos, dossiês e críticas recíprocas, é a velha e dominante política brasileira novamente dominando a agenda nacional, agora, ao mesmo tempo percebemos, em termos macroeconômicos, um período sem grandes sustos, medos e constrangimentos externos, como percebemos em épocas anteriores quando a aproximação das eleições gerava graves desajustes na economia, com fuga de dólares, instabilidade monetária e cambial e riscos crescentes de inflação, obrigando o governo a adotar políticas fiscais rígidas com problemas na estrutura econômica, aumentando o desemprego e piorando os indicadores sociais.

José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva são os candidatos com mais chances de serem eleitos, se somarmos a intenção de votos destes encontramos mais de 90% da intenção de votos, segundo os principais institutos de pesquisa, diante disso, podemos concluir que o próximo presidente deste país será, indiscutivelmente, um destes, e os projetos estão todos na mesa, uns mais claros e outros menos, mas já está na hora de assumirmos nossas idéias, pensamentos e pendores, o tempo de indecisão acabou.

O candidato tucano me parece o mais preparado para o cargo, sua experiência no setor público é intensa, economista e professor da Unicamp José Serra passou por quase todos os cargos eletivos com destaque em todos eles, foi Secretário, Deputado Federal, Senador, Ministro de Estado (Planejamento e Saúde), Prefeito e Governador de São Paulo, ser Presidente da República é sua grande meta, mas esta parece cada vez mais distante.

Suas idéias me parecem confusas, de um lado defende uma política mais desenvolvimentista, onde o Estado deve atuar mais como um agente fomentador e estimulador do crescimento econômico, mas de outro, encontramos um traço privatista e liberal titubeante, algo meio em cima do muro, adota políticas neoliberais, mas não as defende com ênfase e idealismo, algo pragmático e, meio oportunista.

Suas propostas para educação não me agradam, vejo-as com ceticismo, o bônus meritum me parece algo enganador, apenas de muitos economistas defenderem esta bonificação vejo-a com ceticismo, acredito que para melhorarmos a educação devemos investir maciçamente na qualificação dos professores, pagando salários dignos que atraiam os melhores para a sala de aula e políticas claras que fortaleçam esta classe tão despretigiada, mas fundamental como o magistério, nenhum país que conseguiu melhorar sua estrutura sócio-econômica o fez sem melhorar seu nível educacional.

A candidata do PT é economista e pesquisadora no sul do país, possui mestrado e doutorado incompletos e se destacou no setor de energia, tanto como Secretária de governo como Ministra das Minas e Energia e depois da Casa Civil, cargo este que a projetou para a disputa da presidência da República. Dilma é uma incógnita, seu perfil me parece bastante autoritário, suas bandeiras não são as mesmas dos petistas históricos, suas origens estão no brizolismo gaúcho, este sim seu mentor ideológico, sua conversão ao petismo não me parece verdadeira, agora sua adesão ao lulismo me assusta, não consigo imaginar um governo seu, agora, com certeza percebemos que o carisma do presidente Lula, seu maior ativo político, a candidata governista não possui, algo preocupante num país como o nosso, onde o Executivo tem uma importância central e as grandes reformas não foram conduzidas de forma definitiva.

A conversa com os sindicatos, política adotada com êxito pelo presidente Lula, deve ser um dos grandes desafios da candidata petista, sem origem no movimento sindical e com pouca representatividade nos movimentos sociais, Dilma pode ser uma incógnita não só para os que declaram seu voto na candidata petista, mas para o próprio partido e para a sociedade como um todo, acredito que sua pouca experiência pode trazer grandes constrangimentos para o projeto de 20 anos no poder do Partido dos Trabalhadores (PT).

Governar é uma grande arte, o próximo presidente deve estar preparado para consolidar o crescimento econômico, garantindo que todas as conquistas que a sociedade brasileira acumulou nos últimos quinze anos sejam cada vez mais consolidadas, digo este período porque acredito que os dois últimos presidentes do país merecem elogios, agora, infelizmente, o que encontramos é uma disputa intensa entre partidos políticos que beira a insanidade, algo que só pode ser compreendido em uma sessão intensa de terapia comportamental e psicanalítica, algo parecido com o modelo implantado no programa Roda Viva.

PSDB e PT são mais parecidos do que imaginam, um partido é o alterego do outro, os últimos 15 anos se caracterizaram pela continuidade de políticas bastante parecidas, medidas adotadas pelos tucanos como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), as taxas de câmbio flutuantes, superávits primários, metas de inflação, o bolsa escola – posteriormente bolsa família, saíram de concepções parecidas de Estado e Sociedade, agora os petistas se mostraram mais estatistas e intervencionistas enquanto os tucanos foram mais liberais e privatistas, mesmo diferentes estas diferenças não foram tão gritantes, uma junção entre ambos seria algo natural, mas improvável.

