Estamos terminando mais um ano marcado por grandes desafios e oportunidades, a sociedade global está vivendo momentos de rápidas transições, vivendo conflitos militares crescentes, degradação ambiental, pandemias insistentes, desigualdades sociais preocupantes, elevada concentração de renda, desemprego estrutural, crescimento tecnológico, incremento de uma ultradireita violenta e agressiva, além de uma fragilização democrática, desesperanças em todas as classes sociais e um medo premente e generalizado, de que o futuro pode ser mais devastador e degradante do que o presente que vivenciamos na contemporaneidade.
Nesta sociedade, percebemos que os valores estão em constante movimentação, aquilo que anteriormente eram vistos como errado e equivocado, na contemporaneidade são vistos como aceitáveis, palatáveis, justificáveis e até estimulados, os valores morais e os comportamentos éticos passaram a ser regidos pela lógica dos mercados, das trocas cotidianas, dos ganhos elevados, do imediatismo constante, do individualismo exacerbado e da busca constante pela acumulação material.
Diante disso, assistimos passivamente a degradação das relações sociais e da convivência pacífica, as políticos públicas estão sendo sucateadas e usam como justificativa a falta de recursos financeiros, enquanto os grandes conglomerados financeiros seus ganhos e isenções são garantidos e aumentados, com isso, percebemos o aumento da desigualdade na sociedade, o crescimento dos discursos de ódio e de ressentimento, as guerras estão degradando a economia mundial, elevando os preços de produtos imprescindíveis para a sobrevivência humana, levando os governos a aumentarem as taxas de juros que degradam as condições de vida de grande parte da sociedade internacional e garantindo, em contrapartida, altos lucros de poucos privilegiados, na maioria bilionários e herdeiros de grandes impérios, cujos ganhos crescem exponencialmente, garantindo lucros estratosféricos da ciranda financeira e da especulação monetária.
O modelo econômico dominante na comunidade internacional, centrado no imediatismo, no individualismo, na busca crescente por lucros e o consumo exagerado, na construção de desejos inalcançáveis, centrados no desenvolvimento tecnológico e poupador de mão de obra vislumbram ganhos e rentabilidades imediatas mas, em contrapartida destrói a estrutura produtiva das nações, desindustrializando as economias, achatando os salários dos trabalhadores, fragilizando o poder de negociação dos sindicatos, acabando com o mercado de consumo interno, espalhando pobreza e exploração crescentes, dificultando a recuperação econômica, maltratando as famílias, empobrecendo e gerando um caos generalizado.
Neste ambiente, as agendas dominantes dos economistas ortodoxos preconizam a diminuição do Estado na estrutura produtiva como forma de melhorar a eficiência econômica e alocação dos investimentos privados, defendendo que a iniciativa privada, o tal mercado, será o grande motor do crescimento econômico, ator central do desenvolvimento das nações e da melhoria das condições sociais das sociedades. Embora estas teorias embalaram o pensamento ocidental até o final do século passado, a crise imobiliário norte-americana, a ascensão chinesa e a pandemia começaram a rascunhar novas pensamentos econômicos nos países desenvolvidos, todas estas nações perceberam que o mercado não possuem instrumentos para reativar o crescimento econômico sozinhos, neste ambiente, surgem as ideias de planejamento econômico, as políticas industriais e os investimentos governamentais como forma de estimular as demandas internas, sem estas políticas o capitalismo internacional caminharia a passos largos à bancarrota.
Embora entendamos que o ambiente externo é marcado por grandes desajustes, preocupações e oportunidades, a sociedade internacional está compreendendo que o modelo econômico dominante não consegue construir uma sociedade mais justa e igualitária, que garanta oportunidades para todos os indivíduos, educação de qualidade e perspectivas de empregos melhores e salários dignos e decentes. Depois de tantas crises e instabilidades, quem sabe o ano novo traga novos horizontes e esperanças para a sociedade internacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 28/12/2022.