Vivemos momentos interessantes e altamente complexos. As movimentações econômicas e políticas podem gerar crescimento econômico, melhorando as condições de vida da população, aumentando a renda agregada e, ao mesmo tempo, podendo fragilizar os indicadores econômicos e postergar a recuperação produtiva, gerando desafios e oportunidades novas.
Depois da pandemia, que vitimou mais de 6 milhões de cidadãos globais, com grande desaceleração econômica e fragilização produtiva, com conflitos constantes e instabilidades políticas, a economia retomou seu crescimento econômico, com melhoras significativas, mas percebemos que a recuperação está perdendo força, regiões inteiras estão com dificuldades de aumentar seus investimentos, com altas dívidas internas, endividamento crescentes de empresas, aumento de custos energéticos e, ao mesmo tempo, muitas nações estão aumentando seus gastos militares em detrimento de recursos públicos em setores sociais, com isso, a sociedade percebe o aumento das reclamações, as inseguranças, o a incremento da violência urbana, xenofobias, ódios e ressentimentos.
Depois de forte crescimento econômico desde o final dos anos 1990, a economia chinesa vem perdendo dinamismo, a geração de emprego diminuiu, as massas salariais perderam a pujança, as exportações que sempre foram vistas como um diferencial chinês vem perdendo espaço, gerando instabilidades no mercado interno, preocupações nos anos futuros e incertezas políticas, afinal, estamos numa sociedade onde o Estado Nacional tem um papel central como agente planejador e responsável pelas estratégias desenvolvidas na nação. Neste cenário, as incertezas internas da economia chinesa geram graves constrangimentos para a economia internacional, afinal, estamos falando do maior exportador mundial e a segunda maior economia do mundo, sua desaceleração tem impacto sobre todas as regiões globais, com menores investimentos, com redução de empregos e fragilizando a renda mundial.
A desaceleração da economia chinesa está ligada aos desequilíbrios gerados pela pandemia, que gerou graves desajustes na estrutura produtiva internacional, levando as economias a aumentarem suas taxas de juros para combater a inflação, que vitimou variadas nações e obrigaram os governos a adotarem políticas monetárias restritivas. Acrescentamos ainda, os custos gerados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que impactaram fortemente sobre os preços dos alimentos, das energias e dos combustíveis, levando a Europa a mergulharem a crises constantes em seu setor industrial, baixo crescimento, instabilidades econômicas e gerando insatisfações políticas.
Nos Estados Unidos, percebemos no período pós pandemia fortes incentivos fiscais e financeiros para estimular a retomada econômica, com forte incremento dos preços relativos e aumento inflacionário, gerando juros mais elevados e instabilidades dos setores produtivos, desta forma percebemos uma economia muito instável e com baixa capacidade de movimentar o sistema econômico e produtivo. Neste cenário, percebemos que a desaceleração econômica se espalha para as economias ocidentais, diminuindo a demanda interna, aumentando as instabilidades da renda agregada e impactos generalizados sobre a economia chinesa, reduzindo suas exportações e perdendo a capacidade de movimentar a economia internacional, papel desempenhado pela nação oriental desde o final do século anterior.
Vivemos numa economia altamente interligada e interdependente, encontramos eixos constantes de integração, as dificuldades internas diminuem as demandas externas, dificultando as exportações, reduzindo o dinamismo econômico e limitando o crescimento da nação, reduzindo a capacidade da estrutura econômica, postergando investimentos, inviabilizando novos empregos e retardando a recuperação produtiva.
Neste momento de incertezas crescentes, a economia mundial se olha para o dinamismo chinês, buscando soluções globais e crescimento econômico, pressionando seus governos a estimularem novos investimentos, como forma de evitar o marasmo econômico e evitando que o ambiente externo, tão preocupante, possa reverter essa situação de estagnação que aprofunda as desigualdades que crescem na contemporaneidade e geram medos e instabilidades cotidianas.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.