A ascensão da China na economia internacional está gerando grandes alterações na lógica do poder mundial, transformando a geopolítica global, movimentando parcerias estratégicas entre nações, construindo novos cenários externos, além de conflitos comerciais, protecionismos variados e medidas emergenciais para defender seus setores econômicos e produtivos nacionais.
Desde os anos 1990, com a desintegração da União Soviética, os Estados Unidos da América se tornaram a grande economia mundial, detentora da hegemonia global e responsável pelos rumos da sociedade internacional, suas empresas ganharam novos espaços nos setores produtivos mundiais, estimulando a concorrência no cenário global, além de fomentar grandes conflitos militares, alterando regiões inteiras, agitando culturas milenares e transformando as geopolíticas regional e global.
Nestas últimas décadas encontramos situações interessantes e diferenciadas na busca pela hegemonia internacional, onde os Estados Unidos competiram com uma nação forte militarmente, União Soviética, mas frágil e degradada do ponto de vista econômico e produtivo. Posteriormente, seu próximo rival, o Japão, era visto como uma potência econômica, dotada de grande tecnologia e organizações estruturadas, mas frágil do ponto de vista militar. Atualmente, percebemos que a busca pela hegemonia global nos traz grandes desafios para os Estados Unidos, na verdade, nos parece o grande desafio norte-americano do século XXI, afinal, seu competidor, a China, se caracteriza por grande força econômica e produtiva, dotada de grande potencial tecnológico e de inovação, além de grande força militar.
Estamos vislumbrando um conflito demorado pela hegemonia internacional, onde as estratégias são imprescindíveis para o sucesso das próximas décadas, exigindo de todos os contendores, grandes investimentos em capital humano, além de grande potencial de inovação para competir neste cenário marcado por grandes concorrências, incertezas e instabilidades crescentes.
Nesta busca pela hegemonia mundial, seus governos estão usando seus poderes políticos e financeiros para alavancar seus setores econômicos e produtivos, proibindo a entrada de produtos de seu concorrente direto, além de proibir que empresas locais transfiram tecnologias aos grandes competidores, além de pressionar seus parceiros comerciais para que se alinhem diretamente neste conflito global que tende a se estender por muitas décadas, gerando constrangimentos e preocupações de uma guerra militar em todas as regiões do mundo.
Países como o Brasil estão sendo cobrados internacionalmente para escolher um lado deste conflito entre hegemonias, diante disso, é importante construirmos consensos internos para compreender os cenários que estão sendo abertos neste conflito global, deixando de lado visões ideológicas e buscando os interesses nacionais, garantindo que a economia nacional se consolide, cresça e ganhe espaços no cenário internacional, consolidando uma neoindustrialização, fortalecendo setores vinculados as energias alternativas, reconstruindo e fortalecendo o setor da economia da saúde, fomentando a capacidade tecnológica para agregar valores aos produtos agrícolas produzidos internamente e melhorando os termos de troca da agricultura nacional, desta forma, garantindo recursos adicionais para melhorar os salários dos trabalhadores e fortalecendo um mercado de consumo de massa e contribuindo para alavancar o crescimento da economia nacional, deixando de lado décadas de estagnação econômica e arrocho salarial de grande parte dos trabalhadores nacionais.
Estamos num momento de escolhas difíceis e estratégicas, exigindo maturidade e sabedoria, além de liderança e ousadia, as escolhas repercutirão durante décadas e é fundamental compreendermos que não existe almoço grátis, como lembrou o economista norte-americano Milton Friedman.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.