Na UE, imigrantes levam a crescimento de 0,2% a 1,6% acima do que seria esperado
Rodrigo Zeidan, Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.
Folha de São Paulo – 14/09/2024
Com a crise na Venezuela, o debate americano e o crescimento da extrema direita na Europa, os temas imigração e refugiados voltaram ao centro do debate político. Obviamente, é bem estranho que países feitos basicamente de imigrantes, como EUA e Brasil, ou que cresceram através de colonização, como na Europa Ocidental, agora venham a demonizar estrangeiros.
No debate americano, o candidato a vi
ce-presidente na chapa de Donald Trump, J.D. Vance, tem exagerado na retórica xenofóbica. Ele chegou a disseminar informações falsas de que imigrantes haitianos estariam roubando e comendo os animais de estimação das pessoas na cidade de Springfield, em Ohio.
Enquanto isso, a realidade é que os milhares de imigrantes do Haiti estão transformando a cidade para melhor. Milhares de vagas de empregos que não tinham candidatos estão sendo preenchidas. Os haitianos estão trabalhando nas fábricas da Honda, em centros de distribuição e nos Walmarts da vida. A cidade que tinha déficit, agora arrecada mais empostos do que gasta. Quando o Brasil ia bem, vários empresários do Sul me diziam o quanto haitianos trabalhavam duro e quanto contribuíam para suas cidades. Hoje, a maioria se naturalizou brasileira e é contribuidora líquida para o Estado.
Obviamente, ondas de imigrantes têm custos. A longo prazo, os benefícios são claros, mas há custos de ajuste de curto prazo. É esse o maior problema no Brasil e na Europa. Os milhões de refugiados estressaram os sistemas de segurança social em vários países e, na Suécia, estão associados ao aumento de crimes por gangues, especialmente em Malmö. Tais problemas não vão durar muito; as guerras de gangues de motociclistas, todos locais, na Dinamarca, foi pior, e o sistema acabou vencendo.
A literatura científica é clara. Imigrantes legais ou ilegais, e refugiados começam menos crime que as populações locais. Nos EUA, imigrantes ilegais cometem crimes a uma taxa 60% menor que a população local, em estudos com dados desde a década de 1960. E são o motor do desenvolvimento. Mesmo um imigrante com baixa qualificação acaba subsidiando a população local em cerca de US$ 128 mil ao longo da sua vida. Imigrantes geraram crescimento de 0,2% a 1,6% do PIB na União Européia acima do que seria esperado.
A maior crise de refugiados no mundo é na Venezuela, de onde quase 8 milhões de pessoas já escaparam. O Brasil já cometeu diversos euros, desde a atuação desastrosa no Haiti até passar pano para a agora ditadura de Maduro. Se o governo brasileiro não tem coragem de enfrentar Maduro, embora tenha fraudado eleições e praticamente exilado seu adversário, que pelo menos tenha a decência de assistir aos que fogem para o Brasil, seja pela fronteira, seja por outros meios. E isso significa também assistência federal aos estados fronteiriços, que não têm como arcar sozinhos com os custos de ajuste.
Se falta coragem para enfrentar ditador bolivariano, que pelo menos a esquerda coloque em prática o melhor dos seus planos, que é ajudar os mais necessitados. E sem delongas.