Numa sociedade marcada pela concorrência e pela competição crescentes entre os agentes econômicos, os setores produtivos se sentem pressionados pelo incremento de seus lucros, buscando constantemente novos instrumentos de acumulação, reduzindo seus custos, investindo em tecnologia, máquinas e novos modelos de negócio. O ambiente da economia globalizada exige que todos os atores produtivos, empresas, trabalhadores e Estados, se reinventem, absorvam novas tecnologias, desenvolvam maior flexibilidade e agilidade, sob pena de perder espaços neste mundo altamente competitivos.
Neste ambiente de constantes transformações, percebemos um descompasso entre as questões econômicas e as respostas políticas. A lógica da economia prescinde de flexibilidade e agilidade, exigindo rapidez dos setores econômicos e produtivos, enquanto os setores políticos são mais lentos, exigem discussões e reflexões, estimulando debates e conversações. A conjunção dos setores é fundamental, compreender as diferenças auxilia na construção de um projeto de país, onde os setores, econômicos e políticos, devem caminhar em prol do desenvolvimento dos setores produtivos e na melhoria do bem-estar social da comunidade.
O cenário internacional exige a construção de um consenso econômico, social e político, como forma de angariar instrumentos para competir no novo mundo dos negócios. Diante deste ambiente de grande competitividade global, os atores econômicos e políticos precisam construir um ambiente saudável, definindo o papel de todos os agentes, mostrando que a dicotomia entre Estado versus Mercado é equivocada, gerando conflitos, ressentimentos e desgastes políticos. Os países que conseguiram ultrapassar a armadilha da renda média e conseguiram alçar a posição de uma sociedade desenvolvida, foram capazes de construir um consenso político entre todas as elites econômicas.
O desenvolvimento econômico é um assunto político que precisa da atuação de todos os atores sociais e políticos, com isso, cabe aos líderes a construção de um ambiente salutar para pensar a sociedade, imaginar os rumos e os passos necessários e fundamentais para que, num futuro mais próximo, a sociedade consiga vislumbrar novos espaços de desenvolvimento econômico. Neste desafio, precisamos agregar esforços de todos os setores, estimulando a participação das universidades, dos centros de pesquisas, os setores governamentais, os empresários, sindicatos, dentre estes.
Um dos grandes equívocos da sociedade é imaginar que o desenvolvimento econômico precisa apenas de lideranças econômicas e produtivas, neste ambiente é fundamental a construção de lideranças políticas com visão mais ampla, associados por profissionais capacitados, conscientes que vivemos numa sociedade dependente e periférica, criando consensos internos em prol da transformação social, estruturando os setores econômicos, preservando o meio ambiente, reduzindo as desigualdades sociais, aperfeiçoando a governança, melhorando os indicadores educacionais, capacitando os setores da saúde, consolidando as instituições e fortalecendo a democracia.
Numa sociedade marcada por grandes desigualdades como a brasileira, os desafios são imensos e crescentes, exigindo de todos os setores da sociedade um esforço que demanda muitos anos ou décadas, um verdadeiro projeto nacional, mesmo com a alternância de grupos políticos diferentes comandando o executivo, o projeto nacional deve continuar e sempre sendo aperfeiçoado, visando o objetivo do desenvolvimento econômico e da redução das desigualdades sociais.
Na contemporaneidade, percebemos na sociedade brasileira que os grupos políticos e forças econômicas estão sempre em confrontos abertos, criando espaços de desconfianças entre os atores sociais, o resultado deste ambiente é um incremento de inseguranças, incertezas e instabilidades. Neste ambiente de confrontos primários, agressividades e violências generalizadas, como vivemos na atualidade, o país caminha a passos largos a perpetuação da insignificância global, mesmo sendo dotados de grande potencial vivemos na indignidade e das desigualdades que nos aproximam da incivilidade e do retrocesso.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 26/05/2021.