Desesperança com a política partidária

0

Uma das características mais importantes da sociedade contemporânea é a fragilização das eleições, do voto popular e da sacralidade da escolha dos governantes, instrumentos inscritos na lógica social como uma forma de eleger representantes e definir os rumos do país, dos estados ou dos municípios, esta desesperança com as atividades político-partidárias é um mau presságio para a democracia e pode gerar graves problemas para todos os cidadãos.
Lembro-me de uma época onde os políticos tinham um verniz ideológico, de um lado encontrávamos aqueles que priorizavam a ordem à justiça social e eram definidos como de direita, de outro encontrávamos aqueles que priorizavam a justiça social à ordem e eram definidos como de esquerda e, ainda encontrávamos um terceiro grupo político que se definiam como intermediário deste embate ideológico e eram chamados de políticos de centro. Nesta época era muito fácil definir quem era quem na política e perceber como eram feitas as alianças e como se davam as aproximações eleitorais, que saudade desta época onde adversários eram adversários, conviviam educadamente, mas apresentavam posições políticas diferentes, como esta sociedade se transformou e como se degradaram as nossas instituições políticas, contribuindo para um incremento da desesperança dos cidadãos.
Os ventos da política se alteraram imensamente, partidos de esquerda e de direita se entrelaçam em alianças que contrariam todas as leis do bom senso, da lógica e da moral, candidatos tiram fotos juntos e juram fidelidade, se abraçam confundindo os cidadãos e gerando controvérsias na comunidade, contribuindo para que a política seja cada vez mais vista como uma seara onde dignidade e respeito desapareceram por completo.
As eleições na atualidade se tornaram uma grande encenação, um verdadeiro teatro, os políticos gastam milhões e milhões de reais para serem eleitos, são recursos oriundos de fontes desconhecidas, financiadas por pessoas que não mostram sua cara e seus verdadeiros interesses, gerando graves constrangimentos para a sociedade, pois quando seus candidatos são eleitos passam a trabalhar para seus interesses, muitos deles escusos e ligados a bandidagem, vide o caso mais recente ocorrido no Brasil, onde um Senador da República, Demóstenes Torres, paladino da moralidade e dos bons costumes foi cassado por envolvimento claro com a contravenção, mesmo sabendo desta cassação acreditamos e temos muitos argumentos para acreditar, que grande parte destes chamados homens públicos não agüentaria uma investigação simples relacionada a seus patrimônios e suas relações de amizades, num universo restrito apenas ao Congresso Nacional, com seus 584 parlamentares, uma parcela considerável seria reprovada e processada por crimes variados, trafico de influência e até crimes comuns. Agora, se esta investigação abranger as Câmaras Municipais, com o universo de investigados aumentando, os resultados seriam chocantes e não teríamos espaço para prender tantos marginais, criminosos e bandidos, que se utilizam do mandato para ter imunidade transformando este benefício em verdadeiro espaço de impunidade.
A prestação de contas da classe política é algo absurda e irracional, os bilhões de reais gastos nas eleições são escondidos pelos políticos como um grande mantra, abrir as contas e mostrar as verdadeiras fontes dos recursos e os doadores da campanha pode gerar graves constrangimentos, isto porque muitos escondem tais doações em contas fantasmas, o conhecido caixa 2, mas depois das eleições fazem com que tais “investimentos” retornem em contratos milionários com órgãos públicos, enriquecendo e criando vínculos constantes entre a classe política e o grande capital, fonte incessante de corrupção e clientelismo político, dois dos maiores males deste país que remontam o período colonial.
Ao analisarmos a política no Brasil não podemos deixar de lado o que acontece nas cidades do interior, regiões mais longínquas onde as informações pouco chegam e a mídia não tem atuação direta, o executivo é ocupado pelos mesmos grupo políticos, que se revezam todas as eleições e os chamados representantes do povo, os vereadores, são indivíduos totalmente despreparados para esta missão tão nobre e importante para a consolidação da democracia, pessoas sem conteúdo político, ético e moral, e pior, ao serem eleitas se vendem para os grupos econômicos de plantão e usam do cargo para barganhar benesses para seus grupos políticos, negociando com prefeitos votos em prol de vantagens generalizadas.
Os supostos representantes do povo muitas vezes se esquecem, ou querem se esquecer, que muitos deles só conseguiram ser eleitos graças aos votos da legenda, sem estes não conseguiriam ser eleitos, mesmo assim, de forma descarada vendem sua vereança em prol de benesses particulares, barganham algo que não lhes pertence e perpetuam uma distorção brutal na política brasileira.
Ao analisarmos a produtividade da classe política brasileira percebemos que seus níveis são baixíssimos, grande parte dos projetos apresentados nas Câmaras de Vereadores são para nomear ruas e avenidas e ainda para conceder títulos aos cidadãos, honrarias desnecessárias e muitas vezes marcaram por conchavos e interesses mesquinhos. No Congresso Nacional, Deputados e Senadores, não se diferem tanto dos vereadores, muitos deles se comportam como verdadeiros vereadores nacionais, vendem seus cargos em troca de benesses para seus currais eleitorais, se beneficiando do cargo para conseguir recursos financeiros e a perpetuação desta estrutura distorcida e inviesada, que lhes garantem muitas vantagens materiais e, principalmente, política.
A classe política brasileira está em crise terminal, credibilidade baixíssima, a sociedade desconfia constantemente de sua atuação, seus discursos não mais empolgam os cidadãos, muito pelo contrário, os políticos no Brasil são considerados, segundo pesquisas, uma das classes mais mal vista pela população, estão sempre relacionados a picaretagem e corrupção, o que enfraquece as bases da democracia representativa e com isso fragiliza a sociedade e cria um clima de insegurança política e institucional.
A política está passando por graves crises não apenas no Brasil, mas em toda a sociedade internacional, muitos bradam aos quatro cantos que não gostam de política e esquecem que somos seres políticos, vivemos em sociedade e nos relacionamos todos os instantes com pessoas que tem interesses, idéias e pensamentos variados, respeitar tais idéias são premissas importantes para a boa convivência, abrir mão da política é nos deixarmos levar pelo poder dos mais fortes, neste caso veríamos um retrocesso social e graves constrangimentos para todos os indivíduos, culminando em uma sociedade onde viveríamos as turras em constantes confrontos, com mortes e destruição como regra, onde os mais fracos seriam sempre os mais afetados, humilhados e explorados. Se existe uma forma de reverter esta desigualdade é por meio da luta política, saudável, propositiva e construtiva, votar pode ser um instrumento salutar nesta batalha, mas é preciso observar atentamente a história dos candidatos e sua atuação, propostas e conduta moral, não mais podemos deixar de lado um instrumento que pode nos abrir novos horizontes e possibilidades, coloquemo-nos no centro das decisões e assumamos nosso papel nesta sociedade, somente desta forma poderemos mostrar a maturidade necessária para servirmos de exemplo para as próximas gerações, precisamos urgentemente reverter a imagem de que nós, brasileiros, vivemos deitado eternamente em berço esplêndido, para uma política onde nos engajamos mais e de forma coletiva e organizada, e nos responsabilizarmos mais por nossas atitudes, pois estas definem rumos e oportunidades.

