Para pensador francês, globalização gerou “desapropriação democrática”.

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A CRISE ECONÔMICA mostra que os dirigentes políticos sofreram nos últimos anos uma “desapropriação democrática” gerada pela globalização, e por isso estão hoje relegados à condição de “impotência pública”.
A opinião é de um dos maiores pensadores europeus, o filósofo e intelectual francês Luc Ferry, que fala com a autoridade de quem atuou tanto na esfera acadêmica como no setor privado e no governo.
Antes de chefiar um grupo de reflexão socioeconômica no governo do presidente Nicolas Sarkozy, deu aulas na prestigiosa École Normale Supérieure, foi consultor de multinacional e ministro da Educação entre 2002 e 2004, no governo Jacques Chirac.

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em entrevista à Folha por e-mail, Luc Ferry previu um fortalecimento das instâncias de governo e traçou semelhanças entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu colega francês, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi. O filósofo também rebateu críticas de que teria se alienado ao vestir a camisa de um governo.

FOLHA – O sr. crê que a globalização mudou a maneira de governar e de fazer política?
LUC FERRY – Sim. No universo globalizado em que estamos mergulhados, as ferramentas tradicionais das políticas nacionais se tornam cada dia menos relevantes. O maior fenômeno desta virada de século é a impotência pública, o fato de nossos políticos terem perdido praticamente todo o poder diante de um desenvolvimento globalizado que lhes escapa por toda parte. É o grande problema da política moderna: a questão hoje não é mais somente o que fazer, mas principalmente como recuperar o controle, como recuperar um pouco de poder e de margem de manobra. É o que eu chamo de desapropriação democrática. Há 50 anos essas interrogações não existiam, e as políticas funcionavam num plano essencialmente nacional.

FOLHA – O sr. acredita que as instâncias de governo sairão fortalecidas da atual crise econômica global?
FERRY – Sim, claro. Isso será necessário para resolver o problema duplo levantado pela crise. Primeiro: como reatar com um crescimento acarretado pela riqueza verdadeira, e não pelo endividamento. Segundo: como recuperar o controle sobre um mundo globalizado que nos escapa por todos os lados, tanto no plano econômico como no ecológico. É esse o grande desafio do G20 [grupo das 20 maiores economias do mundo], e é por isso que o grupo tem um longo caminho pela frente.

FOLHA – A crise revelou alguma falha estrutural no funcionamento das sociedades modernas?
FERRY – Antes de mais nada, é preciso refletir sobre a natureza da crise, pois há muita besteira sendo contada por aí. Ao contrário do que se diz, não se trata de uma crise financeira, mas de uma crise econômica no sentido tradicional. A visão ingênua pela qual existem uma “boa economia”, a economia “real” e uma economia “ruim”, a economia especulativa, não resiste à análise. Os países ocidentais mais industrializados, os Estados Unidos particularmente, conheceram nos anos 90 uma forte bipolarização do mundo do trabalho. Nessa época, criou-se um cenário onde havia, de um lado, trabalhadores altamente qualificados e bem-remunerados e, do outro, uma massa de trabalhadores mal paga por ser menos qualificada. Ou seja, a globalização fez as classes médias minguarem. O problema é que eram elas que geravam o crescimento e que mais consumiam. Foi nesse cenário que surgiu nos EUA o recurso ao endividamento maciço dos lares mais populosos e menos ricos, os famosos “subprimes”. A partir daí não foram mais os salários das classes médias que geraram crescimento, mas o endividamento dos pobres. Em outras palavras, a riqueza passou a ser aumentada não mais a partir da riqueza em si, mas a partir de dívidas! E assim multiplicaram-se nos EUA, nos últimos 15 anos, sistemas de empréstimo de alto risco. Foi no contexto dessa nova lógica econômica que a crise financeira veio se inserir. Demorou até os créditos de risco serem transformados em títulos que acabaram espalhados por bancos do mundo todo e viraram, com o apoio das agências de classificação de risco, produtos financeiros de difícil leitura. É evidente que esse processo só aconteceu graças à cumplicidade de banqueiros, incluindo o banco central americano, que sabia muito bem o que estava acontecendo. Mas o importante é que o mundo financeiro, por mais culpado seja, não está na raiz da crise, que é antes de mais nada uma crise da economia real. O que é evidentemente bem mais grave…

FOLHA – Como o sr. explica o fato de Lula, mesmo após dois mandatos repletos de denúncias contra seu partido e seus aliados, ainda ter popularidade tão alta?
FERRY – Pode se dizer a mesma coisa de [Silvio] Berlusconi na Itália ou de [Nicolas] Sarkozy na França. Boa parte da imprensa os vive criticando, e mesmo assim ganham eleições. De onde vem essa defasagem entre a população e a imprensa? A mídia, na sua essência, precisa ser crítica. Como se diz na França, não se pode escrever uma boa matéria para falar dos trens que chegam na hora. Esse é, de fato, o papel da mídia, mas isso pode acabar a distanciando do povo. A população não tem a obrigação de sempre criticar e, paradoxalmente, às vezes entende melhor que os observadores profissionais a dificuldade de ser político.