Marina representa um projeto político novo, não sei se um projeto tão novo, mas diferente, o Partido Verde (PV) na disputa pela presidência da república, se coloca como uma alternativa consistente, agora será que esta alternativa conseguiria condições para governar? Seu partido com poucos deputados e senadores teria grande dificuldade de administrar, mas mesmo assim sua presença na disputa transforma o cenário, dando um charme novo e sofisticado, nada de rancor e ressentimentos, governar é se aliar aos melhores e transformar potencial em realidade, mantendo o crescimento econômico e melhorando os indicadores sociais. A candidata do PV me parece mais equilibrada, não vejo nela o ranço que me parece claro nos tucanos e nos petistas, nada de promessas mirabolantes, transformações bruscas e mudanças estruturais, Marina significa ainda, uma possibilidade de reconciliação dos grandes partidos brasileiros, sua ascensão e promessa de trabalhar com os melhores de todos os partidos traria todos para o governo e mais, faria com que os partidos assumissem um compromisso com a governabilidade.

Votar é fundamental, é um ato de cidadania, escolher o melhor candidato, conhecer sua história, suas propostas e aspirações é dever de todos, se ausentar da votação como forma de protesto é desconhecer seus deveres enquanto cidadão, diante disso, escolhi com a minha consciência, votar na Marina Silva é uma escolha minha, acredito que minha opção não é isolada, muitos a escolheram para governar o país, muitos tem medo do projeto de poder petista, de uma candidatura sem história, desconhecida da grande maioria e com muitas perguntas não respondidas, o Brasil precisa destas respostas, o dedaço tão popular no México, onde o partido dominante escolhe seu sucessor, muitas vezes o escolhida é uma pessoa desconhecida pela sociedade, mas diante do poder do Partido e do Estado, se torna presidente e passa a comandar os rumos do país, esta política não nos interessa, estamos em um momento estratégico de nossa história, as escolhas do país devem ser tomadas com cautela para não incorrermos em equívocos anteriores que tantos constrangimentos gerou ao país.