Lideranças tímidas e equivocadas

0

Momentos de incertezas se espalham pela sociedade mundial levando as mais variadas regiões do globo preocupações e desesperanças, mas ao mesmo tempo abrindo espaço para novos desafios e perspectivas, geradoras de oportunidades e espaços para líderes e empreendedores modernos, que fazem a diferença em uma sociedade aflita e marcada por medos e indagações constantes.
Encontrar nestes ambientes lideranças novas e promissoras é algo bastante complicado, até mesmo algumas palavras ou conceitos estão sendo utilizados de formas equivocada e banalizada pelos agentes sociais, empreender é mais que abrir uma empresa, empreender é algo mais complexo de mensurar e definir e está intimamente ligado a uma capacidade de construir e direcionar novos rumos e espaços para os negócios, criando áreas e oportunidades de trabalho e produção, gerando riquezas, empregos e novas oportunidades profissionais.
Liderar de forma eficaz estas mudanças é uma das habilidades exigidas dos empreendedores, que são líderes por natureza, possuem esta sensibilidade para compreender as oportunidades e servem como uma bússola para os trabalhadores e indivíduos que estão ao seu lado, motivando-os e estimulando-os ao trabalho, gerando um sentimento de utilidade, de pertencimento, sentimentos fundamentais para as atividades cotidianas de todos os cidadãos.
O mundo do século XXI, marcado pelas transformações constantes, está carente de lideranças empreendedoras, tanto na lógica política quanto na social, encontramos muitos indivíduos em cargos de liderança que apresentam uma visão limitada, são exímios estrategistas no mercado financeiro ou empresarial, falam vários idiomas, conhecem muitas teorias, países e culturas, mas não apresentam uma visão sistêmica dos problemas da humanidade, pensam nos indivíduos apenas como consumidores e se esquecem dos cidadãos, perseguem metas ambiciosas e deixam de lado os seres humanos, suas vidas e seus problemas, o resultado disso é uma sociedade que deixa a ética e os valores humanos de lado e se entregam ao imediatismo e ao individualismo.
Os valores do capitalismo ocidental se difundiram e geraram grandes mudanças no mundo, países orientais sentiram na pele mudanças intensas em suas formas de enxergar o mundo e vivenciar o trabalho e as relações sociais, concorrência e competição se tornaram mantras sagrados do mundo contemporâneo, obrigando as sociedades a buscarem incrementos da produtividade e redução de custos, mesmo que conseguidos destruindo o meio ambiente e deixando, para as gerações futuras um passivo altíssimo.
As transformações são intensas e preocupantes e levam regiões, antes promissoras e desenvolvidas, ao caos econômico e social, a União Européia está mergulhada em uma crise estrutural, cujos impactos sobre a economia global ainda são incertos e violentos, países como a Grécia, Portugal e Espanha se encontram em situação terminal, desemprego crescente, desigualdade social em ascensão, dívidas em descontrole e perspectivas negativas, que geram o caos, o medo e a insegurança, afugentando investidores e fazendo com que as perspectivas sombrias se tornem uma realidade assustadora, este caos oculta uma preocupação premente com as gerações futuras, o que estamos deixando para nossos filhos e netos se a esperança está se esvaindo de uma forma jamais vista e o medo e a desesperança reinam nos corações de todos.
Soma-se a tudo isso as preocupações ambientais, cúpulas são organizadas em vários países e regiões para construir uma postura comum de combate ao aquecimento global, debates, palestras e grupos de discussão tentam convencer os céticos e os supostos líderes a adotarem uma postura mais assertiva e criar metas mais ambiciosas para combater este desajuste que pode legar às próximas gerações um caos ambiental, atitudes estas que só poderão ser implantadas se o lobby das indústrias poluidoras for controlado e medidas concretas forem adotadas, medidas estas que não podem se restringir a um único país ou a um grupo de países, mas à comunidade internacional, deixando claro que alguns devem arcar com um ônus maior deste passivo ambiental, ou seja, países que alcançaram padrões mais elevados de consumo e conforto material devem se empenhar mais, destinando recursos para as pesquisas e zelando por um clima melhor e condições melhores de sobrevivência.
Um mundo complexo como o do século XXI exige lideranças mais capacitadas, a busca incessante pelo incremento de produtividade leva o trabalhador a desajustes constantes e conflitos existenciais, a ansiedade, a obesidade e a depressão são doenças que abalam todos os países e regiões, o suicídio pode ser descrito como uma das maiores causas de morte na sociedade internacional, obrigando governos e comunidades a assumirem posturas mais assertivas na solução destes problemas para que o século atual seja um período de transformações e progressos não apenas materiais, mas avanços morais e éticos dos seres humanos, para que possamos legar aos nossos descendentes um mundo melhor, aumentar os investimentos na integração e na comunicação entre os povos é importante e deve ser estimulado, agora, o que adianta estes investimentos sabendo que muitas regiões do planeta se encontram na pobreza e na indigência extremas, onde uma parcela substancial de sua população vive, ou melhor sobrevive, com apenas US$ 1 por dia e as perspectivas e sonhos são luxos que seus povos nem ousam em cultivar, porque a dureza do cotidiano embrutece os corações e fazem secar toda e qualquer lágrima de esperança.
Os medos são intensos e verdadeiros, mas mesmo sabendo das dificuldades e da dura realidade do mundo, não podemos desanimar e perder as esperanças, os homens são escravos de suas escolhas, colhemos atitudes tomadas anteriormente e para que, num futuro próximo, possamos colher frutos de paz e de progresso devemos hoje, na atualidade, plantar sentimentos e atitudes melhores, adotando o altruísmo como bússola que nos orienta e fortalece nossas decisões e expectativas.

A economia da turbulência: crise e incertezas nos EUA e na UE

0

Estados Unidos, Grécia, Irlanda, Espanha, Itália ou Portugal, a crise das economias mais desenvolvidas finalmente se instalou e seus impactos são, até agora, impossíveis de serem mensurados, os números são altos, assustadores e imprecisos e servem apenas para aumentar a combustão e o desequilíbrio do Sistema Financeiro Internacional, neste momento os teóricos do marxismo são os que pareciam acertar em suas previsões, diziam de forma clara e eloqüente que o capitalismo cria seu próprio coveiro, que é o sistema que mais gera riqueza na sociedade mas, infelizmente, concentra tal riqueza nas mãos de poucos e cria uma situação de pobreza e miséria crescentes, tornando o sistema inviável no médio ou longo prazo, se estas previsões feitas no final do século XIX pelo grande pensador alemão Karl Marx estiverem certas, o mundo está diante de uma crise de grandes proporções, cujos impactos são difíceis de serem previstos.

Diante desta situação o mundo se inquieta, as instituições multilaterais construídas no pós-guerra, os governos dos países desenvolvidos e os neófitos integrantes dos Brics se unem para salvar a “sociedade internacional” e evitar a bancarrota dos países e da estrutura econômica global, que geraria uma destruição sem precedentes na humanidade e transformaria os desajustes gerados pela crise de 1929 um simples desequilíbrios regionais, tímidos quando comparados ao que está se desenhando no horizonte.

Mais quais são as raízes desta crise? E porque este sistema econômico apresenta tanta instabilidade? Tanta destruição nos setores produtivos são sintomas de que o modelo capitalista de produção é um sistema incapaz de agregar mais pessoas e construir uma sociedade mais igualitária para todos os indivíduos? E a economia brasileira como vai se comportar nesta instabilidade internacional? Será que vamos sobreviver incólume como na anterior ou seremos mais afetados e, com isso, teremos perdas mais consideráveis? São tantas as perguntas e de tão complexa discussão, que, neste espaço, iremos apenas iniciar uma reflexão.

Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) refez as contas do crescimento da economia mundial, nesta nova análise a instituição reduziu as taxas de crescimento de todos os países e regiões, dando mostras claras de que a economia está se desacelerando e, com isso, gerando cenários nebulosos para todos os países, não apenas os desenvolvidos, mas também os em desenvolvimento, os chamados eufemisticamente de emergentes, como o Brasil.

Uma desaceleração da economia dos Estados Unidos da América e da União Européia traria para todas as regiões do mundo, uma desaceleração geral, reduzindo os fluxos comerciais entre países, estes países são caracterizados como grandes consumidores, importam muitos produtos e, com isso, dinamizam a economia internacional e estimulam a produção e a geração de empregos nos países exportadores, a retração de consumo nestas regiões impactaria nos fluxos comerciais de toda a economia global, países como a China, grande produtor de produtos industriais seria afetado diretamente, sua economia reduziria suas vendas externas e forçaria seus dirigentes a ajustes econômicos e políticos, cujos resultados seriam, até então, de difícil projeção para a sociedade internacional.

A economia norte-americana está numa situação de apreensão, os setores mais prejudicados estão se mobilizando para pressionar o governo a adotar políticas mais efetivas para estimular a geração de empregos, recentemente o presidente Barack Obama lançou um pacote de incentivo ao emprego de mais de US$ 400 bilhões, que para muitos analistas econômicos parecem tímidos em face dos graves problemas da economia, o problema premente do país está atrelado à falta de credibilidade dos agentes econômicos, que, mesmo tendo recursos financeiros em caixa, se mostram amedrontados pelos indicadores negativos e restringem seus investimentos, propagando grande instabilidade nos consumidores, que se retraem e geram graves constrangimentos aos setores produtivos aumentando o desemprego, que está próximo dos 10%, algo impensado para um país que sempre se caracterizou como a pátria das oportunidades, do emprego e da ascensão social.