FOLHA – O que o sr. acha dos presidentes Sarkozy e Barack Obama, que divulgam abertamente sua vida privada?
FERRY – É antes de mais nada um bom tema de reflexão para os jornalistas. Afinal de contas, são eles que correm atrás dos furos relacionados à vida privada dos políticos. O público adora e dá audiência, só isso.

FOLHA – Como o sr. avalia a onda de esperança global gerada pela chegada ao poder de Obama?
FERRY – Há 50 anos, Obama nem sequer teria sido aceito em uma universidade em seu país. E hoje ele é presidente. É normal que essa mudança absoluta exerça um fascínio, não? A esperança é formidável, éramos milhões a contar os dias para a saída de [George W.] Bush. Afinal, Obama vem de uma família de muçulmanos, o que significa que ele pode melhor do que ninguém ajudar a evitar o famoso conflito de civilizações, principal ameaça que pesa sobre o século 21.

FOLHA – O debate sobre a burca [véu muçulmano que cobre inteiramente o corpo da mulher] na França traz à tona a questão do relativismo cultural: impor um modo de pensar como sendo melhor que outro não contribui para acirrar o choque de civilizações previsto por Samuel Huntington?
FERRY – Muita gente atribui um monte de besteiras a Samuel Huntington sem ter lido seu livro (“O Choque das Civilizações e a Recomposição da Nova Ordem Mundial”), que na verdade é ótimo. Em primeiro lugar, ele nunca estimulou o choque de civilizações, muito pelo contrário. Ele sempre recomendou que o governo americano praticasse o diálogo e a moderação diante do islã. Huntington inclusive se opôs à Guerra do Iraque. Mas é fato que existe, sim, um verdadeiro choque com o islã radical, e a burca, ao contrário de uma opinião comum totalmente errada, não tem nada de símbolo religioso. Ela não consta em lugar nenhum na lista das obrigações determinadas pela religião muçulmana às mulheres. A burca é um sinal de vínculo ao fundamentalismo. Ela significa que as mulheres não devem ter lugar na esfera pública e que elas devem ficar em casa. Se saírem, elas têm de se dissimular. Devemos aceitar essa concepção do lugar da mulher? Respondo tranquilamente não, cem vezes não. E eu não digo isso porque defendo uma tradição cultural ocidental, mas porque penso que as mulheres simplesmente fazem parte da humanidade. Nesse tema, o relativismo é sempre cúmplice dos totalitarismos.

FOLHA – Um filósofo que, como o senhor, se associa a um governo não acaba perdendo sua liberdade de pensar e falar?
FERRY – Enquanto se é membro de um governo, é preciso ater-se ao princípio de solidariedade, o que obviamente ofusca a liberdade de expressão. Mas ninguém é obrigado a entrar num governo, nem a ficar nele. Nada impede de ir embora, mas quando se decide permanecer, é preciso ser coerente com seu compromisso.
Muitos pensadores franceses, inclusive alguns dos maiores, como [Alexis de] Tocqueville, [André] Malraux e Victor Hugo encararam esse desafio inerente à vida política. Por quê? Simplesmente porque aquele que não se compromete pode se gabar de ter mãos puras, mas na verdade ele não tem mãos. Tenho paixão por filosofia, é sem sombra de dúvida a vocação da minha vida.
Mas eu não poderia ter passado a vida inteira como professor de universidade sem ter a curiosidade de observar de perto a realidade histórica e sem participar, ainda que modestamente, da construção da história. É apaixonante, e aprende-se muito sobre a realidade, da qual o filósofo jamais deve se afastar.

Economia global pode entrar na Terceira Grande Depressão

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Historiador da Universidade Harvard prevê estagnação não tão profunda quanto a da década de 1930, mas longa, com um período de baixo crescimento dos EUA e deflação em vários países
Para o historiador, a decisão de permitir a continuidade de instituições “grandes demais para quebrar” vai contra um dos benefícios das crises financeiras: o fim de modelos que não funcionam e a criação e transformação de novos caminhos, bem-sucedidos. O professor de Harvard afirma que a crise pode levar a uma aceleração de um processo, que já vem acontecendo, de declínio dos Estados Unidos e ascensão da China como nova potência. “Seria perfeitamente familiar, do ponto de vista histórico”, diz. Em uma ou duas décadas, os PIBs dos dois serão
equivalentes, aposta. O livro, que figurou na lista de mais vendidos do “New York Times”, será lançado no Brasil nesta semana. Leia abaixo a entrevista concedida por Ferguson à Folha, por telefone.