Esperanças líquidas

0

A sociedade nos brinda todos os dias com um arsenal de informações, somos invadidos com imagens, sons, conceitos novos e teorias diuturnamente, o que nos causam medo e desesperança, mas ao mesmo tempo novos desafios cheios de perspectivas interessantes e sensacionais, este paradoxo nos envolve e torna a contemporaneidade extraordinária, colocando lado a lado a genialidade e a loucura, divididos por uma linha tênue.
A globalização nos leva a assistir, no sofá de nossas casas, as mais variadas experiências humanas em todos os locais, o computador nos coloca em contato com um universo quase paralelo, cheio de informações, conhecimentos e desafios, nossos competidores no mercado de trabalho não estão mais ao nosso lado, na nossa cidade, região ou país, mas em todas as regiões do mundo, nos outros continentes e em países que pouco conhecemos e raramente ouvimos algo a respeito.
Os sentimentos estão em mutação e geram grandes inquietações nos indivíduos, laços anteriores chamados duradouros hoje pouco encontramos, amores verdadeiros, marcados pela renúncia, admiração e respeito, temos dificuldades de encontrar, gerando nas pessoas medos e fobias variadas, criando, com isso, novos desafios profissionais para os psicólogos e intelectuais, além de intensificar os investimentos da indústria farmacêutica.
O mundo do trabalho em constante mutação leva o indivíduo à beira de um ataque de nervos, trabalhos antes estáveis e com boas perspectivas de ascensão profissional estão hoje sendo rapidamente substituídos pelas máquinas e pela tecnologia, obrigando o trabalhador a buscar qualificação constante, deixando uma parcela substancial de seu tempo para a vida profissional, reduzindo seus momentos de lazer e de construção familiar, importantes para a consolidação do indivíduo como um agente social.
Violência no Brasil, guerras no Oriente Médio, terrorismo no Paquistão, Iraque ou Afeganistão, destruição do Meio Ambiente, secas em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, além de corrupção, pragas e crises financeiras com desemprego em massa e piora dos indicadores sociais, estas são notícias corriqueiras, que nos assustam e nos geram preocupações, mas que na atualidade estão sendo combatidas e colocadas em discussão, o ser humano está, embora para muitos lentamente, começando a conversar sobre muito de seus desequilíbrios e desajustes, espero que consigamos encontrar a contento respostas para muitos destes problemas, evitando derramamento de sangue de supostos inocentes, digo supostos porque não consigo acreditar que, neste mundo de provas e expiações, existam seres humanos inocentes, todos nós respondemos por algum arbítrio cometido em nossas existências pretéritas, esta convicção norteia meus pensamentos e me auxilia a compreender algum fato negativo ocorrido no cotidiano.
A reencarnação, ignorada por muitos, é um conceito fundamental para compreender a situação do mundo, estamos em uma sociedade marcada por graves desequilíbrios, alguns descritos anteriormente, estes conflitos estão vivos na mente do ser humano e apenas ele pode reconhecer e combater tais deficiências, só assim poderemos dizer que estamos evoluindo e construindo um mundo melhor. Os clássicos já nos diziam claramente, conheça te a ti mesmo, estas palavras sábias e inspiradoras são fundamentais para o ser humano, ao não se conhecer nos deparamos com vários equívocos, e pior, repetimos estes equívocos e os transformamos em desajustes estruturais, sendo, com isso, “obrigados” a estagiar novamente neste mundo, externamente tão violentos mas que na verdade refletem a violência que trazemos e cultivamos dentro de nós, portanto, somos todos responsáveis pela situação atual.
Mas este mundo de expiação e provas esta sendo chamado pela espiritualidade para uma conscientização, um momento de reflexão e mudanças, os desajustes são muitos, o tempo está se esgotando, todos encontrarão seu caminho, ninguém será abandonado pela Providência Divina, agora, alguns caminham mais rapidamente, são mais ágeis, percebem as oportunidades e se preparam para uma nova era, estes continuarão neste mundo que passará a ser um espaço de regeneração, com mais fraternidade, alegria e solidariedade, enquanto os outros tomarão um outro destino, serão encaminhados para um novo local, o planeta é imenso, outros mundos mais parecidos com seus sentimentos densos e grosseiros, lembremos a obra Exilados de Capela, onde tivemos a oportunidade de conhecer o destino de um grupo de espíritos, que mesmo dotado de um grande potencial intelectual, mas desprovido de sentimento e de moral, foi fundamental para auxiliar no crescimento e desenvolvimento do planeta Terra, onde usaram sua inteligência para alavancar países e melhorar as condições sociais da população.
A mudança já começou, não temos mais tempo para postergar nossas ações no bem, o tempo urge e os corações clamam por momentos melhores e mais promissores, a transformação deve nos levar para um mundo melhor, mas este mundo só será construído quando cada um de nós acordarmos para os ensinamentos do bem, os exemplos são muitos, Chico Xavier, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, entre outros, fazer é possível basta que cada um faça a sua parte e assim, com certeza viveremos em um mundo melhor.

Desafios contemporâneos de uma sociedade afluente

0

O mundo nos últimos anos vem se transformando com uma intensidade cada vez maior, estas mudanças exigem da sociedade uma grande capacidade de mobilização política e social para a resolução dos problemas existentes e para a preparação para o futuro, com desafios e oportunidades, que podem definir avanços e retrocessos significativos, condenando definitivamente um país.

O Brasil nos últimos anos apresentou avanços variados nas mais diferentes áreas da sociedade, recebendo com isso o rótulo de país emergente, com grande destaque na mídia e nos fóruns internacionais, recebendo uma grande quantidade de investimentos e elogios significativos, mas estes elogios não podem criar um ambiente de euforia exagerada, muito pelo contrário, deve estimular o desenvolvimento de uma estratégia integrada de ação visando a superação dos graves desajustes que acumulamos nas décadas anteriores, preparando o país para um vôo seguro e sem turbulências.
Se olharmos para o Brasil nos anos 60 e 70, destacaríamos um país em amplo crescimento econômico, neste momento a sociedade acreditava que o crescimento da economia traria uma melhoria para todos os grupos sociais, queda na desigualdade e melhoria nos indicadores sócio-econômicos, o que se mostrou uma grande ilusão, neste período saímos de uma posição intermediária entre os países desenvolvidos e nos posicionamos entre as dez maiores economias do mundo, mas o resultado deste esforço não trouxe benefícios a todos, muito pelo contrário, as classes C e D foram penalizadas e a desigualdade social aumentou demasiadamente, transformando o Brasil num dos países mais desiguais do mundo e aumentando a herança que trazemos de um passado marcado pela escravidão e pela exploração de grande parte da sociedade, onde os latifúndios agroexportadores se satisfaziam dos esforços crescentes dos trabalhadores, sempre mal pagos e vítimas de uma excessiva carga de trabalho.

