Eleições e instabilidade internacional: entraves à recuperação econômica

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Depois de uma recessão que durou mais de 36 meses, a economia brasileira dá sinais modestos de recuperação econômica, embora o governo propague aos quatros cantos que a economia está em franco crescimento e o pior já tenha ficado para trás, ainda estamos muito longe de perceber este crescimento econômico no cotidiano das pessoas, na geração de emprego, na melhoria dos salários e no aumento da renda agregada, estamos melhorando num ritmo lento e marcado por muitas instabilidades e incertezas.

Diante desta situação, muitos nos perguntam como está a economia do Brasil e o porquê de estarmos tendo um crescimento econômico tão lento, depois de três anos claros de recessão e aumento no desemprego, quando vamos apresentar resultados mais sólidos e empolgantes?

São inúmeros os fatores que nos ajudam a compreender a lentidão da recuperação econômica do país, as taxas de juros mesmo estando em níveis baixos, os mais modestos dos últimos anos, 6,5% da Selic, ainda percebemos no mercado financeiro um spread muito elevado, as taxas de juros cobradas pelos bancos brasileiros ainda são extremamente elevadas, ultrapassando a casa dos 300% no cheque especial e no cartão de crédito, taxas das mais exorbitantes do mundo mas, mesmo assim, os grandes bancos apresentaram balanços com alto lucro e rentabilidade, mesmo a economia apresentando indicadores negativos os bancos se mostram lucrativos e altamente rentáveis, uma dicotomia preocupante em um país que precisa de crescimento econômico, de investimentos e de uma forte geração de empregos como forma de reduzir os péssimos indicadores sociais, marcados pelo incremento da violência, pobreza e exclusão, revertendo quase todo avanço que o país apresentou na primeira década do século XXI.

Outro ponto central para compreendermos a fragilidade da recuperação econômica está na crescente crise fiscal do Estado, depois de anos de superávit primário que reduziram a dívida pública, nos últimos anos o país tem acumulados mais dívida, preocupando os agentes econômicos e colocando no radar do mercado um possível calote da dívida, que se analisarmos historicamente não seria algo novo no país que, nos últimos 80 anos declarou mais de oito moratórias, com este histórico negativo os motivos de preocupação são sempre presentes e elevam o risco e, com isso, os juros cobrados aumentam e geram mais constrangimentos para o setor público que percebe sua dívida crescer e inviabilizar o crescimento econômica, nesta situação o Estado brasileiro não mais apresenta condições de ser o motor do desenvolvimento do país, fomentar o desenvolvimento econômico nos parece algo distante e improvável. É importante destacar ainda que o desequilíbrio fiscal do Estado o leva a captar, no mercado, uma forte quantidade de recursos do setor bancário, com isso, o estoque de recursos disponíveis no mercado se reduz sobrando menos recursos para emprestar para os agentes econômicos, resultado imediato é uma taxa de juros proibitiva e indecente.

Internamente devemos destacar ainda a situação política, a proximidade das eleições presidenciais representa grande instabilidade, afinal não sabemos claramente as chances dos candidatos e, muitos deles, representam grandes incertezas e instabilidades, o líder nas pesquisas busca se cacifar como fiador de um discurso liberal para atrair os agentes econômicos, mas seu histórico de atuação parlamentar o mostra como um nacionalista com fortes traços protecionistas, de outro lado os candidatos queridinhos do mercado se mostram cheios de recursos para a campanha, mas com votos escassos e insuficientes, inviabilizando sua eleição e criando inúmeras preocupações em toda a sociedade e mais diretamente no mercado financeiro, estas dicotomias mostram como precisamos avançar nos debates e na discussão de rumos para o país que, como disse o governo de plantão em um quase ato falho,  O Brasil voltou, 20 anos em 2, se trocarmos a vírgula a frase apresenta contornos diferentes, preocupantes e assustador.