FOLHA – Em uma palestra sobre seu livro, o senhor disse que acabou a “era da alavancagem”. Em que era estamos entrando agora?
NIALL FERGUSON – Temo cada vez mais que estejamos entrando na Terceira Depressão, não tão severa quanto a de 1929-33, mas provavelmente tão longa quanto a de 1873-1878. Temos pela frente um período de crescimento baixo na maior economia do mundo, os EUA, e também um ou dois anos de deflação em muitas economias.

FOLHA – Olhando historicamente, existe alguma diferença entre essa Terceira Grande Depressão e as anteriores, para a população?
NIALL FERGUSON – Uma das grandes diferenças é que os atuais sistemas de bem-estar social e de apoio aos desempregados são muito melhores que os anteriores. Os governos tiveram um papel muito mais ativo na condução da economia, então vimos ações extraordinárias dos bancos centrais para injetar liquidez no sistema -e também enormes déficits dos governos enquanto tentam impulsionar a economia. Isso vai ser diferente e é por isso que não estamos vendo um colapso severo como o dos anos 30. Mas não dá para conseguir tudo. Estamos começando a ver os limites das respostas monetárias e keynesianas a esta crise.

FOLHA – O senhor fala em “destruição criativa”. Da quebra dessas empresas, vamos ter um novo tipo de economia. Que nova economia vai emergir dessa depressão?
FERGUSON – Há duas coisas diferentes. Primeiro, vai ser uma economia mundial em que países como China, Índia e, claro, o Brasil terão um papel muito maior, com os EUA, a Europa e o Japão menos dominantes. O segundo ponto importante é que as economias desenvolvidas, particularmente os EUA, não serão capazes de reavivar o antigo modelo de securitização [em que dívidas são aglutinadas, transformadas em títulos e vendidas como investimento], de bancos de investimento e de crédito ao consumidor. O que vamos ver nos EUA e também na Europa é um retorno a um modelo financeiro mais antiquado. Digo isso com alguma hesitação, porque neste momento os governos desses países estão falando em novas regulações que parecem mirar em reviver esses dinossauros e mantê-los vivos. Em outras palavras, medidas estão sendo tomadas para impulsionar instituições que eram vistas como “grandes demais para quebrar”. E eu concordo com os que dizem que, se algo é grande demais para quebrar, é grande demais mesmo, e provavelmente não deveria existir. Mas a tendência da nova regulação é a de manter esses dinossauros vivos, o que vai criar mais problemas. O que mais precisamos neste momento é um retorno a instituições financeiras menores e menos vulneráveis, mas o que vamos pegar é um tipo de megassuperbanco nacionalizado.

FOLHA – Então, nesse caso, o curso natural da história não está sendo respeitado e pode ser a semente de uma nova crise mais para a frente?
FERGUSON – O perigo de intervir desse modo é acabar com um tipo de “década perdida”, no estilo japonês, em escala global. Minha esperança é que serão tomadas medidas para quebrar esses gigantes perigosos, como o Citigroup e o Bank of America. Se essas instituições forem divididas e houver novas instituições, aí pode haver razões para otimismo. Senão, as perspectivas são bastante ruins.

FOLHA – Seu livro vai até a origem do dinheiro. Sempre é feita a comparação da economia de agora com a da década de 30, mas, sob um ponto de vista mais amplo, com que outros pontos da história a atual era pode ser comparada?
FERGUSON – Há muitos paralelos. Parte do objetivo do livro é mostrar como a história financeira explica a geopolítica. Pense no declínio dos impérios português e espanhol, que nos 1600 pareciam os protagonistas da economia global. O declínio da Espanha foi claramente financeiro, porque a disponibilidade de prata do Novo Mundo teve o efeito de minar a saúde institucional do império espanhol e abrir o caminho para novas potências financeiras. Primeiro a Holanda, e depois, claro, a Inglaterra. A França era um império poderoso no século 18, mas, financeiramente, um império fraco, que em última análise caiu exatamente por isso -a Marinha britânica era muito maior, porque os franceses não tinham um mercado de “bonds”, não tinham a capacidade de se financiar naquela escala. No século 20, é o Reino Unido que está em problemas, como consequência de dívida e baixo crescimento, especialmente depois de 1945. Então seria perfeitamente familiar, de um ponto de vista histórico, se essa crise financeira levasse a uma aceleração da mudança dos Estados Unidos para a China. Nós já vimos nos últimos dez anos que a liderança parece estar mudando em direção à China. Embora isso leve tempo e seja imprevisível -já que a China pode sempre entrar em dificuldades-, é razoável dizer que em 10 ou 20 anos os PIBs da China e dos EUA não serão diferentes.

FOLHA – O senhor cria a “Chimérica” no seu livro, o que é isso?
FERGUSON – Meu argumento é que, para entender a economia mundial, é necessário entender a relação entre a China e a América [EUA]. A China exportadora, a América importadora. A China poupadora, a América gastadora. Essa relação esteve no centro da economia global nos últimos dez anos, e o interessante é perguntar se a crise levará ao fim da “Chimérica”. A China tem reclamado cada vez mais do modo como os EUA lidam com a crise.

