Ameaças e desafios para a economia brasileira: Inflação, desindustrialização e “doença” holandesa.

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Nos últimos meses a economia brasileira se encontra envolta em duas grandes discussões importantes e estratégicas, o incremento da inflação que suscita lembranças amargas e desagradáveis e a questão cambial, que pode gerar uma desindustrialização do país com graves constrangimentos para os setores produtivos nacionais, para a geração de empregos e para a sociedade de uma forma geral.

Ambas as questões são complexas e exigem uma atenção bastante especial, pois podem geram graves constrangimentos para o país nos próximos anos, retirando do Brasil as expectativas favoráveis para as próximas décadas, os investimentos estrangeiros e as avaliações positivas das agências de classificação de risco internacionais que abrem espaços salutares para o país na economia internacional, num período onde os países emergentes são os grandes responsáveis pelo crescimento e pelo fomento dos setores produtivos.

O combate à inflação impacta sobre o crescimento, a literatura econômica nos mostra de forma clara e incisiva, adotar políticas de controle de preços gera efeitos imediatos sobre o crescimento da economia, a geração de emprego e o incremento da renda agregada, acreditar que se pode conseguir o controle dos preços e o incremento da economia é uma grande e terrível ilusão, gera expectativas falsas e pode postergar ajustes violentos, cujos efeitos sobre a atividade econômica é sempre prejudicial.

A economia brasileira ainda se encontra aquecida, embora percebamos que nestes dois últimos meses o ritmo se desacelerou, este desaquecimento pode ser entendido como uma medida adotada pelo governo como forma de evitar que a inflação estourasse o topo da meta inflacionária (6,5%), juros mais altos e outras medidas conhecidas como macroprudenciais visavam desaquecer a economia e diminuir os desajustes inflacionários, cujos prejuízos à sociedade seriam devastadores, principalmente do ponto de vista político.

O aumento da inflação pode ser creditado a dois fatores interligados, externamente encontramos um aumento bastante substancial no preço dos alimentos e das commodities, em particular, como o Brasil é um grande exportador destes produtos a renda da economia cresceu e, com isso, impactou sobre o setor interno, o poder de compra dos trabalhadores aumentou gerando incremento no consumo, criando um hiato entre oferta e procura, estes fatores associados possibilitaram um pequeno descontrole inflacionário, que obrigou o governo a adotar medidas imediatas de contenção do crédito interno e redução da atividade econômica.

Destacamos ainda, que o país cresceu a uma taxa de 7,5% no ano passado, este crescimento acabou pressionando os preços e deixando claro inúmeros problemas e limitações da infra-estrutura nacional, estes desajustes não são novos, acompanham o país nas últimas décadas, gerando graves preocupações dos produtores e empresários nacionais e estrangeiros, mas ao mesmo tempo abrem espaço para novos investimentos produtivos, obrigando o governo a rever antigos preconceitos ideológicos e passarem a propor medidas como a privatização dos aeroportos e a aumentar a concessão de rodovias federais para a iniciativa privada, levando os governantes de plantão a assumir uma postura pragmática e deixando de lado medidas claramente estatizantes.

Outro indicador que gera graves preocupações para a economia brasileira é o câmbio, que nos últimos anos se valorizou de forma efetiva e assustadora, câmbio valorizado prejudica os setores exportadores, inviabilizando as exportações e estimulando os setores importadores, aumentando, com isso, a oferta interna de produtos importados, incrementando a renda agregada nacional, dinamizando o consumo e criando na população uma sensação de enriquecimento e bem-estar social, uma sensação nem sempre estrutural, na sua grande maioria um fenômeno puramente conjuntural, seus custos no longo prazo podem inviabilizar muitos setores econômicos, gerando desemprego e destruindo setores importantes da indústria nacional.

O câmbio valorizado estimula as viagens internacionais, com este câmbio percebemos que é muito mais fácil viajar para o exterior do que para as praias do Nordeste, a capital Argentina, Buenos Aires, recebe anualmente um contingente bastante grande de turistas brasileiros, contingente este que cresce de forma acelerada, mas ao custo de desajustes em setores importantes da economia nacional. O turismo internacional no Brasil cresce com o dólar barato, a classe média tradicional e a nova classe média enxergam neste momento a grande oportunidade de testar seu domínio sobre a língua inglesa, conhecer novas culturas e trazer para o mercado nacional produtos importados comprados a preços atrativos, ipads e i-phones a custos reduzidos popularizam os produtos da gigante dos eletroeletrônicos norte-americano Apple.

Nos últimos anos o Brasil ganhou espaço no cenário internacional, hoje o país angariou status mundial, nossas reservas em moedas fortes cresceram de forma vigorosa, alcançamos o tão sonhado grau de investimentos e somos destino dos maiores investimentos estrangeiros do mundo, são muitas as empresas, nas mais variadas áreas e setores, que estão se instalando aqui, trazendo novas tecnologias e gerando novas oportunidades de empregos, este novo status do país no mundo não combina mais com moeda desvalorizada, estamos em franco crescimento internacional e temos que adotar políticas variadas para reverter esta política cambial, que pode no médio prazo, gerar graves constrangimentos para a indústria nacional, para muitos economistas importantes, o risco de desindustrialização existe e é assustador.

Estrategicamente é importante para a sociedade brasileira desenvolver um parque industrial moderno e sofisticado, para isso políticas de planejamento são necessárias, todos os países que desenvolveram seu setor industrial contaram com o papel ativo do Estado Nacional, o Brasil não é exceção, apoiar a indústria e atuar no câmbio é uma necessidade do país, postergar esta atuação na política cambial pode aumentar os graves desajustes do setor exportador. A atuação estatal deve ser integrada, controlar os juros altos e equacionar os desajustes fiscais trariam resultados imediatos para o câmbio, desonerar os setores produtivos e investir maciçamente na educação contribuiria de forma imediata para garantir uma maior competitividade para o produto nacional.

Várias medidas foram adotadas pelo governo para reverter o câmbio valorizado, dentre elas podemos citar o aumento da tributação e as intervenções sucessivas no mercado pelo Banco Central, todas estas medidas tiveram um sucesso pouco efetivo, restando atuar na questão fiscal, que no meu ponto de vista é o grande imbróglio do país, mas nesta arena a discussão é mais complexa, os interesses organizados são muitos e a resistência tende a ser grande e organizada, mas é justamente nestes momentos de grandes desafios que diferenciamos os líderes e os rumos escolhidos pela sociedade, não mais se contentando com políticas que geram melhoras imediatas e passageiras.

O Brasil está num momento muito interessante, escolher o melhor caminho a seguir não é suficiente, além de escolher o caminho é importante que definamos o ritmo desta caminhada, chega de vôos curtos, sonhos limitados e sucessos relativos, o país merece mais, e para isso é fundamental acreditar que temos condições de crescer de forma sustentada e efetiva, melhorando os indicadores sociais e criando novos horizontes para todos os setores da sociedade, desta forma se constrói uma verdadeira comunidade.

Ufanismo cauteloso

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Nestes tempos de globalização, caracterizado pelas incertezas e a concorrência transnacional, a esperança e o ufanismo, muitas vezes, são atropelados pela preocupação constante e pela indignação, gerando novos medos e desejos variados, sendo a estabilidade um sonho muitas vezes inalcançável, mas um eterno desejo dos homens contemporâneos.

As vantagens da competição, tão decantada por filósofos e economistas liberais ou neoliberais, nos causam grande apreensão e preocupação, competir nos exige esforços cotidianos, que requer uma grande dedicação nas atividades profissionais, sob pena de vermos nossos empregos serem destruídos e nos condenando a uma vida de privações, retirando-nos deste maravilhoso mercado de consumo, marcados pelo prazer e pelo hedonismo, cuja senha de entrada está nos recursos financeiros que mantemos em bancos ou lastreadas por atividades profissionais de sucesso e destaque social, sem estes recursos o indivíduo estará condenado ao ostracismo social.

O mundo vive hoje um momento de apreensão, uma crise ronda a Europa, os resquícios do crash de 2008 ainda preocupam bancos centrais e a comunidade financeira, contaminando as esperanças da população, preocupada com os ajustes que prenunciam cenários intensos de horror, privações e desesperanças, tudo isso porque os custos monetários e fiscais dos ajustes sempre são pagos pelos contribuintes numa velha equação onde os lucros são privatizados e os prejuízos são, sempre, socializados, sinais evidentes de quem realmente detêm o poder na comunidade mundial.

Empresas investem e desinvestem com uma rapidez e uma flexibilidade impressionantes, entram e saem dos países da noite para o dia, gerando novos empregos ou impulsionando incremento no desemprego, uma situação inusitada jamais vista anteriormente na sociedade internacional, fruto dos avanços na informática e na tecnologia que diminuem as distâncias e aumentam a concorrência entre os indivíduos, agora a competição não é mais local, muito menos nacional, mas sim internacional ou global, como muitos preferem.

Alguns autores vêem este momento da economia internacional como saudável e positivo, afinal a concorrência gera grandes benefícios para os consumidores, que podem adquirir produtos diversificados e a preços reduzidos, além dos preços, que estão em queda, esquecem, muitas vezes, que este indivíduo não é apenas um consumidor, vivemos em uma sociedade capitalista onde para consumirmos é fundamental possuir renda e esta, para o indivíduo comum, só é possível através do emprego e do trabalho físico, justamente estes se encontram em um período de grandes transformações estruturais e os novos empregos exigem uma ampla qualificação, muitas vezes algo inalcançável para o trabalhador comum, é por isso que o desemprego aumenta e muitos vêem o processo atual de globalização como algo negativo e desfavorável ao trabalhador.

No caso do Brasil vivemos um período bastante interessante, nos anos 90 o país passou por grandes ajustes macroeconômicos, a economia se abriu para o mundo, algumas empresas estatais foram privatizadas, atraímos investimentos internacionais e estabilizamos a economia, reduzindo a inflação a padrões normais aceitos pela comunidade internacional, estas transformações foram fundamentais para que nos anos recentes conseguíssemos uma melhoria nos indicadores sociais e na implantação de políticas públicas que culminaram na redução da miséria, melhoria no emprego e na ampliação das oportunidades sociais.

O crescimento da economia brasileira abriu oportunidades e novas perspectivas para a sociedade, novos investimentos nacionais e estrangeiros previstos anteriormente estão se efetivando, gerando novos empregos nas mais variadas áreas, desde setores de alta tecnologia que buscam profissionais altamente qualificados até setores intensivos em mão-de-obra que buscam trabalhadores com menor qualificação teórica e boa bagagem prática, como a construção civil, um setor com grandes perspectivas de expansão no país.

O Brasil vive um grande paradoxo, ou melhor, mais um paradoxo, somos a oitava economia do mundo, estamos em franco crescimento econômico e com grandes melhorias sociais, somos ainda o palco da próxima Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016), que requer bilhões de reais de investimentos e mesmo assim, encontramos nos rincões deste país mais de 40% da população sem esgoto tratado e, sem este, morrendo de doenças primitivas erradicadas no mundo desenvolvido e nas regiões mais adiantadas do próprio país.

Nenhum país que se desenvolveu nos últimos 100 anos conseguiu fazê-lo sem maciços investimentos em educação e na qualificação de sua mão de obra, a educação é o grande gargalo da sociedade brasileira, sem investimentos sérios nesta área não vamos alçar novos vôos na economia mundial, a hora mais propícia para estes investimentos é agora, a globalização faz com que os países se movimentem com uma agilidade intensa, todos devem se preparar para a competição que é algo inexorável, violento e agressivo, afetando todos os cidadãos em todas as regiões do mundo.

Investimentos maciços em educação são fundamentais, é um pré-requisito para o desenvolvimento econômico e sustentado no longo prazo, deixando de lado o chamado vôo de galinha e consolidando um verdadeiro desenvolvimento econômico, com inclusão social e melhorias constantes nos padrões de vida e consumo, deixando de lado o fútil e o supérfluo e se concentrando em coisas mais importantes e necessárias para uma vida saudável.

A sociedade mundial, envolta em grande competição, exige investimentos na qualificação da mão de obra, nenhum país conseguiu se desenvolver e ganhar novos espaços na economia internacional com uma população que apresenta níveis médios de educação de cinco anos, o Brasil para se tornar efetivamente uma realidade na economia mundial precisa melhorar a qualidade de seu capital humano, transformar sonhos em realidade só se efetiva quando a educação abre espaço para a ascensão social de sua população, quando proporciona oportunidades e melhorias para seus cidadãos, capacitando-os para a vida, não apenas para o mercado e para o imediato.

Um dilema que nos consome, ou melhor, que deveria nos consumir: um país como o nosso, caracterizado por tamanha deficiência em sua infra-estrutura, marcado por grande desigualdade social deveria gastar bilhões para abrigar, durante trinta dias, o maior espetáculo de futebol do mundo? Embora satisfeito com o progresso brasileiro dos últimos 15 anos ainda não estou convencido dos benefícios deste investimento que não se restringirá a recursos da iniciativa privada, conhecendo este país e a elite política que o governa, não estou me referindo ao governo atual, com certeza, muitas fortunas serão construídas com recursos públicos, muitos desconhecidos entrarão para a cena política depois do espetáculo do futebol.

Cabe à sociedade brasileira fazer escolhas imediatas, severas, muitas vezes amargas e bastante duras, este momento de oportunidades crescentes não vai durar muitos anos, vender o país na sociedade mundial exige decisões estratégicas de líderes comprometidos com a sociedade e com o futuro, a época de propagandas enganosas chegou ao fim, precisamos de políticas e decisões concatenadas para que as expectativas de progresso se efetivem e se tornem verdadeiras.

Governo Lula: algumas considerações importantes IV

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A primeira década do século XXI foi marcada por muitas surpresas interessantes na sociedade brasileira, dentre elas, destacamos a ascensão do Partido dos trabalhadores (PT) à Presidência da República, depois de inúmeras tentativas frustradas finalmente um governo dito, democrático e popular, assume o comanda da sociedade brasileira e mais, um retirante, sem instrução formal, é eleito em voto direto para o cargo mais importante do país.

O governo Lula se caracteriza por mudanças e movimentos bastante interessantes para o país, mas é importante destacar que no período de oito anos, encontramos dois governos diferentes, um mais conservador e ortodoxo, marcado por uma política econômica restritiva e outro mais desenvolvimentista, caracterizado por uma política econômica mais expansionista, com gastos públicos crescentes e investimentos estatais como catalisadores do incremento econômico.

No período 2007/2010, a marca do governo foi uma política fiscal mais frouxa, onde os gastos públicos cresceram como forma de estimular a economia e a melhora dos indicadores sociais, inicialmente uma forma de melhorar as condições políticas fragilizadas pelo escândalo do mensalão, que gerou graves constrangimentos para o governo nos dois anos anteriores e, principalmente, no período da eleição presidencial.

O ano de 2008 é marcado pela crise internacional, que deflagrada nos Estados Unidos contamina várias regiões do mundo, o mercado imobiliário, centro irradiador da crise, entra em colapso, levando as finanças mundiais a uma crise de dimensões assustadoras, gerando perdas financeiras imensas, quedas nas bolsas, desemprego crescente e redução da renda agregada, diante do colapso, a instabilidade aumenta, os capitais fogem dos países periféricos, gerando uma desvalorização cambial e um incremento nas dívidas e compromissos financeiros, obrigando-os a ajustes recessivos e cortes de gastos e investimentos públicos.

Neste clima de insegurança e incertezas, o Brasil sente de forma indireta esta crise, somos um dos últimos países a entrar na crise e vamos nos caracterizar por sermos um dos primeiros a sair desta instabilidade, mas para isso, as atitudes do governo foram bastante importantes, é justamente neste momento que o presidente Lula se mostrou por completo, assumiu riscos, fez apostas arriscadas e apostou na recuperação da economia, mas para isso direcionou todos os instrumentos disponíveis de política econômica para impedir que a economia brasileira sentisse a crise e entrasse, como várias outras, em recessão ou em processo de estagnação.

Com a redução do crédito, medida adotada pelas instituições privadas, o governo estimula a população às compras, deixando claro para todos os cidadãos que se cada indivíduo deixar de comprar, a economia vai deixar de produzir, os investimentos serão reduzidos, os empregos e a renda estarão ameaçados, gerando recessão, incertezas e distúrbios sócio-econômicos. Para viabilizar o consumo desta população, o governo canaliza todas as suas instituições financeiras (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES) para suprir a contração dos recursos privados, que amedrontados pela crise adotam uma política agressiva e prejudicial aos interesses nacionais.