Neste período tivemos que conviver ainda, com mais de duas décadas de regime autoritário (1964-1985), período este marcado pelo crescimento econômico e pelo amplo descontrole inflacionário, pela repressão política e pela decadência da educação e da saúde públicas, que hoje nos afetam brutalmente e se transformaram em desafios a serem superados para melhorarmos os indicadores sociais e entrarmos num momento de crescimento sustentado e duradouro, visto que nos últimos trinta anos nos acostumamos ao conhecido stop-in-go, ou seja, períodos de crescimento econômico alternando com períodos de estagnação, cujos impactos sociais eram ruins e de difícil mensuração.
Depois de superarmos 21 anos de regime autoritário e consolidação democrática, onde a inflação foi vencida e a estabilidade econômica se tornou uma conquista, o país novamente se encontra em um momento de escolhas difíceis, mas fundamentais, que definirão o futuro do país, mas se postergadas teremos graves constrangimentos nos próximos anos. Depois de quinze anos de progressos econômicos e sociais, onde a estabilidade da economia foi construída e a inserção de um grande contingente de excluídos no mercado de consumo de massa se tornou uma realidade, o próximo passo será a melhoria na educação e na saúde, afinal neste momento, pleno século XXI, como nos tornarmos grandes e influentes em um mundo globalizado onde a população se tornou um ativo fundamental, com indicadores pífios e insignificantes.

Apesar do crescimento econômico dos últimos anos temos um longo caminho a percorrer, alguns relacionados ao crescimento descontrolado da violência nos grandes centro urbanos que preocupa e inibe investimentos, gerando transtornos crescentes e fragilidades, destacamos ainda, o péssimo desempenho da educação e as deficiências no setor da saúde, isto sem falar nos desequilíbrios do Estado, o desperdício nos recursos públicos, a corrupção desenfreada, que deslegitimam e ameaçam a consolidação de uma verdadeira democracia representativa, que aparentemente mostra um país democrático mas na realidade esconde uma situação de desmanche da estrutura social.
A visibilidade internacional adquirida nos últimos anos deu ao Brasil a possibilidade de sediar dois grandes eventos internacionais, a Copa do Mundo da FIFA de 2014 e as Olimpíadas de 2016, dois grandes desafios para o país, o mundo estará de olho no Brasil, receberemos milhares de jornalistas e turistas estrangeiros, são duas oportunidades de mostrar para a sociedade internacional os avanços do país, mas para que tenhamos êxito nesta empreitada a transparência nos gastos e o profissionalismo no planejamento devem sobrepor o jeitinho brasileiro, mostrando a todos a maturidade conseguida nestes últimos anos, onde mostraremos ao mundo que o Brasil é, na atualidade, um excelente local para investimento e a construção de uma sociedade melhor e mais justa para todos e não para uma pequena parcela dos indivíduos.

Estamos muito longe dos países desenvolvidos, mas temos inúmeras vantagens, somos um povo ágil, flexível e empreendedor, apesar do atraso estamos crescendo e aparecendo para o mundo, enquanto muitos destes países se encontram estagnados e marcados pela saturação, somos dotados de um grande diferencial com relação aos concorrentes, somos dinâmicos e temos muitas oportunidades de negócio, desde que os investidores entendam que somos um país sério, honramos nossos compromissos internacionais e que não mais aceitamos ingerência em nosso futuro, somos sim um país com grande potencial para o futuro, mas não existe futuro sem educação de qualidade, geradora de inovação e de novas perspectivas sociais.

Contrastes e contradições de um país “emergente”

0

Vivemos em uma sociedade onde os contrastes são cada vez maiores e mais evidentes, nesta sociedade, onde de um lado encontramos um altíssimo crescimento da tecnologia, com máquinas modernas, telefones celulares de última geração, aparelhos multifuncionais e produtos variados e sofisticados, um mundo de fantasia, onde o sonho e a realidade são colocados um ao lado do outro bastando apenas, para conquistá-lo, abrir a bolsa e sacar o cartão de crédito.
Este mundo de sonhos e fantasias é o mundo do capitalismo globalizado da contemporaneidade, da mídia e dos jornais especializados em celebridades, um mundo de conto de fadas onde a beleza e o hedonismo são presenças constantes e associados a uma beleza eterna que tem seu preço e todos podem adquirir, desde que devidamente inseridos.
Encontramos nesta sociedade as mais variadas formas de notícias que pregam um mundo irreal, mas ao mesmo tempo somos pressionados a ver e sentir o mundo real, o mundo das desigualdades sociais e culturais, entre países e dentro dos países, dos conflitos bélicos incentivados pela busca constante de recursos financeiros e pelo prazer imediato. Como nos mostra o sociólogo polonês Zygmunt Baumann vivemos no tempo dos amores e sentimentos líquidos, nesta nova sociedade tudo é instável e instantâneo, vivemos no mundo do agora, a construção de valores está sendo deixada de lado e os valores dominantes são os valores do imediato, do possuir e do dominar, o plantar e o construir caíram de moda, devemos colher sem plantar e viver o momento sem se preocupar com o futuro, pois os problemas ambientais e cotidianos nos levam a crer que o futuro não mais vai existir, só sobreviverá o mundo do agora.