A situação européia não nos parece melhor, seu quadro é desolador, os países fazem reuniões constantes e pouco se decide, o sistema bancário europeu nos parece combalido pelas incertezas geradas pelo possível default grego, que levariam muitos bancos a graves constrangimentos financeiros, o que obrigaria o Banco Central Europeu (BCE) a um resgate altíssimo, alguns analistas calculam o resgate em mais de 200 bilhões de euros, que necessitaria da ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas reservas financeiras nos parece insuficiente para tal tão arrojada movimentação.

Neste ambiente de incertezas encontramos espaço para movimentos variados da população, cidadãos europeus e norte-americanos se lançam em novas reivindicações, protestos se alastram pelo mundo todo e, agora chegam aos Estados Unidos, neles encontramos estudantes, desempregados, ex-militares, funcionários públicos, professores, sindicalistas, marxistas, punks, ambientalistas, artistas, anarquistas, manifestantes dos movimentos negros, defensores dos direitos dos homossexuais, intelectuais, etc. Estes grupos sociais se unem, num movimento que está sendo denominado “Ocupem Wall Street”, para fazer reivindicações contra os graves problemas que a sociedade vive, o crescimento desproporcional do setor financeiro que detém 40% de todo o lucro da economia norte-americana, algo assustador e jamais visto na história econômica do país, este lucro contrasta com a carência de uma parcela cada vez maior da população, em pesquisa recente constatou-se que, no país, quase 50 milhões de pessoas se encontram em situação de exclusão econômico-social, algo vergonhoso para a maior economia do mundo, detentora de um produto interno bruto de US$ 15 trilhões e um PIB per capita de US$ 50 mil por ano, o que está acontecendo com a economia do país?

As revoltas sociais não se restringem apenas ao tio Sam, a Europa, que vê seu modelo de União Econômica em xeque, também deve se preocupar com a agitação social, sua população sequiosa de perder seus benefícios sociais, tão duramente conquistado nas últimas décadas, se movimenta para preservá-lo, garantir aposentadorias confortáveis, sistemas de saúde e educação de qualidade são motivos de mobilização social para seus cidadãos, que ouvem discursos claros de seus líderes políticos que clamam por austeridade fiscal e redução dos dispêndios dos governos, discursos estes que podem comprometer seus benefícios sociais e mergulhar o bloco em grave crise recessiva, e acabando em definitivo com estes repasses de recursos do Estado, comprometendo a saúde da população.

Os gregos, os italianos, os portugueses, os espanhóis e os irlandeses já se manifestaram nas ruas de suas cidades, foram para suas capitais e deram seus recados para a classe política de seus países, os franceses, os alemães e os ingleses já perceberam que a situação é mesmo preocupante, sabem que neste ambiente de instabilidade e incertezas, podem perder muito, e com isso, comprometerem sua situação social e suas condições de vida num futuro que parece bastante assustador, onde o risco do desemprego se faz presente todos os dias, e pior, a exclusão social gerada pela transformação crescente do mercado de trabalho.

A população se mobiliza porque receia algumas medidas que estão sendo cogitadas nos círculo de poder político e nos ambientes financeiros nacionais e internacionais, governos sofrem pressões constantes de organismos internacionais e multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Bird), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco de Compensação Internacional (BIS), para injetar recursos nos bancos combalidos pela crise financeira, cujos balanços estão bastante deteriorados pelas exposições agressivas e medidas arriscadas tomadas anteriormente, sem o socorro governamental, destacam os defensores deste socorro, estes bancos brevemente perderão recursos, gerando graves desequilíbrios para os setores produtivos, afetando o lado real da economia e aumentando o desemprego no sistema, de outro lado, os trabalhadores se movimentam e reivindicam claramente que, como existe dinheiro e recursos monetários para salvar os bancos e o sistema financeiro e não tem para socorrer a população que se encontra em situação de medo e desesperança, o que fazer nesta situação?

Neste ambiente, destacamos a inexistência de líderes inteligentes e engenhosos, estamos numa sociedade onde não encontramos lideranças criativas e experientes que encontrem soluções mais imediatas e deixem de postergar uma situação que remonta vários anos e cujos impactos sobre a comunidade internacional se arrasta e compromete a credibilidade dos agentes políticos, tão combalidos diante dos escândalos constantes e políticas desastrosas, que promovem guerras e instabilidades onde deveriam construir ambientes de harmonia e estabilidade, como forma de legitimar seus mandatos democráticos concedidos pela população de seus países, mas só criam medo e agitação social e leva seus cidadãos a lembrar de lideranças inteligentes, visionárias e capacitadas, como Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, líderes que ficaram para a história e deveriam inspirar os representantes da atualidade.

O mundo vive momentos interessantes e impressionantes, os grandes sucumbem diante da crise internacional, os detentores de fortunas de outrora se organizam na atualidade para continuar detendo poder e os emergentes, que durante muitos anos foram vítimas de suas experiências econômicas e financeiras, utilizados como laboratórios de suas políticas de liberalização, desregulamentação e privatização são vistos hoje como os únicos em condições de promover uma ajuda eficiente e duradoura.

A sociedade mundial encontra-se num período bastante perigoso, as decisões de cunho econômico-político que forem implantadas neste momento tendem a influenciar os rumos e os comportamentos dos agentes sociais, estimulando novos investimentos ou reduzindo-os imensamente, o risco moral tão propalado nos meios acadêmicos e intelectuais, pode criar um grande constrangimento para o sistema capitalista, inviabilizando-o no longo prazo e deixando claro para todos que este modelo serve para poucos iluminados, são estes os grandes ganhadores, que acumulam lucros crescentes com a produção e garantem ganhos mirabolantes com a especulação financeira e quando se arriscam demasiadamente, colocando seus recursos em situações críticas são salvos pelos governos, criando e perpetuando a desigualdade e a desesperança no mundo contemporâneo.

Turismo: potencial desperdiçado

0

Nos últimos anos a sociedade mundial vem experimentando grandes transformações geradas pelo processo de globalização, que se manifesta pelo aumento do comércio internacional, pelo incremento das trocas financeiras e, também pelo crescimento da integração entre as pessoas, esta integração acontece tanto no mundo da tecnologia como nas viagens e no turismo, que cresceram muito e estão ganhando espaço na sociedade e estimulando a profissionalização de muitas empresas e melhorando a infra-estrutura de muitos países, atraindo não apenas turistas, mas muitos recursos financeiros e monetários em forma de investimentos.

Nos últimos anos o número de turistas tem crescido de forma rápida e sustentável, um dos motivos mais evidente para esta crescimento é o advento da nova classe média, o incremento da economia nos últimos quinze anos com rápido aumento no emprego e na renda agregadas, melhoria nas condições de financiamento e no acesso ao crédito, somados à melhoria nas condições de pagamentos têm transformado de forma estrutural o setor de turismo brasileiro, tão pouco explorado nas décadas anteriores, mesmo com o potencial do país que encanta e impressiona todos que por aqui aportam.

A nova classe média precisa conhecer o país, turismo e viagens de negócio devem ser estimuladas deixando de lado o conhecido turismo “farofa” – aquele em que as famílias alugavam uma Kombi a descia para o litoral, na atualidade observamos, que esta classe média que surge de forma expressiva busca conhecer mais o país, conviver mais proximamente com seu acervo cultural, viajar de avião, este movimento não se restringe apenas ao país, turismo interno, vislumbra novas oportunidades no exterior com viagens internacionais, ainda mais com o câmbio valorizado, conhecer outros povos e culturas e enriquecer sua bagagem cultural, tudo isto é muito nova para as empresas e empreendedores, mas pode definir, de forma clara, o surgimento de novos mercados e grupos de destaque.