O Banco do Brasil aumentou seus empréstimos para impedir que a economia entrasse em recessão, recursos são disponibilizados para impedir a contração das atividades produtivas, as carteiras de crédito de banco menores são adquiridas como forma de evitar a redução da oferta de recursos, neste momento, destacamos a compra pelo Banco do Brasil de quase 50% do Banco Votorantim, uma instituição pertencente a um grupo tradicional do país, mas que acumulou grande prejuízo no setor industrial, optando pela venda parcial de sua financeira.

A Caixa Econômica Federal atuou diretamente neste período, seus recursos foram direcionados para dinamizar a construção civil, estimulando com isso, que programas de forte apelo social, como o Minha Casa Minha Vida, criados pelo governo federal não naufragássem, já que se isso acontecessem inúmeros setores seriam afetados e a recuperação da economia se alastraria por muitos e muitos meses, com graves constrangimentos sociais e políticos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou seus empréstimos, obrigando o governo a uma mega capitalização da instituição, aumentando com isso, a dívida pública, mas estimulando as empresas e os setores produtivos a manterem seus investimentos, gerando um crescimento econômico e impedindo que as empresas parassem sua expansão nacional e internacionalmente.

Todas estas políticas foram adotadas concomitantemente, mas é importante destacar ainda a desoneração tributária, solicitação antigas da sociedade, o governo implementou uma redução das alíquotas do imposto sobre produtos industrializados (IPI), esta medida aumentou as compras de veículos novos, dinamizando as montadoras e todos os setores atrelados, gerando um movimento de bilhões de reais e evitando um colapso generalizado na estrutura produtiva.

Gostaria de ressaltar ainda, que no momento mais incerto da crise, alguns bancos nacionais e estrangeiros adotaram uma política lamentável e oportunista, instituições espanholas, inglesas e até nacionais, no auge das turbulências reduziram o crédito interno, compraram dólares e os retiraram do país, gerando uma desvalorização cambial e impactando sobre o setor externo da economia, mas o pior é que se mostraram efetivamente para a sociedade nacional, no discurso apóiam o país, mas na hora da crise apostaram contra o país, algo deplorável que não se deve esquecer, mas se tomar como exemplo e direcionar políticas e estratégias futuras para o bem de todos.

Os efeitos colaterais são nítidos, o Estado depois desta gastança generalizada viu sua dívida pública crescer de forma acelerada, pressionando o Tesouro Nacional e gerando sinais evidentes de instabilidade e incerteza, obrigando o governo a diminuir os incentivos, reduzindo as atividades econômicas e aumentando as taxas de juros sob pena de ver os indicadores inflacionários em descontrole e em crescimento.

As políticas adotadas no governo Lula foram muito exitosas, a economia encontrou seu equilíbrio rapidamente, o planejamento e a atuação direta do Estado foram cruciais para impedir que a economia mergulhasse em um ambiente recessivo como muitos países mergulharam e, muitos deles não conseguiram sair e se recuperar, condenando a população a um cenário de instabilidade, medos e degradação sócio-econômica, com graves custos materiais, emocionais e produtivos, pela primeira vez o país não seguiu este caminho, anteriormente a população tinha sido onerada pela crise, mas nesta fomos agraciados com políticas efetivas, pragmáticas e estratégicas, cujos resultados diferiram de momentos anteriores, um sinal claro de maturidade e crescimento da população.

Governo Lula: algumas considerações importantes III

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Durante duas décadas o Brasil sentiu na pele a ascensão de um partido de esquerda, com ideias progressistas e transformadoras, que propunha uma revolução na educação, com grandes investimentos e um projeto pedagógico moderno e transformador, na saúde a adoção de uma estratégia inclusiva e abrangente, e no campo social a construção de um Estado caracterizado efetivamente como de bem-estar para a população, um movimento crítico que unia personalidades respeitadas, este partido chegou ao poder e passou por grandes mudanças, entrando na berlinda e sendo objeto de discussões e reflexões de intelectuais nacionais e estrangeiros.

A ascensão deste partido político se deu de forma lenta mais consistente, seu charme intelectual e suas ideias inovadoras traziam alento ao país e a expectativa de que teríamos momentos melhores e, quem sabe, como no ufanismo dos anos 70, seríamos o país do futuro, o gigante dos trópicos e a nação empreendedora responsável pelo progresso e pela inclusão social, quem sabe o país que conseguiria equilibrar a equação crescimento econômico, melhorias sociais e respeito ao meio ambiente, uma situação complexa mais possível.

Ideias novas, empreendedoras, pensamentos democráticos e participativos, uma gestão caracterizada pela efetiva atuação dos cidadãos, que não mais se restringiria a simples consumidores, indivíduos dotados apenas de poder de compra, mas cidadãos com seus direitos e deveres, conscientes das necessidades da sociedade e dispostos a darem sua contribuição visando o bem-estar da coletividade. Estas visões embalaram o nascimento, o crescimento e a consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT), e se transformaram em referência para todos os brasileiros que vêem o país como uma nação diferenciada, cujo potencial se percebe em todos os rincões do mundo, mas esta esperança que, pensávamos, venceu o medo nas eleições de 2002, infelizmente sucumbiu ao conservadorismo e se entregou abertamente aos modelos anteriores, aos vícios mais rasteiros da política brasileira, o paternalismo, o clientelismo, o fisiologismo e a corrupção, males antigos e nefastos que não cedem espaço para a modernidade e para a meritocracia.

As críticas tradicionais dos anos 80 e 90 eram maiúsculas, o diagnóstico preciso e consistente, os problemas brasileiros eram muito mais políticos do que econômico, os equívocos na lógica econômica existiam, mas seriam superados por um governo moderno e inovador que trouxesse as classes menos favorecidas para a discussão política, com melhorias na equação econômica e social, garantidas não por um Estado mínimo como o proposto pelas elites governantes da época, mas por um Estado interventor, não mais nos moldes socialista e centralizador, mas num modelo próximo do Estado de Bem-Estar Social centrado nas posições européias, mais participativo e democrático.

Todo este período nos levou a sonhar, sonho que se esvaiu em lágrimas com a Carta ao Povo Brasileiro, um documento escrito pela Executiva do partido em plena eleição presidencial de 2002, onde este, em nome da tão decantada governabilidade, abre mão de princípios defendidos durante muitos anos e se transforma em um partido da ordem, deixando enfurecidos muitos intelectuais e militantes, históricos defensores de suas ideias, além de organizações não governamentais e movimentos sociais, tais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um movimento nascido nos anos 80 e muito vinculado à seus ideários.

O primeiro governo do Partido dos Trabalhadores (PT) foi marcado por uma política tradicional, herdada de seu antecessor, baseada em um tripé de política econômica, câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação, que garante uma melhora dos indicadores econômicos, e abre novos espaços de planejamento e gestão, soma-se a isto um esforço de atração de apoio no Legislativo, esforço este nem sempre muito ético e moral, contrastante com suas proposições quando oposição.

A grande transformação do partido, muitas vezes deixadas de lado pelos analistas sociais, de um partido que no seu estatuto se caracterizava como socialista, mas que sempre apresentou um comportamento alinhado com a social democracia, mesmo não aceitando formalmente esta definição, para um partido neoliberal, ou melhor, um partido timidamente neoliberal, um movimento híbrido, que internamente adota políticas associadas ao mercado e flertando com o pensamento liberal, se caracterizando como um partido não mais da esquerda tradicional, mas um partido de centro, mesmo sabendo que todas estas definições correm o risco de caírem no vazio, pois estes termos muitos vezes perderam o sentido.

O Partido dos Trabalhadores caiu no canto da sereia ao aderir ao pensamento neoliberal, sua política conservadora foi muito bem aceita pelos integrantes da ordem, os empresários, banqueiros e os setores que vivem de renda estão muito satisfeitos com a condução da economia, seus lucros com a dívida pública crescem de forma exponencial, alegrando setores fortes da sociedade, mas estes, mesmo assim, desconfiam dos pensamentos esquerdistas do partido, sabem de seus arroubos dos anos de oposição e temem uma recaída.

A oposição se degrada todos os dias, a lógica maquiavélica do governo, especialista em publicidade e propaganda, incutiu na mente da população que todos os avanços recentes do país foram obras do governo Lula, este sim o grande responsável pela melhora das condições de vida da população, não concedendo méritos aos outros governos, explora bem a pouca consciência política do povo e usa argumentos falaciosos para manter seu controle e hegemonia política, enquanto isso, a oposição perplexa e incompetente se desintegra, luta por espaço na sociedade, mas deixa de defender suas obras e seus pensamentos, vivemos um período interessante, onde um partido se apropria de ideias de outro, que no período de oposição abominou de forma veemente, governa e obtém um sucesso considerável, gerando uma situação inusitada e rica em estudo e reflexão, um digno exemplo das teorias e do pensamento do florentino Nicolau Maquiavel.

Na oposição, o Partido dos trabalhadores (PT) se caracterizou pela crítica constante, tudo era motivo de crítica e alarde, crítica ao Plano Real, critica à privatização, crítica ao PROER, crítica à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), críticas e mais crítica, chegando ao paroxismo de entrar com um processo no Supremo Tribunal Federal contra o Plano Real, este o grande responsável pelo início das transformações da sociedade brasileira, ou se esquecem dos males que a inflação faz a uma economia, foi esta estabilidade que propiciou o surgimento de novas oportunidades para o país e boas perspectivas para a população brasileira.

Nos últimos 15 anos, o Brasil se transformou muito, estas mudanças não devem ser creditadas a nenhum governo em particular, cada um dos governantes que se alternaram neste período foram responsáveis por avanços consideráveis, primeiro a estabilidade da economia e a melhora no cenário macroeconômico, depois os investimentos maciços no social, transformando este em um compromisso efetivo do governo para com a sociedade e, agora temos como grande desafio consolidar todos estes avanços e dar condições para que a população consiga se capacitar e preparar para um mundo cada vez mais concorrência e competitivo, e este compromisso só se efetiva com fortes e intensos investimentos em educação e qualificação do capital humano, deixando para trás um país de sonhos e transformando o Brasil em uma realidade para a sociedade mundial.

Governo Lula: algumas considerações importantes II

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A sociedade brasileira passou por grandes transformações nos últimos oito anos, num período onde o país foi governado por um presidente popular, dotado de grande carisma e que trouxe consideráveis avanços para o país, principalmente na área social, melhorando a auto-estima da população e elevando o status do país no mundo, abrindo espaço para novos investimentos e oportunidades.

O período Lula, 2003/2010, pode ser descrito de duas formas diferentes, num primeiro governo encontramos uma política econômica bastante ortodoxa, muitas vezes mais liberal que a adotada pelo governo anterior, com políticas fiscais restritivas e uma política monetária bastante austera, gerando um sentimento ambíguo nos agentes econômicos e sociais, recebendo elogios dos investidores nacionais e internacionais, e críticas severas de seus companheiros de partido e de parte considerável de intelectuais e militantes, gerando um êxodo grande de militantes do Partido dos Trabalhadores (PT).

Os formuladores da política econômica defendiam as medidas como forma de recuperar a credibilidade do país, destruído pelo governo anterior que havia legado uma herança maldita, caracterizada pelo descontrole inflacionário, taxas de juros altos e câmbio desvalorizado, com graves desajustes para a sociedade brasileira, dentre eles o desemprego crescente, o endividamento e a perda de confiança dos agentes internacionais.

A situação era realmente bastante angustiante, os indicadores macroeconômicos eram negativos, reverter esta situação e ampliar os horizontes e as oportunidades da economia era o objetivo principal do Estado, as medidas deveriam estancar a fuga de capitais estrangeiros que estavam gerando graves problemas para o setor importador, que com custos elevados e preços em ascensão pressionavam a inflação e ameaçavam as metas adotadas pelo governo, a solução imediata exigia esforços na arena econômica e uma política conservadora que traria constrangimentos nas áreas sociais, principalmente emprego e renda.

O primeiro governo Lula foi bastante interessante, um governo de esquerda adotando uma política econômica claramente definida como conservadora, gerando mais desajustes sociais em uma sociedade onde estes desajustes eram responsáveis por graves problemas estruturais, dentre estes desajustes destacamos uma das piores concentrações de renda do mundo. Neste momento encontramos um governo e um partido político em busca de identidade, e mais, uma coalizão política formada por vários grupos sociais também buscando sua identidade, esquerda ou direita? Eis a questão.

Nestes embates políticos percebemos situações confusas e interessantes, o governo tentando implementar políticas desenvolvimentistas e, ao mesmo tempo, se utilizando de instrumentos liberais, o que denota os conflitos internos do governo, é neste confronto que surgem bons programas e políticas públicas, tais como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Universidade para todos (Prouni), o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, etc…, destacamos ainda os aumentos do salário mínimo, sendo concedidos acima da inflação, política que satisfazia os interesses dos trabalhadores mas, ao mesmo tempo, os ganhos para o capital não eram reduzidos, chegando a números exorbitantes, principalmente os vinculados aos títulos públicos atrelados as altas taxas de juros.
Nestes oito anos de governo Lula os gastos sociais aumentaram bastante e auxiliaram na recuperação da economia, garantindo a uma parcela da população condições mais dignas de alimentação, transporte e lazer, os indicadores sócio-econômico nos mostram que neste período mais de 20 milhões de pessoas deixaram a pobreza e outros 31 milhões ascendem às classes A, B e C, melhorando de forma considerável o perfil social do brasileiro, aumentando a visibilidade na sociedade mundial e transformando o país em um dos principais destinos de turistas e investidores, que vêem o país como uma das maiores apostas do século XXI, ao lado de países emergentes como China, Índia, Rússia, México África do Sul, entre outros.

O momento de mudança de paradigma no governo Lula foi, sem sombra de dúvidas, o período do mensalão, este foi o grande divisor de águas deste governo, um momento muito conturbado, denúncias que comprometiam o governo, envolvendo autoridades e geravam crescentes desconfianças na sociedade, a corrupção era um dos assuntos mais discutidos, neste momento percebemos a queda do último bastião da honestidade, o Partido dos Trabalhadores, tão atuante contra a corrupção e o desperdício dos recursos públicos, sempre se posicionando como um símbolo de honestidade e seriedade no trato com a coisa pública se apresenta de uma forma diferente, será que agora todos são iguais?

Depois desta crise política o governo passa por várias mudanças, a política fiscal conservadora deu espaço para uma política mais agressiva, os gastos públicos foram retomados, os investimentos em grandes obras dinamizados, o emprego aumentou gerando, com isso, um incremento na renda agregada criando um clima saudável de crescimento econômico, atraindo investidores e melhorando nossa classificação pelas agências de ratings, o que aumento a entrada de moedas estrangeiras no país, gerando um clima de euforia, mas ao mesmo tempo, valorizando a moeda nacional, uma situação positiva que provoca constrangimentos para o setor exportador, levando-nos a refletir sobre os equívocos deste modelo. O sucesso econômico, a atração de moedas estrangeiras e a melhoria no perfil das contas públicas são mudanças salutares para a economia, gerando cenários e perspectivas bastante interessantes, abrindo-nos novas oportunidades na economia internacional, mas exigindo do país uma maior seriedade em questões estruturais, tais como a baixa qualidade da mão de obra, a excessiva carga tributária e as fragilidades da infra-estrutura.

Entre 2001 e 2010, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a renda dos mais pobres cresceu 311% na comparação com os mais ricos, um resultado bastante positivo, que deve ser comemorado por todos, não apenas pelo governo federal, este resultado é uma conquista da sociedade brasileira, que primeiramente conseguiu controlar o descontrole inflacionário, recuperando a credibilidade na moeda, e depois, mostrou ao mundo que é possível crescer e distribuir a renda, melhorar as condições sociais e criar um ambiente mais saudável, com oportunidades iguais para todos, um sonho, mas que já podemos sonhar com os olhos abertos.

Governo Lula: algumas considerações importantes I

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O Brasil nos últimos quinze anos passou por grandes transformações em sua estrutura econômica e social, a estabilidade da economia auxiliou na melhoria das condições sociais, garantindo aumento na renda, no emprego e na inclusão social, levando o país a uma condição de destaque no cenário internacional, na condição de emergente ao lado de estrelas como a China, a Índia e a Rússia, países que ficaram conhecidos como BRICs.
Depois da estagnação dos anos 80 e das grandes reformas econômicas dos anos 90, o Brasil se encontra num dos melhores períodos de sua história recente, as perspectivas são positivas, a ascensão da nova classe média e o aumento do mercado consumidor brasileiro estimulou novos investimentos produtivos, que melhoraram as perspectivas de emprego e renda, revertendo tendências anteriores de estagnação e incremento na exclusão social e colocaram o país na rota dos grandes investidores internacionais, tanto de empresas transnacionais quanto fundos de investimentos, bancos, corretores e seguradoras.
Todos estes avanços foram iniciados depois da estabilização da economia e consolidados com o governo Lula, não dá para atribuir tais avanços a um único governo ou a um único presidente, mas sim a um conjunto de fatores e variáveis que vem sendo introduzidos gradativamente e foram fundamentais para melhorar as condições do país e elevar sua credibilidade patamares jamais vistos anteriormente.
O governo atual está chegando ao fim, fazer um balanço destes oito anos é sempre interessante, neste período a economia cresceu de forma acentuada, principalmente no período 2006/2010, melhorando os indicadores sociais e tirando milhões de pessoas da miséria e abrindo novas perspectivas para uma parcela substancial da população. Analisando em perspectiva o governo Lula encontramos muitas idéias antagônicas, uns descrevendo-o como um período de crescimento amparado nos avanços do governo anterior e outros designando-o como um dos mais fantásticos períodos da história econômica recente, fruto de decisões estratégicas e visionárias do presidente Lula, de sua liderança e visão diferenciada, diante deste impasse, qual das visões é a mais correta para se entender o período 2003/2010?
No campo social encontramos grandes avanços, principalmente gerados pelos programas sociais, onde destacamos o Bolsa Família, responsável pelo atendimento de mais de 11 milhões de famílias, este programa é visto como a menina dos olhos do governo, um programa que injeta na economia mais de 15 bilhões de reais e impacta diretamente sobre a população mais pobre, tirando da miséria muitos indivíduos e estimulando regiões antes relegadas ao esquecimento. Outra política que impactou muito positivamente neste período foi o incremento no salário mínimo e os ganhos reais concedidos pelo governo, que eliminaram perdas anteriores e garantiram aumentos reais na renda da população, impulsionando o crescimento do consumo e estimulando o investimento produtivo, gerador de novos empregos e aumento na demanda agregada.
Todos estes fatores foram importantes na gestão petista, mas o que mais impulsionou o desempenho positivo foi, sem sombra de dúvidas o crescimento econômico, geradas por um mix de políticas, dentre elas destacamos uma política fiscal expansionista, estimulada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e pelo incremento dos recursos canalizados na economia pelos bancos públicos, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF).
A política econômica do primeiro governo Lula se caracterizou pelo um excesso de ortodoxia, juros altos, aumento nos impostos, corte nos gastos públicos e acentuado conservadorismo, que segundo o governo se justificava pela chamada herança maldita deixada pelo governo anterior, mas muitas vezes extremada e geradora de grande discórdia dentro do governo, do partido e da sociedade.
A política econômica foi alterada no segundo mandato, para muitos o motivo foi o escândalo do mensalão, que quase impediu a vitória do presidente Lula, neste momento o governo aumentou de forma acelerada os gastos fiscais, o salário mínimo recebeu estímulos importantes, novos projetos surgiram e atingiram fortemente seu alvo, dentre eles destacamos o PAC e o Minha Casa Minha Vida, cujo impacto na sociedade foram muito interessante, alavancando novos investimentos e estimulando a geração de empregos no sistema produtivo.
O programa Minha Casa Minha Vida apresentou um crescimento imediato, neste projeto o governo federal passa a conceder um subsídio para todas as famílias com renda até cinco salários mínimos, gerando de imediato um desejo imenso, por parte da população, de adquirir a casa própria, um sonho acalentado por grande parte das famílias brasileiras, cujo déficit habitacional é bastante considerável, algo próximo de 5 milhões de residências. O programa estimulou a construção civil, aumentando investimentos produtivos, estimulando a contratação de novos trabalhadores, principalmente aqueles com baixa qualificação e incentivando um mercado que estava adormecido desde os anos 80, quando o setor recebeu seus últimos incentivos governamentais.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciado em 2006, pode ser descrito como uma grande tentativa do governo federal de estimular novos e grandiosos investimentos em infra-estrutura, muitos destes fundamentais para a consolidação do crescimento econômico, dentre eles podemos citar projetos de geração de energia, novas estradas, portos, aeroportos, etc… todos estes estratégicos para a manutenção do crescimento da economia e diminuição dos gargalos que elevam o custo Brasil e diminuem a competitividade da economia brasileira.
O PAC pode ser descrito como uma tentativa exitosa de retorno do planejamento estatal na economia, seu saldo é positivo, seus investimentos nem sempre adiantados, na grande maioria atrasados pela grande burocracia do Estado devem ser visto de forma positiva, pois impactam na economia gerando aumento da demanda agregada, mas devemos destacar ainda, de forma negativa, que este programa acelerou os gastos com propaganda e publicidade, colocando em dúvida os verdadeiros objetivos deste programa de mais de R$ 500 bilhões.
O governo Lula se beneficiou de um ambiente bastante positivo da economia internacional, onde os preços das commodities aumentaram mais de 70%, beneficiando países como o Brasil e os demais emergentes, que viram suas receitas oriundas das exportações crescerem de forma acelerada, aumentando a renda nacional, gerando novos empregos e atraindo divisas para o fortalecimento das reservas em moedas fortes e afastando de vez os problemas de balanço de pagamentos, tão comuns nos anos 90 e que “obrigavam” o país a contrair empréstimos de organismos internacionais. Devemos destacar ainda o papel desempenhado pela China, que a partir de 2003 inicia um processo longo de absorção de produtos brasileiros, levando o país a se tornar nosso maior parceiro comercial, superando países como os Estados Unidos, Argentina e a União Européia, historicamente nossos maiores parceiros no comércio internacional.
O governo Lula pode ser descrito como um período de grande crescimento econômico e melhoria nos indicadores sociais, seus méritos são inquestionáveis e devem ser valorizados, mas não se deve deixar de conceder ao governo FHC méritos importantes, afinal foi neste período que muitas mudanças foram introduzidas na administração pública e tiveram êxito significativo, dentre elas destacamos a estabilização da economia gerada pela introdução do Plano Real, que deve ser visto como a condição central para que todos os avanços na gestão petista fossem tivessem ocorrido. A sociedade brasileira, nos últimos 16 anos, passou por grandes transformações estruturais, o mérito é de todo o povo brasileiro que soube escolher dois grandes governantes, que apesar do antagonismo constante são, na verdade, complementares.

Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e….

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O mundo financeiro está em um momento de grande ansiedade e expectativa, a crise de 2008 que gerou inúmeros transtornos na sociedade internacional, parece estar de volta, ou melhor, dá sinais de que nunca foi embora, assustando os países e mostrando as fragilidades de várias economias que antes se mostravam fortes e inabaláveis.
O centro da crise foi os Estados Unidos, depois de décadas de prosperidade e crescimento, a economia apresenta sinais claros de desequilíbrio e incerteza, o boom imobiliário dos anos 90 se mostrou insustentável em um país que não consegue gerar poupança interna e se sustenta em um consumismo excessivo e imediatista, que provoca uma sensação de prazer imediato e endividamento crescente, cujos custos virão com o tempo.
Os anos 80 mostraram para o mundo a ascensão chinesa, o surgimento de um país com um grande potencial, uma sede imensa de consumo e uma alta demanda reprimida, agora, para satisfazer estas necessidades eram necessárias atitudes pragmáticas, exportar é uma grande necessidade, aproveitar o potencial da mão de obra formada por 1,4 bilhão de pessoas e adotar políticas específicas para fomentar a economia fizeram a diferença para o país e para o mundo.
O crescimento chinês alterou a lógica da economia internacional, países desenvolvidos perderam muitas de suas empresas para a China, empresas transnacionais com faturamentos astronômicos perceberam que a única forma de competir neste ambiente globalizado era abrindo novas filiais no gigante asiático, ganhando escala e conseguindo competir, mas deixando em seus países de origem uma grande devastação social, desemprego, exclusão social e o incremento do xenofobismo, com conflitos e violências crescentes, este fato contribuiu para o enfraquecimento da classe média norte-americana, diminuindo sua renda e fragilizando-a financeiramente, deixando claro sérios desajustes estruturais que facilitaram a crise atual e a grande dificuldade de superação, mesmo depois da injeção de trilhões de dólares na economia.
O crash financeiro internacional foi uma crise dos países desenvolvidos que afetou todas as regiões do mundo, isto porque estas economias, de renda elevada, comercializam com todas as regiões do globo, compram, vendem e financiam investimentos e consumo que geram renda e crescimento econômico, fundamentais para melhorar as condições de todos os indivíduos.
Os Estados Unidos e a Europa foram os países mais afetados pela crise internacional, a economia norte-americana apesar das dificuldades de recuperação é ainda a maior do mundo, detém a principal moeda do comércio e finanças internacionais, e possui grande potencial em muitos setores, principalmente no setor de serviços, que cresce de forma evidente e altera estruturalmente a lógica econômica, agora a Europa apresenta graves desequilíbrios, a União Européia enfrenta o seu maior desafio, primeiro a Grécia, agora Irlanda e quem sabe, posteriormente, Portugal e Espanha. Se este último, pela sua dimensão e importância entrar em crise, pode causar graves desequilíbrios ao bloco, a ponto de provocar rupturas insuperáveis, podendo até levar à ruína um projeto de mais de cinqüenta anos, pioneiro e moderno, mas muito arriscado e ambicioso.
A Grécia foi a primeira vítima desta crise, endividada e exposta ao crescimento fácil, baseado em recursos especulativos, teve que recorrer aos endinheirados do bloco chefiados pela Alemanha, seu socorro custou mais de 120 bilhões de euros, recursos disponibilizados à custa de uma política de ajuste violenta, o arrocho passou a ser o termo utilizado na Grécia, salários foram reduzidos, impostos aumentados, os gastos públicos foram reduzidos, o desemprego aumentou, etc. Estas medidas proporcionaram quedas consideráveis na entrada de moedas fortes, gerando desvalorização cambial e melhoria nas contas nacionais, aumentando as exportações e, com o tempo melhorando a situação externa da economia, com incremento nas reservas internacionais e garantindo o pagamento dos empréstimos obtidos, mas a custa de uma grande degradação das condições sociais, tudo supervisionado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Mundial (Bird), pelo Banco Central Europeu (BCE) e por outros organismos internacionais, reduzindo cada vez mais a pouca, quase inexistente, soberania grega.
O fantasma do ajuste grego paira sobre a economia irlandesa, depois de duas décadas de crescimento ininterrupto, onde a Irlanda sai de uma posição periférica e passa a ocupar um lugar de destaque na Europa, neste período de prosperidade o país para atrair empresas e investimentos produtivos reduziu enormemente os tributos, absorvendo empresas em várias áreas, aumentando a geração de emprego, consolidando uma nova classe média e estimulando consumo. O consumo era financiado via endividamento externo, e isto só era possível graças à alta liquidez internacional, tão logo esta se mostrou frágil o país apresentou sinais de insolvência, tendo grandes dificuldades para captar recursos no mercado internacional, obrigando as autoridades européias a um socorro estratégico, antes que afetassem os outros países do bloco, gerando uma crise generalizada.
A Alemanha é a grande economia européia, sua antiga moeda, o Marco, é a base monetária da União Européia (UE), o Euro surgiu lastreado no Marco, isto porque o país é considerado o mais austero em termos fiscais e financeiros da região, socorrer estes países que se esbaldaram no período de alta liquidez internacional evitou que a crise de disseminasse para outros países, mas o custo político foi muito grande, gerando insatisfação no país e desgaste perante a sociedade, levando muitos cidadãos alemães a se indagarem: como pode nosso país tão austero e responsável fiscal e financeiramente, com um histórico de cumprimento de seus deveres econômicos, ter que desembolsar recursos para socorrer países imprudentes, gastadores e desequilibrados? O mal-estar foi geral e a União Européia passa por dias de turbulência e descrédito, algo pouco visto na região símbolo do progresso e das conquistas do mundo civilizado, racional e moderno, berço das grandes conquistas da Era Industrial, da Ciência e das Artes.
Socorrer a Grécia, Irlanda e até Portugal pode ter um custo fiscal muito alto, podendo até comprometer o bloco europeu, agora o socorro aos espanhóis pode exigir muitos recursos, os desembolsos podem comprometer a situação fiscal do bloco, inviabilizando toda a União Européia e levando muitos países a abandonar o bloco e desvalorizar suas moedas como forma de reativar suas economias, e enterrando de vez um projeto ambicioso de integração que muitos vêem com incerteza, incredulidade e desconfiança.
Pela primeira vez na história do capitalismo os países hegemônicos, ricos e poderosos estão na berlinda negativamente, a crise impactou diretamente nestes países, colocando-os na defensiva e obrigando-os a solicitar ajuda externa para se reequilibrar, o apoio e o estímulo dos países emergentes é fundamental. Os BRICs, Brasil, China, Rússia, Índia, entre outros, ganharam importância na nova geografia mundial, exigindo de cada um destes países políticas integradas, planejamento e integração para assumirem, cada vez mais, o posto de país hegemônico, alguns como a China e a Índia já se mostraram capacitados para desenvolver políticas consistentes visando uma melhoria das condições sociais; agora, países como o Brasil necessitam de uma coordenação sólida e coerente para solucionar os velhos e os novos entraves ao desenvolvimento, sem isso vamos continuar nos colocando sempre como uma aposta, estamos sempre na lista dos países que prometem se tornar potência no futuro próximo, mas este futuro nunca chega, gerando indignação e revolta para todos os cidadãos do país.
A globalização da economia transformou enormemente a sociedade, aumentou o comércio e trouxe benefícios, inicialmente, aos países ricos e desenvolvidos em detrimento das economias mais frágeis e subdesenvolvidas. As crises econômicas recentes estão mostrando uma inversão nesta realidade, as economias em desenvolvimento ou emergentes, depois das crises dos anos 90, quando estas sofreram desequilíbrios externos, endividamento e crises nos balanços de pagamentos, ocasionando graves problemas sociais como desemprego, miséria e exclusão social, obrigando-as a recorrer a empréstimos externos de organismos internacionais e criando situações de instabilidades e constrangimentos, esta situação ficou para trás, agora o ambiente se inverteu, a crise afetou a grande maioria dos países, mas alguns estão mais fragilizados, estão mais expostos e sentem-na de forma mais agressiva. Estados Unidos e a Europa se mostraram muito fragilizados, a crise evidencia uma diminuição do poderia destes países no mundo e abre espaço para novos atores no mundo contemporâneo, vivemos uma sociedade em transição, estas mudanças são, normalmente, dolorosas para muitos países, mas abrem espaços para outros povos e línguas, que antes marginalizadas, ganham espaço e passam a influenciar os rumos da sociedade internacional, abrindo espaço para novas culturas e tradições, fazendo do mundo um mosaico integrado de experiências, culturas e transitoriedades.
As crises são situações freqüentes no sistema capitalista, nos últimos 100 anos o mundo conviveu com várias e seus impactos são sempre assustadores, concentram mais a renda e aumentam a desigualdade entre os indivíduos, é nesta perspectiva que devemos analisar a crise contemporânea, agora esta situação está transformando a realidade geopolítica mundial, alguns países estão alcançando grande relevância enquanto outros estão tendo seu poderio diminuído, estamos próximos de grandes mudanças na civilização, o mundo está se transformando, só não enxerga quem não quer.

Agonia docente

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A sociedade pós-moderna passa por grandes mudanças estruturais, as movimentações de capitais e pessoas abrem novas oportunidades aos indivíduos e criam novos desafios, obrigando cada trabalhador a uma constante atualização, sob pena de se afastar de seu posto de trabalho e ser esquecido como um agente social, sendo relegado à marginalidade.
Nesta sociedade a educação passa a ter um papel fundamental, a formação dos trabalhadores deve ser cada vez mais consistente, acumular informações e desenvolver habilidades é uma forma sólida de manter-se num ambiente competitivo e em constante mutação, obrigando o indivíduo ao estudo sistemático, algo que o trabalhador não foi treinado.
Diante desta realidade o professor e o profissional da educação devem ser vistos de forma especial, como desenvolver as habilidades intelectuais dos indivíduos e dos trabalhadores sem canalizar esforços sérios e efetivos para melhorar a qualidade dos profissionais da educação de uma forma geral, e dos professores de uma forma específica? Esforços generalizados são necessários não só por parte do governo federal, mas de todos os entes federativos, os estados e os municípios tem um papel central e devem contribuir, criando um verdadeiro arrastão em prol da educação brasileira.
A situação geral é assustadora, quando comparamos o Brasil a outros países os números são péssimos, estamos mal colocados em matemática, em ciências e em línguas, ou seja, estamos quase na lanterna de um campeonato que pode nos levar à glória ou ao fracasso, sendo que este último destrói sonhos e cria uma leva imensa de excluídos e miseráveis, comprometendo ou até inviabilizando o país nos próximos anos.
Neste quadro encontramos um paradoxo evidente, somos citados como uma das grandes potências em expansão do mundo contemporâneo, alguns nos colocam como um país emergente que terá um papel central no mundo nas próximas décadas, estamos inseridos no G20 (grupo dos vinte países mais desenvolvidos do mundo) e somos membros dos BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, somos chamados para as grandes cúpulas internacionais, mas internamente não conseguimos definir os rumos da educação e o que queremos para o país nas próximas décadas, uma escolha fundamental para o futuro do país.
A educação de qualidade é a única forma de elevar o Brasil para uma posição de destaque no mundo contemporâneo, a economia só vai conseguir se expandir de forma sustentada se o gargalo educacional for resolvido, alguns passos importantes foram dados nos últimos quinze anos, mas insuficientes. Saímos de um sistema elitista para um modelo de massa, nesta transição percebemos que a qualidade do primeiro não foi transferida para o segundo, estamos criando analfabetos funcionais e estamos chamando isto de formação profissional, as conseqüências imediatas são várias e a mais nítida é que o ensino ainda é muito fraco e nosso trabalhador não tem condições de concorrer com países que fizeram esta transição com mais êxito e colhem hoje um resultado mais efetivo.
Como podemos pensar em ensino de qualidade quando as universidades privadas colocam em uma sala de aula turmas com 70 ou 80 alunos, nelas os professores devem prender a atenção do aluno para evitar a evasão escolar, e estas quando acontecem são registradas na conta dos mestres, afinal estes não foram competentes o suficiente para manter o aluno em sala, uma visão míope e com graves conseqüências para o futuro. Como pensar em educação de qualidade quando observamos o salário do professor brasileiro, seu contra-cheque é ridículo, como imaginar que a carreira fundamental para formar a inteligência nacional ganha salários tão reduzidos, salários estes que seduzem apenas os piores alunos e condenam o magistério a um circulo vicioso de degradação e ineficiência, reverter esta equação e atrair os melhores quadros escolares para a carreira docente é o desafio central de todos, pois esta é a única forma de transformarmos o Brasil de um país emergente em um país desenvolvido e justo.
Estamos em uma sociedade marcada por choques culturais tremendos, vivemos na sociedade, e na educação em especial, conflitos geracionais entre os Baby Boomers (BB), a geração X e a geração Y, exigindo dos profissionais da educação várias habilidades, atualizações e conhecimentos constantes, somamos a tudo isso uma onda constante de atualizações que levam o profissional ao limite, abrindo espaço para conflitos emocionais íntimos, levando-o à depressão, ao estresse e a obesidade, além de drogas e síndromes variadas, lotando os consultórios de terapeutas, psicanalistas e psiquiatras ou aumentando a demanda por clinicas de repouso e internações.
Outro ponto interessante que não posso deixar de ressaltar é o interesse dos alunos, é comum observar profissionais na mídia defendendo teses e teorias que salientam que os alunos do Brasil contemporâneo estão cada vez mais atentos e interessados, buscando qualificação constante e exigindo cada vez mais dos profissionais da educação, confesso que não conheço estes alunos, em 15 anos de docência no ensino superior o que vejo me assusta cada vez mais, não apenas nas instituições privadas, mas também nas públicas, os alunos chegam cada vez mais despreparados nas universidades, a leitura é algo inexistente, senso comum não existe imagine o senso crítico, o cenário é assustador vale refletir sobre este quadro, mas deixando de lado paixões e sentimentos arraigados que não resolvem o problema, nenhum governo terá êxito na resolução deste gargalo enquanto a sociedade não tomar a frente exigir uma revolução na educação.
Devemos destacar ainda que os conteúdos da educação são fundamentais para a formação dos indivíduos (futuros trabalhadores e cidadãos), estudar é um ato central, agora o que estudar também é primordial, as universidades devem abordar conteúdos variados e formar uma massa crítica para a vida e não apenas para o mercado e para o emprego imediato, cabe às empresas, aos bancos e aos demais empregadores se conscientizarem de que a educação não deve ser desenvolvida apenas para a geração de emprego, o papel da educação é muito maior, o desafio é criar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, formar indivíduos que possuam capacidades múltiplas para compreender o mundo contemporâneo, analisar os desafios do meio ambiente, o desperdício de alimentos e a questão energética, além da importância da água e o respeito ao trânsito e a convivência em coletividade, estes devem ser os objetivos do setor educacional, se estes forem perseguidos com afinco, com certeza, todos os outros serão atingidos e a capacitação para o trabalho será mais sólida e consistente.
Devo destacar ainda que para conseguir atrair bons alunos e dar oportunidades maiores para nossos jovens, tirando-os das ruas e abrindo espaço para um futuro melhor, a sociedade precisa transformar a educação em algo instigante, muitos jovens em idade de estudar abandonam os estudos porque estar na universidade ou na faculdade significa deixar de trabalhar, isto porque muitas famílias pobres contam com a renda dos seus filhos para sobreviver, diante disso, o governo deveria pensar em um instrumento alternativo para atrair estes jovens, uma proposta que deve ser implementada é a concessão de recursos financeiros para o aluno estudar, este auxílio concedido pelo estado não poderá ser de apenas R$ 50,00, mas de um salário mínimo, justamente para suprir o salário do jovem na família, fazendo com que este não deixe de estudar e aumento os números de evasão escolar.
Existe uma equação que deve ser perseguida pela sociedade e pelos formuladores de políticas públicas, que devem se atentar para isso todos os instantes, educação de qualidade se faz com bons profissionais, salários dignos, condições de trabalho adequadas, estimulo à qualificação constante, infra-estrutura eficiente, pesquisa e extensão comunitárias e reconhecimento profissional, só assim vamos atrair para a carreira docente os melhores alunos que se tornarão os melhores profissionais, e que desta forma contribuirão para a melhoria da educação e pelo desenvolvimento do país, alçando assim não mais o posto de um país emergente, mas recebendo o título de país desenvolvido.

Câmbio: um problema internacional recorrente

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São vários os desafios da sociedade internacional que nos causam medos, constrangimentos e preocupações, vivemos em um mundo doente e violento, tememos desajustes externos ligados aos abalos econômicos e financeiros de um mundo sem controle e dominado pelo materialismo e pelas regras do imediato, e os grandes desajustes internos geradores de preocupações de todos indistintamente, mas os desafios maiores estão com a população mais pobre, indefesos e necessitados de proteção e da solidariedade alheia, algo tão difícil, remoto até, em um mundo globalizado e marcado pela concorrência e pela competição.
É neste clima de desafios, medos e desesperanças que encontramos o povo brasileiro, de persona não grata no capitalismo internacional nos anos 80 e 90 até o papel atual de país dinâmico e promissor, descrito por muitos intelectuais como um dos possíveis líderes da economia internacional nos próximos 50 anos, mas para que isso se efetive, é fundamental superar limitações e encarar problemas antigos e recorrentes que até agora foram marginalizados.
São variados os problemas, podemos elencar questões políticas, sociais, culturais e econômicas, mas neste espaço pretendo me concentrar apenas nas questões econômicas, para ser mais exato vamos destacar a política cambial, ou melhor, a guerra cambial em curso na economia internacional e seus possíveis impactos para o Brasil e para o comércio global.
Nos últimos 30 anos o comércio global cresceu aceleradamente, fruto da maior integração da economia internacional pós 1945 e da necessidade dos países em adquirir produtos para a satisfação das demandas de suas populações, muitas delas destruídas pelos conflitos e sedentas de produtos e mercadorias. Motivados pela reconstrução dos países e marcados por movimentos de integração e interdependência, os trinta anos posteriores a guerra podem ser designados como o momento de maior crescimento da economia mundial, com taxas anuais superiores a 8% ao ano, gerando riqueza e bem-estar social para países desenvolvidos e melhorias significativas para países em desenvolvimento.
A ascensão da China neste ambiente de integração internacional possibilitou grande crescimento para o comércio global, suas políticas foram canalizadas para fazer do país o maior exportador do mundo, o Estado constrói um modelo baseado em subsídios variados, câmbio desvalorizado e cria zonas especiais para a instalação de empresas exportadoras, tudo isto visando a geração de riquezas e a constituição de um novo pacto social.
Os resultados destas políticas de expansão do setor exportador são visíveis, em 1984 países como Brasil, Coréia do Sul e China apresentavam exportações na casa dos US$ 22 bilhões/ano, estes números cresceram enormemente nos anos seguintes, em 2005 o Brasil exportou US$ 170 bilhões, a Coréia US$ 270 bilhões e a China US$ 600 bilhões, o crescimento do setor exportador chinês foi impressionante.
Um dos fatores estimuladores mais visíveis deste crescimento foi o excesso de mão-de-obra, 1,4 bilhão de pessoas, e seus baixos salários, que produziam produtos muito baratos que inundavam a economia internacional e geravam uma sensação de crescimento da riqueza, isto porque, ao consumir produtos baratos a renda da população aumentava e criava uma euforia de consumo ao mesmo tempo que os preços internos não aumentava, facilitando o controle da inflação e melhorando as condições de vida da população de muitos países.
Outra política que contribuía decisivamente para o crescimento das exportações chinesas era a política cambial, o governo para estimular altos superávits comerciais desvalorizava sua moeda nacional vislumbrando ganhar mais mercados internacionais e aumentar suas reservas de moeda forte, uma garantia extra em casos de turbulências e abalos na economia global, algo tão normal num cenário caracterizado por instabilidade e incertezas.
A política cambial chinesa somada aos incentivos adotados pelo governo contribuíram para o crescimento das reservas internacionais do país, que hoje está na casa dos US$ 2,5 trilhões, a maior reserva internacional de um país, que dá ao governo e a sociedade uma garantia financeira jamais vista internacionalmente, tornando a China uma das maiores economias da atualidade.
A desvalorização do câmbio chinês eleva o déficit dos países ocidentais, principalmente o dos Estados Unidos, que na atualidade absorve parcela significativa de produtos oriundos da China, fazendo da parceria sino-americana a responsável por parcela significativa do comércio internacional, e transformando os dois países em interdependentes, mas acentuando os conflitos e contradições existentes, com severos riscos para o comércio internacional.
O ambiente descrito acima favoreceu enormemente os dois países, os chineses exportaram mais e acumularam reservas internacionais de vulto, os norte-americanos compraram mercadorias a preços baixos e saciaram sua fome de consumo, portanto, todos ganharam e agora a situação pode se inverter ou a política de conflito pode gerar problemas para todos os países, com impactos sobre o comércio internacional, inclusive é possível o incremento no protecionismo.
Os desajustes externos dos Estados Unidos gerados pela perda de competitividade de sua economia em escala internacional somados aos gastos militares com as guerras no Afeganistão e no Iraque estão levando a sociedade norte-americana a amargar dívidas crescentes e um desequilíbrio estrutural que podem ter conseqüências assustadoras.
A guerra cambial que o mundo vive na atualidade entre Estados Unidos e China esta diretamente atrelada a conflitos que surgiram de forma mais clara nos anos 70 com a ascensão chinesa, um país até então pouco relevante, grande e interessante mas bastante fechado e pouco integrado com o mundo.
É importante destacar que grande parte dos déficits da relação entre os dois países está vinculada a importação de empresas transnacionais dos Estados Unidos, que devido aos grandes incentivos concedidos pelo governo chinês transferiram suas plantas industriais para o continente vermelho e depois exportam para o centro do consumo internacional, gerando altíssimos desajustes nas contas externas do país por duas vezes, primeiro porque deixam de produzir e exportar nos EUA e depois porque aumentam as importações para a China.
A guerra cambial pode respingar em vários países e regiões, inclusive no Brasil e nos países emergentes, que nesta semana receberam com desconfianças o novo pacote do governo de Barack Obama, um incentivo financeiro de US$ 600 bilhões de dólares, estes recursos ameaçam o câmbio de vários países, e o Brasil já percebeu esta ameaça a nossa moeda e esta estudando adotar políticas para impedir a entrada de capitais em excesso na economia, com valorização do câmbio e piora no setor exportador.
O câmbio valorizado gera benefícios nos preços internos, este recurso já foi utilizado para estabilizar a economia brasileira e de vários países da região, agora a adoção destas políticas por um prazo maior que o desejado pode trazer graves prejuízos econômicos e financeiros. O câmbio desajustado pode matar setores chaves da estrutura econômico-produtiva, imagina o Brasil, um país de quase 190 milhões de pessoas, que segundo previsão de especialistas terá em 2050 quase 230 milhões de pessoas, onde encontraremos um contingente de 150 milhões de indivíduos em idade de produzir, como empregar esta mão-de-obra, gerando condições dignas de trabalho e sobrevivência? Se a sociedade não se concentrar na resolução dos problemas gerados pelo câmbio valorizado seus impactos na economia dificilmente poderão ser revertidos, e sem indústria como vamos empregar esta massa crescente de trabalhadores?
Estas questões são importantes e precisam ser respondidas pelo novo governo e pela sociedade, acreditar que o setor empresarial deve aumentar os ganhos de produtividade para ganhar espaço no comércio internacional é uma grande ilusão, o câmbio como está dificilmente teremos condições de reverter esta condição, acreditar no agente empreendedor que nos momentos de crise consegue tirar da cartola uma solução mágica para seus problemas mais imediatos é algo difícil de acreditar, a economia precisa de uma política clara com relação à questão cambial, as guerras cambiais que estamos visualizando são provas consistentes de que os governos acordaram para a necessidade de proteger suas taxas de câmbio sob pena de ver seus setores de transformação destruídos e seus impactos devastadores para a sociedade, como emprego e desigualdades.
Os conflitos entre chineses e norte-americanos pode prejudicar o comércio internacional, mas também pode abrir novas oportunidades de negócio para os países emergentes. O mundo pode se tornar mais protecionista, os países podem adotar políticas defensivas contra produtos produzidos no exterior como forma de preservar seus produtores locais, diminuindo o fluxo comercial e abrindo espaço para que, internamente, os preços aumentem, incrementando os índices inflacionários, o que prejudica os setores mais carentes que terão sua renda e o seu consumo diminuídos.
O resultado também pode ser outro, o litígio China-EUA pode levar as autoridades chinesas a adotar políticas para a valorização da moeda local, diminuir suas exportações e aumentar suas importações, gerando um aumento na renda agregada e um incremento no mercado de consumo, estimulando com isso o mundo todo, com impactos positivos para a economia brasileira.
O câmbio é um dos instrumentos econômicos mais complexos, a adoção de uma política cambial é uma decisão estratégica dos governos, no caso do Brasil é importante destacar, que temos internamente alguns problemas que devem ser encarados de forma imediata, as taxas de juros astronômicas que temos é um sinal claro de alerta para os setores produtivos, que temem uma diminuição do consumo, vivemos no país nos últimos 8 anos um aumento vertiginoso do consumo, classes sociais antes relegadas ao esquecimento foram conduzidas a uma condição de destaque no mercado de consumo, novas lojas e centros de compras surgiram para atender este mercado em expansão, as importações cresceram e as exportações também, mas esta última em números mais modestos. As taxas de juros altas servem para financiar o endividamento interno do Estado brasileiro, os gastos do governo crescem de forma acelerada, inicialmente como uma diretriz de política econômica e, num segundo momento, como uma forma de reduzir os impactos da crise internacional de 2008, quando os Estados foram chamados para socializar as dívidas do setor privado e evitar uma crise generalizada da economia, cujos impactos todos os povos sentiram.
Atuar diretamente sobre o câmbio é uma necessidade do sistema, uma forma de melhorar as perspectivas econômicas e produtivas, mas uma maneira clara de atuação deve ser pensada e estruturada de forma consistente para evitar efeitos colaterais, uma das estratégias mais evidentes é a diminuição dos gastos de custeio do Estado e a canalização destes recursos para investimentos produtivos que elevem a capacidade do sistema, garantindo novos empregos e perspectivas rentáveis para a sociedade, destacamos outra medida concreta, a criação de limites para que os gastos do Estado brasileiro não cresçam acima da inflação, com estas medidas os gastos reduzirão de forma significativa em termos percentuais, criando as condições para um crescimento sustentável da economia.
Câmbio é a palavra econômica do momento, valorizações e desvalorizações são políticas que devem ser vistas com clareza e consistência para evitar novos embates que abalam o mundo, gerando seqüelas em todas as regiões, desde povos isolados na África até as populações das grandes metrópoles do mundo. A participação integrada entre os países deve ser incentivada e as medidas protecionistas devem ser combatidas veementemente pelos Estados, empresários e trabalhadores, pois neste embate entre forças variadas todos perdem em algum momento, pois somos todos interdependentes e a convivência harmoniosa deve ser estimulada e vivida por todos sobre pena de construirmos um mundo de barro, onde a infra-estrutura não consegue contemplar a todos.

Uma discussão imprescindível

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A sociedade brasileira se encontra em um momento de grandes discussões que tendem a influenciar não apenas os próximos quatro anos, mas muitas décadas, e que podem ser decisivas para as futuras gerações, impactando no cotidiano de todos nós, estamos em um momento essencial marcado por uma onda verde que tirou a eleição presidencial do marasmo e da indiferença, fazendo a discussão aumentar e forçando os candidatos a abordarem temas antes esquecidos ou negligenciados.
Neste momento encontramos dois candidatos com características parecidas, ambos caracterizados pela resistência ao regime militar (1964/1985), período este marcado pela luta na clandestinidade, repressão e autoritarismo, nesta época o candidato tucano se exilou no Chile onde se preparou intelectualmente na Comissão Econômica para a América Latina, para compreender o Brasil e a realidade internacional. A candidata petista também se notabilizou pela resistência aos governos militares, foi presa e viveu na clandestinidade durante muitos anos, estudou e buscou explicações sobre os desajustes do país. Ambos se prepararam para compreender o país, transformando-o para melhor, diminuindo a desigualdade e incrementando as condições sociais, dando a todos os brasileiros uma melhor condição de sobrevivência.
A decisão de qual dos candidatos será o melhor governante permeia a mente e a realidade de milhões de eleitores, que no final do mês decidirá qual dos dois projetos encampar para o país nos próximos anos, dois projetos parecidos do ponto de vista econômico, mas diferentes em sua condução, dois partidos responsáveis pelos rumos da economia e da política brasileiras nos últimos 16 anos, um período de estabilidade e crise, caracterizados pelo combate à inflação e pela busca da estabilidade financeira, econômica e produtiva, onde a estrutura econômica mudou de forma estrutural, de uma economia fechada e protegida pelo Estado para uma economia mais aberta e mais competitiva, gerando novos desafios e oportunidades com resultados contraditórios..
Nestes dezesseis anos estabilizamos e consolidamos a economia, aumentamos o nível de emprego e melhoramos todos os indicadores sociais, o Brasil tirou da miséria mais de 30 milhões de pessoas, um número bastante relevante, ainda mais quando percebemos que vivemos em um país democrático, marcado por eleições diretas, imprensa livre e alternância de poder entre partidos políticos, um feito pouco alcançado no mundo, o que coloca o Brasil em um lugar de destaque dentre os países do mundo.
Melhoramos muito, a estabilidade econômica dos anos 90, iniciada pelos tucanos, (baseada no tripé: câmbio fixo, superávit primário e metas de inflação) foi seguida e perseguida pelo governo petista, com resultados bastante animadores, o que levou os indicadores econômicos a uma melhora considerável, onde os ganhos sociais foram de toda sociedade, principalmente dos mais pobres, que tiveram oportunidade de ganhar mais e usufruir de uma vida melhor, com mais conforto e qualidade.
Estamos em um momento único da história, em nenhum momento da história deste país encontramos uma eleição tão tranqüila do ponto de vista econômico, as crises sucessivas que sempre nos marcaram amargamente, geravam pânicos, fugas de capitais e quebradeiras de empresas, pois todos tinham medo do próximo governante, ainda mais se este fosse um candidato petista, que propunha acabar com todas as políticas implementadas por seus antecessores, caracterizadas por ineficientes e prejudiciais para a classe trabalhadora.
O próximo governante brasileiro não vai transformar o país de forma estrutural, para que isto acontecesse a sociedade deveria construir novos consensos, discutir problemas complexos, debater decisões imprescindíveis e imediatas que foram postergadas durante muitos anos e que precisam ser enfrentadas rapidamente para assegurar uma melhor qualidade de crescimento da economia. Dentre estas discussões a educação é a mais imediata, suas raízes são muito amplas e seus resultados decisivos para a construção de uma mão-de-obra capacitada para compreender o mundo do século XXI, um mundo marcado pela competição crescente entre empresas e exigências cada vez maiores, onde os trabalhadores precisam se qualificar, a concorrência atual obriga o indivíduo a se adaptar para não perder novas oportunidades, pois estas existem e é só os trabalhadores se prepararem, pois não somos mais o país do futuro, somos o país do presente, o mundo hoje enxerga no Brasil o potencial crescente de líder e potência internacional, mas para que isso se efetive o brasileiro tem que acreditar no seu potencial.
Neste segundo turno devemos exigir dos candidatos uma atuação mais clara e incisiva, ambos devem se posicionar de forma mais nítida em relação ao futuro, os problemas nacionais estão claros e todos nós temos consciência, possuímos dados e informações que mostram a situação social e política do país, nossas limitações nas mais variadas áreas, o que precisamos é de um conjunto de propostas factíveis para os próximos 10 ou 20 anos, os debates são importantes, confrontam idéias e pensamentos, mas é a ação de cada um em áreas como a segurança pública, saúde, infra-estrutura, educação, entre outras, que vai definir de forma efetiva o voto dos eleitores.
Os rumos do país devem ser definidos agora, as eleições são o momento efetivo da mudança, acreditar que vamos sair desta situação sem nos conscientizarmos das heranças do passado é algo ilusório, somos um grande país, com potencial de destaque na sociedade mundial, devemos consolidar nossa estabilidade econômica e criar espaço de crescimento sustentado, melhoramos muito nos últimos 15 anos, mas temos muito o que fazer, nossa taxa de juros é uma das mais altas do mundo, nosso câmbio valorizado gera inquietações para o setor produtivo, prejudica o setor exportador e pode nos levar a um processo de desindustrialização da economia, a entrada de produtos chineses está criando problemas claros para o setor produtivo, muitas indústrias estão se tornando inviáveis, muitos setores sobrevivem a base da importação, prejudicando a geração de empregos de qualidade e a atração futura de moedas conversíveis, estamos em um momento perigoso e devemos nos preparar para o futuro.
O crescimento deve pautar pela inclusão social, o meio ambiente sempre tão negligenciado pelos setores produtivos brasileiros hoje é um assunto fundamental, a onda verde criada pela candidata do PV Marina Silva trouxe novos temas para a eleição presidencial, os atuais candidatos devem se esforçar para se mostrarem mais responsáveis ambientalmente e para enfrentar os desafios da sustentabilidade, precisamos crescer de forma positiva, mas este crescimento não deve ser de qualquer jeito, com destruições de mananciais, devastando florestas e poluindo rios e o meio ambiente, este crescimento foi utilizado no passado e o resultado pode ser percebido nitidamente na atualidade, rios poluídos e desajustes crescentes, que forçam o poder público a investimentos cada vez maiores para reequilibrar o sistema, utilizando recursos escassos que poderiam ser usados de forma diferente, mas esta experiência negativa serve de lição para a sociedade, crescer é um imperativo, fundamental e necessário, única forma de diminuir a desigualdade e melhorar as condições sociais, mas sempre com responsabilidade para a manutenção do clima e da vegetação de forma a manter o meio ambiente em equilíbrio para as próximas gerações, afinal de contas todos nós nos encontraremos aqui novamente, a reencarnação não deve ser vista como um princípio religioso, mas sim uma lei natural, não se esqueça disso, um dia todos vamos compreender o significado desta lei.

Democracia e Violência na sociedade brasileira

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Vivemos em uma sociedade caracterizada pela violência e pela desesperança, onde o ser humano perde oportunidades constantes de melhorias e se entrega com facilidades às drogas e aos apelos da informalidade, aumentando os medos, as ansiedades e as transgressões, além do tráfico e da violência urbana. Ao mesmo tempo podemos, com certeza, afirmar que vivemos em uma sociedade de oportunidades e desafios constantes, onde a riqueza cresce e as condições de vida da população melhoram constantemente, só a China nos últimos 20 anos tirou mais de 300 milhões de pessoas da pobreza e da exclusão social, gerando impactos no mundo inteiro e inserindo novos indivíduos no mercado de consumo.

O parágrafo acima parece contraditório, afinal vivemos em um mundo marcado pela desesperança ou pelas novas oportunidades? Vivemos, literalmente, em um mundo complexo e contraditório, onde encontramos todos estes submundos convivendo juntos e integrados, onde o indivíduo observa um mercado cada dia mais exigente criador de novas oportunidades e desejos, onde a riqueza aumenta rapidamente gerando novos desafios e melhorando as condições de vida de milhões de pessoas, mas de outro lado, encontramos um mercado cada dia mais globalizado, onde o desemprego aumenta em várias regiões e quando não, as condições de trabalho são cada vez mais negativas, exigindo dos trabalhadores cargas excessivas e salários reduzidos, aumentando espaços de depressão, ansiedade, obesidade e transtornos dos mais variados tipos, obrigando os psicólogos a serem criativos para batizar os novos transtornos que surgem constantemente.

O mundo corporativo é um espaço constante de concorrência e de competição, onde as empresas buscam aumentar a sua margem de lucro, buscando novos mercados consumidores, transformando os trabalhadores em consumidores apenas, deixando de lado os cidadãos conscientes e responsáveis, o resultado disso tudo é um mundo marcado por graves desajustes ambientais e relatórios catastróficos de organizações não governamentais, muitas delas preocupadas com o meio ambiente, o clima e um possível e assustador futuro da humanidade.

Vivemos uma onda crescente de violência no mundo, regiões que sempre viveram conflitos militares, como judeus e palestinos, permanecem em guerra, nestes países pessoas morrem todos os dias, tornando a morte um ato banalizado, agora, em outros locais onde a violência era pouco conhecida, países e regiões considerados civilizados são descritos agora como espaço de barbárie social, o conflito não é uma guerra declarada, não existe um inimigo externo com exércitos marchando em combates sangrentos com vítimas mortas e ensangüentadas nas ruas e nas vielas, a conflagração é mais sutil, cidadãos do mesmo país duelam por serviços públicos antes abundantes, serviços estes que hoje são limitados pelos governos como forma de manter o equilíbrio financeiro e gerar superávits crescentes para evitar crises financeiras como a que o mundo conheceu recentemente, crise esta que só foi debelada quando o Estado, usando de suas prerrogativas econômicas, interferiu no sistema econômico salvando empresas falidas e socializando os custos para evitar problemas maiores, criando, com isso, uma nova categoria de empresas, grandes conglomerados empresariais que nunca quebram, empresas que mesmo sendo mal administradas não quebram porque são grandes demais para quebrar, pois se quebrassem o sistema econômico entraria em crise terminal e os custos seriam muitos maiores, com aumento no desemprego, miséria e exclusão social, mas transformando a sociedade em reféns destas empresas e de gestores nem sempre capacitados técnica e moralmente.

A violência tem várias facetas no mundo contemporâneo, o capitalismo como destacou o sociólogo alemão Karl Marx, cria seu próprio coveiro, é o melhor sistema para a produção de bens, mercadorias e serviços, mas tem em seu DNA uma característica assustadora, concentra renda na mão de poucos, é um sistema onde uma pequena parcela acumula recursos enquanto uma grande quantidade vive em situações indignas, nesta sociedade que quando foi criada e estruturada ideologicamente defendeu a idéia de que o indivíduo, pela primeira vez teria a oportunidade de ascensão social, onde o filho do pobre poderia, via esforços, galgar novos espaços na sociedade e se transformar em um grande empresário ou empreendedor, um homem das letras ou das idéias, um homem respeitado com uma vida digna e um nome de respeito, este sonho acompanha as pessoas até os dias atuais, agora, sua efetivação se mostra cada vez mais distante.

A democracia defendida pelos intelectuais como a panacéia do mundo, medida de inserção social onde todos os indivíduos teriam a oportunidade de escolher seus representantes e contribuir para as decisões da sociedade, agregando idéias e compartilhando ideais se mostrou insuficiente, o que vemos no Brasil do século XXI é uma batalha constante pela sobrevivência, onde o Estado mediador dos conflitos se recusa a intervir em problemas sociais antigos e prefere adotar como medida de mediação social programas de transferência de renda, onde a população mais carente passa a receber recursos ínfimos para a sua sobrevivência, criando com isso um grande curral eleitoral, como o que estamos assistindo na atualidade, mas é importante destacar que esta política não começou com o governo atual, é uma medida recorrente, o anterior também a adotou, embora tenha obtido resultados muito mais modestos.

Como podemos falar em democracia quando encontramos na sociedade os mais variados escândalos e corrupção, onde muitos cargos públicos são direcionados pela classe política para seus asseclas, carreiras importantes e órgãos públicos fundamentais para a gestão pública são loteados como forma de conseguir apoio político, onde o sistema político-eleitoral foi constituído para truncar o desenvolvimento e evitar um Estado Republicano verdadeiro, onde os cargos públicos são preenchidos por concursos lisos e os aprovados trazem consigo uma grande expectativa de fazer o melhor para auxiliar na construção de um país sólido, capacitado e preparado para os desafios do século XXI, mas infelizmente tudo isso me parece um grande sonho, talvez um sonho impossível na atual situação que encontramos a humanidade, mas um dia este sonho se concretizará.

Como podemos acreditar no discurso de que vivemos em um país democrático, quando encontramos quase 30 milhões de pessoas vivendo em situação de risco e indignidade, muitas delas tendo de cometer atrocidades para sua sobrevivência, é nesta sociedade que encontramos um amplo espaço para a expansão das drogas e da prostituição, negócios estes que movimentam bilhões de dólares no mundo e empregam milhões de pessoas, financiam riquezas e fortunas que nascem da noite para o dia com a tragédia de inúmeras famílias, levando à destruição de vidas, sonhos e condenando muitas inteligências a idiotia e a ignorância. Este arremedo de democracia deve ser repensado, democracia não é apenas votar de dois em dois anos, poder falar e opinar sobre os problemas da sociedade, democracia não é só imprensa livre, democracia é muito mais do que isso, democracia é um sistema em constante evolução, não existe uma fórmula de democracia, existem caminhos para a construção democrática, e, com certeza, estamos trilhando um caminho errado e para mudarmos a rota devemos entender que cabe a cada um de nós compreendermos melhor as regras do jogo, não devemos mais esperar um salvador da pátria, um líder iluminado dotado de conhecimento teórico, experiência e sensibilidade social, este líder não existe, na verdade todos os caminhos passam pela educação, esta é a raiz de tudo, mas seus resultados são demorados, levam décadas e precisam de continuidade e avaliação, é esta educação que deve ser construída para formar mais do que consumidores com emprego e renda e que participam do ciclo econômico, movimentando o sistema produtivo, precisamos de uma educação de valores morais para a criação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, esta tarefa é muito complexa e as famílias não podem de forma alguma se esquivar de sua responsabilidade, afinal a família é a primeira célula da sociedade e cabe a ela um papel central na formação do indivíduo, educar pelo exemplo com amor e dignidade, é um imenso trabalho mais os frutos deste serão recompensadores para o Brasil e para a sociedade mundial, transformando-nos num exemplo a ser seguido por todos.

Educação, doutores e as novas perspectivas?

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A educação é a chave para o sucesso do século XXI, o conhecimento é o ativo intangível mais importante da atualidade, treinar, qualificar e capacitar o cidadão é um dos grandes desafios das sociedades contemporâneas, a união entre partidos políticos, trabalhadores, empresários e governo em prol da educação e da melhoria das condições de vida dos indivíduos é fundamental.

O Brasil neste quesito se encontra muito atrasado, mesmo o avanço dos últimos quinze anos se mostraram insuficientes para vencer este desafio, na última década a taxa de escolarização líquida do ensino superior (jovens entre 18 e 24 anos matriculados em instituições de 3° grau) mais que dobrou, aproximando-se dos 15%, mesmo assim, o país está longe de outras nações. Outro dado que nos leva a reflexão, se olharmos para a taxa de alfabetização bruta, que relaciona o total de matrículas num dado nível de ensino com a população na faixa etária adequada a esse nível, o Brasil com 30% de escolarização no terceiro grau, a Bolívia com 38,3%, o Chile com 52,1% e os Estados Unidos com 81,6%, ou seja, estamos bastante defasados, mesmo quando nos comparamos com países próximos do nosso, muito mais pobres e donos de uma economia marcada por grandes limitações.