Diante disso vamos aproveitar o momento, deixando de lado a educação e os valores morais, estes são vistos como investimentos de longo prazo, imprecisos e inoportunos, restrinjamos ao momento atual e ao imediatismo, vamos nos entregar à busca por recursos financeiros, deixando a ética e os valores herdados do renascimento do século XV e vamos tomar como nosso os valores da competição e da concorrência, adotemo-nos a religião do dinheiro e da ambição, estes sim vão nos preparar para o mundo atual, um mundo de sonhos, gozos e irrealidade, um mundo como diz o sociólogo, apenas líquido.

A sociedade do século XXI é a sociedade da informação, nela o conhecimento é força criadora, neste mundo tão complexo e impreciso, a educação é um instrumento fundamental, fundamental para libertar, como dizia o maior educador que o Brasil conheceu, Paulo Freire, educar é libertar o ser humano das suas trevas individuais e desenvolver suas potencialidades, que são imensas e se renovam constantemente, no entanto, para isso precisamos tornar a educação não apenas uma palavra bonita, mas um conceito fundamental, uma força construtora de alicerces sólidos que não se rompam nos momentos de terremotos sociais e crises internacionais. Um país como o Brasil, um verdadeiro continente, dotado de recursos naturais privilegiados e de um clima reconhecidamente caracterizado como um dos melhores do mundo, um povo dinâmico, empreendedor e hospitaleiro, que respeita a adversidade e convive bem com outros povos e culturas, tem vantagens estruturais que o colocam em posição de destaque nesta sociedade.
A educação é a chave para o sucesso, não seremos um país desenvolvido com o nível educacional que temos, uma média de 5 anos de estudo por trabalhador, quando o mundo desenvolvido está na casa dos 10 ou 12 anos.
Só construiremos um país de verdade com oportunidade para todos, quando nos conscientizarmos de que o progresso é uma construção social e cada indivíduo deve dar a sua contribuição, um país onde a lei do Gerson reina, a lei do tirar vantagem de tudo, não está apto para o mundo do século XXI caracterizado por inúmeros desafios, ao mesmo tempo marcado por grandes oportunidades, só seremos grandes e emergentes quando capacitarmos o nosso povo e transformarmos a educação em um projeto nacional, um projeto de Estado e não um projeto de governo, com prazos e interesses imediatos.

Radiografia da classe média num país injusto

0

Autor: Frei Betto – Correio da Cidadania – 08/03/2010.

A população brasileira é, hoje, de 190 milhões de pessoas, divididas em classes segundo o poder aquisitivo. Pertencem às classes A e B as de renda mensal superior a R$ 4.807 – os ricos do Brasil.

R$ 4.807 não é salário de dar tranquilidade financeira a ninguém. O aluguel de um apartamento de dois quartos na capital paulista consome metade desse valor. Mas, dentre os ricos, muitos recebem remunerações astronômicas, além de possuírem patrimônio invejável. Nas grandes empresas de São Paulo, o salário mensal de um diretor varia de R$ 40 mil a R$ 60 mil.

Análise recente da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em fevereiro último, revela que integram esse segmento privilegiado apenas 10,42% da população, ou seja, 19,4 milhões de pessoas. Elas concentram em mãos 44% da renda nacional. Muita riqueza para pouca gente.

A classe C, conhecida como média, possui renda mensal de R$ 1.115 a R$ 4.807. Tem crescido nos últimos anos, graças à política econômica do governo Lula. Em 2003 abrangia 37,56% da população, num total de 64,1 milhões de brasileiros. Hoje, inclui 91 milhões – quase metade da população do país (49,22%) – que detêm 46% da renda nacional.

Na classe D – os pobres – estão 43 milhões de pessoas, com renda mensal de R$ 768 a R$ 1.115, obrigadas a dividir apenas 8% da riqueza nacional. E na classe E – os miseráveis, com renda até R$ 768/mês – se encontram 29,9 milhões de brasileiros (16,02% da população), condenados a repartir entre si apenas 2% da renda nacional.

Embora a distribuição de renda no Brasil continue escandalosamente desigual, constata-se que o brasileiro, como diria La Fontaine, começa a ser mais formiga que cigarra. Graças às políticas sociais do governo, como Bolsa Família, aposentadorias e crédito consignado, há um nítido aumento de consumo. Porém, falta ao Bolsa Família encontrar, como frisa o economista Marcelo Néri, a porta de entrada no mercado formal de trabalho.

