Vivemos numa sociedade marcada por grandes transformações estruturais que geram preocupações crescentes, medos e ressentimentos generalizados, levando os seres humanos a acumularem rancores e sentimentos preocupantes, impulsionando mágoas e violências crescentes, aversão aos estrangeiros e aos imigrantes, com estímulos para o incremento de protecionismos econômicos e polarizações políticas.
O crescimento do mundo digital, o desenvolvimento das tecnologias, as transformações no mundo das comunicações e o domínio das redes sociais criaram novos espaços de violências crescentes e degradações, as pessoas perderam seus sentimentos de empatia e de solidariedade, os indivíduos perseguem as curtidas nas redes sociais com publicações cada vez mais bizarras e deprimentes, deixando claro que a sociedade global vive dominada por patologias destrutivas e deprimentes, espalhando violências, conflitos militares, disseminando mentiras e destruindo reputações e estimulando preconceitos, racismos e intolerâncias.
Neste ambiente, percebemos uma degradação crescente do meio ambiente, transformações climáticas em todas as áreas e regiões do globo, com impactos generalizados para todos os setores econômicos e produtivos, impactando sobre empregos, investimentos e a produtividade da economia, neste cenário assustador, percebemos indivíduos e setores inteiros rechaçando relatórios de pesquisadores sérios que mostram as transformações perversas em curso na natureza e no meio ambiente, defendendo visões negacionistas, investindo em pesquisas falsas e enganosas, defendendo setores produtivos altamente poluentes, que degradam a natureza e destroem uma riqueza comum da humanidade.
Vivemos num ambiente marcado por fortes protecionismos econômicos e comerciais, nações que anteriormente defendiam a liberalização comercial e propagandeavam as vantagens da abertura econômica e da concorrência, onde os mais fortes e empreendedores dominariam a sociedade global, perpetuando seus valores, suas crenças e sua capacidade de inovação. Essas crenças ocidentais vêm perdendo espaço na comunidade internacional, os países mais ricos perderam força no comércio internacional e passaram a defender políticas protecionistas mais escancaradas, sobretaxando produtos estrangeiros, limitando a entrada de imigrantes, aumentando as barreiras comerciais, impondo a venda do controle acionário de empresas estrangeiras inovadoras como forma de proteger seus setores econômicos e produtivos.
Neste cenário, percebemos o incremento de conflitos militares em variadas regiões do mundo, levando as nações a aumentarem seus investimentos em defesa, transferindo recursos preciosos que deveriam ser utilizados para melhorar as condições de vida de suas populações para a compra de armas, aquisição de aviões e caças militares, tecnologias bélicas, radares, drones, treinamentos e novas estratégias de guerra.
Neste ambiente de grandes transformações, percebemos uma sociedade cada vez mais violenta, com alterações e agitações climáticas, um ambiente mais quente, chuvas cada vez mais destrutivas e degradantes, uma comunidade marcada por instabilidades econômicas e produtivas, gerando medos, preocupações e desesperanças, angústias crescentes e medo do desemprego, renda em declínio, famílias desorganizadas e empresas assustadas pelo crescimento da competição econômica, que anteriormente era local e agora a concorrência é mundial, aumentando as incertezas, os estresses, as ansiedades e as depressões.
Neste cenário de instabilidades econômicas, de violências crescentes e clima descontrolado, será que não está na hora de refletirmos sobre as causas estruturais destes infortúnios globais que levam pessoas diferentes, com culturas variadas e comportamentos diferentes a viverem ou sobreviverem com privações parecidas? Será que não está na hora de refletirmos sobre o modelo econômico dominante….
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor universitário.