Abandono escolar e motivação para aprender, por Claudia Costin

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Precisamos evitar que os estudantes considerem a escola desconectada de seus sonhos de futuro e dela desistam

Cláudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Folha de São Paulo, 18/06/2021.

Acompanhei, com grande preocupação, a pesquisa realizada pelo Conselho Nacional da Juventude em 2020, em meio à pandemia, que mostrava que 28% dos jovens pensavam em desistir de estudar. Pois bem, um ano depois, já são 43%.

As razões são as esperadas: a crise econômica que resultou do prolongamento da Covid e as dificuldades de acesso ao ensino remoto, que tanto prejudicaram a aprendizagem. O vínculo se rompeu e os jovens se desconectaram não só das aulas mas da própria escola.

Não que não houvesse abandono escolar antes da pandemia, mas o crescimento dos que afirmam não pretender voltar é assustador em tempos de automação acelerada e poucas chances de trabalho digno para quem não concluiu o ensino médio. Isso deveria ser visto como emergência que se soma à das aprendizagens perdidas pelos que prosseguirão seus estudos.

Vários estados começaram a fazer a busca ativa de alunos que não voltaram ou se desligaram do processo de aprendizagem remota. O Unicef tem desempenhado importante papel em incentivar e orientar tecnicamente este esforço.

Mas a intenção de abandonar os bancos escolares não está ligada só à necessidade de complementar o orçamento familiar em meio à crise, ou à falta de conectividade. Há, além disso, um problema de motivação para aprender.

Tanto tempo longe das escolas e a inadequação dos métodos assíncronos de ensino, representados por roteiros escritos a serem preenchidos e programas de rádio e televisão, certamente trouxeram um desengajamento dos jovens.

Daí o acerto do tema escolhido pelo Instituto Ayrton Senna para seu Seminário Internacional realizado nesta semana: motivação em educação.

Discutir com especialistas e gestores educacionais como se assegura motivação em crianças e jovens para uma boa gestão da aprendizagem e ouvir pessoas que se motivaram, ao longo de sua vida para realizar projetos transformadores, foi uma estratégia bem adequada ao momento em que vivemos. Tive, neste sentido, a incrível oportunidade de entrevistar, no seminário, a dra. Jane Goodall, primatóloga reconhecida mundialmente, a partir do seu trabalho pioneiro com chimpanzés na Tanzânia.

Desenvolver nos alunos habilidades de autorregulação e incentivá-los a se conhecer melhor e a pensar em seu projeto de vida, são estratégias associadas, de acordo com as pesquisas, a maior motivação, bem-estar e sucesso acadêmico.

Tenderão também, com certeza, a favorecer a permanência dos jovens na escola.

Mais do que buscar os adolescentes que abandonaram a escola, precisamos evitar que eles a considerem desconectada de seus sonhos de futuro e dela desistam!

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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