Dos 91 milhões de brasileiros de classe média, 58,87% têm computador em casa; 57,04% frequentam escolas particulares; 46,25% fazem curso superior; 58,47% habitam casa própria. E um dado interessante: o aumento da renda familiar se deve ao ingresso de maior número de mulheres no mercado de trabalho.

Já foi o tempo em que o homem trabalhava (patrimônio) e a mulher cuidava da casa (matrimônio). De 2003 a 2008, os salários das mulheres cresceram 37%. O dos homens, 24,6%, embora eles continuem a ser melhor remunerados do que elas.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o governo Lula tirou da pobreza 19,3 milhões de brasileiros e alavancou outros 32 milhões para degraus superiores da escala social, inserindo-os nas classes A, B e C. Desde 2003, foram criados 8,5 milhões de novos empregos formais. É verdade que, a maioria, de baixa remuneração.

No início dos anos 90, de nossas crianças de 7 a 14 anos, 15% estavam fora da escola. Hoje, são menos de 2,5%. O aumento da escolaridade facilita a inserção no mercado de trabalho, apesar de o Brasil padecer de ensino público de má qualidade e particular de alto custo.

Quanto à educação, estão insatisfeitas com a sua qualidade 40% das pessoas com curso superior; 59% daquelas com ensino médio; 63% das com ensino fundamental; e 69% dos semi-escolarizados (cf. A Classe Média Brasileira, Amaury de Souza e Bolívar Lamounier, SP, Campus, 2010).

A escola faz de conta que ensina, o aluno finge que aprende, os níveis de capacitação profissional e cultural são vergonhosos comparados aos de outros países emergentes. Quem dera que, no Brasil, houvesse tantas livrarias quanto farmácias!

Hoje há mais consumo no país, o que os economistas chamam de forte demanda por bens e serviços. Processo, contudo, ameaçado pela instabilidade no emprego e o crescimento da inadimplência – a classe média tende a gastar mais do que ganha, atraída fortemente pela aquisição de produtos supérfluos que simbolizam ascensão social.

A classe média ascendente aspira a ter seu próprio negócio. Porém, o empreendedorismo no Brasil é travado pela falta de crédito, conhecimento técnico e capacidade de gestão. E demasiadas exigências legais e trabalhistas, somadas à pesada carga tributária, multiplicam as falências de pequenas e médias empresas e dilatam o mercado informal de trabalho.

Embora a classe média detenha em mãos poderoso capital político, ela tem dificuldade de se organizar, de criar redes sociais, estabelecer vínculos de solidariedade. Praticamente só se associa quando se trata de religião. E revela aversão à política, sobretudo devido à corrupção.

Descrente na capacidade de o governo e o Judiciário combaterem a criminalidade e a corrupção, a classe média torna-se vulnerável aos “salvadores da pátria” — figuras caudilhescas que lhe prometam ação enérgica e punições impiedosas. Foi esse o caldo de cultura capaz de fomentar a ascensão de Hitler e Mussolini.

Reduzir a desigualdade social, assegurar educação de qualidade a todos e aumentar o poder de organização e mobilização da sociedade civil, eis os maiores desafios do Brasil atual.

* Frei Betto é escritor, autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros

Um bom livro sobre a crise

0

Autor: Luiz Gonzaga Belluzo – Valor Econômico

A crise financeira desatou um movimento de críticas ao paradigma dominante na teoria econômica. Se a memória não falha, acho que já tratei nesta coluna do texto do biógrafo de Keynes, Robert Skideslsky, “The Return of the Master”. No gênero, o jornalista inglês John Cassidy escreveu o livro “How Markets Fail”, que merece mais do que um fim de semana dedicado à leitura. Nele o autor combina erudição, simplicidade e sobretudo capacidade de situar as teorias em seu ambiente histórico, social e político, o que torna a crítica mais consistente e afasta as tentações das manobras pseudocientíficas que o sociólogo americano Wright Mills chamava de “empirismo abstrato”.

Cassidy começa com Adam Smith, celebrado fundador da Economia Política que, na Teoria dos Sentimentos Morais pretendia “provar que, anteriormente a qualquer lei ou instituição positiva, a mente estava dotada naturalmente da faculdade que permitia distinguir, em certas ações e afeições, as qualidades do certo, do louvável e do virtuoso e, em outras, aquelas do errado, do condenável e do vicioso….” É por meio da razão que descobrimos essas regras gerais de justiça que regulam nossas ações.

