Eleições: um momento de escolhas definitivas

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A sociedade brasileira se encontra, novamente, em um momento de escolhas decisivas para seu futuro imediato, uma eleição presidencial onde nomes e projetos são confrontados gerando debates acalorados e intensos, dossiês e críticas recíprocas, é a velha e dominante política brasileira novamente dominando a agenda nacional, agora, ao mesmo tempo percebemos, em termos macroeconômicos, um período sem grandes sustos, medos e constrangimentos externos, como percebemos em épocas anteriores quando a aproximação das eleições gerava graves desajustes na economia, com fuga de dólares, instabilidade monetária e cambial e riscos crescentes de inflação, obrigando o governo a adotar políticas fiscais rígidas com problemas na estrutura econômica, aumentando o desemprego e piorando os indicadores sociais.

José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva são os candidatos com mais chances de serem eleitos, se somarmos a intenção de votos destes encontramos mais de 90% da intenção de votos, segundo os principais institutos de pesquisa, diante disso, podemos concluir que o próximo presidente deste país será, indiscutivelmente, um destes, e os projetos estão todos na mesa, uns mais claros e outros menos, mas já está na hora de assumirmos nossas idéias, pensamentos e pendores, o tempo de indecisão acabou.

O candidato tucano me parece o mais preparado para o cargo, sua experiência no setor público é intensa, economista e professor da Unicamp José Serra passou por quase todos os cargos eletivos com destaque em todos eles, foi Secretário, Deputado Federal, Senador, Ministro de Estado (Planejamento e Saúde), Prefeito e Governador de São Paulo, ser Presidente da República é sua grande meta, mas esta parece cada vez mais distante.

Suas idéias me parecem confusas, de um lado defende uma política mais desenvolvimentista, onde o Estado deve atuar mais como um agente fomentador e estimulador do crescimento econômico, mas de outro, encontramos um traço privatista e liberal titubeante, algo meio em cima do muro, adota políticas neoliberais, mas não as defende com ênfase e idealismo, algo pragmático e, meio oportunista.

Suas propostas para educação não me agradam, vejo-as com ceticismo, o bônus meritum me parece algo enganador, apenas de muitos economistas defenderem esta bonificação vejo-a com ceticismo, acredito que para melhorarmos a educação devemos investir maciçamente na qualificação dos professores, pagando salários dignos que atraiam os melhores para a sala de aula e políticas claras que fortaleçam esta classe tão despretigiada, mas fundamental como o magistério, nenhum país que conseguiu melhorar sua estrutura sócio-econômica o fez sem melhorar seu nível educacional.

A candidata do PT é economista e pesquisadora no sul do país, possui mestrado e doutorado incompletos e se destacou no setor de energia, tanto como Secretária de governo como Ministra das Minas e Energia e depois da Casa Civil, cargo este que a projetou para a disputa da presidência da República. Dilma é uma incógnita, seu perfil me parece bastante autoritário, suas bandeiras não são as mesmas dos petistas históricos, suas origens estão no brizolismo gaúcho, este sim seu mentor ideológico, sua conversão ao petismo não me parece verdadeira, agora sua adesão ao lulismo me assusta, não consigo imaginar um governo seu, agora, com certeza percebemos que o carisma do presidente Lula, seu maior ativo político, a candidata governista não possui, algo preocupante num país como o nosso, onde o Executivo tem uma importância central e as grandes reformas não foram conduzidas de forma definitiva.

A conversa com os sindicatos, política adotada com êxito pelo presidente Lula, deve ser um dos grandes desafios da candidata petista, sem origem no movimento sindical e com pouca representatividade nos movimentos sociais, Dilma pode ser uma incógnita não só para os que declaram seu voto na candidata petista, mas para o próprio partido e para a sociedade como um todo, acredito que sua pouca experiência pode trazer grandes constrangimentos para o projeto de 20 anos no poder do Partido dos Trabalhadores (PT).

Governar é uma grande arte, o próximo presidente deve estar preparado para consolidar o crescimento econômico, garantindo que todas as conquistas que a sociedade brasileira acumulou nos últimos quinze anos sejam cada vez mais consolidadas, digo este período porque acredito que os dois últimos presidentes do país merecem elogios, agora, infelizmente, o que encontramos é uma disputa intensa entre partidos políticos que beira a insanidade, algo que só pode ser compreendido em uma sessão intensa de terapia comportamental e psicanalítica, algo parecido com o modelo implantado no programa Roda Viva.

PSDB e PT são mais parecidos do que imaginam, um partido é o alterego do outro, os últimos 15 anos se caracterizaram pela continuidade de políticas bastante parecidas, medidas adotadas pelos tucanos como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), as taxas de câmbio flutuantes, superávits primários, metas de inflação, o bolsa escola – posteriormente bolsa família, saíram de concepções parecidas de Estado e Sociedade, agora os petistas se mostraram mais estatistas e intervencionistas enquanto os tucanos foram mais liberais e privatistas, mesmo diferentes estas diferenças não foram tão gritantes, uma junção entre ambos seria algo natural, mas improvável.

Marina representa um projeto político novo, não sei se um projeto tão novo, mas diferente, o Partido Verde (PV) na disputa pela presidência da república, se coloca como uma alternativa consistente, agora será que esta alternativa conseguiria condições para governar? Seu partido com poucos deputados e senadores teria grande dificuldade de administrar, mas mesmo assim sua presença na disputa transforma o cenário, dando um charme novo e sofisticado, nada de rancor e ressentimentos, governar é se aliar aos melhores e transformar potencial em realidade, mantendo o crescimento econômico e melhorando os indicadores sociais. A candidata do PV me parece mais equilibrada, não vejo nela o ranço que me parece claro nos tucanos e nos petistas, nada de promessas mirabolantes, transformações bruscas e mudanças estruturais, Marina significa ainda, uma possibilidade de reconciliação dos grandes partidos brasileiros, sua ascensão e promessa de trabalhar com os melhores de todos os partidos traria todos para o governo e mais, faria com que os partidos assumissem um compromisso com a governabilidade.

Votar é fundamental, é um ato de cidadania, escolher o melhor candidato, conhecer sua história, suas propostas e aspirações é dever de todos, se ausentar da votação como forma de protesto é desconhecer seus deveres enquanto cidadão, diante disso, escolhi com a minha consciência, votar na Marina Silva é uma escolha minha, acredito que minha opção não é isolada, muitos a escolheram para governar o país, muitos tem medo do projeto de poder petista, de uma candidatura sem história, desconhecida da grande maioria e com muitas perguntas não respondidas, o Brasil precisa destas respostas, o dedaço tão popular no México, onde o partido dominante escolhe seu sucessor, muitas vezes o escolhida é uma pessoa desconhecida pela sociedade, mas diante do poder do Partido e do Estado, se torna presidente e passa a comandar os rumos do país, esta política não nos interessa, estamos em um momento estratégico de nossa história, as escolhas do país devem ser tomadas com cautela para não incorrermos em equívocos anteriores que tantos constrangimentos gerou ao país.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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