Ansiedades econômicas

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Como definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a ansiedade pode ser descrita como um sentimento ligado à preocupação, nervosismo e medo intenso. Apesar de ser uma reação natural do corpo, a ansiedade pode virar um distúrbio quando passa a atrapalhar nosso cotidiano. Neste ambiente de grandes transformações e incertezas crescentes, onde as bases da sociedade vem passando por grandes alterações, mudanças no mundo do trabalho, surgimento de novos modelos de negócios, crescimento do individualismo, negacionismos e medos crescentes, grande parte da população se sente assolado pela ansiedade, cujos transtornos são mais comuns do que se imagina.

Neste ambiente, percebemos um crescimento da ansiedade econômica dos agentes produtivos e financeiros para que o novo governo defina os nomes da equipe econômica, responsáveis pela política econômica, suas visões macroeconômicas, suas respostas fiscais e monetárias, além de suas credenciais, seu histórico e as predileções teóricas. Vivemos um momento de ansiedades crescentes, onde os agentes econômicos e setores financeiros se utilizam de seu poder político e sua pressão econômica para impor seus princípios e defender seus interesses.

O poder destes agentes econômicos e financeiros são elevados, pressionam os investimentos, estimulam a entrada e a saída de recursos monetários, gerando instabilidades, volatilidades e aumento das dívidas governamentais, forçando o incremento de seus rendimentos financeiros, ganhando com altas taxas de juros, pressionando as despesas públicas, forçando políticas de austeridade fiscal e garantindo lucros estratosféricos e a perpetuação de seu poder financeiro e controle dos setores governamentais.

Quando o mercado consegue sinalizações positivas, conseguindo emplacar seus prepostos para os altos cargos da hierarquia governamental fazem grandes festas, regadas por bebidas sofisticadas, exaltando as credenciais de seus indicados e, posteriormente, fortalecem seus interesses financeiros e seus ganhos adicionais, se preparando para angariar ganhos elevados, norteando a política econômica e aumentando seu patrimônio, estimulando a compra de ativos públicos, vistos como sucateados e poucos interessantes, mas são adquiridos na bacia das almas, controlando os mercados, criando verdadeiros oligopólios e dominando a estrutura econômica e produtiva.

Se os indicados para os cargos econômicos do novo governo forem vistos como intervencionistas e defensores de políticas Keynesianas, as reações são diferentes, a ansiedade cresce, as retaliações e as chantagens aumentam e o terrorismo financeiro cresce, dificultando a adoção de políticas mais intervencionistas e buscando tutelar os gestores financeiros que usam cartilhas ideológicas diferentes, pressionando o dólar e gerando quedas das Bolsas de Valores, no limite gerando caos generalizados e, através deste cenário, conseguem o incremento de seus rendimentos e aumentando os lucros de investidores internos e externos.

O caos econômico perpetrados pelos donos do capital podem ser vistos como um instrumento para fragilizar as novas ideias econômicas e levar os atores políticos a adotarem medidas “prudentes” e comedidas, prudentes devem ser vistas como aquelas que garantem seus ganhos crescentes e a manutenção de seus poderes políticos, evitando políticas redistributivas e tributação progressiva que podem reduzir os ganhos financeiros dos grupos mais abastados.

A ansiedade econômica é pensada pelos grandes conglomerados econômicos e financeiros para garantir lucros estratosféricos para os seus, usando a influência do capital para enquadrar medidas econômicas heterodoxas e intervencionistas, com isso, estes atores não se sensibilizam com mais de 33 milhões de pessoas passando fome e com a degradação de políticas públicas e sociais, cujos recursos monetários foram reduzidos imensamente, gerando incremento nas fragilidades de partes consideráveis da população.

A racionalidade econômica descrita pelos economistas ortodoxos e seus representantes defende interesses imediatos, restringe intervenções governamentais, limitando estratégias ousadas, incrementando lucros e perpetuando misérias e indignidades.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 16/11/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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