Nova dependência 

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Vivemos momentos de grandes transformações na sociedade global, estas grandes alterações estão redefinindo as estruturas de poder e de riqueza, criando uma nova economia, com novos desafios para o desenvolvimento das nações e, ao mesmo tempo trazendo grandes desafios, lembrando que, para colher frutos positivos para a sociedade, fazem-se necessárias uma ampla preparação interna, com maciços investimentos em capital humano e a consolidação de instituições políticas e econômicas.

Historicamente o Brasil sempre se caracterizou por ser uma economia exportadora de produtos primários de baixo valor agregado, estruturada em um modelo econômico que se pautou por grandes propriedades, monocultura exportadora e trabalho escravo, características que ainda existem fortemente na atualidade. Somos uma grande nação exportadora de produtos primários com baixo valor agregado, desta forma, somos dependentes do mercado externo, os preços dos nossos produtos são definidos pelo mercado internacional e, somos historicamente importadores de produtos industrializados, compramos máquinas e tecnologias dos países mais avançados, estes sim definem os preços dos seus produtos vendidos no mercado externo.

As riquezas naturais extraídas de países mais atrasados economicamente eram utilizadas para alavancar o crescimento econômico das nações desenvolvidas, um modelo produtivo bastante agressivo economicamente e uma estrutura de comércio desleal que sempre gerou grandes privilégios para os países do norte global em detrimento das nações do sul, garantindo uma exploração institucionalizada pelas regras internacionais  criadas pelas nações desenvolvidas, e aceitas passivamente pelas elites locais, que enriqueciam garantindo migalhas e que se satisfaziam com a pobreza e a miséria de sua população.

No século XX, o Brasil ensaiou um processo de industrialização tardia, com fortes investimentos estatais para transformar a estrutura produtiva, criando variadas empresas públicas para alavancar o crescimento econômico, com isso, demos um salto gigantesco e passamos ao rol das dez maiores economias do mundo, preocupando nações industrializadas e gerando calafrios pelo forte potencial de crescimento econômico e produtivo, se sabidamente somos dotados de grandes riquezas naturais e minerais e se, conseguíssemos, construir um forte setor industrial, moderno, inovador e dinâmico?

Com os fortes movimentos econômicos e produtivos gerados pela globalização e pela abertura econômica, perdemos espaço no comércio internacional e passamos a vivenciar um processo de desindustrialização precoce e o setor primário exportador voltou a dominar as exportações brasileiras, exportando minério de ferro e importando produtos industrializados, exportando produtos in natura e importando produtos sofisticados, máquinas e tecnologias avançadas, retomando uma dependência que sempre caracterizou a sociedade brasileira.

Hoje percebemos uma nova dependência em curso na sociedade global, estamos, novamente, acreditando no canto da sereia das nações desenvolvidas, estamos aceitando a venda de produtos primários estratégicos, as mercadorias mais demandadas são as chamadas terras raras, minérios utilizados nas grandes big techs para garantir sua hegemonia no mercado global e, continuamos a ser importadores de tecnologias avançadas, nos tornando dependentes do mercado externo e deixando de lado nosso gigantesco potencial científico e tecnológico, entregando os investimentos estratégicos para empresas estrangeiras que pouco conhecem nossa trajetória, deixando de lado a ciência nacional, os pesquisadores e todos aqueles que acreditam verdadeiramente no enorme potencial deste país.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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