A situação internacional também deve ser destacada, a disparado no dólar neste ano e, principalmente, nos últimos dias levanta sinais de preocupação, somente no mês de maio a cotação disparou 4,9% e em 2018, 10,9%, números preocupantes e que geram grave apreensão, embora saibamos que nossa situação externa é bastante favorável, o país apresenta quase US$ 380 bilhões em reservas internacionais, uma situação nas contas externas bastante sólidas e uma taxa de inflação que se encaminha para os padrões de países do primeiro mundo, historicamente sabemos que estas crises podem se espalhar e contagiar outras economias, atualmente o afetado é a Argentina que busca recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) agora, posteriormente, pode afetar outras economias e gerar mais instabilidade no mercado internacional, afetando câmbio, investimentos, juros e comércio exterior.

A somatória de todas estas variáveis está gerando medos, incertezas e instabilidades na economia brasileira, com isso, a recuperação tão alardeada pelo governo não se efetivou de forma mais acelerada, os investimentos não estão sendo feitos e o emprego não apresenta sinais mais efetivos, muitos dos trabalhadores que a pouco tempo estava desempregado, hoje se encontrando trabalhando na informalidade, ganhando menos e sem os benefícios e as contrapartidas do trabalho formalizado.

Diante deste quadro, percebemos grandes indefinições sobre o futuro da economia do país, o problema fiscal precisa ser resolvido em definitivo e para isso, precisamos nos debruçar sobre questões fundamentais, assuntos que não podem ser mais postergados como as reformas de Previdência, Tributária, Política e a do Estado Brasileiro, todas estas medidas são centrais para que o país se reestruture e se prepare para os imensos desafios do século XXI, um momento de grandes indagações, onde o investimento em capital humano deve ser a bússola para orientar os gestores políticos e capacitar a sociedade para os ventos do novo século.

Os desafios são imensos, a sociedade clama por mudanças de todas as naturezas mas, ninguém quer perder, todos querem as mudanças, mas ninguém quer ver os seus recursos sendo reduzidos, com isso, percebemos que ao novo governo se apresenta grandes desafios, diante disso, o próximo presidente precisa se capacitar para enfrentá-los de frente, fazer o diagnóstico correto e usar a legitimidade do cargo e o começo do mandato para levar ao Congresso Nacional as grandes mudanças que o país precisa, não tergiversando com os interesses mais mesquinhos e imediatistas da sociedade e, ao mesmo tempo, abrindo espaço para que o país possa garantir esperança para a população, afinal de contas estamos num momento em que não esperamos mais nada da classe política, atribuímos a ela todos os problemas e nos eximimos da nossa responsabilidade.

O momento é de inquietação e incertezas, a eleição pode nos abrir novas perspectivas e um sopro de esperança mas, ao mesmo tempo, pode nos trazer mais medos e desesperanças, o voto anteriormente era visto como um instrumento de mudança e a sociedade não poderia abrir mão dele, hoje percebemos que a situação não é tão simples como muitos apregoam, votar é fundamental, é um instrumento de cidadania e todos precisam exercê-lo da melhor forma possível mas, muitas vezes, não encontramos na lista dos candidatos pessoas capacitadas e em condição de conduzir o país para este momento de apreensão e instabilidade, quando olhamos para a lista dos candidatos e visualizamos mais dos mesmos, candidatos fracos e incapacitados para dar novas esperanças e criar as condições para o país atravessar a crise e construir novas perspectivas.

Em uma sociedade em que a violência cresce de forma acelerada, o desemprego não sai da casa dos 12% ou 13%, o subemprego apresenta crescimento preocupante e os privilégios crescem e são encobertos de forma descarada, onde prédios caem e indigência aumenta, as eleições presidências não mais nos parece um momento de mudanças, os candidatos ainda se esforçam por mostrar possíveis mudanças sem esforços e sacrifícios, flertando com o populismo que beira a irresponsabilidade, da mesma forma que na eleição anterior onde o ganhador se apropriou do discurso do segundo colocado e o resultado já foi visto por todos, mais dúvidas, insatisfação, medo e incertezas, diante disso, como podemos esperar uma recuperação da economia brasileira se os atores políticos se comportam apenas como aqueles que estão interessados em seus interesses e ganhos imediatos? Como já disse um dia o presidente francês Charles De Gaulle, Este país não é sério.

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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