Vivemos momentos de grandes incertezas e volatilidades, com impactos generalizados para toda a sociedade brasileira, vivemos momentos de medos, preocupações e fortes desagregações sociais, instabilidades econômicas e grandes conflitos políticos, sem convergências e sem rumo para construirmos uma estratégia consistente para a reestruturação da economia nacional. Sem rumos consistentes, os desafios tendem a crescer, as perspectivas de melhora econômica diminuem rapidamente, oportunidades tendem a ser menores e perpetua o incremento da desigualdade, dos conflitos sociais e a degradação política, estamos vivendo momento de fortes degradações, exigindo decisões conjuntas e fortes convergências.
A economia brasileira perdeu a vocação do crescimento econômico, desde os anos 1980, depois de um período de forte crescimento econômico, a sociedade passou a viver instabilidades crescentes, alternando inflação alta, dificuldades externas, taxas de juros elevadas, desindustrialização, degradação das condições de trabalho e de emprego, além de arrocho salarial e redução do mercado interno de consumo, que contribuíram para a fragilização dos trabalhadores, seu endividamento crescente e uma forte degradação política que caminha para uma grande convulsão social.
Neste momento precisamos reconstruir os laços sociais, reestruturar as bases da economia nacional, investir fortemente em ciência e tecnologia, retomando o poder e a centralidade da educação como instrumento de ascensão social, rechaçando os discursos inconsistentes de empreendedorismo como instrumento de retomada do crescimento econômico. Precisamos atuar fortemente para reduzirmos o poder político e econômico dos grandes conglomerados que monopolizam os mercados e impedem a entrada de novos concorrentes, degradando os instrumentos de regulação governamental, impondo sua agenda e auferindo lucros extraordinários.
Nossa sociedade está envolta em grandes degradações políticas, discursos agressivos e ódios e de ressentimentos, vivemos momento de graves conflitos, onde as discussões políticas, fundamentais para a construção de consensos, passou a ser substituída por grandes violências, agressividades e, neste cenário, percebemos que estamos cultivando devastações crescentes, com atrasos institucionais, degradação do meio ambiente, estimulo de uma sociedade centrada da exploração e da insegurança. Neste ambiente, os investimentos produtivos se reduzem, os grandes conglomerados se afastam do país, somos relegados ao esquecimento e não participamos dos grandes fóruns internacionais, levando-nos a sermos vistos como um grande pária internacional.
A reconstrução nacional prescinde de um amplo consenso nacional, onde todos os grandes atores sociais, políticos e econômicos precisam ambicionar a reestruturação da nação, deixando seus interesses imediatos e a busca de um projeto nacional que coloque no centro a redução das desigualdades, reestruturações econômicas e produtivas e uma consolidação de um sistema de justiça que perpetuam as violências e as degradações que permeiam a sociedade e contribuem fortemente para que nossa estrutura social se fragiliza, mostrando a incapacidade de grupos privilegiados, rentista e gestores financeiros que ganham com essa condição social de indignidade e exploração.
No cenário de desintegração que vivemos, os grupos econômicos e políticos usam seus poderes para garantir vantagens e benefícios imediatos, deixam de pensar no longo prazo e se digladiam no agora, buscando ganhos e se esquecem que, muitas vezes, seus ganhos geram desagregações de outros setores, garantindo ganhos imediatos e destroem seus setores no longo prazo, abandonamos o planejamento, as estratégias e nos esquecemos que vivemos num mundo altamente concorrencial.
Em momentos de grandes polarizações políticas, incertezas econômicos e devastações sociais como este, precisamos reconstruir canais de negociações democráticas, arregimentar grupos sociais, fortalecer as instituições e consolidar políticas públicas, buscando consenso, punindo os focos de desequilíbrios e buscando a construção de um novo projeto nacional. Sem um verdadeiro projeto nacional, nosso destino é chafurdarmos na lama da desagregação social.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 15/02/2023.