Todos os indivíduos no mundo contemporâneo estão percebendo que a sociedade vem passado por grandes transformações nas últimas décadas, com impactos generalizados para todos os cidadãos e comunidades, mexendo nos comportamentos, alterando valores e exigindo investimentos crescentes na qualificação e na capacitação individual, como forma de encontrar empregos e recursos para a sobrevivência.
Nesta sociedade, marcada por grandes incertezas e instabilidades, estamos vislumbrando novas formas de organizações social, política e produtiva, alterando todas as bases constituídas na sociedade industrial e, destas modificações, percebemos o nascimento de uma nova comunidade, centrada nas tecnologias, no mundo digital, no imediatismo, no individualismo e na busca crescente pelo lucro e pela acumulação.
A velocidade destas transformações é assustadora, novas tecnologias surgem todos os dias, novos modelos de negócios nascem diariamente motivados pela intensa competição entre os agentes econômicos e produtivos, levando os seres humanos a buscarem qualificações diárias, numa constante concorrência que não é mais local, nem nacional, mas estamos presenciando uma competição global. Nesta nova sociedade, todas as bases que sustentavam as relações sociais da sociedade industrial, tais como a família, a escola, os relacionamentos e a religião vêm sentindo na pele as grandes modificações, gerando medos, ansiedades e depressões, desta forma, percebemos o incremento das preocupações com a saúde mental dos indivíduos, onde o desequilíbrio emocional cresce de forma acelerada, exigindo políticas públicas e intervenções governamentais direcionadas para amainar estes desajustes.
Neste mundo centrado nas incertezas e nas instabilidades, o medo ganha relevância, as certezas estão cada vez mais reduzidas e os ressentimentos ganharam espaço na comunidade, motivando extremismos, violências, polarizações e desagregações, que levam as nações a conflitos sangrentos, confrontos bélicos, gastos estrondosos em equipamentos militares e repressões seletivas. Neste cenário, grupos que difundem o caos generalizado, notícias negativas, degradações, cancelamentos e as violências crescentes se transformaram num grande negócio, garantindo lucros estratosféricos e negócios rentosos, fazendo a alegria dos acionistas destas corporações.
A confiança, historicamente, deveria ser vista como o cimento da consolidação da convivência social na comunidade, onde os agentes econômicos, políticos e sociais deveriam acreditar nas instituições, fortalecendo as decisões democráticas e estimulando a cooperação social como forma de aprofundar as instituições, melhorando as condições sociais, reduzindo as desigualdades e garantindo oportunidades para todos os seus cidadãos.
O sonho democrático vem perdendo espaço na civilização ocidental e, neste cenário, os extremismos crescem, políticos autoritários ganham relevância e fragilizam os ideais de convivência social democrática e, desta forma, o futuro da sociedade contemporânea está sempre em suspeição, os medos aumentam, as ansiedades crescem e os lucros disparam para uma pequena parcela da comunidade, setores que ganham com os extremismos, a balbúrdia, a degradação humana e a violência urbana.
As pesquisas recentes demonstram que a concentração da renda cresceu fortemente nos últimos anos, garantindo privilégios para poucos grupos sociais e condições degradantes e abjetas para uma grande parte da população. Muitas pessoas acreditam que essa desigualdade crescente se apresenta apenas na sociedade brasileira, ledo engano, o crescimento da desigualdade é um fenômeno global, impacta sobre todas as nações, gerando incertezas e instabilidades, contribuindo para a degradação da vida em comunidade, com o incremento da violência e um medo generalizado do futuro.
A confiança no futuro é fundamental para consolidarmos os ideais democráticos, deixando de lado medidas imediatistas, individualistas e centradas nos ganhos monetários e crucial para reconstruir a convivência social, garantindo educação de qualidade para todos, novas oportunidades, acabando com privilégios de poucos, combatendo injustiças cotidianas, reduzindo violência e vislumbrando horizontes melhores e mais consistentes.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário