A sociedade brasileira está envolta em mais uma campanha presidencial, onde os candidatos fazem as mais mirabolantes promessas para conquistar os corações dos eleitores e garantir adesões que se transformem em votos e chances reais de vitória ou de seguir para o segundo turno, estamos próximo de decisões que podem comprometer nosso futuro imediato ou abrir novos espaços de crescimento e recuperação econômicas, com novos investimentos e políticas sociais ativas e eficientes.
Vivemos uma crise econômica das mais severas e agressivas, depois de um período de forte crescimento econômico, o país voltou a se encontrar com o chamado stop in go, um movimento de crescimento econômico alternado com redução, um verdadeiro sobe e desce que nos assusta e inviabiliza toda e qualquer política mais efetiva de construção de um país moderno, dinâmico e empreendedor, sonho de todos que se locupletam com o trabalho e a meritocracia.
Neste embate eleitoral encontramos os mais variados candidatos, desde os mais ortodoxos religiosos que, mesmo na campanha eleitoral, se retiram do pleito e se refugiam em locais de meditação e reflexões religiosas, até candidatos presos e condenados que insistem em fazer campanha mesmo sabendo que seu nome não mais vai constar nas urnas na data da eleição e, destacamos ainda, os candidatos internados, fruto do ambiente de agressividade, de intolerância e de violência reinantes, vivemos um momento sui generis que nunca vivemos em terras brasileiras.
As eleições presidenciais no país ofuscam, infelizmente, as eleições para senadores e deputados, uma eleição fundamental, já que são estes parlamentares que aprovam ou desaprovam os projetos do Executivo, e colocam na berlinda os presidenciáveis cujas propostas são um misto de desinformação e de prepotência, mostrando que o futuro do país pode ser muito pior do que o presente, gerando mais desesperança e indignação para a população e inviabilizando novos investimentos e a recuperação econômica.
Alguns intelectuais e jornalistas temem pelo democracia brasileira, vendo em alguns candidatos riscos concretos de fragilizar as bases democráticas da sociedade brasileira, outros acreditam que tais candidatos tem todas as condições necessárias para retirar o país da crise e injetar no povo brasileiro mais ânimo e esperanças, depois de uma forte recessão que consumiu mais de 9% do produto interno bruto do país, estas indagações são bastante relevantes, as dúvidas existem e só poderão ser respondidas com o passar do tempo, antes disso tempos apenas especulação.
O país precisa de mudanças estruturais, somos um país com grande potencial de crescimento na renda e melhoria nos indicadores sociais e econômicos, somos dotados de recursos naturais altamente ricos e fomos agraciados com recursos hídricos e energéticos que poucos países ou regiões do mundo podem se vangloriar de possuir estas reservas naturais e estratégicas, mas, mesmo diante de tantas riquezas, somos um país que apresenta uma pobreza abissal, nossas riquezas são extraídas e levada para as mais variadas regiões do mundo, transformando-nos no eterno país do futuro.
Economistas liberais e intervencionistas se matam em uma discussão insana, os primeiros defendendo o mercado como o grande agente do desenvolvimento enquanto os últimos acreditam que todo e qualquer desenvolvimento deve ser feito e estruturado com bases no Estado nacional, discutem ideias e teses importantes mas esquecem que na economia do conhecimento faz se importante que Estado e Mercado estejam juntos e interligados, onde os rancores deem espaço para a integração e a sociedade perceba que esta dicotomia apenas retarda o desenvolvimento do país e geram instabilidades e incertezas crescentes.
Liberais defendem uma privatização generalizada enquanto os mais intervencionistas acreditam que todo desenvolvimento econômico deve ser sustentado pelo investimento estatal, por isso, as eleições presidenciais se transformam em um verdadeiro palco de teses e antíteses, onde cada grupo busca exemplo em países com características por eles defendidas, argumentando e se utilizando de cálculos econométricos sólidos para defender seus pensamentos.
Na sociedade encontramos problemas dos mais primitivos, desde as deficiência da educação básica e fundamental mostradas recentemente pelos dados divulgados pelo MEC, passando pelas agruras da segurança pública, somente em 2017 foram mortos mais de 63 mil pessoas, as deficiências do sistema de saneamento básico que levam mais de 30 milhões de residência a sobreviver com grandes toneladas de esgotos e produtos degradados, cujos impactos sobre a saúde do cidadão se agravam de forma permanente e irreversível.
O desemprego é um dos maiores nos últimos anos, temos hoje mais de 13 milhões de pessoas desempregadas, se somarmos os que perderam as esperanças de conseguir uma nova ocupação, estes números dobram e nos levam a preocupações das mais variadas, sem emprego não se tem salários e rendas, sem estes não aumentamos o consumo e não abrimos espaços para os novos investimentos produtivos, somente estes podem impulsionar a economia do país.
As cidades estão em momentos de grande degradação, as finanças públicas estão destroçadas e o planejamento urbano inexiste, os grandes grupos econômicos dominam as estruturas estatais e impõem aos cidadãos políticas acertadas em gabinetes e sem a conversa com os indivíduos e representantes da população, criando novas possiblidades de ganhos e fragilização nas estruturas de decisão, gerando impactos imediatos sobre a democracia e a participação popular.
