Vivemos num momento marcado por grandes desenvolvimentos tecnológicos que estão transformando a sociedade global, criando relações novas entre o espaço e o tempo, como disse, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Um momento marcado pelo crescimento das redes sociais, das alterações produtivas e da comunicação instantânea, onde os seres humanos se sentem, cada vez mais, solitários, amedrontados e marcados pela desesperança, pela incerteza e pela instabilidade.
Neste cenário de fortes transformações tecnológicas, os trabalhadores estão passando por grande reinvenção, a busca de capacitação e requalificação profissional crescem todos os dias, exigindo investimentos crescentes e dedicações cotidianas como forma de acompanhar a aceleração das novas tecnologias, que criam novas formas de geração de riqueza, além de uma cobrança mais intensiva, numa busca insana que impacta todos os seres humanos, uns empregados e outros desempregados, num ritmo frenético que estão motivando desequilíbrios emocionais e desajustes afetivos e psicológicos.
Neste ambiente de fortes alterações econômicas, políticas, culturais e sociais, encontramos uma sociedade mundial cindida e que se compraz com a destruição dos inimigos, muitos deles verdadeiros e outros imaginários, estimulando guerras fratricidas, destruições militares e violências crescentes, nos levando a indagar, diante deste cenário, se somos seres humanos racionais, como defendiam os arautos da economia neoclássica.
No ambiente internacional, percebemos o crescimento dos conflitos bélicos, embarques crescentes de armas, remanejamento de tropas e armamentos militares, levando nações a canalizarem bilhões de dólares para impulsionar os mercados da guerra, desviando recursos imprescindíveis para a melhora das condições de vida de seus povos, criando confrontos internos, violências extremas, exclusões sociais, desempregos elevados e desesperanças inimagináveis, e muitos indivíduos, que vivem numa outra sociedade, estão se perguntando como a violência está crescendo de forma acelerada, afinal, muitos acreditam, erroneamente, que somos um povo pacífico, acolhedor e cordial, como destacou o grande intelectual brasileiro Sérgio Buarque de Holanda.
Internamente, somos uma nação criada e constituída na pilhagem, na exploração e na corrupção cotidiana, mantivemos durante séculos um modelo econômico centrado na explorando dos negros e dos indígenas, convivendo com uma concentração de renda obscena, vivemos numa sociedade centrada em privilégios de poucos, com fortes benefícios, isenções e privilégios tributários, além de recursos monetários e condições sociais de prestígios sociais e de respeitabilidade, seres que vivem em uma verdadeira casta. Em detrimento de uma grande maioria da sociedade, pessoas espoliadas, endividadas, desempregadas, com salários ultrajantes, transporte público degradante, educação de péssima qualidade, sem políticas públicas, sem segurança pública e sem dignidade humana.
Nesta sociedade encontramos imagens assustadoras, guerras nas mais variadas regiões do globo, conflitos sangrentos e violências crescentes, ônibus e trens queimados, bombas sendo disparadas, crianças sendo mortas e uma desumanidade ascendente, onde os seres humanos perdem a capacidade de indignação, com isso, percebemos que a sociedade caminha a passos largos a uma degradação sem precedente, com guerras, agressões e destruições, onde as instituições multilaterais não conseguem garantir melhores condições de convivência pacífica, exigindo uma reestruturação de todos os canais de negociação internacional, como forma de retomar as políticas de desenvolvimento social, fundamentais para a melhora das condições de vida da sociedade internacional.
Neste ambiente de grandes transformações, percebemos que as lideranças estão aquém dos desafios contemporâneos, como as questões relacionadas ao meio ambiente, o incremento da pobreza em todas as regiões, o aumento do crime organizado, as alterações no mundo do emprego e dos modelos de negócios. Todos esses desafios exigem uma visão sistêmica, multidisciplinar e uma visão coletiva, deixando de lado uma visão que domina a sociedade contemporânea marcadas pelo individualismo, pelo imediatismo e centrada no lucro.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.