Na “Riqueza das Nações”, Smith derivou a propensão para a troca a partir das inclinações naturais do indivíduo. Naquele “estado rude e primitivo da sociedade”, a troca de mercadorias decorreria da disposição benevolente dos indivíduos ao relacionamento com o “outro”. Os produtores privados de mercadorias, ao buscar o seu interesse, “constituem” a sociedade. Smith busca afirmar a autonomia da sociedade econômica em relação ao Estado sublinhando o caráter natural e “espontâneo” das relações fundadas no autointeresse coordenado pela sabedoria providencial e impessoal da Mão Invisível. Smith, diz Cassidy, recomendava restrições à liberdade para a operação dos bancos, “que podem colocar em perigo a segurança de toda a sociedade e, por isso, devem ser disciplinados pelas leis dos governos, desde os mais livres aos mais despóticos.”

Ao longo do século XIX, a economia tomou como paradigma a imponente construção da mecânica clássica e como paradigma moral o utilitarismo da filosofia radical do final do século XVIII. O homo oeconomicus, dotado de conhecimento perfeito, busca maximizar sua utilidade ou os seus ganhos diante das restrições de recursos que lhe são impostas pela natureza ou pelo estado da técnica. Essa metafísica da corrente dominante supõe uma ontologia do econômico que postula certa concepção do modo de ser, uma visão da estrutura e das conexões da sociedade. Para esse paradigma, a sociedade onde se desenvolve a ação econômica é constituída mediante a agregação dos indivíduos, articulados entre si por nexos externos e não necessários.

Os modelos de equilíbrio geral, com informação perfeita e mercados competitivos para todas as datas e contingências, são replicantes do Demônio de Laplace. Em seu pecado original de orgulho iluminista, o deus-mercado se pretende “uma inteligência que abarcaria, na mesma fórmula, os movimentos dos maiores corpos do universo e do menor átomo: para ele nada seria incerto e o futuro e o passado estariam sempre presentes sob seus olhos.”
Cassidy mostra com clareza e simplicidade que nos anos 70, o “nobelizado” Robert Lucas juntou o suposto das expectativas racionais ao modelo de equilíbrio geral para reintroduzir, na contramão da Revolução Keynesiana, o Demônio de Laplace no universo da moderna teoria econômica. Com esse movimento, Lucas expulsou do paraíso da respeitabilidade acadêmica as ideias keynesianas de incerteza e de instabilidade da economia capitalista.
A propósito de capitalismo, John Cassidy ironiza a concepção “lucasiana” da sociedade e da economia: “Ele criou um capitalismo sem capitalistas, em que as empresas são meras abstrações que transformam insumos em produtos”. Nesse capitalismo sem capitalistas, Lucas adotou a teoria dos mercados eficientes para o conjunto da economia. Eugene Fama e outros estenderam tal hipótese para os mercados financeiros. “Lucas assumiu que os mercados de bens, de trabalho, todo e qualquer mercado, eram igualmente eficientes.”

A suposição fundamental das teorias novo-clássicas, com expectativas racionais, assegura que a estrutura do sistema econômico no futuro já está determinada agora. Isso porque a função de probabilidades que governou a economia no passado tem a mesma distribuição que a governa no presente e a governará no futuro.

Cassidy discorda. Para ele, a ação econômica numa sociedade capitalista é definida pelo caráter crucial das antecipações do grupo social que detêm o controle da riqueza e que deve decidir o seu uso a partir do critério da vantagem privada. Os planos privados de utilização da riqueza são racionais do ponto de vista individual, mas o turbilhão de ações egoístas, ao modificar irremediavelmente as circunstâncias em que as decisões foram concebidas, pode levar a um processo cumulativo de erros.

Cito Cassidy: “A ideia de que o comportamento racional do investidor pode levar a um resultado coletivamente irracional – um bolha, por exemplo – é tão antiga quanto a famosa South Sea Bubble de 1720. Muitos investidores sabiam que as informações sobre os ganhos do comércio entre a Espanha e a América Latina eram exageradas e as empresas que lançavam ações no mercado de Londres eram fraudulentas.”