Este ambiente leva a inúmeras indagações e reflexões, a Democracia Representativa está fragilizada e enfraquecida na sociedade internacional, autores como Steven Levitsky e Daniel Ziblatt que publicaram recentemente Como as democracias morrem, mostrando que estamos em um momento delicado na sociedade internacional, as bases que estruturaram o crescimento econômico do pós segunda guerra mundial estão ruindo e gerando contestação e desesperança.
Segundo os autores, as origens desta crise remonta a alguns anos, a ascensão do poder do capital e o entrelaçamento entre o dinheiro e a política, na atualidade a ameaça as democracias não mais se concentram em golpes de Estado e regimes de exceção que são constituídos de forma violenta e agressiva, as ameaças estão naqueles que ganham eleição e se utilizam deste poder para impor novas sanções sociais, transformando-se em verdadeiros ditadores eleitos democraticamente, citamos como exemplo o presidente turco Recep Tayyip Endorgan e o venezuelano Nicolás Maduro, entre outros, eleitos democraticamente e seduzidos por um governo forte e autoritário, cujo poder oprime a população e compromete o futuro da sociedade.
O Brasil, para muitos analistas, corre sério risco de perder seu status de democracia, a sedução de um discurso autoritário está levando muitos eleitores, das mais variadas classes sociais, mas com predominância para os de renda mais alta, a apoiarem candidatos truculentos e autoritários, acreditando, com isso, que estes terão as condições de resolver os problemas nacionais e acabar com a insegurança e a violência que se arrastam pela sociedade brasileira, segundo estes cidadãos, o Brasil precisa de um governo forte que aja com mais força para evitar que o país descambe para a anarquia, com isso apoiam o porte de armas, a liberdade de policias atirarem para matar afinal, bandido bom é bandido morto.
Analisando as propostas econômicas percebemos uma conversão ao pensamento liberal, estas ideias defendem um Estado menor e mais preocupado com o clima jurídico e institucional e um Mercado mais atuante, as privatizações seriam uma das formas de combater a corrupção generalizada que se instalou no país e ao alienar o patrimônio público, usar estes recursos para reduzir os estoques de dívida pública, abrindo espaço para uma redução generalizada das taxas de juros que teriam um efeito direto sobre a atividade econômica e os investimentos, reanimando todo o sistema econômico e produtivo.
As ideias acima são sedutoras, encantam muitas pessoas e fazem com que muitos grupos sociais decidam votar nestes candidatos, embora entendamos que a privatização, no caso brasileiro, deve ser bem vinda e tem potencial de alavancar a economia do país, acreditamos que o histórico das votações e do comportamento parlamentar do candidato nos leva a colocar em dúvida a defesa destas teses liberais, isto porque, em quase trinta anos como parlamentar, todas as propostas liberalizantes foram por ele rechaçadas, desde o Plano Real, as concessões, as privatizações, entre outras.
Outro ponto de destaque, é como garantir governabilidade com um partido tão fraco no Congresso Nacional? Se temos um presidencialismo de coalizão que prescinde de, no mínimo 308 deputados e 49 senadores, para fazer as grandes mudanças nacionais que nos mostrem os caminhos para o crescimento econômico e as melhorias sociais, como a Reforma de Previdência, a Reforma Tributária, a Reforma Política, etc… todas necessitam de um alto apoio político, como conseguir tal apoio em ambiente partidário tão fragmentado e desorganizado como o brasileiro?
Outros candidatos se colocam na disputa com uma procuração nas mãos, suas ideias repetem o mantra que levou o país a esta situação de semi-estagnação que vivemos na atualidade, votar neste mesmo grupo social me parece preocupante, além disso, insistem em não assumir suas culpas e insistir em colocar a responsabilidade da crise nacional no colo dos outros, sem auto crítica o que podemos esperar destes que pregam as mesmas coisas e se esquecem dos resultados anteriores, o país precisa construir pontes entre os grupos sociais e políticos e deixar de lado os confrontos degradantes e mentirosos, o Brasil precisa de decência e compromisso com um futuro e não compromissos com o poder e a acumulação.
Todas estas questões são importantes e devem ser respondidas a contento, o voto deve ser visto como o início de uma cidadania mais ativa, as redes sociais impulsionaram esta cidadania e, principalmente, esta discussão política e institucional, muitos perceberam a relevância da política na sociedade e a necessidade de participar ativamente destas discussões, somente assim a coletividade vai conseguir atuar como um agente mais ativo e participativo nas grandes transformações sociais e garantir uma sociedade mais justa e meritocrática num futuro próximo.
O Brasil tem escolhas sérias a serem feitas imediatamente, divulgar Fake News e denegrir as ideias daqueles que pensam contrariamente aos nossos pensamentos é intolerância e ignorância, pouco sabemos e precisamos ter consciência disso, as redes sociais são instrumentos importantes e poderosos para melhorar nossa cidadania mas, ao mesmo tempo, como destacou Umberto Eco, deu voz a muitos idiotas, e abriu espaço para que todos se achem no direito de falar, de escrever e de opinar sobre todos os temas, a ignorância esta dominando o mundo.