O crescimento do emprego tem proporcionado novos recursos na economia, a melhora do emprego e a recuperação da economia estimulam mais as compras e as demandas por variados produtos, às viagens geram uma maior satisfação nas pessoas, os intercâmbios crescem de forma acelerada levando os brasileiros para conhecer novas regiões do mundo, Estados Unidos e Europa não mais se restringem como mercado exclusivo, novas regiões entram na rota, China, Japão e Oriente Médio também recebem visitas variadas e crescentes, inaugurando novos destinos para os turista nacionais.

Aproximadamente vinte cinco milhões de novos consumidores estão se inserindo neste novo contexto, estimular este segmento que cresce de forma acelerada é um dos desafios dos empreendedores, melhorar os canais de comunicação, incrementar a infra-estrutura, capacitar a mão de obra e investir maciçamente no potencial turístico de regiões inteiras são medidas que podem ser realizadas pela iniciativa privada e pelo governo, esta parceria pode nos trazer grandes benefícios, deixando de lado preconceitos ideológicos, delimitando de forma transparente as atitudes de cada um dos parceiros e reduzindo as aparições eleitoreiras vislumbrando melhorias para toda a sociedade brasileira.

A profissionalização do mercado de turismo do país passa pelo desenvolvimento de estratégias amplas de atração do turismo, não mais se restringindo a períodos de férias escolares e a datas comemorativas, mas devem se expandir para outros meses do ano, com uma visão mais ampla que envolva muitas datas novas, com festas e novas formas de atração, via preços e serviços diferenciados, formas de pagamentos e promoções variadas, todas visando um fluxo constante de turistas para incrementar um setor que possui um grande efeito multiplicador na economia, gerador de empregos, melhoria na renda agregada e estimulador do crescimento econômico local e regional, com amplos benefícios para o país.

Dentre as estratégias que poderiam ser implantadas pelos gestores da área do turismo, destacamos a preparação de novos pacotes a públicos específicos, como casais sem filhos, casais homossexuais, homens e mulheres solteiros em períodos fora de temporada, com preços mais acessíveis, acomodações, pacotes rodoviários e viagens aéreas, um exemplo claro destas estratégias que deram certo e foram muito bem sucedidas é aquela adotada para atrair a população da melhor idade, pessoas acima de 60 anos, que passaram a impulsionar o turismo e incrementar os lucros do setor, criando um mercado em ampla expansão no Brasil e no mundo.

Os números disponíveis nos levam a muitas indagações importantes, dentre elas, de que os brasileiros não conhecem o Brasil, nosso país é muito amplo, dotado de variadas características culturais, regiões e tradições se alternam no país, diante disso, cabe a sociedade refletirem sobre a melhor estratégia a ser empregada, enquanto muitos ficam investindo somas altíssimas de recursos para atrair estrangeiros que muitas vezes apenas reproduzem uma visão enviesada sobre nosso país, que tal canalizar esta energia financeira para atrair turistas nacionais nos mais variados locais e levar a esta população um banho cultural, pois, infelizmente, o povo brasileiro não conhece sua história e suas tradições e, com isso, apresenta dificuldades de se identificar enquanto cidadão num mundo globalizado e caracterizado por grandes levas de migração, o turismo interno além de contribuir para o incremento da economia possibilitaria à população um grande banquete com suas tradições e heranças culturais.

A queda da inflação nos anos 90 e a estabilidade arduamente adquirida nos últimos anos, colocaram o país na rota dos investimentos produtivos e financeiros, e abriram novas indagações importantes, tais como: será que o Brasil está preparado para absorver este boom de crescimento na área do turismo? Apesar da melhoria dos últimos anos encontramos um desequilíbrio entre as melhoras na infra-estrutura e as necessidades, que abrem espaço para receios e preocupações ainda mais quando percebemos que o Brasil está próximo de sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo contemporâneo, a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).

A imagem do Brasil no mundo também é algo que deve ser trabalhado de forma direta e profissional, acabar com o turismo sexual que mancha nossa sociedade e nos causa grandes constrangimentos internacionais, combater de forma eficiente a corrupção que tantos transtornos causam para nossa sociedade e atuar ativamente para debelar a violência que assola o país e afetam todas as camadas da sociedade, mas recaem mais fortemente em setores mais frágeis e desprotegidos, todos estes problemas nacionais são rapidamente difundidos pelo mundo e exigem dos governos e autoridades políticas específicas para combatê-los e melhorar nossa imagem na sociedade internacional, atraindo mais turistas e colocando o país em uma nova rota de negócios e oportunidades de desenvolvimento do país.

No Brasil atual o câmbio valorizado é um grande incentivo para o turismo internacional, nestes últimos anos o país apresentou resultados preocupantes em suas contas externas, dentre outros problemas, encontramos na conta referente ao turismo externo um grande desequilíbrio, isto porque uma parcela importante da sociedade aproveitou o câmbio favorável para conhecer outras regiões e países nas mais variadas localidades do mundo. O governo tem um papel central neste mercado, o Ministério do Turismo tem uma importância estratégica e fundamental na consolidação do setor no Brasil, mas para isso é fundamental que sua gestão seja profissional e eficiente, infelizmente estas são exigências que nosso ministério esta longe de representar, atuando mais como um balcão de negócio, espaço de trocas e negociatas, vícios que duram e perduram no tempo e no espaço, passando pelos mais variados governos e vernizes ideológicos.

Pesquisas que integrem as universidades, faculdades e centros de pesquisas, estimuladas pelo Ministério do Turismo e pelas agências de turismo, deveriam investigar o comportamento dos turistas locais, suas necessidades e demandas, a profissionalização passa ativamente pelos conhecimentos dos gostos e desejos do turista local, satisfazendo suas necessidades básicas e aumentando suas expectativas com relação à viagem, estas pesquisas estão sendo feitas nas regiões turísticas de todo o mundo, se a sociedade brasileira demorar para compreender esta tendência mundial, pode ver seu público embarcando para outras regiões do mundo e seu mercado com grande potencial ser desestruturado e inviabilizado por outros atores econômicos mais ágeis e eficientes.

Os investimentos em infra-estrutura são estimulados pelo amplo potencial turístico do país, estes impulsionariam muitas cidades menores que apresentam grande propensão para esta atividade, mas infelizmente se ressentem de locais adequados para receber o turista, tais como pousadas, hotéis e espaços variados para refeições, que estimulariam o crescimento e a empregabilidade de muitos setores da sociedade.

Diante de eventos internacionais tão relevantes que colocarão o país na berlinda do mundo, a sociedade brasileira se encontra em constante preocupação, será que estamos efetivamente preparados para tais eventos? Se conseguirmos organizar eventos deste porte – uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, de sucesso, nos credenciamos para nos tornar mais que uma promessa na sociedade internacional, vamos efetivamente sermos vistos como um país diferenciado, com grandes chances de galgar posições de destaque no cenário global.

Pessoalmente acredito que o país surpreenderá a sociedade internacional, os eventos serão um grande sucesso, o Brasil se destacará na organização e a população, como sempre, será um espetáculo à parte, mostraremos ao mundo mais uma vez que mudamos em muitas áreas e setores, que deixamos um país velho e conservador de lado e estamos nos tornando uma sociedade dinâmica, flexível, aberta e inovadora, mesmo com pouquíssimos incentivos o brasileiro se destaca, mas infelizmente, como tudo não é possível se transformar tão rapidamente, a vida é um grande processo, os gastos e os desperdícios tendem a se repetir, as prestações de contas tão almejadas por todos será camuflada e muitos agentes econômicos e políticos vão acumular fortuna de uma forma tão rápida que provocarão ciúmes dos mais brilhantes empreendedores que este mundo já conheceu.

Momentos de renovação e esperança

0

O ano de 2011 entrará para a história como um momento de grandes mudanças na sociedade mundial, regimes até então intransponíveis e impermeáveis estão sendo destruídos de forma rápida e irreversível, governos autoritários estão sendo banidos do norte da África, movimentos sociais com reivindicações inclusivas estão mobilizando jovens e adultos em prol de uma sociedade melhor e com mais oportunidades, o Chile e a Índia são exemplos típicos de reivindicações geradas por uma sociedade perplexa com os rumos atuais, onde não encontramos recursos para auxiliar os setores mais pobres da sociedade, mas encontramos facilmente grandes somas de dinheiro para resgatar os bancos e o sistema financeiro, como visualizamos na crise imobiliária norte-americana e seus impactos sobre a economia mundial, que “obrigaram” os governos a assumir passivos altíssimos, socializando prejuízos para impedir a falência do sistema econômico.

