Macroeconomia da estagnação

Compartilhe

Depois de um forte crescimento econômico nas décadas posteriores a segunda guerra mundial até os anos 1980, com rápido crescimento econômico, com incremento da urbanização, industrialização e melhora nos termos de troca, a partir dos anos 1990, a economia brasileira perdeu seu dinamismo econômico, convivendo com estagnação produtiva, com forte desindustrialização, com precarização do trabalho, com achatamento salarial, com aumento substancial da violência urbana e incremento da desigualdade social, culminando em uma sociedade paradoxal e fortemente polarizada, de um lado somos um dos maiores produtores agrícolas, vegetação diversificada, solo fértil, climas propício e agradável, convivendo, lado a lado, com grandes contingentes de indivíduos empobrecidos, esfomeados, sem perspectivas e sem dignidade.

Desde os anos 1990, percebemos uma estagnação econômica e produtiva, taxas de juros escorchantes, câmbio valorizado, inflação em ascensão, diminuição dos investimentos produtivos, abertura econômica atabalhoada, privatização sem planejamento e marcado por crescimento da corrupção, fragilização dos órgãos de controles institucionais, culminando num processo amplo de desindustrialização e empobrecimento nacional, marcados por uma macroeconomia da estagnação. Qual nação conseguiu se desenvolver num cenário como este?

Depois de décadas de crescimento econômico e produtivo vigorosos, a sociedade brasileira caiu no canto da sereia, aceitando uma agenda vinda de fora, se rendendo aos interesses do grande capital financeiro internacional, abraçando o Consenso de Washington, abrindo mão da soberania nacional em prol de grandes grupos econômicos internacionais, desta forma, perdemos autonomia política e aumentamos a dependência da economia mundial, somos atualmente exportadores de produtos primários de baixo valor agregado e somos importadores de produtos industrializados, dependentes de tecnologias externas e abdicamos da construção da tecnologia nacional, exportamos cérebros e importamos todos os tipos de produtos industrializados.

Se construímos empresas de telecomunicação precisamos vender esse ativo para conglomerados internacionais e desta forma, passamos a absorver tecnologias de grandes grupos internacionais, aumentando a dependência externa. Se construímos aviões comerciais com grande complexidade e eficiência, somos obrigados a vender esse ativo estratégico para grupos globais maiores para aliviar os rombos fiscais e monetários. Se construímos chips e tecnologias complexas, setor responsável por grandes conflitos comerciais entre as nações internacionais, somos tentados a vender ou a fechar este ativo estratégico e nos tornando importadores dos grandes atores da tecnologia global, aumentando nossa dependência externa.

Embora as nações desenvolvidas estejam reconstruindo os consensos econômicos, relendo os manuais de teoria econômica, retomando privatizações equivocadas, aumentando a intervenção do Estado na economia e reconstruindo subsídios para fortalecer empresas nacionais, além de defender os produtores locais, com pomposas isenções fiscais e financeiras, países como o Brasil, insistem na macroeconomia da estagnação, limitando o potencial da sociedade, aumentando a dependência externa, como vimos no período da pandemia com a criação de um rastro de destruição e desagregação social.

Numa sociedade marcada pelo desenvolvimento tecnológico, pelo aumento da concorrência e pela instabilidade crescente, as nações que se sobressaem no cenário internacional são aquelas que investem fortemente em capital humano, com recursos garantidos em pesquisa científica, preservando sua autonomia econômica e sua soberania política, além de fortalecer seu projeto de nação e, principalmente, se afastando do complexo de vira lata, tão bem retratado por Nelson Rodrigues para analisar a elite nacional.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

Leia mais

Mais Posts

×

Olá!

Entre no grupo de WhatsApp!

× WhatsApp!