No começo de julho comemoramos trinta anos do nascimento do Plano Real, o plano econômico responsável por debelar a inflação galopante que dominava a economia nacional, gerando grandes avanços econômicos para a sociedade brasileira, controlando os preços relativos, criando novos desafios e abrindo horizontes para a economia brasileira.
A inflação deve ser vista como o aumento generalizado de preços na economia, seus impactos são generalizados no sistema econômico e produtivo, garantindo ganhadores e perdedores, como tudo na sociedade. Os grandes ganhadores da inflação são, inicialmente o governo federal, responsável pelos ganhos de senhoriagem, ou seja, a capacidade dada ao Estado Nacional na emissão de moedas no sistema econômico. Outro grande ganhador do processo inflacionário são os bancos e o sistema financeiro, que ganham com recursos monetários parados em contas correntes, garantindo ganhos reais, grandes recursos monetários para seus acionistas, além de grandes somas de recursos para investimentos em novas tecnologias bancárias, levando nosso setor bancário a se destacar na sociedade mundial.
De outro lado, destacamos os perdedores do processo inflacionário, que eram os setores mais fragilizados na sociedade, indivíduos que não conseguiam compreender as dinâmicas dos preços e não tinham acesso a contas indexadas, instrumentos utilizados para reduzir as perdas inflacionárias. Desta forma, a inflação sempre foi um instrumento de concentração de renda da economia nacional, contribuindo negativamente para os incrementos das desigualdades que perpassam a sociedade nacional.
O Plano Real foi construído para estabilizar a economia nacional e garantir condições para um salto de crescimento nas décadas posteriores, um plano pensado, planejado, estruturado e muito ambicioso, que garantiram aos seus proponentes a condição de ganhar a próxima eleição presidencial e angariar votos significativos para assumir estados importantes da federação.
Esses ganhos reais estavam relacionados com a queda da inflação e com a elevação da renda dos trabalhadores, que garantiram grandes somas de recursos monetários para consumo e melhoras substanciais imediatas. Para absorver as demandas crescentes dos governos o governo estimulou a entrada de produtos importados e novas empresas estrangeiras chegaram nos mais variados setores da economia, gerando novos movimentos na estrutura produtiva, evidenciando uma desnacionalização, com empresas nacionais sendo adquiridas por grupos internacionais, além de uma tendência de desindustrialização, com perdas de competitividade da indústria nacional, com incremento dos empregos industriais e uma avalanche de empregos de baixa qualificação e salários degradantes.
O Plano Real, que ora comemoramos trinta anos, foi fundamental para a estabilização da moeda nacional, aumentando a autoestima da nação, trazendo grandes ganhos para a população, mas nos trouxe novos desafios numa economia globalizada e marcada pela forte competição. Ao negligenciarmos com o câmbio valorizado e as taxas de juros elevadas e se acostumando com as euforias iniciais e ilusórias do plano, a sociedade se “esqueceu” de aprofundar as discussões estruturais que aumentam o nosso subdesenvolvimento, postergando medidas imediatas para melhorarmos os indicadores sociais. Depois de trinta anos de Plano Real, precisamos fazer uma autocrítica séria, madura e inadiável, sem isso, nosso subdesenvolvimento tende a se aprofundar rapidamente.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.