A comunidade econômica internacional está percebendo grandes transformações nas discussões teóricas nos governos, nas universidades e nos construtores das políticas públicas, onde destacamos o retorno das discussões referentes as políticas de intervenção dos governos nacionais retomando momentos de maior intervencionismo. Neste momento, as políticas protecionistas estão sendo adotadas, sempre destacando que estas políticas foram utilizadas por todos os governos nacionais como forma de estimular seus setores produtivos, uns deixando mais claras e efetivas, enquanto outras nações se escondiam em discursos surreais de uma defesa incondicional do livre mercado e da livre competição.
Neste momento, percebemos que estamos vivendo um momento interessante na economia nacional, com indicadores positivos, com melhoras sensíveis nos empregos, com queda das taxas de juros, redução da inflação, melhora nas contas externas, aumento das exportações e perspectivas positivas. Estas melhoras no campo econômico são sempre necessárias e imprescindíveis, mas precisamos entender, que os desafios são imensos e exigem esforços de todos os grupos sociais e políticos para que a sociedade enterre décadas de estagnação e baixo crescimento econômico, que trouxeram um incremento da degradação social, aumento da pobreza e da indignidade, além de facilitar o crescimento das polarizações políticas, aumentando os conflitos sociais, as violências e a desagregação.
Nos últimos quarenta anos, a economia nacional deixou de lado os grandes geradores de emprego em detrimento dos financistas e dos donos do capital financeiro, que passaram a controlar a agenda econômica, os meios de comunicação, impedindo as discussões democráticas e passaram a adotar uma pauta que garantem e perpetuassem de seu poder econômico e financeiro em detrimento da geração de riqueza real para a comunidade, controlando as autoridades monetárias, com taxas de juros escorchantes que garantem lucros e dividendos estratosféricos, com isso, percebemos uma situação surreal, uma economia estagnada, uma população endividada, desemprego nas alturas, empresas em dificuldades e bancos e sistema financeiro garantindo lucros e dividendos elevados.
Precisamos reconstruir um pacto pela produção, pela defesa da dignidade, em defesa do potencial produtivo da sociedade brasileira, estimulando os grupos que impulsionam a economia nacional, os pequenos, médios e grandes empresários, os trabalhadores das cooperativas, dos grupos econômicos vinculados as associações, os grandes produtores do campo, do agronegócio, todos aqueles que estão vinculados com a construção de riquezas nacionais, desta forma, precisamos alavancar investimentos produtivos, gerando empregos de qualidade, fortalecendo a formação e a instrução nas universidades, fomentando a ciência, a pesquisa e o conhecimento, canalizando recursos para a economia real, gerando emprego, taxas de juros condizentes e uma perspectiva de dignidade da população, impedindo um colapso social em curso na sociedade brasileira, um país imensamente rico, dotado de grandes vantagens comparativas, energias alternativas, economia verde e dotado de grande potencial de inclusão social e, infelizmente, convivendo com o crescimento exponencial dos moradores de ruas, das violências urbanas e no crescimento do mercado das drogas, das milícias e dos entorpecentes.
O predomínio da agenda dos grupos financistas e dos setores vinculados ao mercado financeiro fragilizaram uma visão de sociedade, criando uma análise imediatista, reduzindo os investimentos de longo prazo e levando os gestores privados a estimularem os ganhos imediatos e os pagamentos de dividendos elevados em detrimentos de investimentos produtivos, rechaçando o planejamento estratégico, garantindo lucros imediatos para os acionistas e fragilizando os negócios no longo prazo.
Vivemos numa sociedade paradoxal que privilegia setores que pouco contribuem para a geração de riqueza social e nos esquecemos dos verdadeiros geradores de progresso econômico e produtivo, sem estes não conseguiremos construir uma nação de cidadãos, apenas construindo consumidores.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.