Aperto monetário

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Ontem o Banco Central do Brasil (BCB) elevou as taxas de juros para a economia brasileira de 11,25% para 12, 25%, um crescimento de 1 ponto percentual, com impactos imediatos para a economia nacional, impactando os investimentos e a geração de emprego e de renda.

Segundo o Banco Central, o crescimento da taxa de juros brasileira está diretamente ligado aos riscos fiscais que estão crescendo de forma acelerada, levando a Autoridade Monetária a adotar políticas imediatas para evitar o estouro das metas inflacionárias.

Nas últimas semanas percebemos que os valores do dólar aumentaram substancialmente, gerando pressões sobre os preços internos e impactando sobre a inflação, movimentando as especulações e os ganhos dos agentes econômicos.

Importante destacar, que os movimentos cambiais estão ligados às movimentações do mercado norte-americano, perspectivas de elevação dos juros nos Estados Unidos que absorvem grande parte do dólar no mercado global e impacta sobre todas as regiões, internamente somos muito prejudicados em decorrência, segundo o “mercado”, dos desequilíbrios fiscais da sociedade brasileira.

Essa discussão está marcada por fortes politizações da economia brasileira, muitos grupos usam seus instrumentos econômicos e políticos para pressionar o governo para aumentar as taxas de juros, destacando que os riscos fiscais são elevados e o governo precisa rever suas estruturas de gasto, reduzindo seus empenhos e organizando as finanças públicas, sob pena de ver os juros futuros em amplo crescimento e inviabilizando a política econômica.

Para equilibrar o orçamento o governo precisa de uma força tarefa para controlar os gastos governamentais, um auxílio do Congresso Nacional e setores representativos da Justiça nacional, mas infelizmente, como o governo federal não dispõe de apoio necessário para organizar as contas e, os setores citados acima, usam seus poderes para prejudicar o controle das contas públicas, evitando a redução de seus gastos e chantageando o governo nacional, mantendo seus ganhos e aumentando-os sorrateiramente,  transferindo para o governo federal o ônus da piora das contas fiscais.

De outro lado, encontramos grupos de economistas e analistas, que acreditam que a situação é ruim para a economia nacional, com taxa de crescimento econômico interno baixa e postergando a recuperação dos setores produtivos, situação que permitiria o aumento da geração de emprego e a melhora substancial da renda agregada. Na situação atual, com taxas de juros mais elevadas, percebemos uma retração dos investimentos produtivos e postergando a recuperação da economia brasileira.

Estes grupos acreditam que o movimento do mercado tem o intuito fragilizar a política econômica e inviabilizar a melhora da economia nacional nos próximos anos do governo Lula, evitando uma reeleição ou, até mesmo, inviabilizando um candidato defendido pelo atual Presidente da República.

Quando falamos de corte de gastos estamos entrando numa seara espinhosa, o chamado mercado defende a redução dos dispêndios sociais, com cortes do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Abono salarial, as multas do FGTS, dentre outros dispêndios sociais. Nesta conta, o chamado mercado não coloca uma progressividade dos impostos, se esquece da tributação dos lucros e dividendos, uma excrescência que existem em apenas três nações do mundo, e servem para garantir os altos rendimentos do andar de cima.

Deixando de lado as discussões econômicas, as taxas elevadas tendem a reduzir os investimentos e esfriar a economia nacional no próximo ano, postergando novos investimentos internos e elevando os ganhos das aplicações financeiras, gerando ganhos substanciais para poucos grupos econômicos, os chamados rentistas ou os financistas.

As taxas de juros cobradas no Brasil se colocam entre as mais altas do mundo, algo ruim para a economia nacional, neste momento, somos detentores da maior taxa de juros do mundo, estimulando gastos substanciais do orçamento público em prol do rentismo, além de contribuírem negativamente para os indicadores degradantes que vivemos na sociedade brasileira, piora social e dificuldades crescentes de recursos das políticas públicas.

Num momento de recuperação econômica, onde os agentes econômicos que mantinham recursos em caixa estudavam aumentar os investimentos produtivos para aumentar a capacidade de suas empresas, com taxas de juros elevadas os empresários repensam suas estratégias de gestão, pois sabem que juros elevados geram incertezas na produção e leva os agentes a colocarem seus recursos econômicos e financeiros em títulos públicos, cujos retornos rendimentos são muito elevados e evitam perdas dos setores produtivos.

Destacamos ainda, que cada ponto percentual de aumento nas taxas de juros da Selic, definidas pelo Banco Central, correspondem a mais de 30/40 bilhões de reais de gastos do governo federal, recursos que pioram as contas governamentais e postergam a recuperação e o crescimento da economia nacional.

Mais uma vez, estamos vendo, o Brasil perdendo oportunidades históricas de alavancar o crescimento interno, com taxas de juros civilizadas, novas ondas de investimentos produtivas e perspectivas produtivas que culminariam no tão sonhado desenvolvimento econômico.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel de Ciências Econômicas, Especialista em Economia do Setor Público, Mestre e Doutor em Sociologia.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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