As transformações em curso no mundo agitam todos os setores da sociedade, como ficarmos indiferentes quando ligamos a televisão e visualizamos, em nossa sala, grupos armados e bem treinados lutando para resgatar seus países de governantes perversos e violentos? Que se nutrem dos sentimentos mais repulsivos para dominar, criando uma verdadeira trilha de destruição e desigualdade, impulsionadas pela ambição patológica e pela busca insana por dinheiro e poder. Estes países marcados por décadas de desmandos e violências se encontram num momento de reconstrução de sua dignidade, os conflitos são necessários quando os seres humanos não conseguem entender as leis do progresso, leis inexoráveis que impulsionam a humanidade, todos aqueles que se escondem e tentam evitá-la, são barbaramente retirados e colocados ao lado, sob pena de retardarem a transição.

Os movimentos em curso no norte da África estão gerando grande apreensão, governantes que se mantiveram no poder durante décadas, pela força das armas e pelas mãos militares, estão sendo destruídos pela população que parece cansada de desmandos e desesperança, numa sociedade onde o desemprego cresce de forma acelerada e as expectativas quanto ao futuro são sombrias, onde o sonho de ascensão social é apenas um sonho longínquo a uma grande parte dos indivíduos, nestes países onde uma cleptocracia corrupta manda e desmanda para manter o controle da sociedade e a educação, que poderia ser o instrumento para fazer a diferença, nada mais é do que um instrumento de manutenção do status quo e do poder político, econômico e social.

Os movimentos sociais não se restringem a países pobres ou a economias em desenvolvimento, atingem ainda povos desenvolvidos com renda per capita de mais de US$ 30 mil, países que alcançaram um alto nível de desenvolvimento social, como a Inglaterra, que semanas atrás presenciou graves desequilíbrios sociais, jovens londrinos lideraram movimentos violentos contra as autoridades, reivindicando novas oportunidades de inserção social, estes grupos combatiam desesperadamente a redução dos investimentos estatais em setores sociais necessitados do auxílio governamental, saques e roubos generalizados cresceram de forma intensa e geraram graves prejuízos para a sociedade, caos urbanos com barricadas e combates não são normais em países desenvolvidos, mas se espalham pelo mundo com uma rapidez jamais vista, fruto do crescimento da desigualdade social nestes países e redução das expectativas de melhoras, num mundo globalizado marcado pela concorrência estes jovens vivem conflitos intensos, de um lado, o mundo que se inaugura é caracterizado pelas melhorias tecnológicas, produtos sofisticados e dotados de muitas habilidades que atraem e geram desejos constantes de consumo e de posse; de outro, a luta pela inserção no mercado de trabalho, este exigindo dos indivíduos inúmeras habilidades, marcados pela competição constante e exigências mirabolantes, querem um produtor voraz e um consumidor insaciável, sem tempo para o pensamento e para a reflexão.

O caos Inglês contrasta com os movimentos surgidos no Chile, este pequeno país que sempre se caracterizou por ser a economia mais estável da região, se encontra em um momento de grande apreensão, jovens indignados fazem protestos marcantes nas ruas, exigindo melhoras constantes na educação, mesmo sabendo que o Chile é o país com maior desenvolvimento nesta área da região, noventa por cento dos jovens chilenos tem ensino médio completo, e mais de cinquenta por cento estão no ensino superior; no Brasil encontramos uma realidade bastante diferente, menos de 40% dos jovens conseguem terminar o ensino médio, e apenas 10% chegam à universidade, mesmo assim, encontramos uma classe estudantil agitada, preocupada e consciente de suas necessidade no país vizinho, enquanto aqui, mesmo com indicadores tão negativos e preocupantes, encontramos jovens tranquilos e acomodados, muitos deles acreditando que um simples diploma vai garantir a entrada no mercado de trabalho, um salário crescente e perspectivas promissoras, isto até pode acontecer mas apenas com uma grande minoria, capacitada e bastante esforçada, conscientes de que o diploma no mundo contemporâneo é apenas o pontapé inicial para o mundo do trabalho, as habilidades acumuladas e a capacidade de se reinventar constantemente é o que lhe garante uma maior empregabilidade futura, mas estabilidade é algo pouco provável.

As demandas dos jovens chilenos deveriam motivar os estudantes brasileiros, buscar qualidade na educação deveria ser a bandeira empunhada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), enquanto os chilenos buscam a inserção na constituição que a qualidade da educação seja um direito garantido pelo Estado, os estudantes brasileiros se contentam com recursos estatais para financiamentos de congressos e garantia de doação de sedes para movimentos sociais que sobrevivem atrelados ao Estado e distante da verdadeira camada necessitada de educação de qualidade que lhe garantam condições de competir em igualdade com outros trabalhadores.

Os movimentos sociais estão se agitando no mundo todo, reivindicações visando a melhoria da sociedade são uma tônica destes momentos atuais, capacitar a população é uma das mais vantajosas políticas públicas que um Estado pode legar aos seus cidadãos, novas oportunidades exigem desprendimento dos governantes e uma visão estratégica, uma capacidade de vislumbram o futuro imediato, que nos parece distante da grande maioria dos gestores públicos, estes se concentram na visão rasteira da política e se esquecem de que serão julgados pela sociedade pelas ações implantadas e pelos seus resultados no cotidiano dos cidadãos.

O mundo do trabalho é cheio de desafios e de oportunidades, a concorrência que vivenciamos nos causam medos e preocupações constantes, poucos estão preparados para este ambiente competitivo, marcados pela cobrança e pelas metas inatingíveis e implacáveis impostas pelos empregadores como exigência para a manutenção de seus empregos e de sua condição social. O mundo contemporâneo é um grande espaço de transformações, muitos povos estão se rebelando contra os desmandos políticos de governantes lunáticos e autoritários, outros saem para as ruas reivindicando melhores condições educacionais e melhoras concretas para a ascensão social, agora encontramos ainda, outros, que saem às ruas para promover arruaças e saques de aparelhos eletrônicos que se transformam em objetos de desejos de todos os jovens e adultos do mundo, os i-pads, i-phones, blackberrys e outros objetos do desejo são roubados em Londres e se transformam em objetos de estudos de intelectuais de todas as partes, os saques modernos não são mais restringidos aos alimentos e gêneros de primeira necessidade, mas estão se concentrando em produtos supérfluos e usados pelas mídias e o marketing modernos como símbolos de status e ascensão social, um mundo estranho sem sombra de dúvida, um desafio para todos os intelectuais.

Crises no mundo: uma pequena análise dos Estados Unidos.

0

Recentemente as discussões econômicas internacionais estão todas atreladas ao perigo de moratória de países desenvolvidos, principalmente alguns membros da União Européia (Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália) e os Estados Unidos da América, que vivem um período de instabilidades econômicas, que geram na sociedade internacional grande especulação e incertezas, além de medos e riscos crescentes.

Este mundo está realmente muito mudado, muito transtornado e cheio de paradoxos, imagina uma situação onde os países ricos e poderosos, detentores do poder econômico e da força política, países que até muito recentemente eram conhecidos como os grandes fomentadores da economia internacional, criadores da riqueza e exemplo concreto de boa gestão, com responsabilidade social e práticas sustentáveis, estes países estão em crise, e pior, em situação terminal, ameaçando entrar em default, ou seja, o vulgarmente conhecido como calote.

Mas como países tão corretos e dignos, com histórico de riqueza e boas práticas de gestão, conseguiram chegar nesta situação tão negativa e inusitada, quais caminhos percorreram suas economias para atingir tão deplorável situação econômica e produtiva, e quais serão os impactos sobre a sociedade internacional, perante risco tão elevado de calote financeiro destes países? E o Brasil, como esta crise, ou posterior default vai impactar sobre a saúde e sustentabilidade macroeconômica do país, será que sentiremos uma crise internacional com impactos severos ou uma mera marolinha?

