Carta Mensal – Setembro 2023

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O mês de setembro se caracterizou por grandes incertezas e instabilidades, de um lado, percebemos que o comportamento da economia brasileira apresentou alguma melhora, criando grandes esperanças e expectativas positivas, levando o governo federal a espasmos de euforia. Neste período foram enviados ao Congresso Nacional, medidas econômicas importantes e imprescindíveis para o comportamento da economia nacional, partindo do pressuposto de que o novo governo está tentando alterar ou reverter o modelo econômico criado pelo governo anterior, deixando de lado as privatizações, desestimulando medidas liberais ou ultraliberais centradas da diminuição do governo nacional, que foram adotadas em períodos recentes.

Vivemos um momento importante para a economia nacional, com modelos econômicos se digladiando, um mais entreguista, mais internacionalista, mais privatizante, centrado em redução do Estado na economia, com menos políticas públicas e baseado em um discurso fortemente moral e religioso. De outro lado, encontramos uma discussão mais intervencionista, mais centrado em políticas públicas, com mais Estado Nacional e mais atuação no contexto internacional.

Na verdade, os dois modelos econômicos e políticos são diferentes, com trajetórias opostas e podem ser definidos, um mais de centro esquerda e o outro mais de direita, embora sabemos que essas definições são pouco precisas, pois ambas adotam políticas que perpassam vários campos políticos e ideológicos, essa discussão gera grandes constrangimentos para a economia nacional.

Destacamos as mais repercussões políticas das descobertas da CPMI do 08 de janeiro, que levaram várias personagens ao crivo de depoimentos e constrangimentos variadas, com ex-Ministros de Estado, representantes militares, policiais, políticos e variados pessoas importantes pelos governos anteriores, acionando conflitos constantes nos mais variados campos políticos, aumentando os confrontos entre grupos sociais e políticos e contribuíram para a piora do ambiente institucional.

Destacamos as discussões no campo político, de um lado encontramos um governo com frágil força política no Congresso Nacional, sabendo que o Executivo possui apenas algo em torno de 140 deputados, que exigem uma constante negociação política, que na verdade não seria um grande problema se as discussões fossem mais qualificadas, infelizmente, percebemos uma discussão pobre e centrado em ganhos imediatos, sem uma visão mais consistente para a sociedade nacional, apenas interesses mesquinhos e individualistas.

Percebemos no front externo que o Brasil vem fazendo bonito nas foros internacionais, discursos exaltados, abordando temas de grande relevância para a comunidade internacional, levando assuntos importantes que a própria sociedade global não tem interesse de abordar com profundidade, destacamos as questões energéticas, a economia verde, os recursos globais que deveriam ser canalizados para as economias em desenvolvimento em prol da sustentabilidade, além da miséria global, o crescimento da exclusão mundial, as questões relacionadas aos conflitos militares que crescem no mundo contemporâneo, gerando incertezas adicionais, não esquecendo que vivemos numa sociedade centrada em grandes destruições e incertezas elevadas.

Na economia nacional, percebemos que o governo federal vem fazendo variados esforços para recuperar a economia nacional, mas muitos indicadores apresentam dificuldades de melhorarem no curto prazo, mesmo percebendo a queda nas taxas de juros, que caíram para 12,75% no mês de setembro, percebemos que a queda é insuficiente para incrementar o crescimento da economia brasileira. Muitos analistas liberais e profissionais de mercado acreditam que a questão fiscal é o grande nó da economia nacional, embora nosso endividamento não esteja nas estrelas como acontecem em economias mais desenvolvidas, essa discussão é rechaçada por esses economistas.

Outro assunto que movimentou as discussões nacionais no mês de setembro foi as questões relacionadas ao Novo Ensino Médio, que mobilizou os especialistas na área da educação, com pareceres variados e relatórios de instituições ligadas ao tema, como forma de influenciar a discussão. Desta discussão, o governo federal encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta que podem gerar grandes debates, movimentando interesses variados e conversas acaloradas. Neste cenário, surgiram novas informações referentes a educação superior, onde foram divulgados dados preocupantes, onde mais de 66% dos graduandos nas faculdades estão nos cursos a distância, além de percebermos que cinco instituições privadas abrigam mais de 27% das matrículas, um dado assustador com grandes repercussões para a educação nacional, onde essas cinco instituições possuem mais matriculados do que todos os graduandos nas universidades federais.

Depois de nove meses do terceiro governo Lula, percebemos que o governo federal apresenta grandes dificuldades de impor sua agenda para a nação, os grupos oposicionistas se juntam para atrapalhar o governo, com acusações maldosas e inconsistentes, convocando Ministros para gerar constrangimentos, são pessoas pouco qualificadas pelo cargo que assumiram, sem propostas e, na imensa maioria, conseguiram ser eleitos com uma agenda de ultradireita, defendendo confrontos constantes, posse de armas para a população e discussões infrutíferas como as da escola de partido, um verdadeiro atraso institucional que tende a gerar grandes retrocesso para a sociedade brasileira.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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