A Doutrina dos Espíritos surge como um instrumento para acabar com antigos mitos religiosos e abrir novos horizontes e perspectivas para a coletividade, trazendo informações relevantes para a compreensão da vida e da morte, como dois momentos importantes para a construção da identidade e consolidação do espírito, momentos que se interligam diretamente e mostram a intensidade da vida, que se manifesta de forma integrada.
A morte sempre foi vista, por muitas religiões, como um momento terminal, um instante caracterizado por medos e preocupações constantes, que levam os indivíduos a temerem e evitar conversações mais intensas e constantes, mesmo sabendo da relevância do tema, uma parcela considerável da sociedade evita conversar sobre este assunto, vendo-o como um verdadeiro tabu social, que por ser pouco comentado acaba se transformando em um tema pouco comentado pela sociedade, temido e tão pouco compreendido.
A doutrina dos espíritos tem uma visão muito particular sobre este assunto, a morte para os espíritas não existe, somos seres imortais, vivemos várias vidas nos mais variados corpos e locais, neste mundo ou em outro, estas vivências servem como uma forma de aprendizado espiritual, somos criados para a perfeição e para que isso aconteça necessitamos viver no mundo físico inúmeras vezes, passar por variadas experiências, sentir na pele os mais variados problemas, dores e dificuldades, como forma de aprimorar nossos sentimentos e valores, criando, com isso, um espaço para a evolução do espírito até que possamos nos tornar espíritos puros, dotados de sentimentos e valores sólidos e estruturados, transformando-nos intimamente, nos melhorando e nos aperfeiçoando, esta é a lei, justa e inexorável.
Não conseguiremos entender Deus, se não entendermos a reencarnação, ela nos mostra claramente a perfeição das leis divinas, seus preceitos e significados, sua importância é imensa, é uma lei natural dotada de ampla capacidade de racionalidade, nos mostra claramente que a evolução não se dá por salto, todo o processo evolutivo é lento, contínuo e ininterrupto, e todos os indivíduos estão sujeitos a esta lei divina e inexorável.
Num momento de conclave, onde a cúpula da Igreja Católica se reúne para eleger o novo papa, substituto de Bento XVI que renunciou em fevereiro último, encontramos um ótimo momento para iniciarmos uma intensa autocrítica, nele a instituição milenar deveria se reunir também para definir novos parâmetros e formas de comportamento e conduta, acreditar que tal reflexão culminaria em uma revisão de suas ideias e pensamentos nos seriam muito útil, mas bastante improvável.
A Igreja fundada por Pedro atravessa um período de intensas crises e dificuldades, sem sombra de dúvidas um dos momentos mais difíceis de sua história, num destes momentos, ocorrido nos século VI ou V, os teólogos da instituição milenar extinguiram de suas bases ideológicas a reencarnação, retiraram assim, um dos instrumentos mais importantes para a compreensão, por parte de seus fiéis, da dimensão superior e bondade infinita das leis de Deus.
A reencarnação nos mostra a importância das vidas sucessivas para o progresso do espírito, como entender a situação do indivíduo que nasce pobre e sem perspectivas de futuro? Numa outra situação, onde o indivíduo vive num ambiente de criminalidade e dificuldades crescentes, como acreditar que estes indivíduos deverão ser cobrados no momento do juízo final da mesma forma que outros, que ao nascer vivem em ambientes saudáveis e agradáveis, são amados e muito esperados por seus pais e familiares? Como acreditar na bondade divina, se acreditarmos que todos serão “julgados” da mesma forma, com a mesma inexorabilidade da lei, onde encontraremos a grandeza de Deus?
Como entender ainda, uma situação onde uma criança nasce em uma família tradicional, sem vínculos diretos com o mundo artístico e cultural e, apresenta uma aptidão clara para a música, para a pintura ou para outras demonstrações artísticas e culturais? A Doutrina dos Espíritos destaca, claramente, que o exemplo acima é prova inconteste do processo de reencarnação, esta criança em outras experiências no corpo físico atuou em movimentos artísticos e culturais e traz, nesta encarnação, marcada em seu espírito, as lembranças destacadas por inclinações vívidas e límpidas desta experiência.
