O começo de julho completou quase trinta anos do Plano Real, um plano de estabilização monetária que trouxe grandes alterações na economia brasileira, gerando algum tipo de estabilidade, melhora nos indicadores de preços e o incremento do ambiente de negócio, efetivando a redução dos preços que assolavam a economia nacional a décadas, atraindo novas formas de investimento, deixando claro nossos horizontes e os novos desafios para a sociedade brasileira.
Neste mês estamos comemorando quase trinta anos de sucesso no controle inflacionário, embora encontremos muitos especialistas que duvidem deste sucesso, as taxas de inflação caíram sensivelmente, trazendo suspiros e sonhos de que a economia brasileira se consolidassem de forma mais efetiva como uma das economias mais pujantes, se caracterizando como uma das maiores economias mundiais, donas de um potencial invejável, com espaços de crescimento econômico e, posteriormente, nos levando a vislumbrar a possiblidade, concreta, de seu desenvolvimento econômico, com melhorias substanciais para a população, impulsionando o bem-estar social e deixando para trás anos de subdesenvolvimento e heranças coloniais degradantes.
No começo dos anos 1990, a sociedade brasileira era vitimada por taxas elevadas de inflação e degradação do poder de compra da moeda, contribuindo efetivamente para a vergonhosa concentração de renda da sociedade nacional, onde os grandes setores econômicos e produtivos conseguiam se defender das taxas elevadas de inflação, garantindo ganhos reais, em contrapartida, uma parte substancial da população tinham suas rendas e salários mensais degradados pela elevada inflação, reduzindo seus rendimentos e contribuindo ativamente para que as condições de vida e de desigualdade fossem mais precárias.
O Plano Real pode ser visto como uma engenharia financeira muito sofisticada. Inicialmente, o governo dialogou constantemente com os setores econômicos e políticos, deixando de lado as medidas drásticas que foram utilizadas anteriormente, que distorcia o comportamento dos agentes econômicos e contribuíram para gerar desconfiança e descrédito. De outro lado, o Plano buscou um equilíbrio fiscal e, num próximo momento, inaugurou uma nova moeda, o Real, que substituiu a moeda anterior, marcada por grande depreciação e a perda crescente de poder de compra.
O Plano Real trouxe grandes transformações na economia brasileira, a estabilização monetária permitiu uma melhora da situação econômica, atraindo grandes fluxos financeiros para os sistemas produtivos, valorizando a moeda nascente e valorizando demasiadamente o câmbio, facilitando a importação, atraindo novos investidores e prejudicando os setores exportadores, contribuindo ativamente para o processo que vivemos na contemporaneidade, de desindustrialização da economia brasileira.
O câmbio valorizado trouxe grandes investimentos externos, melhorando o ambiente econômico, atraindo empresas internacionais, mas contribuiu, negativamente para fortalecer nosso potencial exportador de produtos industrializados, levando a economia nacional a uma desindustrialização.
Embora a desindustrialização não seja uma característica apenas da economia brasileira, grande parte das economias ocidentais perderam força de seus setores industriais e garantiram aos países asiáticos novos espaços na economia internacional, levando esses países a liderarem setores industriais no cenário global, onde destacamos a China, Coréia do Sul, Taiwan, dentre outras nações.
O câmbio valorizado contribuiu para reduzir os preços internos e contribuíram para debelar a forte inflação, mas levou a economia nacional a perder espaço na indústria global, muitas empresas tradicionais foram vendidas ou foram anexados por conglomerados internacionais, perdendo o dinamismo industrial, levando-nos a um caso único na economia mundial, de uma nação que se desindustrializou sem ter conhecido um setor industrial de ponta, ficamos mais uma vez, pelo caminho e fomos ultrapassados por outras nações, que na atualidade colhem os louros da industrialização e, novamente, ficamos para trás na competição internacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia do Setor Público, Mestre, Doutor em Sociologia. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 12/07/2023.