Neste quadro desolador encontramos candidatos de todos as matizes ideológicas, classes sociais e comportamentos se alternando no horário eleitoral supostamente gratuito, todos democratas e defensores da educação, da saúde e do meio ambiente, donos de uma oratória brilhante e, muitas vezes, de um comportamento horripilante. Será realmente que a educação é uma prioridade neste país? Será que estamos à altura dos desafios do mundo contemporâneo?

A função do professor nesta sociedade está em constante transformação, de donos do conhecimento, respeitados e admirados, donos de um status social agora estão em crise, vivem marcados pela instabilidade, pelo medo e certos de que uma depressão é apenas uma questão de tempo. Deste profissional exige-se um papel de protagonista, formadores de massa crítica, mas que tipo de massa crítica o capitalismo e a sociedade aceitam com naturalidade? Se exigirem muito dos alunos terá uma grande decepção, a progressão continuada, criada por governos subservientes que pensam em quantidade e se esquecem da qualidade, foi um grande retrocesso, exigir mais dos alunos obrigará a reprovar muitos alunos, deixando como marca em suas “cadernetas” uma grande hemorragia, marcada por sangue, destruição e sofrimento.

Os profissionais da educação estão sendo estimulados a se capacitar, e essa capacitação é uma forma de melhorar as aulas, agregar mais conhecimento, dinamizar as aulas, esta é a justificativa para tal qualificação, aos que se qualificam, estudam, se diplomam e se tornam mestres e doutores as dificuldades não são menores, recentemente uma instituição nacional privada demitiu uma grande quantidade de doutores, isto porque estes profissionais, mais qualificados custam mais para estas empresas travestidas em universidades, empresas estas que tem nos custos seu grande parâmetro de sobrevivência, onde a educação é apenas o chamariz, são fábricas produtoras de diploma, o aluno entre em um grande consórcio e será, com certeza, contemplado em 48 meses, dependências e adaptações são resolvidas pelo ensino on-line, uma novidade trazida pela tecnologia, onde o alunos estuda em casa sem sair de casa, uma inovação para o século XXI.

Para este tipo de instituição não é necessário a presença de doutores, especialistas e graduados fazem um trabalho qualificado, instruem os alunos para o mercado de trabalho, dando ao vulgo cliente o produto que este deseja, os custos dos doutores são facilmente dispensados, uma ótima idéia para estas empresas que vêem a educação apenas como um cifrão.

Os ideais de autonomia pensados e estruturados pelo brilhante educador brasileiro Paulo Freire estão mortos, os idéias que sobreviveram foram os do mercado, da concorrência, da competição, onde os mais fortes sobrevivem e os mais frágeis ou se adaptam a nova sociedade ou são destruídos pelo modelo, um verdadeiro darwinismo social estimulado pelo próprio governo.

O Estado, responsável pelas grandes
universidades brasileiras, se omite desta discussão, é incapaz de fiscalizar estas empresas que são, na verdade, concessões públicas, e mais, estimula uma canibalização do ensino superior, estimula um bônus salarial para que os professores ganhem mais, mas seus critérios se tornam cada vez mais absurdos, irreais e escandalosos, são tantas as exigências que parece que os alunos chegam ao ensino superior com uma formação impecável, dotados de conhecimentos complexos, conhecedores da língua portuguesa e sabedores da interdisciplinaridade, isto sem falar do comportamento em sala e o respeito aos professores e funcionários da instituição.

A atuação estatal na educação é uma grande exigência, as melhores universidades brasileiras são públicas, mas em termos internacionais estão mal colocadas, segundo uma pesquisa divulgada recentemente pela Times Higher Education onde se organizou um ranking das 250 maiores universidades do mundo, nesta pesquisa a Universidade de São Paulo (USP) está em 232° e a Universidade de Campinas (Unicamp) está em 248°, estas são as únicas instituições brasileiras que aparecem na pesquisa. Se as melhores universidades brasileiras estão no final da fila das maiores e melhores do mundo, imaginem qual seria a colocação destas milhares de instituições privadas descomprometidas com o ensino e que poderiam facilmente ser classificadas como verdadeiros caça-níqueis, indústrias produtoras de diplomas em série.

Os professores doutores são fundamentais para a educação brasileira, esta massa crítica que pesquisa, levanta informações, compila dados, escrever livros, artigos e revistas, além de organizar teorias precisam ser mais valorizados, sua respeitabilidade social precisa ser reconstruída, os especialistas devem ser estimulados a buscarem cursos de pós-graduação, não dá mais para que estes profissionais dominem o ensino superior privado nacional, as exigências de titulação devem ser maiores, mas os professores doutores devem ser remunerados a contento, muitos se capacitaram e ainda não foram reconhecidos pelas instituições onde trabalham, mas o reconhecimento deve ser feito não apenas com remuneração, mas com melhores condições de trabalho, não adianta melhorar os salários e aumentar demasiadamente a carga de trabalho em atividades burocráticas que servem para economizar profissionais de outras áreas, o incremento de trabalho impede uma leitura maior, uma atualização melhor dos conteúdos e uma melhor qualificação deste profissional, que devem ser estimulados a pesquisar e a produzir conhecimentos, visando melhorar as condições sócio-econômicas da coletividade.

Escolher uma profissão é um passo fundamental na vida de uma pessoa, optar pela docência é se aprofundar nos estudos e nas pesquisas, conhecer autores das mais variadas áreas e pensamentos, um professor não pode conhecer apenas uma área do conhecimento, o professor é um agente do conhecimento, que lida com a informação, com o pensar e o refletir, sua importância social é imensa, antigamente os professores das escolas públicas eram mais qualificados, trabalhavam com satisfação, orgulho e dedicação, uma grande maioria dos profissionais era oriunda da classe média, possuíam uma formação cultural forte, escolheram a profissão por amar o conhecimento e assumiram um papel ativo no processo de ensino e aprendizagem, agora, na atualidade os professores da rede pública são oriundos de famílias carentes, com formação cultural precária, pobres intelectualmente e detentores de uma carga de leitura reduzida e superficial, muitos se desdobram para melhorar seus conhecimentos enquanto outros se escondem através do cargo e da profissão e se acomodam, afinal conseguiram algo que seus pais e familiares nem imaginaram conquistar, mas mesmo assim é pouco, demasiadamente pouco para um país que sonha em ocupar um destaque no cenário internacional, educação é coisa séria, chega de amadores e iniciantes.

Manter profissionais de qualidade é fundamental para melhorar o ensino superior brasileiro, neste momento de crescimento econômico acelerado o setor produtivo demanda uma ampla gama de trabalhadores qualificados para as mais diversas áreas de atuação, mas estes profissionais não existem e os que encontramos no mercado, na sua maioria, são incapazes de exercer funções mais qualificadas, isto porque a escola e a universidade não foram capazes de formar uma massa crítica e capacitada para enfrentar este mundo maluco, marcado pelas instabilidades e pela incerteza e, com isso, condenamos o crescimento econômico que pretendíamos que fosse duradouro em mais um espasmo de crescimento.

No mundo da terceira revolução industrial onde a tecnologia ganha espaço e transforma a sociedade, os professores são atores fundamentais, valorizá-los e incentivá-los é uma forma de aproveitar espaços e transformar desafios em oportunidades crescentes, se para muitos educação é algo caro e dispendioso imaginem o custo da ignorância.

Eleições: um momento de escolhas definitivas

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A sociedade brasileira se encontra, novamente, em um momento de escolhas decisivas para seu futuro imediato, uma eleição presidencial onde nomes e projetos são confrontados gerando debates acalorados e intensos, dossiês e críticas recíprocas, é a velha e dominante política brasileira novamente dominando a agenda nacional, agora, ao mesmo tempo percebemos, em termos macroeconômicos, um período sem grandes sustos, medos e constrangimentos externos, como percebemos em épocas anteriores quando a aproximação das eleições gerava graves desajustes na economia, com fuga de dólares, instabilidade monetária e cambial e riscos crescentes de inflação, obrigando o governo a adotar políticas fiscais rígidas com problemas na estrutura econômica, aumentando o desemprego e piorando os indicadores sociais.

José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva são os candidatos com mais chances de serem eleitos, se somarmos a intenção de votos destes encontramos mais de 90% da intenção de votos, segundo os principais institutos de pesquisa, diante disso, podemos concluir que o próximo presidente deste país será, indiscutivelmente, um destes, e os projetos estão todos na mesa, uns mais claros e outros menos, mas já está na hora de assumirmos nossas idéias, pensamentos e pendores, o tempo de indecisão acabou.

O candidato tucano me parece o mais preparado para o cargo, sua experiência no setor público é intensa, economista e professor da Unicamp José Serra passou por quase todos os cargos eletivos com destaque em todos eles, foi Secretário, Deputado Federal, Senador, Ministro de Estado (Planejamento e Saúde), Prefeito e Governador de São Paulo, ser Presidente da República é sua grande meta, mas esta parece cada vez mais distante.

Suas idéias me parecem confusas, de um lado defende uma política mais desenvolvimentista, onde o Estado deve atuar mais como um agente fomentador e estimulador do crescimento econômico, mas de outro, encontramos um traço privatista e liberal titubeante, algo meio em cima do muro, adota políticas neoliberais, mas não as defende com ênfase e idealismo, algo pragmático e, meio oportunista.

Suas propostas para educação não me agradam, vejo-as com ceticismo, o bônus meritum me parece algo enganador, apenas de muitos economistas defenderem esta bonificação vejo-a com ceticismo, acredito que para melhorarmos a educação devemos investir maciçamente na qualificação dos professores, pagando salários dignos que atraiam os melhores para a sala de aula e políticas claras que fortaleçam esta classe tão despretigiada, mas fundamental como o magistério, nenhum país que conseguiu melhorar sua estrutura sócio-econômica o fez sem melhorar seu nível educacional.

A candidata do PT é economista e pesquisadora no sul do país, possui mestrado e doutorado incompletos e se destacou no setor de energia, tanto como Secretária de governo como Ministra das Minas e Energia e depois da Casa Civil, cargo este que a projetou para a disputa da presidência da República. Dilma é uma incógnita, seu perfil me parece bastante autoritário, suas bandeiras não são as mesmas dos petistas históricos, suas origens estão no brizolismo gaúcho, este sim seu mentor ideológico, sua conversão ao petismo não me parece verdadeira, agora sua adesão ao lulismo me assusta, não consigo imaginar um governo seu, agora, com certeza percebemos que o carisma do presidente Lula, seu maior ativo político, a candidata governista não possui, algo preocupante num país como o nosso, onde o Executivo tem uma importância central e as grandes reformas não foram conduzidas de forma definitiva.

A conversa com os sindicatos, política adotada com êxito pelo presidente Lula, deve ser um dos grandes desafios da candidata petista, sem origem no movimento sindical e com pouca representatividade nos movimentos sociais, Dilma pode ser uma incógnita não só para os que declaram seu voto na candidata petista, mas para o próprio partido e para a sociedade como um todo, acredito que sua pouca experiência pode trazer grandes constrangimentos para o projeto de 20 anos no poder do Partido dos Trabalhadores (PT).

Governar é uma grande arte, o próximo presidente deve estar preparado para consolidar o crescimento econômico, garantindo que todas as conquistas que a sociedade brasileira acumulou nos últimos quinze anos sejam cada vez mais consolidadas, digo este período porque acredito que os dois últimos presidentes do país merecem elogios, agora, infelizmente, o que encontramos é uma disputa intensa entre partidos políticos que beira a insanidade, algo que só pode ser compreendido em uma sessão intensa de terapia comportamental e psicanalítica, algo parecido com o modelo implantado no programa Roda Viva.

PSDB e PT são mais parecidos do que imaginam, um partido é o alterego do outro, os últimos 15 anos se caracterizaram pela continuidade de políticas bastante parecidas, medidas adotadas pelos tucanos como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), as taxas de câmbio flutuantes, superávits primários, metas de inflação, o bolsa escola – posteriormente bolsa família, saíram de concepções parecidas de Estado e Sociedade, agora os petistas se mostraram mais estatistas e intervencionistas enquanto os tucanos foram mais liberais e privatistas, mesmo diferentes estas diferenças não foram tão gritantes, uma junção entre ambos seria algo natural, mas improvável.

Marina representa um projeto político novo, não sei se um projeto tão novo, mas diferente, o Partido Verde (PV) na disputa pela presidência da república, se coloca como uma alternativa consistente, agora será que esta alternativa conseguiria condições para governar? Seu partido com poucos deputados e senadores teria grande dificuldade de administrar, mas mesmo assim sua presença na disputa transforma o cenário, dando um charme novo e sofisticado, nada de rancor e ressentimentos, governar é se aliar aos melhores e transformar potencial em realidade, mantendo o crescimento econômico e melhorando os indicadores sociais. A candidata do PV me parece mais equilibrada, não vejo nela o ranço que me parece claro nos tucanos e nos petistas, nada de promessas mirabolantes, transformações bruscas e mudanças estruturais, Marina significa ainda, uma possibilidade de reconciliação dos grandes partidos brasileiros, sua ascensão e promessa de trabalhar com os melhores de todos os partidos traria todos para o governo e mais, faria com que os partidos assumissem um compromisso com a governabilidade.

Votar é fundamental, é um ato de cidadania, escolher o melhor candidato, conhecer sua história, suas propostas e aspirações é dever de todos, se ausentar da votação como forma de protesto é desconhecer seus deveres enquanto cidadão, diante disso, escolhi com a minha consciência, votar na Marina Silva é uma escolha minha, acredito que minha opção não é isolada, muitos a escolheram para governar o país, muitos tem medo do projeto de poder petista, de uma candidatura sem história, desconhecida da grande maioria e com muitas perguntas não respondidas, o Brasil precisa destas respostas, o dedaço tão popular no México, onde o partido dominante escolhe seu sucessor, muitas vezes o escolhida é uma pessoa desconhecida pela sociedade, mas diante do poder do Partido e do Estado, se torna presidente e passa a comandar os rumos do país, esta política não nos interessa, estamos em um momento estratégico de nossa história, as escolhas do país devem ser tomadas com cautela para não incorrermos em equívocos anteriores que tantos constrangimentos gerou ao país.

