Brasil, o país das commodities, por Paulo Gala.

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Paulo Gala – 19/04/2022

Nos dois primeiros meses deste 2022 o valor total de nossas exportações foi 36% maior do que no mesmo bimestre de 2021. O volume de bens exportados cresceu 17% e os preços do que exportamos subiram 16% na mesma comparação. Os preços de importação também subiram muito, 34%, mas os volumes importados tiveram queda de quase 3% na comparação entre esses mesmos bimestres. Em março a balança comercial teve superavit de US$ 7,4 bilhões e até a segunda semana de abril registramos superávit de US$ 15,36 bilhões no acumulado do ano. A corrente de comércio, soma de exportações e importações, subiu 20,5% em relação a 2021, para US$ 147,1 bilhões, com as exportações chegando a US$ 81,23 bilhões e as importações a US$ 65,87 bilhões. Os dados que já temos para 2022 apontam para um superávit em nossa balança comercial de mais de US$ 80 bilhões, um feito histórico. Na mente dos investidores estrangeiros, o Brasil se consolida como o paraíso das commodities, o que ajuda a trazer dinheiro ao país. Por tudo isso, o real readquiriu seu status de “commodity-currency”: moedas que se apreciam muito em booms de commodities.

O Brasil já está no time de países com maiores reservas de petróleo do mundo graças à descoberta do pré-sal. Em 2022 estaremos entre as dez maiores produções de petróleo do planeta, com quase 4% da oferta mundial. O custo de exploração se revelou muito menor do que se imaginara e a qualidade do petróleo do pré-sal é ótima. Nosso setor de mineração segue também robusto. Os grandes projetos da Vale se concretizaram, com destaque para o S11D em Carajás, com uma das maiores capacidades produtivas do mundo. Nosso volume de exportação é enorme, além do boom de preços do mineiro de ferro, níquel, litium, cobre, etc. Para se ter ideia da força de Vale e Petrobras hoje, basta observar que em 2021 essas duas companhias distribuíram mais dividendos do que todas as empresas da bolsa brasileira somadas.

No setor agro a situação também é exuberante. O preço da arroba do boi acima de R$ 300, tendo chegado em R$ 350, promoveu grande ganho exportador do mercado da carne. Só para China exportaremos quase US$ 2 bilhões em carnes no primeiro trimestre desse ano, um recorde absoluto. Segundo índice da UN/FAO, só em Março os preços de alimentos subiram mais de 12%. Recorde histórico da série para um único mês. O setor agro brasileiro teve um superávit de U$105 bilhões em 2021, compensando nosso déficit de bens tecnológicos e industriais. Em 2021 o saldo negativo do setor industrial chegou a US$ 53 bilhões, o pior resultado desde 2015, mesmo num ano em que o superávit total da balança fechou em nível recorde. O boom de preços de commodities decorrente da pandemia e do conflito com a Ucrânia acabou favorecendo o Brasil pela via da alta de preços de bens agrícolas e energéticos, apesar do risco de falta de fertilizantes. A alta de preços de commodities sempre nos favoreceu no passado, inclusive quando viramos grau de investimento em 2008. Nesse cenário não teremos falta de dólares e investidores estrangeiros seguirão comprando Brasil. Nosso grande desafio continua sendo, entretanto, gerar empregos de qualidade para 90 milhões de pessoas.

Sem a recuperação de nossa indústria não conseguiremos tamanha façanha. O atual boom de commodities resolve nosso problema de divisas e ajuda no controle da inflação pela via da apreciação da moeda brasileira; fica faltando ainda a essencial retomada de nosso desenvolvimento industrial e tecnológico.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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