Vivemos num momento de grandes alterações em todos os setores da sociedade internacional, a globalização e o incremento da competição nas estruturas produtivas está transformando a economia global, com o surgimento de novos modelos de produção, novos negócios, novas exigências e qualificações dos trabalhadores e o crescimento da chamada economia verde, ao mesmo tempo, que as antigas formas de energia vem perdendo espaço na economia mundial, gerando incertezas e instabilidades, além das resistências dos grupos econômicos que sempre ganharam com o modelo energético atual, fortemente dependente dos combustíveis fósseis.
As transformações do sistema econômico e produtivo internacional estão moldando o nascimento de uma sociedade, exigindo políticas efetivas, consistentes, sérias e rigorosas para a construção de um novo consenso da necessidade e de uma matriz energética alternativa para dinamizar a estrutura produtivo. Esse consenso é imprescindível para a legitimação das ações da sociedade para a construção de um modelo energético mais limpo e com menor dependência dos combustíveis fósseis, mas numa sociedade marcada por grandes polarizações políticas, discursos inflamados e debates centrados em notícias falsas, este consenso, embora imprescindível, nos parece muito distante.
Somos uma nação dotada de grandes vantagens energéticas, poucas nações do mundo apresentam um potencial tão elevado como a brasileira, somos dotados de energia variada e dotada de grande conhecimento nesta área, ou seja, estamos vivendo um momento imprescindível para aproveitar essas oportunidades, reduzindo as dívidas sociais acumuladas à muitos séculos, construindo políticas públicas que possibilitem investimentos em educação, saúde e bem-estar social, desta forma, impulsionando os dispêndios em ciência e tecnologia, fundamentais para a construção de uma sociedade desenvolvida, mais igualitária e com maior autonomia no cenário internacional.
Mas percebemos que essa transformação energética apresenta grandes dificuldades estruturais, embora percebamos que a sociedade global esteja percebendo os graves desequilíbrios no meio ambiente, as alterações climáticas, o calor exagerado, o crescimento de maremotos e tsunamis, mas é imprescindível destacar que muitos setores grupos sociais e econômicos ganham com este modelo econômico e produtivo, desta forma, utilizam seu forte poderia financeiro para impedir alterações que podem reduzir seus ganhos substanciais.
Se compararmos os valores prometidos para os países desenvolvidos nos grandes fóruns internacionais na casa dos 100 bilhões de dólares para combater os impactos do aquecimento global, percebemos que essa quantia é imensamente menor do que os dispêndios das nações desenvolvidas para financiar a indústria bélica, cujos gastos militares está na casa dos 2 trilhões de dólares, recursos que poderiam retirar, em definitivo, mais de 800 milhões de pessoas que passam fome na sociedade global, segundo dados atualizados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste cenário, a sociedade brasileira tem todos os instrumentos para receber bilhões de dólares de investimentos produtivos, gerando empregos, melhorando a renda da população, atraindo empresas e organizações produtivas em todas as regiões, atraindo empresas que demandam energias a custos menores e não os encontram em seus países de origem. Os próximos anos são imprescindíveis para atrairmos novos investimentos, para isso, precisamos fortalecer as instituições nacionais, aumentando os dispêndios na educação e na saúde, garantindo um capital humano altamente qualificado e capacitado para compreender os desafios da era do conhecimento.
A economia verde pode abrir novos horizontes e novas perspectivas para a economia nacional, somos dotados de grandes vantagens competitivas para enfrentarmos os desafios contemporâneos, reconstruir nossa indústria é imprescindível, além de elaborar um projeto sólido de nação, exigindo sólidas contrapartidas dos grupos internacionais, investindo na educação, na pesquisa e abandonando o complexo de vira-lata que predomina a suposta elite nacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Circular, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.