FOLHA – A China tem falado constantemente numa alternativa ao dólar.
FERGUSON – Isso tem se tornado tão frequente de Pequim que parece que eles realmente querem dizer isso. Eles têm US$ 1,5 trilhão em títulos em dólar e ficam muito nervosos com os EUA tomando medidas que podem enfraquecer o dólar e, assim, suas reservas. Isso pode parecer o fim desse casamento. Quando cunhei essa expressão, pensei na palavra quimera, uma criatura mítica. Não acho que seja uma relação estável.

FOLHA – É possível ver uma trajetória linear na evolução econômica do mundo ou é algo errático? Estamos indo em alguma direção ou não?
FERGUSON – O paralelo que eu traçaria é um que me bateu quando eu estava na Bolívia, observando os Andes. Olhando as linhas das montanhas, dei-me conta de que estava olhando algo parecido com os índices do mercado financeiro, os picos, as quedas bruscas, os pontos agudos. E acho que essa analogia é válida. Na economia, as coisas quebram, no sentido de seleção natural, existe a sobrevivência, inovações ou mutações acontecem, novas instituições são criadas. São as bem-sucedidas que sobrevivem e se multiplicam. A diferença é que, ao contrário do mundo natural, temos intervenção de reguladores e legisladores, o que previne o processo natural de acontecer. Uma das maiores diferenças entre evolução natural e evolução financeira é que essa pode ser interrompida, os dinossauros podem ser salvos da extinção, e os mamíferos, impedidos de herdar a Terra. É um pouco isso o que está acontecendo, com instituições que deveriam ter quebrado, mas interviemos para mantê-las vivas.

FOLHA – Mas um dos argumentos é que, se quebrassem, o sofrimento para a população seria enorme, como nos anos 30. Não faz sentido?
FERGUSON – Isso é correto, e o Fed [banco central dos EUA] fez um bom trabalho em evitar a catástrofe. Se os bancos tivessem quebrado em setembro passado, estaríamos numa situação muito pior. Mas existem diferenças entre medidas temporárias e reformas de longo prazo. As medidas iniciais foram tomadas para prevenir o pânico. Mas, uma vez que isso foi feito, temos de dizer: depois do que você fez, não há a menor possibilidade de continuar como antes. Quando vimos o Goldman Sachs, que recebeu todo tipo de benefício, voltando aos negócios como sempre, os bancos sobreviventes simplesmente voltando ao que eram antes, tudo isso é muito frustrante. O Goldman vai ter em 2009 o mesmo lucro de 2007, ou maior. É difícil acreditar que os contribuintes colocaram seus recursos para prevenir uma depressão, não para que os bancos tivessem um ótimo ano de 2009.

FOLHA – Isso pode levar a reações mais agressivas da população?
FERGUSON – Isso é parte da dificuldade do público de distinguir entre milhares e milhões. Quando você tenta explicar para as pessoas o que está acontecendo, é complicado, porque, para elas, é difícil distinguir 1 milhão de 1 bilhão. Um dos objetivos do meu livro é encorajar o “alfabetismo financeiro”, para que o leitor comum não se sinta intimidado quando ler palavras como derivativos, trilhão. A ideia de que os mestres do universo de Wall Street precisam nos explicar o que está acontecendo é absurda. Está muito claro que a crise financeira foi causada por um grosseiro erro de cálculo e de administração pelas pessoas que geriam os bancos. E o fato de que muitos deles continuam a comandar os bancos é profundamente irritante.

Jornal Folha de São Paulo – 13/07/2009

Crescimento contínuo das despesas correntes é ‘assustador’