Esperanças líquidas

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A sociedade nos brinda todos os dias com um arsenal de informações, somos invadidos com imagens, sons, conceitos novos e teorias diuturnamente, o que nos causam medo e desesperança, mas ao mesmo tempo novos desafios cheios de perspectivas interessantes e sensacionais, este paradoxo nos envolve e torna a contemporaneidade extraordinária, colocando lado a lado a genialidade e a loucura, divididos por uma linha tênue.
A globalização nos leva a assistir, no sofá de nossas casas, as mais variadas experiências humanas em todos os locais, o computador nos coloca em contato com um universo quase paralelo, cheio de informações, conhecimentos e desafios, nossos competidores no mercado de trabalho não estão mais ao nosso lado, na nossa cidade, região ou país, mas em todas as regiões do mundo, nos outros continentes e em países que pouco conhecemos e raramente ouvimos algo a respeito.
Os sentimentos estão em mutação e geram grandes inquietações nos indivíduos, laços anteriores chamados duradouros hoje pouco encontramos, amores verdadeiros, marcados pela renúncia, admiração e respeito, temos dificuldades de encontrar, gerando nas pessoas medos e fobias variadas, criando, com isso, novos desafios profissionais para os psicólogos e intelectuais, além de intensificar os investimentos da indústria farmacêutica.
O mundo do trabalho em constante mutação leva o indivíduo à beira de um ataque de nervos, trabalhos antes estáveis e com boas perspectivas de ascensão profissional estão hoje sendo rapidamente substituídos pelas máquinas e pela tecnologia, obrigando o trabalhador a buscar qualificação constante, deixando uma parcela substancial de seu tempo para a vida profissional, reduzindo seus momentos de lazer e de construção familiar, importantes para a consolidação do indivíduo como um agente social.
Violência no Brasil, guerras no Oriente Médio, terrorismo no Paquistão, Iraque ou Afeganistão, destruição do Meio Ambiente, secas em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, além de corrupção, pragas e crises financeiras com desemprego em massa e piora dos indicadores sociais, estas são notícias corriqueiras, que nos assustam e nos geram preocupações, mas que na atualidade estão sendo combatidas e colocadas em discussão, o ser humano está, embora para muitos lentamente, começando a conversar sobre muito de seus desequilíbrios e desajustes, espero que consigamos encontrar a contento respostas para muitos destes problemas, evitando derramamento de sangue de supostos inocentes, digo supostos porque não consigo acreditar que, neste mundo de provas e expiações, existam seres humanos inocentes, todos nós respondemos por algum arbítrio cometido em nossas existências pretéritas, esta convicção norteia meus pensamentos e me auxilia a compreender algum fato negativo ocorrido no cotidiano.
A reencarnação, ignorada por muitos, é um conceito fundamental para compreender a situação do mundo, estamos em uma sociedade marcada por graves desequilíbrios, alguns descritos anteriormente, estes conflitos estão vivos na mente do ser humano e apenas ele pode reconhecer e combater tais deficiências, só assim poderemos dizer que estamos evoluindo e construindo um mundo melhor. Os clássicos já nos diziam claramente, conheça te a ti mesmo, estas palavras sábias e inspiradoras são fundamentais para o ser humano, ao não se conhecer nos deparamos com vários equívocos, e pior, repetimos estes equívocos e os transformamos em desajustes estruturais, sendo, com isso, “obrigados” a estagiar novamente neste mundo, externamente tão violentos mas que na verdade refletem a violência que trazemos e cultivamos dentro de nós, portanto, somos todos responsáveis pela situação atual.
Mas este mundo de expiação e provas esta sendo chamado pela espiritualidade para uma conscientização, um momento de reflexão e mudanças, os desajustes são muitos, o tempo está se esgotando, todos encontrarão seu caminho, ninguém será abandonado pela Providência Divina, agora, alguns caminham mais rapidamente, são mais ágeis, percebem as oportunidades e se preparam para uma nova era, estes continuarão neste mundo que passará a ser um espaço de regeneração, com mais fraternidade, alegria e solidariedade, enquanto os outros tomarão um outro destino, serão encaminhados para um novo local, o planeta é imenso, outros mundos mais parecidos com seus sentimentos densos e grosseiros, lembremos a obra Exilados de Capela, onde tivemos a oportunidade de conhecer o destino de um grupo de espíritos, que mesmo dotado de um grande potencial intelectual, mas desprovido de sentimento e de moral, foi fundamental para auxiliar no crescimento e desenvolvimento do planeta Terra, onde usaram sua inteligência para alavancar países e melhorar as condições sociais da população.
A mudança já começou, não temos mais tempo para postergar nossas ações no bem, o tempo urge e os corações clamam por momentos melhores e mais promissores, a transformação deve nos levar para um mundo melhor, mas este mundo só será construído quando cada um de nós acordarmos para os ensinamentos do bem, os exemplos são muitos, Chico Xavier, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, entre outros, fazer é possível basta que cada um faça a sua parte e assim, com certeza viveremos em um mundo melhor.

Desafios contemporâneos de uma sociedade afluente

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O mundo nos últimos anos vem se transformando com uma intensidade cada vez maior, estas mudanças exigem da sociedade uma grande capacidade de mobilização política e social para a resolução dos problemas existentes e para a preparação para o futuro, com desafios e oportunidades, que podem definir avanços e retrocessos significativos, condenando definitivamente um país.

O Brasil nos últimos anos apresentou avanços variados nas mais diferentes áreas da sociedade, recebendo com isso o rótulo de país emergente, com grande destaque na mídia e nos fóruns internacionais, recebendo uma grande quantidade de investimentos e elogios significativos, mas estes elogios não podem criar um ambiente de euforia exagerada, muito pelo contrário, deve estimular o desenvolvimento de uma estratégia integrada de ação visando a superação dos graves desajustes que acumulamos nas décadas anteriores, preparando o país para um vôo seguro e sem turbulências.
Se olharmos para o Brasil nos anos 60 e 70, destacaríamos um país em amplo crescimento econômico, neste momento a sociedade acreditava que o crescimento da economia traria uma melhoria para todos os grupos sociais, queda na desigualdade e melhoria nos indicadores sócio-econômicos, o que se mostrou uma grande ilusão, neste período saímos de uma posição intermediária entre os países desenvolvidos e nos posicionamos entre as dez maiores economias do mundo, mas o resultado deste esforço não trouxe benefícios a todos, muito pelo contrário, as classes C e D foram penalizadas e a desigualdade social aumentou demasiadamente, transformando o Brasil num dos países mais desiguais do mundo e aumentando a herança que trazemos de um passado marcado pela escravidão e pela exploração de grande parte da sociedade, onde os latifúndios agroexportadores se satisfaziam dos esforços crescentes dos trabalhadores, sempre mal pagos e vítimas de uma excessiva carga de trabalho.

Neste período tivemos que conviver ainda, com mais de duas décadas de regime autoritário (1964-1985), período este marcado pelo crescimento econômico e pelo amplo descontrole inflacionário, pela repressão política e pela decadência da educação e da saúde públicas, que hoje nos afetam brutalmente e se transformaram em desafios a serem superados para melhorarmos os indicadores sociais e entrarmos num momento de crescimento sustentado e duradouro, visto que nos últimos trinta anos nos acostumamos ao conhecido stop-in-go, ou seja, períodos de crescimento econômico alternando com períodos de estagnação, cujos impactos sociais eram ruins e de difícil mensuração.
Depois de superarmos 21 anos de regime autoritário e consolidação democrática, onde a inflação foi vencida e a estabilidade econômica se tornou uma conquista, o país novamente se encontra em um momento de escolhas difíceis, mas fundamentais, que definirão o futuro do país, mas se postergadas teremos graves constrangimentos nos próximos anos. Depois de quinze anos de progressos econômicos e sociais, onde a estabilidade da economia foi construída e a inserção de um grande contingente de excluídos no mercado de consumo de massa se tornou uma realidade, o próximo passo será a melhoria na educação e na saúde, afinal neste momento, pleno século XXI, como nos tornarmos grandes e influentes em um mundo globalizado onde a população se tornou um ativo fundamental, com indicadores pífios e insignificantes.

Apesar do crescimento econômico dos últimos anos temos um longo caminho a percorrer, alguns relacionados ao crescimento descontrolado da violência nos grandes centro urbanos que preocupa e inibe investimentos, gerando transtornos crescentes e fragilidades, destacamos ainda, o péssimo desempenho da educação e as deficiências no setor da saúde, isto sem falar nos desequilíbrios do Estado, o desperdício nos recursos públicos, a corrupção desenfreada, que deslegitimam e ameaçam a consolidação de uma verdadeira democracia representativa, que aparentemente mostra um país democrático mas na realidade esconde uma situação de desmanche da estrutura social.
A visibilidade internacional adquirida nos últimos anos deu ao Brasil a possibilidade de sediar dois grandes eventos internacionais, a Copa do Mundo da FIFA de 2014 e as Olimpíadas de 2016, dois grandes desafios para o país, o mundo estará de olho no Brasil, receberemos milhares de jornalistas e turistas estrangeiros, são duas oportunidades de mostrar para a sociedade internacional os avanços do país, mas para que tenhamos êxito nesta empreitada a transparência nos gastos e o profissionalismo no planejamento devem sobrepor o jeitinho brasileiro, mostrando a todos a maturidade conseguida nestes últimos anos, onde mostraremos ao mundo que o Brasil é, na atualidade, um excelente local para investimento e a construção de uma sociedade melhor e mais justa para todos e não para uma pequena parcela dos indivíduos.

Estamos muito longe dos países desenvolvidos, mas temos inúmeras vantagens, somos um povo ágil, flexível e empreendedor, apesar do atraso estamos crescendo e aparecendo para o mundo, enquanto muitos destes países se encontram estagnados e marcados pela saturação, somos dotados de um grande diferencial com relação aos concorrentes, somos dinâmicos e temos muitas oportunidades de negócio, desde que os investidores entendam que somos um país sério, honramos nossos compromissos internacionais e que não mais aceitamos ingerência em nosso futuro, somos sim um país com grande potencial para o futuro, mas não existe futuro sem educação de qualidade, geradora de inovação e de novas perspectivas sociais.

Contrastes e contradições de um país “emergente”

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Vivemos em uma sociedade onde os contrastes são cada vez maiores e mais evidentes, nesta sociedade, onde de um lado encontramos um altíssimo crescimento da tecnologia, com máquinas modernas, telefones celulares de última geração, aparelhos multifuncionais e produtos variados e sofisticados, um mundo de fantasia, onde o sonho e a realidade são colocados um ao lado do outro bastando apenas, para conquistá-lo, abrir a bolsa e sacar o cartão de crédito.
Este mundo de sonhos e fantasias é o mundo do capitalismo globalizado da contemporaneidade, da mídia e dos jornais especializados em celebridades, um mundo de conto de fadas onde a beleza e o hedonismo são presenças constantes e associados a uma beleza eterna que tem seu preço e todos podem adquirir, desde que devidamente inseridos.
Encontramos nesta sociedade as mais variadas formas de notícias que pregam um mundo irreal, mas ao mesmo tempo somos pressionados a ver e sentir o mundo real, o mundo das desigualdades sociais e culturais, entre países e dentro dos países, dos conflitos bélicos incentivados pela busca constante de recursos financeiros e pelo prazer imediato. Como nos mostra o sociólogo polonês Zygmunt Baumann vivemos no tempo dos amores e sentimentos líquidos, nesta nova sociedade tudo é instável e instantâneo, vivemos no mundo do agora, a construção de valores está sendo deixada de lado e os valores dominantes são os valores do imediato, do possuir e do dominar, o plantar e o construir caíram de moda, devemos colher sem plantar e viver o momento sem se preocupar com o futuro, pois os problemas ambientais e cotidianos nos levam a crer que o futuro não mais vai existir, só sobreviverá o mundo do agora.

Diante disso vamos aproveitar o momento, deixando de lado a educação e os valores morais, estes são vistos como investimentos de longo prazo, imprecisos e inoportunos, restrinjamos ao momento atual e ao imediatismo, vamos nos entregar à busca por recursos financeiros, deixando a ética e os valores herdados do renascimento do século XV e vamos tomar como nosso os valores da competição e da concorrência, adotemo-nos a religião do dinheiro e da ambição, estes sim vão nos preparar para o mundo atual, um mundo de sonhos, gozos e irrealidade, um mundo como diz o sociólogo, apenas líquido.

A sociedade do século XXI é a sociedade da informação, nela o conhecimento é força criadora, neste mundo tão complexo e impreciso, a educação é um instrumento fundamental, fundamental para libertar, como dizia o maior educador que o Brasil conheceu, Paulo Freire, educar é libertar o ser humano das suas trevas individuais e desenvolver suas potencialidades, que são imensas e se renovam constantemente, no entanto, para isso precisamos tornar a educação não apenas uma palavra bonita, mas um conceito fundamental, uma força construtora de alicerces sólidos que não se rompam nos momentos de terremotos sociais e crises internacionais. Um país como o Brasil, um verdadeiro continente, dotado de recursos naturais privilegiados e de um clima reconhecidamente caracterizado como um dos melhores do mundo, um povo dinâmico, empreendedor e hospitaleiro, que respeita a adversidade e convive bem com outros povos e culturas, tem vantagens estruturais que o colocam em posição de destaque nesta sociedade.
A educação é a chave para o sucesso, não seremos um país desenvolvido com o nível educacional que temos, uma média de 5 anos de estudo por trabalhador, quando o mundo desenvolvido está na casa dos 10 ou 12 anos.
Só construiremos um país de verdade com oportunidade para todos, quando nos conscientizarmos de que o progresso é uma construção social e cada indivíduo deve dar a sua contribuição, um país onde a lei do Gerson reina, a lei do tirar vantagem de tudo, não está apto para o mundo do século XXI caracterizado por inúmeros desafios, ao mesmo tempo marcado por grandes oportunidades, só seremos grandes e emergentes quando capacitarmos o nosso povo e transformarmos a educação em um projeto nacional, um projeto de Estado e não um projeto de governo, com prazos e interesses imediatos.

Radiografia da classe média num país injusto

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Autor: Frei Betto – Correio da Cidadania – 08/03/2010.

A população brasileira é, hoje, de 190 milhões de pessoas, divididas em classes segundo o poder aquisitivo. Pertencem às classes A e B as de renda mensal superior a R$ 4.807 – os ricos do Brasil.

R$ 4.807 não é salário de dar tranquilidade financeira a ninguém. O aluguel de um apartamento de dois quartos na capital paulista consome metade desse valor. Mas, dentre os ricos, muitos recebem remunerações astronômicas, além de possuírem patrimônio invejável. Nas grandes empresas de São Paulo, o salário mensal de um diretor varia de R$ 40 mil a R$ 60 mil.

Análise recente da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em fevereiro último, revela que integram esse segmento privilegiado apenas 10,42% da população, ou seja, 19,4 milhões de pessoas. Elas concentram em mãos 44% da renda nacional. Muita riqueza para pouca gente.

A classe C, conhecida como média, possui renda mensal de R$ 1.115 a R$ 4.807. Tem crescido nos últimos anos, graças à política econômica do governo Lula. Em 2003 abrangia 37,56% da população, num total de 64,1 milhões de brasileiros. Hoje, inclui 91 milhões – quase metade da população do país (49,22%) – que detêm 46% da renda nacional.

Na classe D – os pobres – estão 43 milhões de pessoas, com renda mensal de R$ 768 a R$ 1.115, obrigadas a dividir apenas 8% da riqueza nacional. E na classe E – os miseráveis, com renda até R$ 768/mês – se encontram 29,9 milhões de brasileiros (16,02% da população), condenados a repartir entre si apenas 2% da renda nacional.

Embora a distribuição de renda no Brasil continue escandalosamente desigual, constata-se que o brasileiro, como diria La Fontaine, começa a ser mais formiga que cigarra. Graças às políticas sociais do governo, como Bolsa Família, aposentadorias e crédito consignado, há um nítido aumento de consumo. Porém, falta ao Bolsa Família encontrar, como frisa o economista Marcelo Néri, a porta de entrada no mercado formal de trabalho.

Dos 91 milhões de brasileiros de classe média, 58,87% têm computador em casa; 57,04% frequentam escolas particulares; 46,25% fazem curso superior; 58,47% habitam casa própria. E um dado interessante: o aumento da renda familiar se deve ao ingresso de maior número de mulheres no mercado de trabalho.

Já foi o tempo em que o homem trabalhava (patrimônio) e a mulher cuidava da casa (matrimônio). De 2003 a 2008, os salários das mulheres cresceram 37%. O dos homens, 24,6%, embora eles continuem a ser melhor remunerados do que elas.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o governo Lula tirou da pobreza 19,3 milhões de brasileiros e alavancou outros 32 milhões para degraus superiores da escala social, inserindo-os nas classes A, B e C. Desde 2003, foram criados 8,5 milhões de novos empregos formais. É verdade que, a maioria, de baixa remuneração.

No início dos anos 90, de nossas crianças de 7 a 14 anos, 15% estavam fora da escola. Hoje, são menos de 2,5%. O aumento da escolaridade facilita a inserção no mercado de trabalho, apesar de o Brasil padecer de ensino público de má qualidade e particular de alto custo.

Quanto à educação, estão insatisfeitas com a sua qualidade 40% das pessoas com curso superior; 59% daquelas com ensino médio; 63% das com ensino fundamental; e 69% dos semi-escolarizados (cf. A Classe Média Brasileira, Amaury de Souza e Bolívar Lamounier, SP, Campus, 2010).

A escola faz de conta que ensina, o aluno finge que aprende, os níveis de capacitação profissional e cultural são vergonhosos comparados aos de outros países emergentes. Quem dera que, no Brasil, houvesse tantas livrarias quanto farmácias!

Hoje há mais consumo no país, o que os economistas chamam de forte demanda por bens e serviços. Processo, contudo, ameaçado pela instabilidade no emprego e o crescimento da inadimplência – a classe média tende a gastar mais do que ganha, atraída fortemente pela aquisição de produtos supérfluos que simbolizam ascensão social.

A classe média ascendente aspira a ter seu próprio negócio. Porém, o empreendedorismo no Brasil é travado pela falta de crédito, conhecimento técnico e capacidade de gestão. E demasiadas exigências legais e trabalhistas, somadas à pesada carga tributária, multiplicam as falências de pequenas e médias empresas e dilatam o mercado informal de trabalho.

Embora a classe média detenha em mãos poderoso capital político, ela tem dificuldade de se organizar, de criar redes sociais, estabelecer vínculos de solidariedade. Praticamente só se associa quando se trata de religião. E revela aversão à política, sobretudo devido à corrupção.

