A sociedade internacional vem passando por grandes transformações estruturais com repercussões em todas as regiões, com alterações nos modelos de negócio, alterações no mundo do trabalho, crescimento da concorrência e a necessidade de uma nova agenda ambiental e de sustentabilidade, exigindo variadas mudanças nas políticas públicas e novas formas de configurações nas estruturas de poder global.
Nesta sociedade, percebemos que o debate econômico se concentra no imediatismo e nas questões de indicadores dispersos, os discursos se limitam a questões cotidianas, deixando de lado as reflexões sobre os ecossistemas econômico e produtivo, com isso, todos os agentes políticos e sociais se sentem capacitados a participarem deste debate e dos rumos da economia contemporâneo.
O debate econômico e as grandes questões relevantes para a sociedade contemporânea estão sendo deixados de lado, os especialistas se escasseiam e as conversas se restringem a questões limitadas e enviesadas, se tornando opiniões centradas na defesa dos interesses de grupos detentores dos grandes conglomerados econômicos e produtivos, limitando os debates econômicos, privilegiando os mesmos profissionais e que defendem seus interesses imediatos. Neste cenário, percebemos que os grupos de mídia corporativa abrem espaço para as mesmas opiniões, fugindo dos contrapontos, dos debates e das reflexões críticas.
Os debates econômicos do século XX eram marcados por grandes embates de pensamentos e variadas visões de mundo, onde dois grupos digladiavam com visões diferentes e defendendo teses variadas. Na história do pensamento econômico brasileiro, encontramos o embate entre Roberto Simonsen versus Eugênio Gudin, um defendendo ideias e teses de industrialização da economia brasileira e, de outro lado, as visões de Gudin que defendia a vocação agrícola nacional, embora todos os contendores vislumbravam um Brasil mais sólido e consistente, embora tinham ideias contrárias, todos defendiam um país mais inclusivo, fortalecido, equilibrado e desenvolvido.
No curso dos debates econômicos internacionais destacamos os confrontos intelectuais entre os economistas J. M. Keynes e o austríaco Friedrick Hayek, teóricos conservadores, um mais intervencionista e outro de raiz liberal, responsáveis por grandes confrontos de ideias e de pensamentos. Destes embates, percebemos o nascimento de uma nova sociedade, novas formas de reflexão política, novos horizontes do pensamento econômico, com o surgimento de novas áreas, impulsionando a teoria econômica e contribuindo para criar novas formas de pensamento, de questionamento e desenvolvimento.
Nesta sociedade percebemos que os grandes embates intelectuais foram se escasseando, as batalhas teóricas se reduziram e todos os grandes grupos se perderam e se entregaram pelo poder do chamado mercado, que passam a controlar os indicadores econômicos, controlando as taxas de juros, escolhendo os responsáveis pelas autoridades monetárias e garantindo que seus serviçais voltem para o mercado depois de exercerem cargos de alta remuneração do setor público. Os especialistas chamam isso de, no jargão econômico, de porta giratória, onde funcionários saem dos governos e ganham empregos em grandes instituições financeiras nacionais e internacionais, como prêmio dos préstimos prestados para seus empregadores, com alta remuneração e inúmeros benefícios.
Os debates econômicos contemporâneos se restringem a uma visão limitada e superficial, os grandes confrontos e embates entre teorias econômicas estão cada vez mais distantes, as conversas se restringem ao crescimento do PIB e da inflação, deixando de lado as questões tributárias, evitando reflexões sobre isenções fiscais que garantem ganhos substanciais para os donos do capital, além de refletir sobre as crescentes desigualdades de renda, além de evitar os abismos financeiros entre os ricos e os pobres. Desta forma, percebemos que os debates econômicos estão distantes da realidade da população, mostrando a irrelevância da ciência econômica para compreendermos as necessidades dos seres humanos.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista e Administrador, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 03/05/2023.