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O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga está preocupado com o forte aumento das despesas correntes do governo. Pelo que observa “do crescimento quase que contínuo que se vê nos gastos públicos”, com alta expressiva do dispêndio com pessoal, aposentadorias e custeio da máquina, Arminio diz que é “obrigado a concluir” que há sinais de descontrole da situação fiscal do país.
“Não é um descontrole explosivo ano a ano, mas, como é via de mão única para cima, o que se vê com o passar dos anos é assustador. Tem que parar”, afirma ele, que é sócio da Gávea Investimentos. A alta dos gastos correntes tira espaço do investimento e empurra para cima os juros, explica.
Para Arminio, o ideal é que o Brasil mantenha superávits primários mais próximos de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) ainda “por uns anos”. A questão é que a dívida bruta ainda é elevada como proporção do PIB, “especialmente quando se leva em conta o alto nível dos juros”, diz. Em maio, a dívida bruta estava em 61,9% do PIB. Países com classificação de risco semelhante à do Brasil tem o indicador na casa de 34%, segundo números da Standard & Poor’s (S&P).
“Vejo muitas vantagens em se manter por mais alguns anos um superavit primário capaz de reduzir a relação dívida/PIB, e assim reduzir o prêmio de risco Brasil e alavancar o crescimento.” Se promover uma economia mais forte para pagar os juros da dívida por alguns anos, o país terá uma folga que permitirá reduzir o superávit em anos de recessão como o atual, avalia. Ao mesmo tempo, completa Arminio, isso requer um esforço fiscal maior quando a economia cresce acima da média.
Depois de atingir 4,1% do PIB em 2008, o superávit primário deve ficar neste ano em 2,2% do PIB, segundo os analistas ouvidos pelo BC. Para 2010, a previsão é de um esforço fiscal de 3% do PIB. Mas há vários economistas que preveem superávits inferiores a esses, dada a tendência de crescimento acelerado das despesas correntes e da incerteza quanto ao ritmo de retomada da expansão das receitas.
A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida por e-mail de Nova York, quando Arminio voltava da China. Segundo a “Dow Jones”, ele foi nomeado um dos 14 integrantes do recém-estabelecido conselho consultivo internacional do fundo soberano chinês China Investment Corporation, que tem US$ 200 bilhões. Os membros vão aconselhar o fundo sobre o ambiente econômico internacional, governança corporativa, estratégia de desenvolvimento e política de investimento.
Valor: O superávit primário neste ano será bem menor que em 2008. O resultado é conjuntural ou aponta para uma deterioração estrutural das contas públicas?
Arminio Fraga: Em parte é conjuntural, mas a Receita Federal acaba de anunciar mais um ano de aumento na carga tributária, que está em torno de 36% do PIB. O lado da despesa é que assusta mais, e muito, e não de hoje.
Valor: As despesas correntes do governo central aumentaram muito de janeiro a maio. Os gastos com pessoal cresceram 22,63%, ou R$ 11,432 bilhões em termos absolutos. Como o sr. avalia essa trajetória de gastos correntes?
Arminio: Aí está realmente um problema sério, que precisa ser abordado com certa urgência, de forma transparente e detalhada. Não dá para a relação gasto corrente /PIB continuar crescendo indefinidamente, pois isso come espaço do investimento e pressiona as taxas de juros para cima.
Valor: O investimento federal cresceu 25% no período, mas para apenas R$ 9,276 bilhões – menos que o aumento com os gastos de pessoal. Por que a União ainda investe tão pouco, mesmo com o PAC?
Arminio: Porque o gasto corrente ocupa o espaço.
Valor: Qual o impacto da política fiscal atual sobre as perspectivas futuras de crescimento do país?
Arminio: Vejo dois problemas. O primeiro eu já mencionei: o “crowding out” do investimento prejudica crescimento. O segundo, pouco discutido, diz respeito à eficiência do setor público, que me parece uma questão igualmente grave.
Valor: Hoje, o superávit primário necessário para estabilizar a relação dívida/PIB é bem menor do que no fim dos anos 90 e começo da atual década. Isso indica que o problema de solvência está fora do radar dos investidores?
Arminio: A questão da solvência de longo prazo requer uma visão mais estrutural das coisas. Penso que nossa dívida bruta ainda é alta como proporção do PIB, especialmente quando se leva em conta o alto nível dos juros. Vejo muitas vantagens em se manter por mais alguns anos um superavit primário capaz de reduzir a relação dívida/PIB, e assim reduzir o prêmio de risco Brasil e alavancar o crescimento. Isso leva a uma recomendação prática muito clara: temos que ter um superávit primário mais para 4% do PIB por uns anos. Essa folga permite uma queda em anos de recessão, como o atual, e requer um superavit maior quando se cresce acima da média.
Valor: O governo definiu um mecanismo de reajuste do salário mínimo que leva em conta a inflação nos últimos 12 meses e o PIB de dois anos anteriores. Isso pode levar a mais um reajuste superior a dois dígitos em 2010. Como o sr. vê esse mecanismo de correção?

Arminio: Preliminarmente, esta conta seria menos problemática sem o vínculo com os cálculos da Previdência, tema relacionado ao início da nossa conversa. Como não é assim, me parece que por ora seria razoável apenas proteger o salário mínimo contra perdas reais e no máximo dar aumentos equivalentes ao crescimento do PIB per capita.
Valor: O sr. vê sinais de descontrole da situação fiscal no país?
Arminio: Do que foi dito até aqui, e da observação do crescimento quase que contínuo que se vê nos gastos públicos, sou obrigado a concluir que sim. Não é um descontrole explosivo ano a ano, mas como é via de mão única para cima, o que se vê com o passar dos anos é assustador. Tem que parar.
Valor: Os princípios da lei de responsabilidade fiscal estão de algum modo ameaçados?
Arminio: A LRF foi um marco fundamental – sem ela, o país provavelmente já teria quebrado. Mas ainda vejo muita despesa permanente sendo criada sem real fonte de receita equivalente. E falta um mecanismo mais global de limitar a relação dívida/PIB.

Valor: A herança fiscal que o próximo governo vai receber será um peso muito grande?
Arminio: Sem a menor sombra de dúvida – para não falar de uma certa politização do Estado, que não sei bem medir, mas que parece real.