Todos nós estamos vivenciando um período de grandes mudanças geopolíticas, econômicas e estratégicas, o centro do poder mundial está sendo substituído e os resultados ainda são incertos e qualquer julgamento prematuro, o Atlântico está perdendo espaço para o Pacífico, a Ásia está em franca ascensão, alguns países desta região estão ganhando cada dia mais espaço no cenário externo, ameaçando antigas potências e desafiando práticas antigas e arraigadas, tudo isso é motivo de expectativas e instabilidades, mas também nos abrem novas possibilidades.

A economia dos Estados Unidos apresenta algumas graves deficiências estruturais, o poder acumulado nos últimos 100 anos apresenta sinais claros de enfraquecimento, o dinamismo interno, a capacidade empreendedora e o sonho americano que sempre seduziram os outros povos estão em franca decadência. Agora, será que esta decadência é inexorável ou pode ser revertida como aconteceu nos anos 80? Isto só o tempo pode responder.

O desemprego atual nos Estados Unidos atingiu 9%, historicamente um número assustador, comparável apenas á crise dos anos 30 e aos ajustes econômicos dos 80, ainda mais para uma sociedade empreendedora, dinâmica e flexível, este desemprego mostra claramente algumas das grandes dificuldades do país, dentre elas destacamos a dívida pública crescente, os desajustes no sistema financeiro e a perda de competitividade da economia.

Nos últimos quarenta anos o trabalhador norte-americano vem perdendo espaço na economia internacional, a renda média deste trabalhador está diminuindo devido á competição dos trabalhadores de outros países, principalmente os emergentes asiáticos e recentemente, os latino americanos e do leste europeu, tudo isto gera um empobrecimento da população e, principalmente, uma fragilização da classe média norte-americana.

A ascensão da China na economia internacional ocorrida nos anos 70 foi um subproduto da estratégia das empresas e do governo norte-americano para continuar comandando as estratégias mundiais, neste período, o todo poderoso Henry Kissinger, Secretário de Estado dos EUA, costura uma aproximação com a China, depois que os asiáticos se afastam de forma definitiva da União Soviética, por esta estratégia de aproximação as empresas do Tio Sam se instalariam no país asiático, se beneficiando do grande contingente de trabalhadores e do imenso mercado consumidor, levando suas grandes empresas, suas técnicas produtivas e seus modelos de gestão, transformando de forma estrutural o ambiente de negócios chinês.

Esta estratégia foi tão exitosa, que hoje a China é a economia que mais cresce no mundo, este crescimento gera e consolida uma interdependência entre os dois países, fazendo com que um se torne atrelado ao outro, embora encontremos grandes reclamações de empresários norte-americanos com o protecionismo chinês, principalmente com relação ao câmbio, percebemos que esta reclamação não passa de um grande jogo de cena dos produtores norte-americanos, que tem em mãos instrumentos para punir os chineses, ou para coibir o suposto abuso, mas evitam fazer porque sabem que indiretamente ganham e muito com este modelo de desenvolvimento adotado pelo país asiático.

O ataque terrorista de 11 de setembro e as guerras patrocinadas pelo governo Bush intensificaram os gastos bélicos e criaram uma grande armadilha para o país, com gastos militares descontrolados que pressionam a política fiscal e aumentam a dívida pública, obrigando o governo a aumentar a captação de recursos nos mercados financeiros, aumentando, com isso, a dívida pública que em agosto próximo baterá no teto de US$ 14 trilhões, exigindo do Congresso Nacional a autorização para que o governo possa aumentar o limite de endividamento, sob pena de calote ou default, o que afetaria toda a economia internacional, com impactos diretos sobre o Brasil, isto porque somos, na atualidade, um dos maiores credores dos Estados Unidos, com créditos de mais de US$ 220 bilhões.

A crise de 2008, detonada pelo setor imobiliário dos Estados Unidos e que se espalhou para todo o setor financeiro e produtivo, tanto nacional como internacional, obrigando o governo a aprovar gastos emergenciais da ordem de US$ 1,5 trilhão, resgatando bancos, instituições financeiras e grandes empresas, tal como no setor automobilístico, ainda permanecem esperando uma solução definitiva por parte da sociedade, o governo Obama, que inicialmente se apresentou como algo novo e moderno e inovador, se mostrou frágil para as grandes transformações exigidas pela sociedade norte-americana, que exige mudanças estruturais, minando seu grande capital político e condenando o país a uma discussão política medíocre e preconceituosa, abrindo com isso, espaço para o surgimento de movimentos políticos conservadores, onde destacamos o Tea Party, que pode ser descrito como uma facção direitista e conservadora, ou melhor, ultraconservadora, dentro do partido Republicano, que se movimenta e ganha força e legitimidade com ideias e pensamentos de perfil fortemente conservador, é importante destacar que este movimento tem legitimidade dentro da sociedade norte-americana.

O mundo na atualidade se encontra, do ponto de vista econômico, apreensivo com duas situações perigosas e preocupantes, cujos impactos sobre todo setor produtivo e financeiro mundiais pode ser desastroso, um calote norte-americano pode ter consequências imprevisíveis, algo inusitado e de difícil mensuração, que poderia afetar todos os países e regiões, gerando retração econômica e desequilíbrios nos países, isto porque, mesmo apresentando sinais de esgotamento, a economia dos Estados Unidos é ainda a mais importante economia do mundo.

A crise deve levar os Estados Unidos a adotarem uma política fiscal mais conservadora, uma redução dos gastos públicos é uma medida que o governo discute abertamente como uma forma de reduzir o endividamento público, agora nesta discussão encontramos grande dificuldade para encontrarmos um consenso político em que tipo de gasto o governo vai reduzir, os Republicanos apostam nos gastos sociais, principalmente, saúde e previdência; enquanto os Democratas preferem redução de gastos militares e aumento de impostos dos setores mais ricos da sociedade, este impasse pode gerar graves problemas de governabilidade para o presidente Obama e, principalmente, aumentar a agonia dos setores produtivos norte-americanos.

A sociedade norte-americana está na berlinda internacional, o calote representará para todos um grande constrangimento, as agências de classificação de risco preparam o rebaixamento dos títulos dos Estados Unidos, que sempre se destacaram pela solidez e credibilidade, um rebaixamento seria um grande golpe ao capitalismo norte-americano, com graves impactos sobre a sociedade internacional, obrigando os americanos a se comportarem reduzindo gastos e equilibrando o orçamento, para muitos traria aos cidadãos norte-americano um choque de realidade, fazendo-os lembrar que não são mais os donos do mundo, agora, é importante se destacar, que quando estes cidadãos, movidos a consumo, se contraírem o mundo todo vai sentir, as economias todas receberão impactos variados, e principalmente aquelas que são dependentes do mercado norte-americano, destacamos imediatamente dentre muitos o México e a Alemanha, sendo esta última a grande mola propulsora da União Européia, que neste caso poderia se inviabilizar em definitivo.

O Brasil também sentiria a crise como todos os países, mas sua dependência com relação à economia norte-americana, que até os anos 80 e 90 foi muito grande, no século XXI diminuiu, novos mercados foram abertos e perspectivas interessantes surgiram e se avolumaram, abrindo novas oportunidades para o mercado nacional, mas mesmo assim, não podemos nos enganar, crises nos Estados Unidos são sempre emblemáticas e geram dificuldades e constrangimentos para todos os agentes econômicos, mas agora estamos mais preparados, nos encontramos em um momento econômico bastante interessante, as crises externas nos afetam, como a todos os outros, mas não mais nos levam ao nocaute como nos levou anteriormente.

Mudança e transição no mundo moderno

0

Nos últimos anos a sociedade mundial se encontra assustada com as grandes mudanças em todos os setores sociais, na ordem econômica e na lógica política institucional, que geram impactos diretos sobre o futuro imediato causando medos e fobias, preocupações e desesperanças crescentes, levando muitos a acreditarem que tais transformações são muito mais complexas do que imaginamos, estão ligadas a questões maiores, o mundo estaria passando por mudanças espirituais, dirigidas por espíritos superiores que comandam os rumos da humanidade.

