A Carta Mensal de novembro vem destacando dois fatos que achei relevante para compreender as mudanças em curso na sociedade. De um lado, no âmbito nacional, o assunto mais relevante foi a transição de governo, as pressões dos grupos econômicos, políticos e sociais, buscando angariar mais poder dentro da nova gestão, influenciando as agendas e colocando nos postos chaves seus asseclas, garantindo a manutenção do status-quo dos setores mais organizados e os grupos alijados do poder neste governo que está chegando ao final. Vivemos um momento de grandes conversas, escolhas, decisões e estratégias.
De outro lado, destacamos a COP-27, conferência liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que pode ser vista como um espaço de conversa e de construção de novas agendas para as questões climáticas.
Desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ganho no final de outubro, o mês seguinte foi marcado por grandes expectativas para a sociedade brasileira.
De um lado percebemos as pressões constantes dos grandes grupos econômicos e financeiros para impor sua agenda e seus interesses imediatos, buscando nortear as políticas a ser adotadas pelo próximo governo.
De outro lado, percebemos variadas formas de pressão dos grupos que contribuíram para a eleição do então candidato Lula, na grande maioria grupos de esquerda e centro esquerda, além dos apoiadores da última hora, grupos fundamentais para desalojar o presidente Jair Bolsonaro do Palácio da Alvorada, inaugurando novos rumos para a sociedade brasileira.
Neste mês de novembro percebemos grandes espaços de construções democráticos para a montagem do novo governo, percebendo que os grupos de influência, os chamados lobbies estão vivos e sedentos de influenciar os novos governantes, não apenas o governo federal mas todos os governos estaduais, uns mais avançados na confecção de seus governos e outros, depois do segundo turno, ainda estão na construção de todas as equipes dirigentes, os integrantes, os projetos e as perspectivas para o ano vindouro.
Em novembro de 2022, a sociedade mundial organizou a chamada COP-27, a 27® Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu de 6 de novembro a 18 de novembro em Sharm El Sheikh, no Egito. No evento inúmeros chefes de governo ou chefes de Estados se reuniram para conversar sobre as mudanças climáticos e seus impactos sobre a sociedade internacional, mostrando uma ampla capacidade de organização, planejamento e construção de novos modelos para que a comunidade global, tenham condição de sobreviver as degradações que estão em curso da sociedade mundial. Embora as discussões são imprescindíveis para a comunidade internacional, percebemos que os discursos crescem, mas as medidas efetivas e concretas estão muito longe de serem adotadas.
Neste evento das Nações Unidos, a sociedade brasileira foi representada pelos membros do atual governo e do presidente eleito, onde este último foi convidado pelo governo do Egito para participar e discursar no evento, destacando as heranças do governo atual, as políticas implementadas, elencando as medidas criadas por setores que usam seu poder material para garantir subsídios e a criar desmandos, as desregulações, a fragilização dos órgãos de controle que levariam a sociedade para momentos de inseguranças e instabilidades crescentes, além de desmandos institucionais, com grandes ganhos para os setores do submundo da institucionalidade.
Importante destacar, que no mês de novembro a sociedade brasileira percebeu o crescimento dos grupos de pessoas descontentes com o resultado da eleição do executivo federal, contrários da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde milhares de pessoas começaram a se mobilizar maciçamente para protestar, se alojando na frente dos tiros de guerras, clamando pela atuação dos chamados “patriotas” para lutar contra os ideais e os pensamentos dos chamados “comunistas”.
Segundo os grupos descontentes da eleição presidencial, a sociedade precisa se organizar para defender os caminhos da sociedade brasileira, impedindo a posse dos chamados governos de “esquerda”, que querem degradar a família tradicional e, neste momento, é fundamental contar com a atuação e espontânea dos homens e mulheres de “bem” ou de bens….
O mês de novembro foi marcado por grandes discussões dos candidatos eleitos, variadas conversas políticas para a construção das equipes dos novos governos, as conversações com os variados partidos políticos que participaram da formação do novo governo, buscando formas de aparar as arestas dos apoiadores, dirimindo os descontentes, buscando formas de construir a governabilidade política, que é fundamental para que o novo governo tenha força política, instrumentos de gestão e capacidade de influenciar os rumos da sociedade brasileira.
Neste momento de grandes expectativas, os agentes econômicos, políticos e sociais estão se organizando, os setores financistas usam seus poderes econômicos como forma de influenciar o governo sobre as decisões, mantendo tetos de gastos, políticas de austeridades e enfocando os interesses do grande capital.
De outro lado, percebemos o poder dos grupos das elites agrárias e agroexportadores, que não abrem mão dos ganhos fiscais e tributários, lutam contra a tributação progressiva e usam seus instrumentos de poder para influenciar e defender seus interesses locais, seus ganhos elevados, créditos fartos, taxas de câmbio desvalorizada e facilidades crescentes, com isso, garantem a perpetuação de seu poder na comunidade.
Destacamos os interesses dos trabalhadores organizados, setores que estão em amplo desgaste político e fragilizações econômicas, setores que congregam os sindicatos, associações e setores que lutam para destruição total, grupos que estão sendo devastados pelo crescimento da tecnologia, gerando uma parte substancial da classe média sem recursos, sem trabalhos, sem perspectivas e sem esperanças, vivendo ou sobrevivendo num verdadeiro caos generalizado.
Neste ambiente, destacamos as organizações dos grupos desorganizados, grupos informais, grupos sem unidade política, grupos sem identidades e todos os grupos invisíveis que vivem ou sobrevivem arduamente, passando fome, sem dignidade, sem condições dignas de sobrevivência, sem emprego, sem renda e sem esperança de dias melhores.
Novembro sentiu na pele os grandes desafios dos gestores da sociedade brasileira em 2023, desafios, oportunidades, estratégias e planejamentos são conceitos fundamentais para compreendermos que o futuro da nação deve ser construído fortalecendo a democracia, ampliando os direitos sociais, reconstruindo políticas públicas e atuando diretamente sobre o modelo econômico que rege a sociedade nacional, sem entrarmos nas discussões do modelo econômico todas as reflexões são despropositadas.
O mês de novembro nos traz um grande xadrez da sociedade contemporânea, o êxito do novo governo só será conseguido se as demandas forem atendidas, se o governo conseguir mostrar que o desenvolvimento é fundamental para toda a nação, a diversificação econômica é imprescindível, o ensino de qualidade é uma condição central para revertermos as dívidas acumuladas em duzentos de exploração social, pilhagem econômica, instabilidades políticas e degradação ambiental.
Ary amos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.