A crise enfraquecerá países que estavam ascendendo nas duas últimas

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Professor titular do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, José Luis Fiori coordena o Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional e o Núcleo de Estudos Internacionais do IE. Recentemente publicou, em parceria com Carlos Medeiros e Franklin Serrano, o livro “O Mito do Colapso do Poder Americano”, no qual detalha algumas das ideias resumidas nesta entrevista.

P: As primeiras medidas da administração Obama para combater a crise econômica, somadas às iniciativas da administração Bush, serão suficientes para debelar a crise?

R: No meio desta confusão, acho que só existem três coisas que podem ser afirmadas com algum grau de certeza. A primeira é que, faça o que faça, o governo americano será absolutamente decisivo para a evolução da crise em todo mundo. A segunda é que neste momento todos os governos envolvidos estão fazendo a mesma aposta e adotando as mesmas estratégias monetárias e fiscais, e aprovando “pacotes” sucessivos (e até agora impotentes) de ajuda à estabilização e reativação do sistema financeiro e de estímulo à produção e ao emprego, junto a um aumento generalizado – mas ainda disfarçado – das barreiras protecionistas. E todos os governos estão se propondo aumentar o rigor da regulação dos seus agentes e mercados financeiros. A terceira coisa que se pode afirmar com toda certeza é que ninguém, absolutamente ninguém sabe se estas políticas darão certo.

P: Este novo consenso poderia ser considerado uma vitória do pensamento keynesiano, e uma retirada definitiva da ortodoxia monetarista e neoliberal?

R: Do meu ponto de vista, os keynesianos também não têm uma teoria capaz de dar conta da complexidade desta nova situação mundial, e por isto tampouco sabem o que vem pela frente, nem conseguem antecipar se as “políticas keynesianas” que estão em curso alcançarão os resultados propostos. Além disto, um grande número considera insuficientes os recursos que têm sido desembolsados, e criticam a forma em que vem sendo feita a limpeza dos ativos podres do bancos, que em geral é considerada pouco ousada e pouco precisa, além de ser perversa ao premiar com recursos públicos o setor financeiro responsável pela crise. O problema é que, na maioria das vezes, os keynesianos têm uma enorme dificuldade de tratar com os interesses e as lutas do mundo real. E compartilham com os liberais uma espécie de “erro inverso”: Os liberais acreditam na possibilidade e na eficácia da eliminação do poder político e do estado do mundo dos mercados, enquanto os keynesianos acreditam na possibilidade e na eficácia da intervenção corretiva do estado no mundo econômico. Mas estão sempre imaginando um estado homogêneo e onisciente, capaz de formular políticas econômicas sábias, justas e eficazes, desde que não sejam “atrapalhadas” pelo mundo real. Ou seja, em última instancia, ortodoxos e keynesianos compartilham a mesma dificuldade de entender e incluir, nos seus modelos, projeções e recomendações às contradições e às lutas políticas próprias do mundo econômico.
P: E o que você vê quando olha para esta crise através desta “janela” do poder?
R: A vôo de pássaro, é possível ver que esta crise envolve interesses e poderes nacionais e internacionais, econômicos e políticos, gigantescos e contraditórios. Por isto mesmo, não tem nenhuma solução técnica possível, e do meu ponto de vista tampouco tem nenhuma solução política à vista. Ainda assistiremos infinitas tentativas e erros, e uma luta contínua e prolongada em torno de cada uma destas iniciativas. Portanto, tudo indica que será uma crise longa e profunda que atuará como um “tsunami darwinista”, liquidando os mais fracos em todos os níveis. E o que é mais chocante é que esta mesma crise acabará provocando no final uma gigantesca transferência e centralização de riqueza e poder, sobretudo por se tratar de uma crise que apareceu como culminação de um longo período de 30 anos onde também ocorreu, por outro caminho, uma enorme concentração e centralização de poder e capital. Por fim, na hora da volta do sol poucos estarão na praia, e com certeza quem estará na frente serão os EUA.Mas o que é mais surpreendente é que, apesar de a crise não ter sido provocada intencionalmente, ela também enfraquecerá países que estavam ascendendo nas duas últimas décadas e desafiando de alguma forma a ordem internacional estabelecida. É como se a crise recolocasse todos os “sublevados” no “seu devido lugar”, como costumam dizer os “donos do poder”, em todas as latitudes do mundo.
P: Mas você acha que tudo isto acontecerá sem que haja resistência?

R: Não, não acho. Haverá resistência e haverá desintegração social, mesmo que elas não assumam a forma de uma resistência consciente. E se a crise se prolongar por muito tempo, deverão se multiplicar as rebeliões e as guerras civis, sobretudo nas zonas de fratura do sistema mundial. E não é impossível que em algumas destas rebeliões se recoloquem objetivos socialistas. Mas com certeza não haverá uma mudança de “modo de produção” em escala mundial, nem tampouco uma “superação” hegeliana do sistema inter-estatal capitalista. Pelo contrário, do meu ponto de vista, nesta hora de “estreitamento de oportunidades” haverá uma fuga para frente e uma intensificação da corrida imperialista que já estava em curso nestes últimos 20 anos.

