Guerra sem fim

Compartilhe

Uma das grandes características da sociedade contemporânea é a instabilidade, vivemos num momento de grandes incertezas, as mudanças econômicas acontecem todos os instantes, alterando o cotidiano de todos os indivíduos, o mundo do trabalho vive uma verdadeira hecatombe, os modelos de negócios se movimentam cotidianamente, as famílias percebem rápidas transformações e os relacionamentos vivem momentos de fortes volatilidades, neste cenário, percebemos que os indivíduos, em todas as nações, sentem na pele todas as alterações em curso, cultivando medos, ressentimentos e grandes confrontos internos. Vivemos momentos de transformações estruturais em todos os eixos dos seres humanos, com questionamentos crescentes, novas oportunidades, novas guerras e novas formas de destruição, onde os conflitos militares voltam a criar possibilidades de destruições mundiais, com possibilidades concretas e confrontos nucleares, onde a razão perde espaço para o radicalismo, a arrogância e a desesperança.

A semana passada a sociedade internacional percebeu que a guerra entre a Rússia e Ucrânia completou um ano, neste período vislumbramos destruições materiais são incontáveis, números elevados de mortos, destruições crescentes, estruturas produtivas devastadas, cidades bombardeadas, famílias desagregadas, crianças e jovens órfãos, futuros apagados e fortes probabilidades de expansão de conflitos para outras regiões, tornando um conflito global, aumentando a destruição e aumentando a desolação daqueles que sonham que a paz predomine nesta região do mundo, uma região marcada por fortes incertezas, conflitos duradouros e devastações crescentes. Depois de uma pandemia que dizimou mais de 7 milhões de pessoas na sociedade internacional, a guerra em curso da humanidade é uma verdadeira mostra de que somos mais irracionais do que imaginamos.

O modelo econômico reinante na economia contemporânea está gerando forte degradação do meio ambiente, as alterações abruptas e intempestivas do clima, estão gerando devastações crescentes nas cidades, gerando passivos materiais e imateriais elevados para a comunidade, demandando políticas públicas rápidas, consistentes e eficientes, além de uma forte profissionalização dos agentes públicos, deixando de lado os modelos de contratação através do compadrio que sempre caracterizou os setores públicos, denotando, claramente, o nosso atraso institucional.

Percebemos o incremento da desigualdade social das sociedades contemporâneas, anteriormente a pobreza e a indigência eram características dos países em desenvolvimento, atualmente a pobreza também é percebida no interior de nações ricas e sociedades afluentes, gerando novas formas de exclusão social e confrontos políticos, aumentando a polarização, limitando a capacidade de crescimento econômico, abrindo possibilidades de desenvolvimento produtivo e incremento do bem-estar social.

Neste cenário, a guerra em curso na Europa deve degradar a sociedade por muito tempo, primeiro devastando as nações em conflito, gerando o incremento da inflação de produtos imprescindíveis da comunidade internacional, como energia e alimentos, levando as Autoridades Monetárias a elevarem as taxas de juros internas, reduzindo os investimentos produtivos, diminuindo a geração de empregos, contraindo as rendas e fragilizando o poder de compras dos trabalhadores e, posteriormente, inviabilizando a recuperação econômica das nações e aumentando os confrontos políticos e afastando das convergências necessárias para retomarmos os momentos de melhorias das condições sociais da população.

A guerra em curso da sociedade global demostra que estamos rumando para momentos preocupantes e, infelizmente, irreversível de destruição da humanidade. Os recursos financeiros, além de equipamentos militares e tecnologias bélicas altamente sofisticadas, enviados para financiar o conflito internacional é muito maior do que os recursos utilizados para reduzir a fome e a exclusão social das nações subdesenvolvidas que crescem a olhos vistos. A verdadeira guerra da sociedade contemporânea deve ser outra e o inimigo deve ser a fome, a miséria e a indiferença.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração. Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 08/03/2023.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

Leia mais

Mais Posts

×

Olá!

Entre no grupo de WhatsApp!

× WhatsApp!