Descrente na capacidade de o governo e o Judiciário combaterem a criminalidade e a corrupção, a classe média torna-se vulnerável aos “salvadores da pátria” — figuras caudilhescas que lhe prometam ação enérgica e punições impiedosas. Foi esse o caldo de cultura capaz de fomentar a ascensão de Hitler e Mussolini.

Reduzir a desigualdade social, assegurar educação de qualidade a todos e aumentar o poder de organização e mobilização da sociedade civil, eis os maiores desafios do Brasil atual.

* Frei Betto é escritor, autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros

Um bom livro sobre a crise

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Autor: Luiz Gonzaga Belluzo – Valor Econômico

A crise financeira desatou um movimento de críticas ao paradigma dominante na teoria econômica. Se a memória não falha, acho que já tratei nesta coluna do texto do biógrafo de Keynes, Robert Skideslsky, “The Return of the Master”. No gênero, o jornalista inglês John Cassidy escreveu o livro “How Markets Fail”, que merece mais do que um fim de semana dedicado à leitura. Nele o autor combina erudição, simplicidade e sobretudo capacidade de situar as teorias em seu ambiente histórico, social e político, o que torna a crítica mais consistente e afasta as tentações das manobras pseudocientíficas que o sociólogo americano Wright Mills chamava de “empirismo abstrato”.

Cassidy começa com Adam Smith, celebrado fundador da Economia Política que, na Teoria dos Sentimentos Morais pretendia “provar que, anteriormente a qualquer lei ou instituição positiva, a mente estava dotada naturalmente da faculdade que permitia distinguir, em certas ações e afeições, as qualidades do certo, do louvável e do virtuoso e, em outras, aquelas do errado, do condenável e do vicioso….” É por meio da razão que descobrimos essas regras gerais de justiça que regulam nossas ações.

Na “Riqueza das Nações”, Smith derivou a propensão para a troca a partir das inclinações naturais do indivíduo. Naquele “estado rude e primitivo da sociedade”, a troca de mercadorias decorreria da disposição benevolente dos indivíduos ao relacionamento com o “outro”. Os produtores privados de mercadorias, ao buscar o seu interesse, “constituem” a sociedade. Smith busca afirmar a autonomia da sociedade econômica em relação ao Estado sublinhando o caráter natural e “espontâneo” das relações fundadas no autointeresse coordenado pela sabedoria providencial e impessoal da Mão Invisível. Smith, diz Cassidy, recomendava restrições à liberdade para a operação dos bancos, “que podem colocar em perigo a segurança de toda a sociedade e, por isso, devem ser disciplinados pelas leis dos governos, desde os mais livres aos mais despóticos.”

Ao longo do século XIX, a economia tomou como paradigma a imponente construção da mecânica clássica e como paradigma moral o utilitarismo da filosofia radical do final do século XVIII. O homo oeconomicus, dotado de conhecimento perfeito, busca maximizar sua utilidade ou os seus ganhos diante das restrições de recursos que lhe são impostas pela natureza ou pelo estado da técnica. Essa metafísica da corrente dominante supõe uma ontologia do econômico que postula certa concepção do modo de ser, uma visão da estrutura e das conexões da sociedade. Para esse paradigma, a sociedade onde se desenvolve a ação econômica é constituída mediante a agregação dos indivíduos, articulados entre si por nexos externos e não necessários.

Os modelos de equilíbrio geral, com informação perfeita e mercados competitivos para todas as datas e contingências, são replicantes do Demônio de Laplace. Em seu pecado original de orgulho iluminista, o deus-mercado se pretende “uma inteligência que abarcaria, na mesma fórmula, os movimentos dos maiores corpos do universo e do menor átomo: para ele nada seria incerto e o futuro e o passado estariam sempre presentes sob seus olhos.”
Cassidy mostra com clareza e simplicidade que nos anos 70, o “nobelizado” Robert Lucas juntou o suposto das expectativas racionais ao modelo de equilíbrio geral para reintroduzir, na contramão da Revolução Keynesiana, o Demônio de Laplace no universo da moderna teoria econômica. Com esse movimento, Lucas expulsou do paraíso da respeitabilidade acadêmica as ideias keynesianas de incerteza e de instabilidade da economia capitalista.
A propósito de capitalismo, John Cassidy ironiza a concepção “lucasiana” da sociedade e da economia: “Ele criou um capitalismo sem capitalistas, em que as empresas são meras abstrações que transformam insumos em produtos”. Nesse capitalismo sem capitalistas, Lucas adotou a teoria dos mercados eficientes para o conjunto da economia. Eugene Fama e outros estenderam tal hipótese para os mercados financeiros. “Lucas assumiu que os mercados de bens, de trabalho, todo e qualquer mercado, eram igualmente eficientes.”

A suposição fundamental das teorias novo-clássicas, com expectativas racionais, assegura que a estrutura do sistema econômico no futuro já está determinada agora. Isso porque a função de probabilidades que governou a economia no passado tem a mesma distribuição que a governa no presente e a governará no futuro.

Cassidy discorda. Para ele, a ação econômica numa sociedade capitalista é definida pelo caráter crucial das antecipações do grupo social que detêm o controle da riqueza e que deve decidir o seu uso a partir do critério da vantagem privada. Os planos privados de utilização da riqueza são racionais do ponto de vista individual, mas o turbilhão de ações egoístas, ao modificar irremediavelmente as circunstâncias em que as decisões foram concebidas, pode levar a um processo cumulativo de erros.

Cito Cassidy: “A ideia de que o comportamento racional do investidor pode levar a um resultado coletivamente irracional – um bolha, por exemplo – é tão antiga quanto a famosa South Sea Bubble de 1720. Muitos investidores sabiam que as informações sobre os ganhos do comércio entre a Espanha e a América Latina eram exageradas e as empresas que lançavam ações no mercado de Londres eram fraudulentas.”

Nos mercados financeiros, as decisões são comandadas por impulsos, medos e súbitas mudanças no estado de expectativas. Os investidores e os senhores da finança têm a faculdade de usar o poder conferido pelo controle do dinheiro e do crédito para beneficiar o conjunto da sociedade ou simplesmente entregar-se ao “amor do dinheiro” e à proteção patrimonial, produzindo crises e desigualdade.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

Importações, competição e inovação

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Valor Econômico
Autor: Naércio Menezes Filho

Já mostramos neste espaço que as exportações brasileiras são pouco sensíveis à taxa de câmbio, dependendo muito mais do crescimento da renda dos nossos parceiros comerciais. Assim, a existência de uma possível “doença holandesa”, provocada pela valorização cambial, não se sustenta diante das evidências. Ficou faltando analisar o comportamento das importações, pois outro argumento dos “intervencionistas” é que o câmbio valorizado barateia significativamente os produtos comprados no exterior, o que provocaria uma invasão de importados e poderia destruir a indústria nacional. Será que esse argumento faz sentido?
O gráfico mostra o comportamento das nossas importações de bens de capital, intermediários e de consumo nos últimos 20 anos. Podemos ver que as importações, da mesma forma que as exportações, cresceram lentamente até 2003 e aceleradamente a partir de então, declinando somente com a recente crise econômica mundial. Como as importações cresceram mais rapidamente no período de valorização cambial recente, será que os “intervencionistas” teriam razão?

Várias pesquisas recentes mostram que, ao contrário do que ocorre com as exportações, o comportamento das importações depende muito do câmbio. Porém, uma análise mais detalhada da figura mostra que os intervencionistas não estão com a razão. Na verdade, a importação que mais cresceu no período recente foi a de bens intermediários.

Esses bens são, na maior parte das vezes, utilizados como insumos para a produção de outros bens pelas nossas firmas. Assim, quando o câmbio valoriza e as importações de bens intermediários aumentam, as firmas são capazes de obter insumos a preços mais baixos, o que reduz custos e provoca aumento da produção, beneficiando tanto a indústria como o consumidor.

Logo abaixo dos bens intermediários, em termos da composição das nossas importações, estão os bens de capital. A valorização cambial neste caso, além de reduzir o preço das máquinas e equipamentos adquiridos no exterior, promove um aumento da produtividade das firmas importadoras, pois os bens de capital produzidos no exterior geralmente incorporam tecnologias mais avançadas, que são trazidas para as firmas brasileiras através da importação. Isso também provoca uma diminuição dos preços e aumento da produção, para um dado nível de emprego. De fato, a redução das tarifas de importação de insumos importados nos anos 90 foi a principal responsável pelo aumento da produtividade ocorrido naquele período.
Mas, e os fornecedores locais de insumos e de bens de capital, não seriam prejudicados pela concorrência internacional? Alguns analistas argumentam, inclusive, que a competição com produtos importados tende a diminuir os incentivos à inovação e ao crescimento das firmas brasileiras. Seria necessário, portanto, proteger a indústria nacional. Setores do governo vão mais longe, defendendo, inclusive, a fusão entre empresas nacionais, para criar empresas de primeira classe, que poderiam competir com as grandes firmas do mundo todo.

Entretanto, as coisas não são tão simples assim. Na verdade, existe uma longa tradição na teoria econômica e nas pesquisas empíricas mostrando que a maior competição tende a provocar aumento das inovações e do crescimento das firmas. Segundo essa linha de raciocínio, a falta de competição faz com que as empresas se acomodem, aproveitando suas altas margens de lucro, sem se preocupar com inovações de processo e de produto. Afinal, quem teria razão?

Um livro recente (“Competition and Growth”, de Phillipe Aghion e Rachel Griffith) procura sistematizar as pesquisas teóricas e empíricas recentes nessa área, para saber se, afinal, mais competição conduz a um aumento ou diminuição das inovações e do crescimento econômico. Os autores concluem que a redução de barreiras à entrada de produtos importados tem, em geral, um efeito positivo sobre a inovação e o crescimento econômico. Entretanto, este efeito é mais forte para as firmas e indústrias que estão mais perto da fronteira do conhecimento tecnológico, pois elas conseguem competir mais facilmente com os produtos importados através da inovação. Além disto, o efeito da competição sobre o crescimento depende fortemente das instituições do país. Quanto mais flexível for o mercado de trabalho, por exemplo, maior será o efeito da competição sobre o crescimento.

Dessa forma, as importações têm efeitos positivos sobre o crescimento e a produtividade das nossas firmas, seja por permitir acesso a bens de capital tecnologicamente mais avançados, seja através da competição, que faz com que as firmas inovem para poderem competir. Entretanto, para que as firmas possam inovar e crescer frente à concorrência internacional, elas tem que estar próximas à fronteira tecnológica. Para que mais firmas alcancem esse estágio, temos que ter mais trabalhadores qualificados e instituições que favoreçam a inovação. Proteger excessivamente a nossa indústria, assim como proteger excessivamente nossos filhos, pode ser ruim para o seu desenvolvimento no longo prazo.

Naércio Menezes Filho, é professor titular (cátedra IFB) e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e professor da FEA-USP, escreve mensalmente às sextas-feiras.

Os riscos dos desdobramentos da crise.

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Autor: Yoshiaki Nakano – Valor Econômico

Do pico de nível de atividade econômica, no período pré-crise, atingido em abril de 2008, até o segundo trimestre de 2009, a atual crise provocou uma contração maior no PIB, no comércio mundial e nas bolsas de valores do que a grande depressão dos anos 30. Entretanto, as respostas das políticas monetária e fiscal foram muito mais rápidas e intensas do que nos anos 30. Com isso, tivemos uma rápida e sensível melhora nas expectativas e surpreendente início de recuperação da atividade econômica desde o segundo trimestre na Alemanha, França e no Japão, estabilização nos Estados Unidos e recuperação do crescimento na Ásia.

A rigor a crise financeira iniciou-se nos Estados Unidos e contaminou diretamente os bancos dos principais países desenvolvidos. Nos países emergentes ela foi importada pelo pânico psicológico, revelou-se sem maiores consequências e a desaceleração do crescimento veio da queda nas exportações. A sustentação do crescimento e o seu ritmo dependerão do dinamismo de seu mercado doméstico. Tudo indica que os emergentes estão retomando o crescimento ainda que em ritmo menor.

Algumas grandes questões colocam em risco a recuperação recém-ensaiada nos países desenvolvidos. Ela se sustentará no momento em que os estímulos fiscais forem retirados? O que acontecerá com o seu sistema financeiro enquanto a nova regulação não vem, com uma política monetária fortemente expansionista, que inundou o sistema com abundante liquidez, uma taxa de juros próxima a zero e o retorno das práticas e da especulação financeira?
Com o socorro monumental dado pelo Federal Reserve (Fed, banco central) e pelo Tesouro, o mercado financeiro norte-americano já voltou a operar com as mesmas práticas que desencadearam a crise, as operações de trading no mercado de capitais, gerando grandes lucros e, com isso, os bônus bilionários e a sensação de que a crise financeira já acabou.

No entanto, não é a percepção dos analistas econômicos que sabem que as fragilidades do sistema financeiro não foram removidas e ninguém está prevendo a recuperação da economia em forma de V. Ao contrário, os analistas mais sérios agrupam-se em dois grupos. De um lado, aqueles que acham que a recuperação terá a forma U, mas com base achatada e longa e, de outro, aqueles que acreditam que a recuperação terá a forma de um W. Há fortes argumentos para ambos os grupos.

Aqueles que veem a recuperação em forma de U, com base achatada e longa, apontam que dois choques negativos e persistentes nos países desenvolvidos: choque de queda no consumo, em função da enorme destruição de riqueza financeira e necessária elevação da taxa de poupança das famílias americanas que estavam super-endividadas. O mesmo ocorre na Europa em menor grau; assim, a hipótese de recuperação via exportações está afastada. Com forte e persistente queda no consumo e nas exportações, a recuperação dos investimentos também é remota. Mais do que isto alguns analistas como Paul Krugman apontam riscos dos Estados Unidos entrarem numa espiral deflacionária, pois as respostas de política econômica tomadas até agora nos Estados Unidos e os desdobramentos da crise estão distantes daquelas tomadas pela Suécia e outros países nórdicos no início da década de 90, que permitiram rápida recuperação econômica. O desenrolar da crise mais se assemelha com o caso japonês em que o socorro do banco central e do tesouro se deu sem simultânea reestruturação do sistema financeiro, como no caso sueco, e com isso a recuperação foi lenta e prolongada e agravada pela temível espiral deflacionária.

Aqueles que acreditam que a recuperação será longa e em forma de W ou www, apontam duas ordens de riscos. Primeiro os riscos oriundos da estratégia de saída das expansionistas políticas monetária e fiscal e da retirada das garantias e da liquidez extraordinária injetada no sistema. Os desafios são gigantescos: em que momento reverter as políticas, lembrando que os estímulos fiscais têm data marcada para serem retirados e que a sua permanência requer aprovação do Congresso provavelmente resistente; como sequenciar ao longo do tempo as saídas; como coordenar e sincronizar globalmente as saídas.

Em segundo lugar temos os riscos oriundos da injeção extraordinária de liquidez e socorro aos bancos sem a simultânea reestruturação. Com recursos sem limite, as taxas de juros próximas a zero garantidas pelo Fed e na crença de que o governo não permitirá novas quebras os bancos, as mesmas práticas especulativas que geraram as bolhas e seu colapso retornaram. Pois é assim que geram enormes lucros recordes agora captando recursos custo praticamente zero e especulando com ativos com preços deprimidos.

Não são as operações tradicionais de empréstimos bancários ao setor real da economia que estão de volta. Basta verificar que as reservas bancárias ociosas passam de mais de US$ 1,3 trilhão. São as operações alavancadas de trading no mercado de capitais que voltaram e que, ao canalizarem recursos da liquidez extraordinária injetada pelos bancos centrais para as bolsas de valores, principalmente dos emergentes, petróleo, as commodities e para moedas-commodities, como o real, estão provocando a elevação de seus preços que já atingiram níveis em plena recessão global que não se justificam. Assim já podemos falar de mini-bolhas. De fato, nestas instituições quando o preço de seus ativos aumentam no seu balanço recompõe-se o seu patrimônio líquido e a alavancagem se reduz com isto são estimulados pela expectativa de polpudos lucros e bônus milionários abrem o apetite ao risco alavancando-se com novas operações e assim sucessivamente até que geram bolhas que podem eventualmente estourar.

Assim, aqueles que acreditam que a recuperação se dará sob a forma de W apontam para as grandes dificuldades de implementar uma saída das políticas e da retirada da liquidez extraordinária sem turbulências num quadro no qual a própria ação de socorro dos bancos centrais está gerando mini-bolhas. Certamente haverá sustos já que o socorro do governo aos bancos foi feito sem a sua reestruturação que deverá demorar e quem sabe será implementado só em 2011.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas – FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.