P: Sua visão não é excessivamente pessimista?
R: Não creio, creio que é apenas uma leitura capitalista do próprio capitalismo, com suas lutas de poder e suas contradições político-econômicas que atravessam e dão ritmo ao movimento cíclico e expansivo de acumulação e destruição periódica do próprio capital.
P: Agora bem, mudando um pouco de assunto, quais são as suas expectativas com relação à política externa dos Estados Unidos, sob a presidência de Obama?
R: Se só nos fixarmos nas pessoas e seus discursos, creio que não haveria muito que esperar de novo da política externa do governo Obama. As figuras centrais que estão no comando da política externa, como no caso da política econômica, são conhecidos que já governaram durante os oito anos da administração Clinton, que promoveu cerca de 48 intervenções militares ao redor do mundo, ao contrário do que se imagina que foi a década de 90.Por outro lado, os programas de campanha da senhora Hillary, como o do próprio Obama, foram explicitamente intervencionistas e comprometidos com a manutenção do poder global dos EUA. Porque não se pode esquecer que os EUA têm uma infra-estrutura global de poder militar pela qual devem zelar, seja qual for o seu governo: são os seus acordos militares com cerca de 130 países, suas 700 bases militares situadas ao redor de todo o mundo e finalmente seus mais de meio milhão de soldados servindo ou lutando fora do território americano. Os EUA devem enfrentar dificuldades e contradições crescentes para administrar este poder global, mas não há a menor possibilidade de os americanos recuem ou abandonem estas posições de poder por sua própria conta, com ou sem Barack Obama.
P: Mas então não se deve esperar nenhum avanço em relação à era Bush? E de onde poderiam vir?
R: Com certeza haverá mudanças, e o mais provável é que elas vão crescendo com o tempo e pragmaticamente. Mas neste ponto é necessário ter em conta que os reveses do período Bush aumentaram as divisões internas e criaram uma verdadeira fratura exposta e permanente dentro da sociedade e da elite norte-americana. Deste ponto de vista, a eleição e o próprio governo Obama podem e devem ser considerados como um momento importante, mas absolutamente inicial ou incipiente de um longo processo de realinhamento interno de forças e interesses dentro do establishment norte-americano, como ocorreu no início dos anos 50, e na década de 70, depois das Guerras da Coréia e do Vietnã. São momentos em que se formam novas coalizões de poder e podem se definir novas estratégias internacionais.De qualquer maneira, não há dúvida que, frente a um quadro de tamanha complexidade, foi um grande passo à frente o afastamento do fanatismo religioso do comando da política externa americana, e sua substituição por um projeto de experimentação progressivo e realista de soluções negociadas, sempre que possível, com as várias potencias envolvidas em cada um destes conflitos mais quentes, que deverão ir sendo administrados mesmo sem ter uma solução definitiva.
P: Esta crise atual pode representar o fim da era norte-americana e a inauguração de um novo ciclo hegemônico?
R: Eu não leio a história do sistema mundial como uma sucessão de ciclos hegemônicos, uma espécie de ciclos biológicos dos estados que nascem, crescem, dominam o mundo, e depois decaem e são substituídos por um novo estado que percorreria o mesmo ciclo anterior até chegar à sua própria hora da decadência. A melhor analogia para pensar o sistema mundial é como um “universo em expansão” contínua, onde todos os estados que lutam pelo “poder global” – em particular, a potência líder ou hegemônica – constituem um núcleo inseparável, complementar e competitivo, em permanente estado de preparação para a guerra. Por isto, são estados que estão sempre criando, ao mesmo tempo, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra. E as potências que uma vez ocupam a posição de liderança não desaparecem nem são derrotadas por seu “sucessor”. Elas permanecem e tendem a se fundir com as forças ascendentes criando blocos cada vez mais poderosos de poder, como aconteceu, por exemplo, no caso da Holanda, Grã Bretanha e Estados Unidos, que na verdade foram alargando sucessivamente as fronteiras do poder anglo-saxônico. Além disto, neste sistema inter-estatal capitalista em que vivemos, crises econômicas e guerras não são, necessariamente, um anúncio do “fim” ou do “colapso” dos estados e das economias envolvidas. Pelo contrário, na maioria das vezes fazem parte de um mecanismo essencial da acumulação do poder e da riqueza dos estados envolvidos dentro do sistema inter-estatal capitalista. As crises e guerras que estão em curso neste inicio do século XXI ainda fazem parte de uma transformação estrutural, de longo prazo, que começou na década de 1970 e que aponta, neste momento, para um aumento da “pressão competitiva” mundial e para uma nova “explosão expansiva” do sistema mundial – como a que ocorreu nos longos séculos XVI e XIX – que contará com um papel decisivo do poder americano.
P: Mas não foi exatamente na década de 70 que se começou a falar em “crise da hegemonia americana”?
R: Exatamente, foi na década de 70 que se começou a falar da crise da hegemonia do poder americano, e do início do fim da “era americana”. E no entanto, a resposta que os EUA deram à sua própria crise teve um papel decisivo na transformação de longo prazo da economia e da política mundial. Basta dizer que foram estas mudanças lideradas pelos EUA que trouxeram de volta ao sistema mundial, depois de 1991, as duas velhas potências do século XIX, a Alemanha e a Rússia, além de trazer para dentro do sistema a China, a Índia, e quase todos os principais concorrentes dos Estados Unidos deste início de século. A crise de liderança dos Estados Unidos, depois de 2003, serviu apenas para dar uma maior visibilidade a este processo que já estava em curso, com novas e velhas potências regionais atuando de forma cada vez mais “desembaraçada” na defesa dos seus interesses nacionais e na reivindicação de suas “zonas de influência”.
P: Você acha que a atual crise econômica afetará a centralidade do dólar como moeda de referência internacional?