Não acreditar na reencarnação é um direito do indivíduo, cada pessoa possui seu livre arbítrio, faz suas próprias escolhas, acreditar que a reencarnação é uma grande ilusão é colocar em xeque a justiça de Deus, que nos concede inúmeras oportunidades na vida, inúmeras experiências no corpo físico nos auxiliam a olhar a vida de forma diferente, reduzindo preconceitos e mudando formas arraigadas de pensamento e de conduta, muitas delas responsáveis por fracassos sucessivos dos indivíduos.
As crianças são seres sensíveis e angelicais, a convivência com elas nos enriquece de forma intensa, observar como cada uma se recorda das coisas é uma grande aventura, como destacou o grande filósofo Platão: “Aprender é descobrir aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você o sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.” Todas as descobertas na verdade são lembranças que se reavivam em nossa mente, são momentos de exteriorização de informações e conhecimentos que trazemos dentro de cada um, fazem parte de uma bagagem que trazemos na alma durante anos ou séculos de experiências na matéria.
Somos espíritos eternos criados por Deus, para nos tornarmos espíritos puros nossa empreitada é complexa, para isso, precisamos nos revezar entre o corpo físico e o corpo espiritual, no livro Nosso Lar, do espírito André Luiz psicografado por Chico Xavier, encontramos a descrição da vida no mundo espiritual, o autor destaca com detalhes como é a vida em uma colônia espiritual, as atividades constantes, os aprendizados, os cursos e estudos, tudo de forma a deixar claro para cada um de nós que a vida continua sempre, nos revezamos em mundos diferentes.
O tema reencarnação não é uma exclusividade da doutrina dos espíritos, embora os espíritas destaquem esta premissa como fundamental para a compreensão de Deus, as doutrinas asiáticas e hinduístas já se apoiavam neste conceito fundamental para explicar os dilemas da vida e da “morte”, reencarnar é uma grande dádiva, sempre estaremos envoltos nesta viagem maravilhosa, quando não mais precisarmos reencarnar por necessidade, com certeza, vamos solicitar nova oportunidade na carne como forma de auxiliar muitos irmãos que ainda mourejam na dor e nos desajustes, auxiliar aqueles que sofrem é uma forma intensa de caridade, e os espíritos superiores possuem essa premissa, auxiliam sempre com o intuito de ver o progresso da sociedade, sentem felizes e recompensados pela missão do auxílio e se aproximam mais dos ideais superiores de amor e de caridade.
Nestas andanças constantes por outras vidas, encontramo-nos com os mais variados espíritos, alguns amigos da jornada evolutiva que nos enchem de júbilo e alegria, enquanto outros são dotados de uma energia tão negativa e destrutiva, que no contato inicial já percebemos uma energia degradante, muitos destes sentimentos imediatos de repulsa ou de atração são claramente flashes mentais dados pelo espírito que encontrou algum amigo ou algum desafeto, agora estimular este sentimento é a chave para o progresso ou regresso dessas relações, se de um lado estimularmos os sentimentos saudáveis colheremos no decurso da vida frutos saudáveis e edificantes, agora se nos voltarmos para vivências negativas de vidas anteriores vamos estimular sentimentos menores e degradantes que, num determinado momento, nos farão colher frutos de degradação e de constrangimentos elevados.
Reencarnação é uma lei natural, criada por Deus e símbolo imediato de justiça e de fraternidade, por ela temos as mesmas oportunidades e cabe a cada um, se utilizar destas oportunidades sagradas concedidas pelo Pai para criarmos uma sociedade melhor, mais justa e solidária, um mundo onde todos os indivíduos tenham condições de desenvolver suas potencialidades, pois não devemos esquecer que como é uma lei natural, brevemente retornaremos ao mundo material, dispostos a retomarmos nosso espaço, e quanto melhor o mundo estiver mais oportunidades de crescimento e de progresso teremos na jornada física, angariando vivências e conhecimentos que nos transformam intimamente e melhorar a coletividade deste orbe, ainda tão marcada por sentimentos antagônicos e contraditórios.