O mundo contemporâneo nos mostra grandes desafios nas mais diferentes áreas, o clima se transforma rapidamente, gerando medos e inquietações, locais caracterizados por clima propícios para a agricultura se encontram em transformação, levando muitos trabalhadores a migrarem com seus familiares em busca de uma região mais adequada para sua sobrevivência, gerando pressão sobre os governos locais e exigindo novos investimentos em políticas públicas.

Terremotos, furações, vulcões, maremotos, tsunamis e chuvas torrenciais levam medo e ansiedade para muitas populações, são novos comportamentos do planeta que assustam e geram inquietações, todas estas transformações foram geradas pelo ser humano, o homem racional é responsável por contrastes e paradoxos, criam e desenvolvem novas tecnologias e ao mesmo tempo, são responsáveis pela destruição de matas, poluição do ar e devastação do meio ambiente, para progredir materialmente geram a destruição de patrimônios da natureza e comprometem o planeta que os abriga de forma segura e confortável.

Muitos são os motivos de inquietação, estes levam muitos seres humanos a indagarem porque Deus deixa que o homem, supostamente racional, destrua a natureza, gere um ambiente poluído e devastado e lucre com esta espoliação? São várias as indagações, o ser humano se exime de sua responsabilidade e, mais uma vez, coloca a culpa em Deus, afinal alguém deve ser culpado por esta situação, cuja culpa está no ser humano, este sim o grande culpado, pois é ele quem coloca o lucro antes das pessoas, os bens materiais antes dos bens espirituais e colhe as conseqüências de suas escolhas imediatas e ilusórias.

Encontramos guerras devastando homens e mulheres em todas as partes do mundo, países e regiões inteiras se matam como se vivêssemos nas grandes arenas romanas, como na época dos gladiadores, neste local onde os mais fortes usam seu poderio econômico, que se manifesta pela força destruidora de suas armas de destruição em massa, que quando acionadas destroem histórias, famílias e comprometem encarnações e esperanças de vários espíritos e grupos sociais, gerando mortes, destruições, lágrimas e ressentimentos que, muitas vezes, perduram por muitos séculos, ultrapassando a morte do corpo físico e se concentrando em vinganças terríveis no mundo dos espíritos, que prejudicam a todos e mostra claramente como o ser humano ainda não consegue dar um passo maior rumo ao esclarecimento e ao Amor a humanidade e a seus semelhantes.

As guerras são travadas intimamente pelos indivíduos, em lares marcados pela violência entre os integrantes, onde pais e mães não se acertam, onde o respeito entre cônjuges não mais existem, locais marcados pela violência afetiva e espiritual, propício para o encontro de entidades de baixo padrão moral, que se compraz na dor e na humilhação dos indivíduos. Nos locais de trabalho encontramos uma situação muito similar, a concorrência estimulada pelos mercados se caracteriza por uma verdadeira busca pela maximização do lucro, que deixa o indivíduo entregue a uma competição sem amarras éticas e morais, ou melhor, uma ética bastante elástica, que leva as pessoas a se destruírem mutuamente num verdadeiro darwinismo social, onde os mais fortes sobrevivem e os menos são destruídos e relegados ao esquecimento eterno, o resultado desta balbúrdia toda são seres humanos ansiosos, depressivos, obesos e angustiados, que enchem os consultórios psiquiátricos e desafiam os conhecimentos e as teorias psicológicas, de Freud à Jung, passando por Lacan e Melanie Klein.

Diante desta situação, que poderíamos acrescentar a corrupção desenfreada entre os indivíduos, empresas e países, que gera graves prejuízos para a coletividade, que extrai recursos escassos da coletividade e os direcionam para o bolso de indivíduos inescrupulosos, deixando sem saúde, educação e saneamento básico milhares de indivíduos, e pior, condenando seres humanos a indignidade e a exploração, esquecendo-se, de que, um dia, terão que prestar contas de suas atitudes e comportamentos a suas consciências.

Todas estas situações que parecem, para muitos, um exemplo de que o mundo está completamente descontrolado, onde as forças do mal dominam todas as áreas e setores, controlando e manipulando as decisões e influenciando mentes, pensamentos e comportamentos nos parecem superficial e equivocado, uma afronta a inteligência da espiritualidade maior, que controla todos os movimentos da coletividade, como nos diz os evangelhos, nenhuma folha cai sem a autorização do Pai, Deus está no controle de tudo, não acreditar nisto é rejeitar o poder do bem e superestimar a força do mal, que mesmo usando todos os artifícios possíveis sempre se curva ao poder de Deus, que controla e direcionam todos os passos da sociedade, mesmo alguns movimentos que nos parecem negativos e vistos por muitos como um castigo do Pai, na verdade é fruto das escolhas dos seres humanos, que são dotados de livre arbítrio e são senhores de suas escolhas, mas devem arcar com suas conseqüências, que tem um preço e este é cobrado imediatamente, como dizia o economista norte-americano Milton Friedman: não existe almoço grátis.

Muitos espíritos estão reencarnando neste mundo com missões muito importantes para a coletividade, são espíritos com grande desenvolvimento moral e intelectual, capacitados para transformar os rumos da sociedade, contribuindo para a melhoria do ambiente terrestre e capacitando todos os seres humanos para presenciarem um mundo melhor, onde o Amor reina de forma clara e verdadeira.

O mundo espiritual controla tudo de uma forma geral e abrangente, neste exato momento percebemos que todas estas crises fazem parte de uma grande transformação do mundo, de provas e expiações para um mundo de regeneração, este movimento não tem data para terminar, mas começou e está em pleno curso, afetando todos os indivíduos e nos mostrando claramente, que nesta transformação do planeta Terra muitos espíritos estão tendo a sua última chance de reencarnar neste mundo e condenados a reencarnar em outros mundos, são espíritos que, na sua maioria, conseguiram acumular uma grande bagagem intelectiva, dominam muitas ciências e conhecem várias áreas do conhecimento, mas que, infelizmente, deixaram de lado a questão moral, essencial para garantir um crescimento verdadeiro para o espírito eterno e imortal, ninguém vai conseguir evoluir sem consolidar dois grandes eixos do desenvolvimento humano, o científico e o moral, ambos dão ao ser humano a capacidade de compreender de uma forma mais ampla e sustentada o verdadeiro significado da vida, garantido uma capacidade evolutiva maior, aproveitando suas oportunidades e abrindo caminho para novos vôos na vida, como nos disse Chico Xavier em suas andanças pelo mundo: quem sabe pode muito, quem ama pode mais, nunca nos esqueçamos destes ensinamentos de um indivíduo que nos legou muitas mensagens de amor e superação.

Os desafios da gestão de pessoas na sociedade globalizada

0

Autor Ary Ramos da Silva Júnior e Deise Maria Marques da Silva Ramos, artigo publicado na Revista Olhar Tecnológico, Vol. 3, numero 1 – Catanduva/SP – ISSN 2358-470X, paginas 37/45.

A relação entre empreendedorismo e desemprego no sistema capitalista

0

AUTOR: Ednéia dos Santos Campos; Rosemary Alves do Amaral; Ary Ramos da Silva Júnior, artigo publicado na Revista Olhar Tecnológico, volume 2, número 1 – Catanduva/SP – ISSN 2359 6015, páginas 24-35.

O milagre econômico chinês: principais determinantes internos

0

Autor: Eduardo Costa Pinto – Revista Carta Maior – Novembro 2013.

A estratégia de desenvolvimento da China gerou uma dinâmica interna puxada por investimentos, sobretudo públicos em infraestrutura.

Em 1793, Lorde Macartney e sua comitiva desembarcaram em terras chinesas com a missão de criar um canal comercial entre a Grã-Bretanha e a China que até aquela altura nunca tinha se aberto a outra nação. O imperador Qianlong refutou duramente a proposta e a reação da Grã-Bretanha foi arrombar as portas. Essa derrota chinesa garantiu o domínio inglês no Sudeste Asiático no século XIX.

Alain Peyrefitte, ao refazer o caminho de Macartney em 1960, constatou que muito do que havia sido descrito pela comitiva britânica, há quase dois séculos, se manteve quase intacto. O império chinês permaneceu imóvel entre 1793 e 1960 (nota 1).