R: Não creio que o papel internacional do dólar seja afetado ou alterado como conseqüência desta crise. Basta você olhar para a chamada “fuga para o dólar” que se acelerou depois de setembro de 2008, como resposta à crise financeira americana. Este processo fica ininteligível enquanto não se entenda o funcionamento do sistema monetário internacional que meu colega Franklin Serrano apelidou, já faz alguns anos, de sistema “dólar-flexível”. Desde a década de 1970, os EUA se transformaram no “mercado financeiro do mundo”, e o seu Banco Central (FED), passou a emitir uma moeda nacional de circulação internacional, sem base metálica, administrada através das taxas de juros do próprio FED, e dos títulos emitidos pelo Tesouro americano, que atuam em todo mundo, como lastro do sistema “dólar-flexível”. Por isto, como diz Serrano, a quase totalidade dos passivos externos americanos é denominada em dólares e praticamente todas as importações de bens e serviços dos EUA são pagas exclusivamente em dólar, configurando um caso único em que um país devedor determina a taxa de juros de sua própria “dívida externa”. Uma mágica poderosa e uma circularidade imbatível, porque se sustenta no poder político e econômico norte-americano. Agora mesmo, por exemplo: para enfrentar a crise, o Tesouro americano emitirá novos títulos, mas estes títulos serão comprados pelos governos e investidores de todo mundo, porque seguem sendo uma aplicação segura para todo o mundo e inclusive a China, como diz o influente economista Yuan Gangming, ao garantir que “é bom para a China investir muito nos EUA; porque não há muitas outras opções para suas reservas internacionais de quase US$ 2 trilhões, e as economias da China e dos EUA são interdependentes”.

P: Depois da polarização EUA/URSS e da dominação isolada dos EUA, o que vem agora? A China poderá ocupar o vácuo de poder deixado por um EUA economicamente debilitado?
R: Apesar da violência desta crise financeira, e dos seus efeitos em cadeia sobre a economia mundial, não deverá haver uma “sucessão chinesa” na liderança política e militar do sistema mundial. Pelo contrário, do ponto de vista estritamente econômico, o mais provável é que ocorra um aprofundamento da fusão financeira em curso desde a década de 90, entre a China e os Estados Unidos. Assim

Não creio. Nada do que está acontecendo tem a ver com qualquer tipo de vitória ou derrota teórica. Trata-se de uma reação emergencial e pragmática frente à ameaça de colapso do poder dos estados e dos bancos, e como conseqüência, dos sistemas de produção e emprego. Foi uma mudança de rumo inesperada e inevitável, que foi imposta pela força dos fatos, independente da ideologia econômica dos governantes que estão aplicando as novas políticas, e que na sua maioria ainda eram ortodoxos e liberais até anteontem. É como se estivéssemos assistindo a versão invertida da famosa frase da senhora Thatcher: “there is no alternative”. Só que agora, do meu ponto de vista, esta nova convergência aconteceu sem maiores discussões teóricas ou ideológicas e sem nenhum entusiasmo político, ao contrário do que aconteceu com a “virada” liberal-conservadora dos anos 80/90, que atravessou todos os países e todos os planos da vida social e econômica. A ideologia econômica liberal não previu e não consegue explicar a crise que ela provocou, e como conseqüência não tem nada para dizer nem propor neste momento. Por isto mesmo, as idéias ortodoxas e liberais saíram do primeiro plano, mas não morreram nem desapareceram; pelo contrário, permanecem atuantes em todas as frentes e trincheiras de resistência às políticas estatizantes que estão em curso. Uma resistência que tem crescido a cada hora que passa, dentro e fora dos EUA, apesar de ainda não ter sido devidamente identificada e diagnosticada.

Formatura Administração Unirp – Março/2009

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Para entender a crise financeira

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Como o governo americano contribuiu para a criação da atual crise financeira.