Nos últimos dias a economia internacional vem passando por grandes movimentações econômicas e produtivas, inúmeros acordos comerciais foram deixados de lado, discursos agressivos e violentos ganharam relevância na sociedade global, aliados históricos e estratégicos entraram em confrontos verbais, alíquotas e tarifas comerciais foram majoradas sem respeito a contratos assinados entre nações e medidas agressivas foram impostas para todas as nações, gerando mais incertezas, preocupações crescentes e um ambiente de negócio bastante agressivo, com um aumento das rivalidades e das hostilidades.
Muitos analistas internacionais acreditam que as medidas implementadas pelo governo norte-americano têm por objetivos forçar uma reindustrialização de sua economia, pressionando os agentes produtivos nacionais e internacionais a aumentarem seus investimentos internos, elevando os dispêndios da economia dos Estados Unidos, aumentando a contratação de trabalhadores locais, incrementando a renda interna, dinamizando os setores produtivos e contribuindo para a melhora da situação social dos cidadãos. A grande pergunta que a sociedade global está se fazendo é, se esta estratégia arriscada e agressiva, adotada pelo governo de Donald Trump, será exitosa para induzir a economia norte-americana para o caminho da reindustrialização?
Os Estados Unidos, claramente, perderam espaço no setor industrial global, depois de construir setores industriais de ponta durante séculos, a indústria norte-americana foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da indústria global, ator fundamental na estruturação da inovação mundial, criando setores, desenvolvendo tecnologias, revolucionando máquinas e produtos globais, mas perdeu espaço na corrida internacional para outros atores globais, principalmente para a China. O país asiático se transformou de uma sociedade rural, atrasada tecnologicamente e marcada por grande pobreza, imensa miséria e degradação material, nestes últimos quarenta anos, a sociedade chinesa passou por grandes mutações, revolucionando a educação, investindo fortemente em ciência e tecnologia e adotando decisões estratégicas, onde destacamos a atuação do Estado chinês como indutor do desenvolvimento industrial, protegendo setores produtivos, incentivando a competição externa no mercado global e cobrando o incremento da produtividade de seus atores econômicos, além de atrair empresas e corporações globais, exigindo a transferência de tecnologia e fortalecendo as compras internas para solidificar a economia nacional, gerando emprego, melhorando as condições de vida e transformando todo o ambiente de negócio.
Neste momento, encontramos um conflito de grandes atores na economia internacional, a maioria dos estrategistas internacionais acreditam que as apostas do governo norte-americano não terá o êxito esperado e, ao contrário, tendem a gerar um incremento nos preços internos, desestruturação de setores externos e o aumento do desemprego dos cidadãos norte-americanos, aumentando os desequilíbrios internos e gerando pressões externas, que podem gerar conflitos militares, cujos resultados imediatos são impossíveis de serem mensurados. As medidas unilaterais adotadas pelo governo norte-americano tendem a agravar os desequilíbrios globais, aumentando as incertezas no interior das nações, amedrontando os setores produtivos e aumentando as volatilidades dos trabalhadores, impactando sobre toda a sociedade mundial.
Diante dos desafios da sociedade global, o Brasil precisa estimular decisões estratégicas, compreender o cenário mundial de incertezas e de rivalidades, construir consensos internos em prol do desenvolvimento econômico, superar uma visão subserviente que domina grande parte da elite nacional e se concentrar em discussões estratégicas e deixando de lado conversas equivocadas, desnecessárias e ultrapassadas que combinam com a impunidade e a degradação moral.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.