Na década de 1990, o próprio Peyrefittealertara que a China estava saindo de sua imobilidade em virtude da era Deng Xiaoping, implementada a partir de 1978. Em outras palavras, o dragão estava despertando de sua longa hibernação e provocando profundas transformações econômicas no sistema internacional, como previra Napoleão Bonaparte há quase duzentos anos ao afirmar em 1816 que: “Quando a China despertar, o mundo tremerá”.

A China saiu da condição de Império Imóvel para se tornar o país mais dinâmico no início do século XXI, transformando-se na locomotiva mundial. Ascensão impressionante!

A economia chinesa cresce 10% ao ano há mais de trinta anos (entre 1978 e 2012), o que a alçou à condição de segunda maior do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos), de “fábrica do mundo” (nota 2), de maior exportador e importador mundial.

Esse crescimento esteve e está associado ao impressionante desenvolvimento de sua indústria e de seu rápido processo de modernização (passagem do mundo rural ao urbano) que geraram profundas modificações em sua estrutura produtiva e social.

Em 1978, a China tinha uma população de cerca de 956 milhões de habitantes e era um país rural. Daquele ano até os dias atuais, a população chinesa saltou para 1,338 bilhão de pessoas em 2010 (20% da população mundial) e passou a morar cada vez mais nas cidades.

Essa dinâmica vem provocando um aumento no consumo de energia, de bens duráveis e não duráveis e de alimentos na China. Apesar disso, esse país ainda está distante do padrão de consumo por habitantes dos países desenvolvidos.

Existe um amplo debate a respeito dos determinantes do milagre econômico chinês. Apresentaremos aqui os seus condicionantes internos, sem negar a importância da dimensão externa (nota 3), que não será aqui tratada dado o escopo deste texto.

Em 1978, após a 3ª Plenária do 11º Comitê Central do Partido Comunista Chinês (PCC), configurou-se uma nova rota para o modelo de desenvolvimento da China – idealizada por Deng Xiaoping – pautada pelas reformas (nota 4) e pela abertura ao exterior.

Essa mudança buscou deslocar a luta de classe como princípio aglutinador do partido e do Estado colocando em seu lugar o princípio do desenvolvimento econômico como elemento que possibilitaria a ampliação das condições materiais da população chinesa e a manutenção do socialismo com características chinesas.

As diretrizes gerais dessa nova rota chinesa foram: 1) a descentralização das decisões econômicas (redefinição do planejamento e do mercado) por meio da ampliação do papel dos mercados e por meio da delegação de poder para as províncias locais; 2) a adoção de padrões tecnológicos e de modelos de gestão empresarial do mundo capitalista; e 3) o princípio estratégico da abertura ao mundo exterior e da evolução pacífica.

Para Deng Xiaoping, a China só seria respeitada quando se tornasse rica. Em suas palavras: “Só se pode falar alto quando se tem muito dinheiro”. Para ele, isso só seria alcançado por meio da absorção de conhecimento gerenciais e tecnológicos do ocidente capitalista. Era necessário absorver mais capital externo, segundo Deng à época.

A estratégia institucional para criar esse espaço de aprendizado das práticas estrangeiras foi a configuração das Zonas Econômicas Especiais – Zonas de Processamento de Exportações. Elas foram estruturadas para atrair investimentos estrangeiros (dados os benefícios concedidos) que, em contrapartida, introduziriam métodos modernos de administração e tecnologias no território chinês.

Essas reformas foram sendo construídas paulatinamente, entre 1978 e 1989, em virtude da forte resistência do segmento marxista-lenisnista do PCC. O período de maior tensão foi entre 1989 e 1991. Fatores políticos internos, articulado a queda do Partido Comunista da União Soviética, fortaleceram essa corrente que tomou o poder em 1991.

Para evitar essa nova direção do partido e do Estado, Deng voltou de sua aposentadoria para travar, entre 1991 e 1992, uma ampla batalha para restabelecer suas diretrizes, bem como acelerá-las.

Depois de enfrentamentos e jogadas políticas, Deng, apoiado pelos líderes provinciais do partido e pelo Exército de Libertação do Povo (ELP), conseguiu costurar em 1992 um amplo acordo – denominado o “Grande Compromisso” – entre os segmentos do PCC (anciões, marxistas-leninistas, pró-abertura, líderes locais, tecnocratas e o ELP) para garantir e acelerar o processo de reformas e abertura. O fio condutor do acordo foi a ideia de transformar a China numa nação rica e poderosa até a metade do século XXI.

A estratégia de desenvolvimento nacional gerou dois eixos articulados propulsores do crescimento da China.

De um lado, a dinâmica exportadora promovida pela configuração das ZEEs e pela política cambial (manutenção do iuan desvalorizada em relação ao dólar) e, do outro, a dinâmica interna puxada pela expansão dos investimentos, sobretudo os públicos em infraestrutura.

A expansão pela via do investimento foi possível em decorrência da reforma do sistema financeiro chinês, realizada em 1985, que tanto ampliou o funding (recursos financeiros) como criou instrumentos para direcioná-los para o investimento. Expandiu-se a participação do setor privado, mas o controle do sistema bancário foi mantido na administração pública, possibilitando o direcionamento da poupança das famílias e das empresas para as corporações públicas e privadas que desejam investir.

Além dessas reformas, o crescimento chinês também vem sendo impulsionado por uma condução gradualista da política macroeconômica (monetária e fiscal) que combina a busca pelo controle inflacionário e pela manutenção do ritmo de crescimento estável e relativamente rápido, que garante a legitimidade interna do PCC.

Articulada aos elementos macroeconômicos, a política industrial foi e é também um instrumento importante para a dinâmica chinesa. Dentre as medidas nessa área, podemos destacar: i) o crédito subsidiado para as empresas estatais por meio dos bancos públicos; ii) os incentivos voltados aos investimentos estrangeiros de alta tecnologia;iii) as barreiras não tarifárias e tarifárias, sendo que estas últimas caíram após a entrada da China na OMC em 2001;iv) as políticas que estimulam a transferência de tecnologia por meio de mecanismo que requer a produção de conteúdo por empresas locais; e v)os múltiplos instrumentos que tem como objetivo criar empresas nacionais – privadas ou públicas – de classe mundial que possam concorrer com as empresas multinacionais.

Em suma, essas medidas em conjunto (reformas e políticas) – que conformaram uma estratégia nacional de desenvolvimento – foram os determinantes internos do crescimento da China.

Crescimento que já dura mais de trinta anos e vem provocando transformações estruturais na própria China e na economia mundial. Quais foram os impactos desse crescimento para a população chinesa? Como a ascensão da China vem transformando a economia mundial, a América Latina e o Brasil? Quais são as lições da China que podemos aproveitar para o desenvolvimento brasileiro? Essas são questões que tentaremos responder nos próximos artigos.

Notas

(1) PEYREFITTE, A. O império imóvel. Casa Jorge Editorial: Rio de Janeiro, 1997.

(2) Em 2011, a China tornou-se o país com a maior participação do valor adicionado da indústria de transformação mundial (20,7%) ultrapassando os Estados Unidos.

(3) Dentre os principais determinantes externos, podemos destacar: i) a aproximação entre os Estados Unidos e a China no final dos anos 1970; ii) a ofensiva comercial americana contra o Japão por meio do Acordo de Plaza em 1985; iii) o acesso da China na OMC em 2001; e iv) configuração do eixo sino-americano na década de 2000.

(4) As principais características das reformas foram: i) transformação da utilização da terra por meio do sistema de responsabilização por contrato familiar que possibilitou a comercialização do excedente agrícola; ii) transição gradual de um sistema de preços controlado centralmente (determinado pelo planejamento centralizado) para um sistema misto de preços regulados, controlados e de mercado; iii) reformulação do setor público por meio de reformas, privatizações de boa parte das empresas públicas e o fortalecimento de algumas empresas estatais que atuavam em setores estratégicos; iv) abertura ao mundo exterior por meio da criação das zonas economias especiais; e v) promoção de empresas coletivas (empresas de vilas, etc.)

Eduardo Costa Pinto é professor de economia política do Instituto de Economia da UFRJ. E-mail: eduardo.pinto@ie.ufrj.br