Nos mercados financeiros, as decisões são comandadas por impulsos, medos e súbitas mudanças no estado de expectativas. Os investidores e os senhores da finança têm a faculdade de usar o poder conferido pelo controle do dinheiro e do crédito para beneficiar o conjunto da sociedade ou simplesmente entregar-se ao “amor do dinheiro” e à proteção patrimonial, produzindo crises e desigualdade.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

Importações, competição e inovação

0

Valor Econômico
Autor: Naércio Menezes Filho

Já mostramos neste espaço que as exportações brasileiras são pouco sensíveis à taxa de câmbio, dependendo muito mais do crescimento da renda dos nossos parceiros comerciais. Assim, a existência de uma possível “doença holandesa”, provocada pela valorização cambial, não se sustenta diante das evidências. Ficou faltando analisar o comportamento das importações, pois outro argumento dos “intervencionistas” é que o câmbio valorizado barateia significativamente os produtos comprados no exterior, o que provocaria uma invasão de importados e poderia destruir a indústria nacional. Será que esse argumento faz sentido?
O gráfico mostra o comportamento das nossas importações de bens de capital, intermediários e de consumo nos últimos 20 anos. Podemos ver que as importações, da mesma forma que as exportações, cresceram lentamente até 2003 e aceleradamente a partir de então, declinando somente com a recente crise econômica mundial. Como as importações cresceram mais rapidamente no período de valorização cambial recente, será que os “intervencionistas” teriam razão?

Várias pesquisas recentes mostram que, ao contrário do que ocorre com as exportações, o comportamento das importações depende muito do câmbio. Porém, uma análise mais detalhada da figura mostra que os intervencionistas não estão com a razão. Na verdade, a importação que mais cresceu no período recente foi a de bens intermediários.

Esses bens são, na maior parte das vezes, utilizados como insumos para a produção de outros bens pelas nossas firmas. Assim, quando o câmbio valoriza e as importações de bens intermediários aumentam, as firmas são capazes de obter insumos a preços mais baixos, o que reduz custos e provoca aumento da produção, beneficiando tanto a indústria como o consumidor.

Logo abaixo dos bens intermediários, em termos da composição das nossas importações, estão os bens de capital. A valorização cambial neste caso, além de reduzir o preço das máquinas e equipamentos adquiridos no exterior, promove um aumento da produtividade das firmas importadoras, pois os bens de capital produzidos no exterior geralmente incorporam tecnologias mais avançadas, que são trazidas para as firmas brasileiras através da importação. Isso também provoca uma diminuição dos preços e aumento da produção, para um dado nível de emprego. De fato, a redução das tarifas de importação de insumos importados nos anos 90 foi a principal responsável pelo aumento da produtividade ocorrido naquele período.
Mas, e os fornecedores locais de insumos e de bens de capital, não seriam prejudicados pela concorrência internacional? Alguns analistas argumentam, inclusive, que a competição com produtos importados tende a diminuir os incentivos à inovação e ao crescimento das firmas brasileiras. Seria necessário, portanto, proteger a indústria nacional. Setores do governo vão mais longe, defendendo, inclusive, a fusão entre empresas nacionais, para criar empresas de primeira classe, que poderiam competir com as grandes firmas do mundo todo.

Entretanto, as coisas não são tão simples assim. Na verdade, existe uma longa tradição na teoria econômica e nas pesquisas empíricas mostrando que a maior competição tende a provocar aumento das inovações e do crescimento das firmas. Segundo essa linha de raciocínio, a falta de competição faz com que as empresas se acomodem, aproveitando suas altas margens de lucro, sem se preocupar com inovações de processo e de produto. Afinal, quem teria razão?

Um livro recente (“Competition and Growth”, de Phillipe Aghion e Rachel Griffith) procura sistematizar as pesquisas teóricas e empíricas recentes nessa área, para saber se, afinal, mais competição conduz a um aumento ou diminuição das inovações e do crescimento econômico. Os autores concluem que a redução de barreiras à entrada de produtos importados tem, em geral, um efeito positivo sobre a inovação e o crescimento econômico. Entretanto, este efeito é mais forte para as firmas e indústrias que estão mais perto da fronteira do conhecimento tecnológico, pois elas conseguem competir mais facilmente com os produtos importados através da inovação. Além disto, o efeito da competição sobre o crescimento depende fortemente das instituições do país. Quanto mais flexível for o mercado de trabalho, por exemplo, maior será o efeito da competição sobre o crescimento.

Dessa forma, as importações têm efeitos positivos sobre o crescimento e a produtividade das nossas firmas, seja por permitir acesso a bens de capital tecnologicamente mais avançados, seja através da competição, que faz com que as firmas inovem para poderem competir. Entretanto, para que as firmas possam inovar e crescer frente à concorrência internacional, elas tem que estar próximas à fronteira tecnológica. Para que mais firmas alcancem esse estágio, temos que ter mais trabalhadores qualificados e instituições que favoreçam a inovação. Proteger excessivamente a nossa indústria, assim como proteger excessivamente nossos filhos, pode ser ruim para o seu desenvolvimento no longo prazo.

Naércio Menezes Filho, é professor titular (cátedra IFB) e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e professor da FEA-USP, escreve mensalmente às sextas-feiras.